A Herança

No século passado numa pequena cidade no interior da Noruega, havia um jovem barbeiro que herdara do pai a barbearia e a clientela. Um dia de manhã quando abriu a barbearia, tinha um homem dormindo na escada, era jovem e estava num estado deplorável, sujo, roupas aos trapos, cabeludo, barbudo e muito fedido. O jovem barbeiro ficou ali olhando aquela criatura, que devia ter a sua idade, naquela situação, e pensou o que poderia ter acontecido para que um ser humano ficasse naquele estado. Tocado com aquele quadro tomou uma decisão: acordou o jovem e com muito tato começou a conversar, mas sem perguntas.

O jovem sentado onde estava cabisbaixo escutava. Depois de algum tempo o barbeiro disse:

- Olhe, não quero saber de onde veio, nem o seu nome, mas uma coisa eu gostaria de fazer, nós temos a mesma altura, por que você não entra toma um banho, troca de roupa, eu corto seu cabelo e sua barba e você segue seu caminho?

No que pela primeira vez o rapaz disse:

- E como eu vou pagar por tudo isso?

- Vamos combinar o seguinte, tudo isso é um presente não necessita pagamento.

      Depois de muito relutar o jovem andarilho concordou. Depois do banho e do cabelo e barba aparados o jovem se mirou no espelho e chorou. O barbeiro diante da transformação teve que se segurar para não chorar também. O jovem levantou da cadeira e sem uma palavra e de cabeça baixa foi embora, para o barbeiro a vida seguiu seu curso.

Vieram os filhos, os problemas comuns nas famílias e para piorar tudo veio a Segunda Grande Guerra. A guerra veio e foi embora, os anos se passaram, vieram os netos e lá estava o barbeiro já com os cabelos brancos trabalhando no mesmo local. Do jovem andarilho nem se lembrava mais, trinta e cinco anos se passaram.

     Um dia chegou à barbearia um senhor de aspecto respeitável e perguntou:

- O senhor é o Nicolas?

- Sim, sou eu, posso ajudá-lo?

- O senhor poderia chamar sua esposa? O assunto que necessito tratar com vocês é de extrema importância.

     Quando ambos se sentaram o visitante falou:

- Sr. Nicolas, se lembra de um jovem mendigo que o senhor ajudou?

Após pensar um pouco o barbeiro confirma:

- Lembro, ele estava muito sujo e eu lhe ofereci um banho e aparei seu cabelo e barba.

- Bem, eu sou seu emissário, ele gostaria que o senhor soubesse que nesses anos todos, ele sempre teve notícias suas, inclusive sem que o senhor soubesse ele proveu sua dispensa durante toda a guerra, se quiser confirmar, basta que pergunte ao dono do mercado.

 Mas o que me traz aqui é o seguinte: o senhor com o seu gesto foi responsável pelo que o senhor Frank é hoje. Quando do ocorrido ele foi para Bruxelas e lá começou a trabalhar no mercado de peixes se transformando no maior exportador de bacalhau do mundo.

Estou aqui para lhe dizer que ele é hoje um doente terminal tendo poucos dias de vida, razão pela qual ele não está aqui. Como lhe disse, ele conhece toda sua família, filhos, filhas, netos, conhece a todos. De todo seu patrimônio, que são milhões de dólares, ele deixa 50% para o senhor e sua família e pediu que dissesse que isso é pelo que o senhor fez por ele e por apesar de tanta espontaneidade em sua ajuda ele foi embora sem ao menos dizer obrigada.

 

FIM

 

Autor: Derli Torres