1 – INTRODUÇÃO

"[...] antes de mais nada, que a greve de massas não pode ser "feita" artificialmente, não pode ser "decidida" nem "propagada" no vazio, mas sim que ela é uma fenômeno histórico, resultante, em certo momento, de uma situação social a partir de uma necessidade histórica". (Rosa Luxemburgo) Nunca o espaço do homem foi tão importante para o desenvolvimento da história.

A Geografia como ciência do presente, ou seja, inspirada na realidade contemporânea tem como objetivo principal destes conhecimentos, contribuir para o entendimento do mundo atual, da apropriação dos lugares realizada pelos homens, pois é através da organização do espaço que eles dão sentido aos arranjos econômicos e aos valores sociais e culturais construídos historicamente. Como o próprio Ministério da Educação reconhece nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio para Área de Ciências Humanas a Geografia está sendo redescoberta.

E nesse processo é preciso apresentar soluções para superação de dois graves problemas que persistem na prática da disciplina geográfica: a insuficiência dos fundamentos necessários à consolidação de sua cientificidade e a falta de uma definição clara do seu objeto de estudo, o que implica no seu papel como ciência capaz de desvelar a organização espacial e suas relações.

O aspecto chave da renovação da geografia, diz respeito à nova posição do espaço geográfico no quadro social, o espaço geográfico é interior a sociedade e não exterior a ela, como antes se pensava. Sendo interior à sociedade, ou, dizendo de outra forma, sendo um componente dela, fica claro, a dimensão espacial vai interferir no funcionamento dessa sociedade. Assim, as análises a partir do espaço contribuem para explicar as sociedades em sua totalidade.

Como dizia o professor Milton santos (1989): "o mundo é um só", e as sociedades é que são coletivos humanos e que seguindo determinadas regras, entram em interação. E como tal se individualizam. Cada interação (relação) social envolve linguagem, cultura, política, historia economia, psicologia dos indivíduos e para que essa relação se efetive é necessário haver contato. E este contato depende da transposição da distância geográfica, que se fará conforme a organização do espaço, o que demonstra que um dos elementos constitutivos das relações sociais é o espaço geográfico.

E a Geografia enquanto ciência social deve transpor isso aos cidadãos através da educação e do ensino, de forma que estes entendam o seu próprio espaço e reflitam sobre ele, e também sobre suas relações.

1.1 – Justificativa & Objetivos

Num período em que as relações humanas estão se estabelecendo em escala mundial (facilitado pela revolução tecnológica e pela globalização), mais do que nunca a compreensão das estratégias de organização espacial é decisiva para o entendimento da vida cotidiana, moderna, a Geografia assume, portanto, uma poderosa e reveladora perspectiva crítica de nossos tempos (OLIVA & GIANSANTI, 1999). A Geografia deixa de ser uma disciplina que apenas descreve e explica o espaço nele mesmo e passa a ser uma área do saber que produz um discurso geográfico sobre a sociedade em geral.

Ao renovar-se e dar-se conta de suas potencialidades, a Geografia deve organizar um "repertorio" teórico, que mudará a linguagem e sua importância, não só na área de produção científica, mas principalmente no universo do ensino, em especial no ensino fundamental e médio (PCNs, 1999 p.234). O mundo moderno é substancialmente "urbano" e origina um modo de vida que ultrapassa as estruturas espaciais da cidade, invadindo o campo e dando lhe novos conteúdos. Uma primeira conseqüência dessa expansão foi o deslocamento de grandes massas de camponeses para a cidade.

A modernização do campo brasileiro desarticulou economias rurais de alcance local e regional e as subordinou à economia das cidades e a tendência é ir transformando o espaço rural numa extensão do mundo urbano (MARTINS, 2001 a). Entretanto, essa modernização foi e continua sendo marcada pela desigualdade, pois manteve privilégios dos grandes proprietários de terras e desprezou o destino dos não contemplados pelas modificações. Além disso, colaborou para o aumento da concentração de terras (MARTINS, 2001 b).

A oposição aos novos interesses das elites econômicas no campo tem forte tradição. Ela está presente nos confrontos entre indígenas e portugueses, nos quilombos e, por fim, nos atuais movimentos de ocupação de terras (OLIVEIRA, 2003). Por reivindicar a redistribuição de terras quando a modernização do campo já está instalada, os movimentos camponeses são considerados atrasados por alguns, para outros, no entanto, carregam o significado de um aspecto da modernidade, relacionado à emancipação do ser humano e às formas de organização social e política.

A questão social e econômica no campo e também na cidade – em especial com relação à pobreza, à emigração para a cidade e ao desemprego – está no centro dos debates atuais sobre reforma agrária. Neste sentido, o tema questão agrária, no que se refere aos conjuntos dos problemas sociais no campo (não só econômicos) merece maior conotação dentro das escolas e principalmente no ensino de Geografia. Adquirindo assim a criticidade para se entender o processo dos movimentos sociais que cada vez mais se aproximam das escolas e dos alunos, uma vez que, os próprios alunos percebem que, cada vez mais, essa realidade está mais próxima a eles, tão próxima, que adentra as salas de aulas pela "porta da frente": constatando assim a presença de alunos advindos de acampamentos e assentamentos rurais.

Neste sentido as bases que justificam esse trabalho de pesquisa em escolas públicas do município de Porto Nacional – TO, centram-se nas análises de como os movimentos sociais, principalmente os camponeses estão sendo tratados nas escolas, se são realmente tratados pelos livros, professores e sistemas de ensino. Tomando como crivo escolas públicas e urbanas – entendendo que a educação no campo ainda se matem esquecida pelo sistema educacional – têm-se por objetivos especificar como as escolas tratam esse tema social em sala de aula, que recursos utilizam, quais livros facilitam essa abordagem, bem como perceber se os professores conseguem tratar do tema de forma a conciliar teoria, realidade e também a mídia, que é a informação mais acessível (fácil) aos discentes.

2 – AS LUTAS SOCIAIS NO CAMPO E A BUSCA PELO REFERENCIAL TEÓRICO

A luta pela terra marca o Brasil desde os seus começos. A combinação da grande propriedade territorial com a gestão empresarial moderna levou até o profundo interior a marca registrada dos grandes grupos capitalistas nacionais e multinacionais. O patrão é um só no campo e na cidade, na fábrica e na fazenda. Quem expulsa os posseiros da roça é o mesmo capitalista que congela salários na cidade. É a mesma violência de classe em toda parte (OLIVEIRA, 2003).

A história da humanidade vem sendo marcada por processos políticos que sempre garantem a produção e reprodução dos sistemas econômicos, sejam eles considerados modernos e/ou arcaicos (LIRA, 2003) Dentre esses sistemas, o capitalismo tem se apresentado como o mais perverso, o mais degradante, possuidor de um dinamismo exagerado e carrega consigo uma esteira de contradições e conflitos sociais que temporariamente se explodem concomitante no campo e nas cidades do mundo especificamente em países em desenvolvimento. As discussões sobre reforma agrária estão presentes no debate político desde o início do século XX e no decorrer desse tempo tem assumido diferentes conotações, formas e significados (LIRA, 1995) O surgimento e o fortalecimento dos movimentos sociais não somente no campo, impulsionam a produção geográfica, submetendo-a uma crítica profunda (LIRA, 2003).

Enfatizando essa premissa os sem terra muito se aproximam das cidades, acampando as margens das rodovias. Diante destes fenômenos, faz-se necessária a análise teórica e metodológica das questões agrárias e dos movimentos camponeses em prol da terra no Brasil. Um país que assistiu seu espaço territorial sendo construído baseado em parâmetros externos advindos da expansão do mercado mundializante, mais tarde reorganizado pela revolução tecnológica, sem a mínima preocupação histórica de considerar as realidades regional-nacionais brasileiras.

Com a criação do Estado do Tocantins, pela Constituição 1988, fato que interferiu substancialmente para que houvesse um grande desarranjo hierárquico e estrutural no Antigo Norte Goiano. A ponto de desencadear: uma aceleração no processo de agravamento dos conflitos no campo, oriundos das reivindicações dos movimentos sociais, a partir de então mais organizados e mais próximos da sociedade civil, o que significa que os trabalhadores rurais não foram e não são testemunhas passivas desses acontecimentos (LIRA, 2003)

Contudo, a questão agrária e os movimentos sociais camponeses não vendo sendo ministrada corretamente nas escolas, sobretudo no ensino médio. Pode-se perceber que os alunos não conhecem ou não analisam esse processo, isso porque a temática – que envolve intensos debates – só é discutida através dos livros superficialmente, quando o principal recurso desses debates é ignorado: a contemplação da realidade (OLIVA & GIANSANTI, 1999).

3 – METODOLOGIA

(Procedimentos Metodológicos) É interessante observar e ressaltar que a metodologia utilizada para se chegar a estes resultados – feitos através de questionários e intervenções em aulas de geografia (expositivas e debatedoras) em dois centros de ensino médio do município de Porto Nacional, TO e visitas a um acampamento aos arredores da cidade – ressaltam com clareza todo o processo de desconhecimento desta temática dentro da sala de aula até mesmo por parte dos professores, que também responderam ao questionário.

Outro aspecto importante foi às visitas ao acampamento, que por sua vez denunciou uma realidade que de fato foge a realidade da escola em questão e do ensino como um todo. Os aportes teóricos também forma fundamentais, que resultou e/ou foi resultado de pequenas conferências com os alunos e professores

4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 – A Escola, Os Movimentos Sociais Camponeses, O Ensino & O Debate: A Contextualização Do Tema

Tendo em vista a globalização, uma nova ordem mundial com novos conflitos e tensões, a crise dos estados-nação, a formação de blocos econômicos, a desterritorialização de muitos grupos humanos, as questões ambientais e sociais que conferem novos significados à sociedade como um todo e em suas partes, que contribuição o conhecimento geográfico deve dar para a plena formação do educando? (PCNs CONHECIMENTOS DE GEOGRAFIA, 2004).

É muito comum se pensar que a educação é apolítica, a escola é um espaço neutro, uma ilha isolada das divergências da sociedade e um canal objetivo de transmissão da cultura universal. Sem duvida é uma imagem ilusória. A escola é política e, como tal, reflete inevitavelmente os confrontos de forças existentes na sociedade. Se esta se caracteriza por classes antagônicas, a escola certamente refletirá os interesses do grupo dominante. Ressaltando essa afirmação Aranha (1996) diz: Basta rever a Historia da Educação para perceber como a escola sempre serviu ao poder, não oferecendo oportunidades iguais de estudos a todos, indistintamente. Além disso, a escola transmite padrões de comportamento, bem como idéias e valores. [...] e que são divulgados como universais e abstratos, geralmente não são tão universais assim, pertencendo a um determinado segmento social.

Se levarmos em conceito de práxis, toda teoria se acha indissoluvelmente ligada a pratica. Portanto, qualquer teoria da educação deveria partir do exame critico e sistemático dos problemas existentes na realidade, com finalidade de definir os objetivos e meios que orientarão a atividade comum intencional. Mas, na integra isso não ocorre, a temática dos movimentos sociais não tem ganhado, ou melhor, colocando, tem perdido dia após-dia espaço de debate nas salas de aula. Sobre isso Aranha (1996) ressalta: Quando uma teoria pedagógica desenvolve-se à margem dos acontecimentos econômicos, políticos e sociais do seu tempo corre – se o risco de tornar-se ideológica e até mesmo utópico, e isso é perigoso. É inquestionável a importância da analise dessa temática/problemática no contexto escolar, sobretudo no ensino médio, onde se concentra maior numero de jovens e pessoas, com conhecimentos e algumas experiências "amadurecidas", capazes por sua vez de analisarem criticamente os processos e fatos inerentes ao tema.

O que por sua vez, não deixa que os conteúdos sobre os conflitos no campo fiquem a margem do desconhecimento ou do julgamento errôneo de ações e processos (OLIVA & GIANSANTI, 1999). A importância de se debater os movimentos sociais junto às questões sociais rurais ultrapassa a questão metodológica de se aplicar o conteúdo do espaço agrário, por exemplo. A sua relevância dentro dos conteúdos ministrados em Geografia possui um caráter muito maior principalmente agora que se constata que essa realidade está muito mais próxima e que os movimentos sociais camponeses se aproximam das cidades e que as pessoas que fazem partes desses movimentos sociais começam a preencher vagas dentro das escolas publicas, tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio.

Quando se deixa de debater as questões sociais rurais dentro de um contexto real, ou seja, usando a realidade e o cotidiano. O educando perde a possibilidade de perceber e expor sua criticidade em alguns fatos pertinentes como: a mecanização que liberta os fazendeiros e latifundiários da dependência de boa parte da mão-de-obra permanente, tornando o trabalho sazonal, bom apenas para época de colheita, nem sempre garantido, as multidões de pessoas que perderam suas terras, nas pequenas propriedades, os que foram privados de trabalho e emprego nos latifúndios e tornaram-se bóias-frias, favelados e desempregados nas cidades (OLIVA & GIANSANTI, 1999).

Todos estes problemas forma "implantados" no campo. Fatos como a ilusão urbana que arrastou multidões para as cidades em proporção sem igual, embalados pela remuneração mensal que nunca tiveram no campo, seduzidos pela escolarização dos filhos, entre outras atrações. Esse quadro sedutor inicial começa a deteriorar-se quando deparam com a realidade maior. E que há uma verdade mais alarmante diante desse quadro: estes trabalhadores são usados para baixar ainda mais as condições de trabalhos e níveis salariais de trabalhadores urbanos, alem de serem exclusos das próprias escolas publicas, (OLIVEIRA, 2004).

Essa discussão se faz necessária no ensino médio cujo educando já está apto a entender alguns princípios sociais e fazerem à leitura critica de como nascem os movimentos sociais, do porque de suas reivindicações pela terra. Irão perceber que os movimentos sociais "entraram na batalha", iniciando sua organização para conquistar a terra em suas regiões de moradia, tentando resistir ao êxodo e a migração – não só rural, pois as cidades também expulsam e fazem do trabalhador um sem terra – e que estes estão espontaneamente denunciando a concentração da terra. E que assim estouram-se as lutas em vários lugares, com organizações distintas e que a explosão dos conflitos, a concretização das mobilizações tem e dão início aos acampamentos. Algumas considerações quanto essas premissas são necessárias serem feitas, logo estes conteúdos uma vez ministrados podem desenvolver no educando idéias e opiniões próprias, sem que necessariamente ele pense ou venha agir pela "cabeça" e pensamento alheio. É a formação do cidadão que se constrói a partir do momento em que ele se ver como próprio ator do seu cotidiano.

O educando vai perceber, por exemplo, que o lado mais visível e cruel dos conflitos sociais no campo é o da violência, e entende-la no seu sentido mais amplo – não só como a violência física direta – também como constrangimento, discriminação, ameaça, invasão de terras indígenas e camponesas, aliciamento de menores para o trabalho e a prostituição, entre outros. Esses conceitos transcendem a sala de aula e ultrapassam o conteúdo geográfico. Esses alunos vão saber ainda informar e analisar os planos da burguesia, o comportamento do governo, conhecer como funciona o capitalismo, está informado até mesmo das lutas e movimentos e das forças dos trabalhadores, alem do nível de consciência de todas as classes numa tentativa de solucionar os problemas sociais, como o da própria educação que exclui os militantes desses movimentos, que mesmo que haja algumas pessoas inseridas no ensino, esta parcela é mínima, tendo em vista o injusto número de analfabetos no campo.

4.2 – O Que Dizem Os Parâmetros Curriculares Nacionais

Em geral os conteúdos referentes à área humana da Geografia são introduzidos no ensino fundamental, principalmente na ultima serie da segunda fase, cujos alunos devem se preparar para uma etapa nova, mais centrada em (re)conhecer os problemas e temas da sociedade em geral. Nessa perspectiva os conhecimentos a cerca dos conflitos sociais no campo devem ser abordados nesta fase da escolaridade, visando à complexidade de se entender alguns fatos e mitos que são e estão presentes sobre essa relação dos movimentos sociais rurais. Sobre isso o Artigo 35, Inciso III da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e os Parâmetros Curriculares Nacionais dizem: Estes conteúdos devem estabelecer o aprimoramento do educando como pessoa humana incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico (LDB, 1999 p. 127)

Não se deve compreender o Ensino Médio apenas dentro da ótica de simples continuação do Ensino Fundamental. [...] O Ensino Médio é o momento de ampliação das possibilidades de um conhecimento estruturado e mediado pela escola que conduza à autonomia necessária para o cidadão do próximo milênio.

Seguindo os três princípios filosóficos da concepção curricular – princípios estéticos, políticos e éticos – a Geografia contribui para esta formação proporcionando o aluno: orientar seu olhar para os fenômenos ligados ao espaço, reconhecendo-os não apenas a partir da dicotomia sociedade/natureza, mas tornando-os como produto das relações que orientam seu cotidiano; reconhecer as contradições e conflitos econômicos, sociais e culturais, o que permite comparar e avaliar qualidade de vida, hábitos, formas de utilização e/ou exploração de recursos e pessoas, em busca de respeito às diferenças e de uma organização social mais equânime, tornar-se sujeito do processo ensino-aprendizagem para se descobrir convivendo em escala local, regional, nacional e global. "A autonomia que a identidade do cidadão confere é necessária para expressar sua responsabilidade com o seu "lugar-mundo" através da identidade territorial (PCNs, 1999).

5 – PARA NÃO CONCLUIR... ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Os movimentos sociais camponeses dentro do contexto escolar caracterizam uma reivindicação antiga dos moradores rurais. Como principais argumentos dessa petição, eles afirmam que a escola rural sempre foi esquecida, que sempre o acesso a educação, ao ensino foi negligenciado a eles, o que caracteriza a exclusão destes do processo educacional.

Ao se aproximarem das cidades estes movimentos trazem consigo duas novas perspectivas: primeiramente de tocar a sociedade dos seus problemas e dilemas sendo necessário "aparecer" para serem percebidos e segundo, que ao estarem perto do ambiente urbano, estes renovam seus sonhos de entrarem perto do ambiente urbano para usufruírem das possibilidades que não tiveram no campo, que por sua vez renovam também os sonhos de entrarem na escola, só que através dos seus filhos.

Ao adentrarem ao ambiente das escolas urbanas, estes filhos chegam cheios de ansiedades de conhecer o novo numa tentativa de apagar traços de exclusão que sempre os perseguiram. E justamente aí que eles percebem mais uma vez as portas se fecharem para eles – daí pode se traçar uma verdadeira geografia da exclusão social – a escola, o ensino em si, não aborda sua realidade, não abrem margem para que eles falem dos seus conflitos, suas lutas e ideologias até chegarem à escola.

Tal procedimento torna-se ideológico ao desprezar o fato de que a educação é um fenômeno social, não sendo possível separar teoria da educação e realidade social. A sociedade não é um aglomerado de indivíduos, cada um deles "desabrochando", trazendo a tona o que era "em potência". A educação promove a construção da personalidade social e, por isso não se desvincula da situação concreta em que se insere, (ARANHA, 1996).

O professor José Carlos Libâneo faz uma referencia sobre isso dizendo: Como instância mediadora, a ação pedagógica torna possível à relação de reciprocidade entre individuo e sociedade. Conclui-se, então, que a educação não pode ser compreendida fora do contexto histórico-social concreto. Sendo a pratica social o ponto de partida e o ponto de chegada da ação pedagógica. As lutas pela terra, nas ultimas três décadas, mobilizaram e organizaram um numero cada vez maior de trabalhadores rurais. Atingiram níveis mais altos de consciência, projetaram novas lideranças, articularam lutas significativas embora esparsas e irradiaram influência em todo país. Porém, não foi suficiente para entender todo processo que a engendram.

É difícil entender, por exemplo, como moradores urbanos reivindicam terra e se denominam sem terras, é confuso um movimento rural se instalar tão próximo à cidade. Como entender que pessoas são sem terras, porém não fazem parte do MST. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – haja vista a noção de sem terras está diretamente ligado ao movimento (MST), erroneamente. Porque necessariamente o número alarmante de analfabetos se concentra no campo? São questões pertinentes que não estão inseridas no debate escolar, a não ser superficialmente. Como modificar uma situação se nem a conhecemos?

Reza os PCNs, que o ensino médio deve orientar a formação de um cidadão para aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprende a ser. Isso é, deve buscar um modo de transformar indivíduos tutelados e infantilizados em pessoas em pleno exercício da cidadania, cujos saberes se revelam em competências cognitivas, sócio-afetivas e psícomotoras e nos valores de sensibilidade e solidariedade necessários ao aprimoramento da vida neste país e planeta. E que infelizmente o ensino faz, mas de forma fragmentada, individualista e excludente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALCKELRUD, Issac. Reforma Agrária: A luta pela terra no Brasil. 4° ed. São Paulo: Global 1997.

ARANHA, M. L. A. Filosofia da educação. 18° ed. Campinas: Autores Associados 2003. ___________ Arruda. História da educação. 18° ed. Campinas: Autores Associados 2003.

BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio, Brasília: MEC, 1999. ___________ Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: Temas Transversais, Brasília: MEC, 2000. ___________ Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, Brasília: MEC, 1999.

COSTA, Cristina. Sociologia. Uma introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Ed. Moderna, 1997.

JESUS, V. G. dos Santos. Educação Básica no Campo: A Experiência do Mato Grosso do Sul. In: Ensaios Geográficos e Educação. Rondonópolis – MT: União, 2006.

LIMA, M.M.A. O conflito Pela Posse da Terra Na Fazenda São João – Porto Nacional In: Produção Acadêmica 2° ED.VOL. 2 Porto Nacional: 2005 LIRA, E. R. Movimentos Sociais, Partidos Políticos e Hegemonia: O Caso Brasileiro (Algumas Considerações). In: Produção Nº. 2 Presidente Prudente – SP: UNESP, 1995. ___________Comunidade Jacotinga: A luta pela posse da terra In: Revista Produção Acadêmica: Ciências Humanas 1° ed. Porto Nacional: 2003 LOUREIRO, Isabel Maria, Rosa Luxemburgo: Vida e Obra. São Paulo: Expressão Popular, 2005.

LUXEMBURGO, Rosa. Reforma ou Revolução? 4° ed São Paulo: Expressão Popular 2005.

MARQUES, M. I. O conceito de espaço rural em questão In: Revista Terra Livre: Geografia e Movimentos Sociais . AGB ano 18 vol.2 São Paulo: 2002 MARTINS, J.S. Os Camponeses e a Política no Brasil: As Lutas Sociais no Campo e seu Lugar no Processo Político. 4º ed. Petrópolis – RJ: Vozes, 1990. ____________ O Cativeiro da Terra. 4º ed. São Paulo: Hucitec, 1990 ____________ Expropriação e Violência: A Questão Política no Campo. 3º ed. São Paulo: Hucitec, 1991. ____________ Reforma Agrária: O Impossível Diálogo. São Paulo: Record, 2000.

MOREIRA, Ruy. Formação do Espaço Agrário Brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 1990. OLIVA, Jaime; GIANSANTI, Roberto. Espaço e Modernidade: Temas da Geografia do Brasil. São Paulo: Atual, 1999.

OLIVEIRA, A. U. O Campo Brasileiro no Final dos Anos 80. In: Boletim Paulista de Geografia. Nº. 66 São Paulo: AGB, 1988. ______________. Agricultura Camponesa no Brasil. 4°ed. São Paulo: Contexto, 2001; ______________. O Século XXI e os Conflitos Sociais no Campo: Modernidade e Barbárie. In: CPT – Conflitos no Campo – Brasil, Goiânia: Loyola, 2001. ______________.A Geografia das Lutas no Campo. 2º ed. São Paulo: Contexto, 2001. ______________.Agricultura Camponesa no Brasil. 4°ed. São Paulo: Contexto, 2001. ______________.Barbárie e Modernidade: As Transformações no Campo e o Agronegócio no Brasil. In: Terra Livre – Multiciplicidade Teórica e Metodológica Nº. 21 São Paulo: AGB, 2003.

SANTOS, Milton. Metamorfose do espaço habitado. Hucitec,São Paulo: 1997.

STÉDILE, João Pedro. OLIVEIRA, Ariovaldo U. de. O Agronegócio, Agricultura Familiar e a Reforma Agrária. Cartilha da CONCRAB – Rio de Janeiro 2004.

THOMPSOM, E.P. A miséria da Teoria. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.