A FUNCINALIDADE DA GRAMÁTICA NO ENSINO DA LÍNGUA     PORTUGUESA

              Helder Coelho de oliveira ([email protected])**     

    

 Resumo

 Este trabalho visa estabelecer determinantes, que far-se-ão necessários a  compreensão da importância da gramática no cotidiano escolar. Objetiva ainda, mostrar que o professor de Língua Portuguesa tem que ser conhecedor das divergências existentes quanto ao linguajar. Que seja, ainda, capaz de identificar possíveis alternâncias quanto a este, dentro do seu próprio estado, levando em consideração dialetos ou formas isoladas de comunicação que são usadas em diversos contextos sociais. Tem como finalidade também, conscientizar os mestres que é possível encontrar meios que permitam seus educandos tomarem gosto pela leitura, pois esta afinidade é o que poderá, no futuro, facilitar para outros educadores o ensino gramatical.

 

Palavras chaves: Ensino. Gramática. Língua materna. Norma culta. Comunicação

 

Abstract

This work aims to establish determinants, which will make itself necessary understanding of the importance of grammar in everyday school life. It also aims to show that the teacher of Portuguese Language must be knowledgeable of the existing differences in the language. It is also able to identify possible alternations on this, within your own state, taking into consideration dialects or isolated forms of communication that are used in diverse social contexts. Aims also educate teachers who can find ways to take their students reading habits, because this is the affinity which may, in the future, other educators to facilitate the grammar school.

* Professor – Instituto Florence Nightingale.  Especialista em Linguística – Universidade do Grande Rio (UNIGRANRIO).  E-mail: [email protected]

 

 

1. Introdução

      O mais importante atributo cultural de um povo é o registro histórico do seu comportamento através da linguagem, em sua forma escrita. De um modo geral, dá-se o nome de linguagem a todos os meios de comunicação. Ouve-se falar, então, em linguagem animal e linguagem humana, em linguagem não-verbal e linguagem verbal. O termo é comumente empregado à aptidão humana que consiste em associar os sons produzidos pelo aparelho fonador humano a um conteúdo significativo e utilizar o resultado dessa associação para a interação verbal. Fala-se, pois, em linguagem verbal.

      O termo linguagem é muito amplo. As línguas naturais (português, inglês, etc) são manifestações desse algo mais geral, mais amplo. Era assim que Saussure, o lingüista  genebriano, via a linguagem. Para ele, a linguagem abrange duas partes: a língua e a fala, e era a primeira o seu objeto de estudo; embora, reconhecesse a interdependência entre elas.

       Acompanhando a mesma linha de raciocínio e vendo forma que a humanidade evolui e se modifica com o passar do tempo, a língua acompanha essa evolução e varia de acordo com os diversos contatos entre os seres pertencentes à comunidade universal. Assim, é considerada um objeto histórico, sujeita a transformações, que se modifica no tempo e se diversifica no espaço. Existem quatro modalidades que explicam as variantes lingüísticas:

  1. variação histórica (palavras e expressões que caíram em desuso com o passar do tempo);
  2. variação geográfica (diferenças de vocabulário, pronúncia de sons e construções sintáticas em regiões falantes do mesmo idioma);
  3. variação social (a capacidade lingüística do falante provém do meio em que vive, sua classe social, faixa etária, sexo e grau de escolaridade);
  4. variação estilística (cada indivíduo possui uma forma e estilo de falar próprio, adequando-o de acordo com a situação em que se encontra).

      Alheios a um questionamento mais sério, certos profissionais de educação acreditam que todos os alunos deveriam, somente, aprender a língua culta se a urgência da necessidade assim o exigisse. O que se questiona sobre a mobilidade exeqüível a este problema é o pressuposto da perspectiva sobre o contexto de dominação que foi conseguido (com certo êxito) diante de pessoas provenientes das classes mais abastadas, uma vez que estas não tiveram que sacrificar sua identidade lingüística. Elas já usavam a norma culta em seu dia-a-dia, em seu ambiente familiar, portanto a tarefa de sistematizá-la não foi tão difícil.  

 

 

Função Gramatical

 

      A função elementar gramatical não deve ser mística, é mister que as questões relativas ao ensino baseadas no seu uso sejam ancoradas num princípio básico mais genérico possível, e que sua funcionalidade ocorra com ponto de referência relacionadas as significações.

      As primeiras argumentações a respeito de sua utilização, a definem com estabelecedora de regras para a língua escrita baseada em grandes escritores, por serem estes considerados os melhores usuários da língua. A origem da gramática, de acordo com estudos, se originam em Platão e Aristóteles, dois  renomados filósofos e historiadores  que tinham na ciência e na linguagem suas maiores proposituras.

       Possenti (1996, p. 63-4) afirma que a gramática é um “conjunto de regras”. E que este conceito de regra não é muito preciso, mas que porém não existe equivoco em seu uso. Para o mesmo autor essa expressão “conjunto de regras” pode ser entendida como:

1) conjunto de regras que devem ser seguidas;

 2) conjunto de regras que são seguidas;

 3) conjunto de regras que o falante da língua domina.

      Sendo assim, para discuti-la é necessário levarmos em consideração, no mínimo dois posicionamentos relacionados ao uso direto desta quando o referente se ancorar em regras, ou seja: gramática normativa ou descritiva.

   

       De acordo com a gramática normativa, o conceito de regra se assemelha a um posicionamento social, onde o indivíduo pode está certo, ou está errado. Já na gramática descritiva, essa comparação de conceitos se assemelha a fenômenos naturais, onde o conceito de certo ou errado têm mínima significação.

       Para Travaglia (2000, p. 24- 28) se atribuirmos o conceito gramatical desta forma, existe a possibilidade de entendermos como culta apenas a variedade padrão.

       Outros autores, dentre estes, Neves (1996), entendem que tudo que está inserido na produção de um texto é “gramática”. Pois a língua se comporta desta forma. Segundo esta autora, a gramática se oferece de modo funcional, em uso contínuo, onde alguns tópicos como a análise sintática são referidos como desnecessários, não por serem detestados pelos alunos e professores, mas por serem rotulados.

Concepções de Língua e Linguagem

      Ferdinand Saussure (1969), define a língua como “um sistema abstrato, psíquico, mental, homogêneo e social. Apresenta-se de forma única e organizada”. E seu entendimento como sistema de comunicação, é que dá suporte ao ser humano em sua relação com outros do seu meio.

       De acordo com Libâneo (1994, p. 45-46):

O ensino de Português é uma das mais importantes responsabilidades profissionais do professor, pois é condição básica para a aprendizagem das demais disciplinas, além de ser instrumento indispensável para a participação social dos indivíduos em todas as esferas da vida: profissional, política, cultural.

       O posicionamento desse autor viabiliza o nosso, uma vez que entendemos que a gramática se contextualiza no nosso dia-a-dia e que a linguagem, o grande patrimônio do ser humano, é responsável pelo seu sucesso ou fracasso em algumas situações. E podemos citar os concursos e vestibulares como prova disso. Entendemos também que a linguagem é ponto inicial para ensino da língua portuguesa, por isso entendemos que é importante apresentarmos neste contexto as suas diferentes concepções.

       Três concepções segundo Geraldi (1984, p. 43), contribuem para que isso ocorra, e situa na terceira, as proposituras que contribuirão para as mudanças sociais que se farão necessárias para que o ensino crítico e reflexivo da língua ocorra, considerando a função social do indivíduo:

a) a linguagem é expressão do pensamento: esta concepção ilumina, basi-camente, os estudos tradicionais. Se concebermos a linguagem como tal, somos levados a afirmações de que pessoas que não conseguem se expres-sar não pensam;

b)        a linguagem é instrumento de comunicação: esta concepção está ligada à teoria da comunicação e vê a língua como código (conjunto de signos que se combinam segundo regras) capaz de transmitir ao receptor uma mensagem. Em livros didáticos, esta é a concepção confessada nas instruções ao professor, nas introduções, nos títulos, embora em geral seja abandonada nos exercícios gramaticais;

c)         a linguagem é uma forma de interação: mais do que possibilitar uma transmissão de informações de um emissor a um receptor, a linguagem é vista como um lugar de interação humana: através dela o sujeito que fala pratica ações que não conseguiria praticar a não ser falando; com ela o falante age sobre o ouvinte, constituindo compromissos e vínculos que não pré-existiam antes da fala.

      Essas concepções foram muito difundidas e hoje seguem incentivando ideias reflexivas aos que procuram fundamentação para melhoria do ensino de língua portuguesa. E ao analisá-las cremos, assim como o autor, que a terceira tem um padrão mais adequado, pois aborda a linguagem como atividade interativa, e coloca o indivíduo como aquele a qual a linguagem se propõe o ensino da comunicação.

      O ensino de Português não deve ter seu pressuposto mediado pelo ensino de conteúdos onde o professor seja aquele a repassá-los. Seu significado deve comportar o entendimento do aprendizado e o aluno possa dispor dele no seu dia a dia, e utilizá-lo em diferentes situações de interação uma vez que este ensino tem por necessidade a formação básica do aluno na sua vida cidadã e seu papel dentro do seu segmento social. Segundo Neves (1996) é necessário que se faça o aluno refletir sobre a real funcionalidade da língua. Que este aprenda e tanha o domínio da mesma das suas competências, pois a  linguagem será para ele a grande ferramenta mais importante pa a sua inserção social. Câmara Jr. (2000, p. 45) conclui que “a língua é eminentemente mutável no tempo e o seu movimento ou mudança tem o caráter de uma evolução, isto é, um processo dinâmico, gradual e coerente”.

 

 2. Como ensinar Gramática      

                         

     O ensino de Gramática não deve se limitar a padrões pré-estabelecidos e a  assimilação ou não de determinados conteúdos,  não pode esbarrar ou repousar em  valores sociais predominantes ou nas estratégias usadas pelas escolas quanto a aplicação metodológica. O modo de ensinar a variedade determinada como padrão só é grave, quando  ensinada a quem não a fala usualmente. E este problema reside na questão de imposição que é inferida a um determinado grupo social, não podendo ser ponderado em relação a  valores de outro grupo socialmente constituídos. Conforme declara Faraco.

  

 O desafio maior está, portanto, na reconstrução do nosso imaginário sobre a língua,promovendo, nessa área, um reencontro do país consigo mesmo. Nesse sentido, deverá estar na pauta, por exemplo, a superação crítica do fosso lingüístico que o  século XIX criou, artificial e arbitrariamente, entre nós como parte de um anacrônico  projeto de sociedade apenas branca e europeizada. Em outras palavras, a questão da língua terá de ser percebida também em sua dimensão histórica.

(Faraco,2006, p.11).

 

      Nessa perspectiva, cabe à escola e a nós, professores de língua portuguesa, disseminar uma visão da diversidade do português que aqui se fala, livre de preconceitos, e estimular a consciência de que a norma padrão precisa ser estudada como mais um fator de inclusão sociocultural do cidadão, e não pode ser vista como um manual de regras de correção centrado em si mesmo. Ou seja, nosso papel de professores de língua portuguesa é, antes de qualquer coisa, disseminar a crítica radical ao normativismo e à gramatiquice, para que se possa proporcionar aos alunos o contato com as práticas de linguagem realmente necessárias para sua inserção na sociedade. 

Segundo Bagno:

Com a instrumentalização da Gramática Normativa em mecanismo ideológico de poder e de controle de uma camada social sobre as demais, formou-se essa “falsa consciência”coletiva de que os usuários de uma língua necessitam da Gramática Normativa como se ela fosse uma espécie de fonte mística da qual emana a língua “pura”.Foi assim que a língua subordinou-se à gramática. (BAGNO, 2000: 87)

        Nesse contexto, o estudo da gramática se apresenta como um modo de se refletir sobre a estrutura e o funcionamento da língua, voltando a ser, como o era nos seus primórdios, um auxiliar para o desenvolvimento das habilidades da fala e da escrita.

 

3. Ambiente escolar

       

      No ambiente escolar, nunca deverá ser esperado que o acaso faça o aluno ir adquirindo novas estruturas pelo contato cotidiano com a língua. Logicamente isto irá acontecer, mais cedo ou mais tarde. E a escola deverá está preparada, e esta preparação deve ser caracterizada pelo planejamento, pela escolha consciente de como fazer com que o aluno saia do limite da sala de aula e encontre seus limites externos. Assim, a escola deve ser a facilitadora na busca à aquisição da língua materna, não apenas como modelo de aprendizagem, mas tornando possível que este tenha um enriquecimento constante a partir do primeiro contato com ela. Não expondo o aluno ao fato, à repetição da experiência até o uso automático dela. Cabendo a esta escolher os fatos que devem ser explorados. Porém, ela não pode, dentro do seu segmento, impor o que deva ser explorado. Deve sim facilitar o modo como isso deva ser feito.  E em geral essa facilitação deve focar os fatos que foram vivenciados pelo aluno ao longo da vida, na sua comunidade, no seu ambiente familiar, no seu ciclo de amizades e talvez estes não devam ser mais aceitos pelo padrão definido como culto. O papel do professor é justamente conscientizar o aluno que existem duas maneiras para o uso da língua: uma culta e uma outra concebida na necessidade  de comunicação.

      Em um exemplo de erro freqüente: é possível que o aluno não faça a concordância do verbo com o sujeito que se pospõe “existe muitas bonecas”, “lá vai os cavalos”. O professor deve propor exercícios que aos poucos o façam substituir uma estrutura por outra mais adequada aos padrões cultos da língua.

     O estudo da gramática, tal como proposto aqui, é, em síntese, o estudo da língua viva, usada pelo aluno, enriquecida pelas varias ações ainda não interiorizadas por ele.  De posse de tantas opções, o que deve ser proposto ao aluno é que este faça o uso adequado de cada uma das formas, não as vedo como boas ou más. Pois, somente a situação especial de comunicação é que definirá a exatidão de uma destas e suas vantagens. De acordo com essa concepção, há várias maneiras de notar e distinguir a norma culta. Como afirma Travaglia:

“estão embutidos nessa concepção de gramática vários modos de perceber e definir a chamada norma culta que mobilizam argumentos de diferentes ordens para incluir na norma culta ou excluir dela formas e usos e assim, fundamentar e exercer seu papel prescritivo”. (TRAVAGLIA, 2006, p. 25)  

      Percebe-se, portanto, que o ensino de língua portuguesa perpassa por muitas dificuldades, não apenas com a forma de ensinar a gramática, como também a maneira que o professor atua em sua prática, ou seja, além de fornecer aos alunos uma orientação válida para a prática de produção de textos respaldadas pelas regras gramaticais, então deve-se encontrar métodos dinâmicos e eficientes ao transmitir o conteúdo. Não há uma receita mágica nem respostas milagrosas, o que deve ser feito são novas práticas de ensino que vão propiciar ao corpo discente uma aprendizagem significativa. O aluno somente interioriza o conhecimento da estrutura gramatical, se ela for contextualizada em situações ou contextos comunicativos. O professor poderá utilizar recursos metodológicos, bem como, tecnológicos como cartazes, textos de embalagens, revistas, jornais, oficinas, carta comercial e pessoal, bilhete, romance, horóscopo, receita culinária, cardápio, outdoor, lista de compras, resenha, inquérito, edital de concurso, piada, carta eletrônica, bate-papo online, data show, dentre outros.

 Vivaldo (2006), diz o seguinte sobre esse processo:

“Um primeiro ponto para essa mudança vagarosa é o professor começar a quebrar a distância entre o aluno e o ensino da gramática dentro de sala de aula, tornado-se assim prazeroso para o aluno e não somente obrigatório em estudá-la, bem como a leitura de livros e textos”. (VIVALDO, 2006).

     É evidente que o processo é mais demorado que a apresentação de regras pelo professor. Mas o último expediente, mesmo sendo rápido, é perda de tempo (porque pouco acrescenta ao aluno), enquanto o outro, ao contrário, é um bom aproveitamento de tempo do aluno, porque realmente ensina a aprender.

 

5. Formação do Professor    

      Várias propostas, quanto à formação, são oferecidas aos professores, as mais coesas destacam a escola como auxiliadora no trabalho de  formação do cidadão oferecendo a este igualdade de direitos ao proporcionar o acesso aos conhecimentos. E o  professor deve ser concebido neste trabalho, como um formador, facilitador da aprendizagem.

      A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Nº 9.394, de 20/12/1996, no artigo 2º, estabelece que "a educação (...) tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho" BRASIL(1996).  Portanto, o educador e o aluno devem postular ao aprendizado multiplo. Devem impor-se para que adquiram, progressivamente, maturidade emocional, autonomia, competência, equilíbrio contínuo das relações interpessoais, e especialmente, as de professor-aluno.

      Desta forma, torna-se necessário a reformulação dos conceitos, principalmente, aqueles que se aplicam a forma  de ensinar português. O mais lógico seria determinar-se a linguagem com parâmetros interligados onde esta pudesse começar e tivesse um porto seguro para ancorar. Baseado nisso  as atividades de leitura, escuta, escrita e fala devem estar voltadas, totalmente aos interesses do aluno, e as habilidades de compreensão, reflexão e construção, não devem ser impingidas dificultando desenvolvimento intelectual dos alunos. É importante, ainda, ressaltar que o ensino de gramática, não deve ocorrer apenas para proteger ou conservar a composição da língua, mas para auxiliar o usuário e falante no conhecimento de sua própria língua materna, possibilitando-lhe as características essenciais que pertencem à sua cultura. Deve ser também, um ensino harmonioso na relação entre o ensino da gramática normativa e a contextualizada, sem descartar as nomenclaturas, terminologias e regras, as quais são fundamentais para o desenvolvimento social e cultural dos alunos.
      Travaglia, (2008) ciente destas dificuldades, declara que o ensino de gramática nas aulas de português como língua materna tem, sem dúvida, representado um problema constante para os professores de língua portuguesa, das escolas do ensino fundamental e médio do nosso país.
Consciente disto, para alcançarmos bons resultados no ensino de gramática, devemos levar em consideração algumas questões, que segundo o mesmo Travaglia, são fundamentais para o ensino de gramática: Quais os objetivos da língua materna? Como o professor deve conceber a linguagem?

6. Senso comum      

       

        Autores como (Possenti, 1996; Brito, 1997; Faraco, 2006; Antunes, 2007; Bagno, 2007, só para citar alguns) que se têm ocupado em apontar os problemas de um ensino de língua portuguesa, focado no trabalho com a gramática normativa. Mesmo assim, parece-nos que o conhecimento produzido pelos pesquisadores não é incorporado ao trabalho dos professores, uma vez que estes acabam recorrendo às práticas de ensino de língua a que sempre estiveram habituados: memorização de nomenclaturas para a posterior classificação de termos e frases segundo a norma gramatical, o que faz com que a realidade nas escolas em quase nada seja afetada pelas reflexões desenvolvidas na academia. Como resultado, temos um ensino ainda centrado no certo e errado, com alunos insatisfeitos com as aulas de língua materna, apresentando um desempenho insuficiente nas habilidades que deveriam ser de fato desenvolvidas na aula de português: ler e compreender, bem como escrever textos.

 Segundo Bagno:

 "A gramática deve conter uma boa quantidade de atividades de pesquisa, que possibilitem ao aluno a produção de seu próprio conhecimento lingüístico, como uma arma eficaz contra a reprodução irrefletida e acrítica da doutrina gramatical normativa" (BAGNO, 2000, p. 87)

     

       Mediante estas afirmações, nas situações ocorridas em sala de aula, relacionadas à aprendizagem, far-se-ão necessárias algumas modificações nos procedimentos adotados, em relação ao ensino de língua portuguesa, pois sabe-se que os alunos pertencem a diferentes culturas e devem ser atendidos de acordo com suas necessidades, baseando-se em suas possibilidades de leitura e escrita levando-se, ainda em consideração o potencial gramatical que cada um tem ampliando, ou seja, enriquecendo o poder lingüístico através do ensino da gramática com objetivo de prepará-los para que saibam que quando forem elaborar alguma produção textual devem obedecer à norma padrão.

 

7. Processo de ensino

         

      Nas últimas décadas, professores de língua portuguesa e lingüistas têm se ocupado com a crítica ao ensino tradicional, marcado pelo artificialismo, pela descontextualização e pela gramatiquice (por exemplo, Perini, 2000; Bagno, 2007; Faraco, 2006; Brito, 1997, entre outros). Esse conhecimento produzido na academia também chega às escolas através dos professores que aperfeiçoam sua formação acadêmica, em palestras de que participam ecursos que freqüentam etc. É possível até arriscar dizer que é quase unânime, entre educadores e estudiosos da linguagem, o reconhecimento da idéia de que as aulas de língua portuguesa não devem se centrar no ensino da gramática. A partir da década de oitenta, precisamente com a publicação de “O texto na sala de aula” (Geraldi,1984). Este é proposto, e não mais as atividades metalingüísticas como objeto da aula de português. Circula então entre os professores, ainda que tangencialmente, a noção de que o ensino de língua portuguesa não deve se centrar no ensino de gramática (como se fosse possível dissociar uma coisa da outra). Entretanto, ainda que sejam procedentes as críticas à insuficiência das nomenclaturas e métodos de análise de frases propostos pela gramática tradicional e ao fato de que essa gramática não é relacionada a uma melhor compreensão dos processos de produção e interpretação de textos, não se pode ignorar que grande parte dos professores que tiveram acesso a essas críticas não as receberam acompanhadas de reflexão amadurecida e aprofundada. E, uma vez que o simples acesso às críticas em relação à gramática não basta para que os professores desenvolvam uma nova forma de mediar a teoria lingüística e a prática pedagógica, temos um quadro de ensino de português nas escolas que não se renovou nesses quase trinta anos de indagações. Desse modo, apesar de chegar às escolas, o conhecimento acadêmico que se opõe ao ensino centralizado na gramática, este chega fragmentado e parece ser recebido com certo descrédito. Com os baixos salários e o trabalho em mais de uma escola para melhorar seu rendimento mensal, o professor parece não dispor de tempo nem de dinheiro para se atualizar, fazer cursos. A esse  respeito Possenti afirma:

“as informações técnicas lingüísticas ou não, são importantes como fonte de reflexão, mas a disposição para refletir sobre elas é ainda mais importante, e a disposição para aprender é pré-condição para ensinar" (1996, p. 39).

     

      A Língua Portuguesa é determinada segundo as variações de tempo, condições geográficas e mesmo as divisões sociais, e o professor deve ser sabedor dessas variações. De posse destes saberes, este terá pleno embasamento para propor uma escolha ante ao modelo a ser seguido, uma vez que o padrão de norma culta difere da realidade e dos hábitos lingüísticos das pessoas cultas, de região para região. Se este se recusar a conceber as variações, tenderá a incorrer em erros de forma, entendendo o não aprendizado com incapacidade dos seus educandos. 

Ainda segundo Possenti "o objetivo da escola é ensinar o Português padrão, ou talvez, mais exatamente, o de criar condições para que ele seja aprendido" (1996, p.17)

     Por essas declarações, fica claro que os alunos deverão compreender que a regras culta são invariável, e que a forma de aplicá-la pode ser entendida como normal numa determinada situação, ou modalidade lingüística, e não tão eficiente em outra, e talvez não possa existir uma terceira possibilidade. E essa compreensão deve ser entendida como preparação para utilização da língua em diferentes situações.

  8. O aluno como parte integrante no processo

      

      A gramática implícita (ou internalizada) é definida como o conjunto de regras que o falante domina. É o conhecimento lexical e sintático-semântico que o falante possui e que permite que ele entenda e produza frases em sua língua. A existência de uma gramática internalizada pode ser observada por dois fatos lingüísticos: o primeiro é a criança produzir formas não usadas por falantes adultos. Por exemplo, é comum a criança utilizar a conjugação dos verbos regulares (comi, escrevi) para os verbos irregulares (fazi, trazi). Este fato demonstra que ela tem uma regra internalizada para o uso de verbos, porém, por não conhecer as exceções (os irregulares), aplica a regra a todos os verbos. Desmistificar o conceito de ensino de Língua Portuguesa é, portanto, dizer que o ensino da mesma não se resume ao ensino de regras. Pois, ainda segundo Posseti "ensinar gramática é ensinar a língua em todas as suas variedades de uso, e ensinar regras é ensinar o domínio do uso" (POSSENTI, 1996, p. 86).

    Tudo que se fala sobre ensino de gramática nos, dias atuais, esbarra em um efeito de não funcionalidade, isto porque, alguns professores usam textos  apenas como pretextos, e retiram deles meras palavras ou frases, porém dando continuidade a  antiga forma normativa de ensino. Prestes declara que:

"É preciso atentar para que esse ensino mais sistematizado da gramática seja visto em uso e para o uso, constatando-se sua funcionalidade e procurando-se inseri-lo em situações reais ou que se aproximem o máximo possível dessa realidade" (PRESTES, 1996, p. 52).

    

        E isto, simplesmente, nos declara que o professor deve esquecer a funcionalidade que vem descrita nos livros didáticos, e atentar para a realidade vivida pelos alunos fora das salas de aula. Isto porque, em um conceito de mundo as realidades individuais são as mais diversificadas possíveis.

       

       De acordo como Travaglia (2008) o ensino pode ser dividido de três maneiras: Prescritivo, descritivo e o produtivo.

1º - O prescritivo, que objetiva levar o aluno a substituir seus conhecimentos prévios, ditos como errados, pelos que são considerados certos impostos pela gramática tradicional e que mantém relações com a gramática normativa e com a primeira concepção de linguagem. A importância deste tipo de ensino é  porque ele trabalha a  norma culta e também se preocupa com as variantes escritas. A grande desvantagem  deste é que ele desvaloriza  a língua falada  que é a característica própria da individualização regional de  cada falante quando este se depara com conceito de certo ou errado.

2º - O descritivo que objetiva demonstrar as particularidades da língua e linguagem. Peculiarmente este tipo de ensino prioriza a forma de demonstrar como a língua materna é tratada e a importância que ela ocupa no espaço de vivência do aluno.

3º - O ensino produtivo que objetiva ensinar novas habilidades lingüísticas. Propõe que o aluno entenda de maneira mais eficiente a língua materna e é o mais adequado para desenvolver a competência comunicativa.
Esses três tipos de ensino são muito importantes e não são totalmente excludentes e podem ser utilizados de acordo com os objetivos que se pretende alcançar. O ensino descritivo e o produtivo são os mais úteis para os alunos porque valorizam a língua materna e as variedades e a competência comunicativa, mas, o ensino prescritivo também deve ser trabalhado pelo professor quando ele desejar ensinar a norma padrão, de modo que não apresente valores absolutos na língua e sim como aplicar a língua em determinadas condições.

      Indiferente de como se deva oferecer o estudo da gramática, este deve se basear no estudo da língua viva, aquela que o aluno usa, aquela que é enriquecida pelas variações e que ainda não interiorizadas por ele. De posse de tantas opções, o que deve ser proposto ao aluno será o uso adequado de cada uma das formas possíveis, sem considerar se estas são boas ou más. Deixando que somente a situação, definida como especial, no momento da fala, defina a exatidão de uma forma, e demonstre suas vantagens sobre outra.

 

9.  Língua e resistência

     

      Para estudiosos como Brito (1997) e Antunes (2007) existem a crença que, infelizmente, os avanços dos estudos lingüísticos não têm chegado ao grande público. O estudo de língua na escola, para Antunes (2007), tem repercutido de forma negativa nas pessoas, no que diz respeito às perspectivas com que estas vêem a linguagem, a língua, a gramática, o vocabulário. Para elas, tudo é misturado e a situação é agravada pela pressão social em torno do ideal de correção mais perfeito e prova de superioridade intelectual e cognitiva. Como conseqüência, temos alunos saindo da escola com uma visão de língua confusa, deturpada e equivocada o que os leva a um campo propício ao desenvolvimento de preconceitos. Confusa também é a postura das pessoas comuns diante da língua: por um lado, acreditam que as coisas da língua são para professores e gramáticos; por outro, se sentem à vontade para emitir juízos de valores.

     Ao defender um ensino numa perspectiva interacionista, funcional e discursiva da língua, Antunes (2003) afirma que, por muito tempo, tivemos uma escola que favorecia o mutismo e que, não considerando a função interativa da língua, disseminou a idéia de uma quase irreversível incompetência lingüística. Perdeu-se tempo (e ainda se perde) com análise sintática meramente classificatória, com irrelevâncias lingüísticas (como diferençar adjunto adnominal de complemento nominal), fazendo com que faltasse tempo para se trabalhar as regularidades do funcionamento interativo da língua, que só se dá através do trabalho efetivo com textos orais e escritos, em práticas discursivas variadas, de acordo com as situações em que ocorrem.

 

 

 

10 - Considerações finais

     Cada idioma reflete uma visão singular do mundo, um padrão de pensamento e de cultura. Cada língua falada no mundo constitui uma forma singular de considerar a experiência humana e o próprio mundo. Muitos idiomas desapareceram no curso da história humana. Eles não podem ser mantidos vivos artificialmente por decreto governamental. Todas as línguas são iguais no sentido de que representam uma cultura única. A diversidade lingüística é, portanto, um patrimônio precioso da humanidade; o desaparecimento de qualquer idioma implica o empobrecimento da reserva de saber e a perda de instrumentos para a comunicação intra e intercultural. O que deveríamos fazer é enaltecer a diversidade, pois na verdade as diferenças lingüísticas são enriquecedoras e são elas as responsáveis pela evolução das línguas. O mesmo acontece com os diferentes falares de nosso Brasil grande : cada maneira de falar expressa o pensar de cada região a respeito da vida e do mundo.

       E em língua, o belo é a alteridade, não a mesmice. Sábias, muitas dessas pessoas consideradas “ignorantes” recusam-se a falar de acordo com uma norma que não representa o seu universo, a sua maneira de viver. Elas resistem, pacificamente, com dignidade. Simplesmente não aderem à norma a elas imposta. São capazes de aprender, porém não querem mudar. Querem continuar a ser como são.

     É preciso, portanto, repensar o ensino de Gramática na Língua portuguesa, no Brasil. Nas escolas, obviamente, se enaltece o ensino da norma culta ancorada na gestão mistificada da sapiência existente da Gramática Normativa, por se achar que esta seja a única representação fidedigna da nossa língua. No fundo, estamos expressando um preconceito social e discriminando aqueles que não falam a língua culta, por considerá-los pessoas ignorantes provenientes de classes subalternas, que provavelmente jamais aprenderão a falar e escrever “corretamente” conforme explicitado no sistema normativo de ensino.

 

 

 

 

 

 

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