A GUERRA É AQUI! VAMOS LEVANTAR ESSA BANDEIRA: POR UMA EDUCAÇÃO PÚBLICA DE QUALIDADE E DE VALOR!

Por Márcio Melo*

"O pior é que passamos a nos habituar ao desumano. Aprendemos a tolerar o intolerável."
(Eric Hobsbawm, historiador inglês, no ensaio "Barbárie: manual do usuário", in: Sobre História, p. 279)

A EXCEÇÃO E A REGRA
Estranhem o que não for estranho.
Tomem por inexplicável o habitual.
Sintam-se perplexos ante o cotidiano.
Tratem de achar um remédio para o abuso.
Mas não se esqueçam de que o abuso é sempre a regra.
(Bertolt Brecht, poeta e dramaturgo alemão)

PARA INÍCIO DE CONVERSA: TIREMOS O VÉU DA MORDAÇA!

Vamos refletir um pouco mais sobre a nossa tão sofrida e abandonada Educação pública brasileira. Temos observado que, nos últimos anos, faltou ? e falta - em muitos de nós, que a constituímos, a petulância, a inquietude e a vontade. Tudo o que realmente importa para o verdadeiro aprendizado. O que nos vem sempre à luz é muita coisa irracional e tola, muita leviandade e muita preguiça de pensar. Tudo o que é ruim para o verdadeiro aprendizado. Vivemos num estado de desamparo e desorientação, marcado por políticas públicas insuficientes e que, de forma direta ou indireta, contribuem para que tragédias como aquelas da escola de Realengo no Rio de Janeiro aconteçam. Há programas governamentais para dimensionar a magnitude de problemas dessa natureza? Cadê a segurança das nossas escolas? Quantos mais jovens e crianças ainda morrerão até que políticas mais sérias e enérgicas sejam implementadas?

HOC EST RIDICULUM! HOC EST ABSURDUM! [ISTO É RIDÍCULO! ISTO É ABSURDO!]

Indignação: essa é a palavra! Vivemos numa guerra cotidiana. A nossa guerra se chama Educação. O nosso campo de batalha é a escola. E a nossa principal atividade nessa guerra é convencer os nossos companheiros de guerra a prosseguir com dignidade, coragem e espírito crítico. Nossos companheiros são os estudantes. Matamos um leão todo dia. E vamos avançando trincheiras, sobrevivendo nesse front dessa guerra injusta, cruel e violenta.

Estamos lendo a mais recente Edição Especial da revista Caros Amigos, nº 53: "Educação: O que fazer para tirar o Brasil do atraso". Várias matérias, artigos e análises maravilhosos! O último artigo dessa edição, que nos chamou muito a atenção, é do Rodrigo Ciríaco (aprendiz de educador e escritor): "Sob o véu da mordaça". Um verdadeiro relato dessa nossa guerra cotidiana pela Educação. Em algum momento do mesmo, ele afirma: "Eu trabalho porque acredito na educação. Eu acredito que esta é sim um grande mecanismo de transformação. Ela pode transformar o mundo, acabar com esta guerra estúpida, com o cinismo de alguns políticos; a injustiça, a desigualdade social do meu país. Colocar na cadeia os corruptos, exterminar com o tráfico, finalizar com a violência. Não trabalho por prêmios."

Nesse texto/relato/desabafo Rodrigo também coloca uma realidade que é a mesma de muitos que vão ler este artigo: "Nestes anos de guerra, já estive em campos muito difíceis: já trabalhei em salas com goteiras, alagadas; já estive em salas de aula sem lousas. Já dei aulas no escuro, para salas com quarenta alunos. Já trabalhei com risco do teto desabar, caixa de força com risco de explodir, queimar. Já trabalhei sem comando, orientação: sem coordenador pedagógico, sem direção. Já fui pra guerra ? por anos a fio ? sem armas e munição, de peito aberto, sem sala multimídia, sem sala de informática, sem laboratório, sem computador, sem sala de leitura. Muitas vezes nem sequer com giz."


À GUISA DE CONCLUSÃO: ENTRE NESSA GUERRA VOCÊ TAMBÉM!

Como cidadãos, todos nós devemos nos envolver com os problemas sociais que nos dizem respeito, procurando assim colaborar positivamente com a nossa comunidade. O que precisamos mesmo é de atitude, de querer mudar as coisas, pois, como afirma Octavio Paz, "se tantos condicionamentos psicológicos, sociais e intelectuais tendem a fazer de nós os expulsos da vida, uma força também nos empurra a voltar, a descer ao seio criador de onde fomos arrancados".

E lembramos aqui também do que escreveu a filósofa Hannah Arendt, pois este é o "momento para examinar a realidade política sem os preconceitos das gerações anteriores." Precisamos construir juntos um novo olhar em relação ao exercício da cidadania ativa, que é a única maneira de os nossos jovens estudantes da escola pública fazerem a diferença em nossas salas de aula, na sua família, no seu bairro, em sua comunidade e em sua cidade. Para que isso realmente aconteça, se faz necessário que incentivemos o pensamento crítico, o exercício da cidadania e a inovação; é preciso que entremos em sala de aula e façamos acontecer. "Se jogar!", como dizem os nossos jovens estudantes. É gratificante saber que estamos contribuindo para o desenvolvimento pessoal dos nossos jovens estudantes, saber que a nossa preocupação com a dignidade humana está permitindo às pessoas uma formação consciente e crítica. Consideramos que essa seja a melhor maneira de nos vingarmos desse descaso pela educação por parte de muitos governantes. Como afirma o historiador Eric Hobsbawm: "Nós, professores, somos inclinados a colocar muita coisa na conta da ignorância. [...] São necessárias duas pessoas para aprender as lições da história ou de qualquer outra coisa: uma para dar a informação e outra para ouvir."

Numa música maravilhosa, o espetacular Milton Nascimento canta: "Mas renova-se a esperança, nova aurora a cada dia!" É a renascida fé num amanhã e no depois de amanhã, que nos faz ver sentido ainda no que fazemos... E, novamente citando o Milton: "Se muito vale o já feito, mais vale o que será"!

Esse quê de deserto, de exaustão, de descrença na própria juventude... A nossa verdadeira guerra deve ser CONTRA isso!


REFERÊNCIAS
HOBSBAWM, Eric. Sobre História.

REVISTA Caros Amigos, Edição Especial n. 53, junho 2011.

(Márcio Melo, professor na rede estadual de educação do estado da Bahia há doze anos. Professor na Faculdade Cenecista de Senhor do Bonfim (FACESB) há três anos. Aprendiz de escritor há um bom tempo...)