UNIVERSIDADE DE BARRA MANSA

 

 

Daniel da Silva Martins

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A Formação Profissional e Escolar de Atletas nas Categorias de Base no Futebol

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Barra Mansa - RJ

2015

DANIEL DA SILVA MARTINS

 

 

 

 

 

 

 

A Formação Profissional e Escolar de Atletas nas Categorias de Base no Futebol

Daniel da Silva Martins [1]

Marcelo Dantas de Britto [2]

Resumo

Visto o grande numero de atletas de categoria de base de futebol que não conseguem terminar seus estudos, o presente artigo busca discutir os problemas enfrentados pelos jovens atletas em conciliar a vida estudantil e seus treinamentos. A metodologia usada foi através de pesquisas em artigos e monografias com o objetivo de analisar a formação profissional e escolar dos atletas. Analisando as questões de treinamento, estudos, locomoção, tempo, estrutura do clube e apoio dos pais, concluímos que o estudo é de vital importância para a vida do atleta, visando que a carreira é curta e ao termino da carreira ou de forma inesperada ter que largar o esporte.

Palavras – Chaves: Atletas; Categoria de Base; Escola; Futebol; Jovens.

Abstract

Since the large number of football base class athletes who fail to complete their studies, this article discusses the problems faced by young athletes in reconciling student life and their training. The methodology used was through research articles and monographs in order to analyze the professional and educational training of athletes. Analyzing the training issues, studies, mobility, time, club structure and parental support, we conclude that the study is of vital importance to the life of the athlete, in order that the career is short and to the end of the career or unexpectedly have to drop the sport.

Key - Words: Athletes; Category Base; School; Football; Young

 

 Introdução

O futebol é um esporte com grande prestígio no cenário nacional e internacional. Parte deste fascínio se associa ao grande aporte midiático que recebe. Esta ampla divulgação fomenta o surgimento de inúmeras escolinhas de futebol, que cada vez mais cedo levam as crianças – em geral, meninos de origem das camadas médias e populares – a almejarem seu desenvolvimento técnico e tático, visando uma oportunidade no restrito mercado do futebol profissional.

A rotina árdua dos candidatos a profissionais do futebol exige, na maior parte das vezes, a renúncia a atividades comuns na vida social dos jovens. A busca por esta profissionalização pode ser iniciada antes mesmo dos 12 anos de idade, e implica aproximadamente 5 mil horas de prática de atividades corporais específicas ao longo de 10 anos (DAMO, 2005). [3]

O calendário de jogos, que obriga a viagens constantes, faz com que muitos atletas de futebol deixem de lado os estudos para se dedicarem, com exclusividade, à carreira nos gramados. As exceções mais famosas são o falecido jogador Sócrates, que era médico, o goleiro Victor, do Atlético Mineiro, e Richarlyson, do Atlético MG, que são profissionais de Educação Física.

Se até os anos 2000 era praxe a carreira do atleta ser prioridade, atualmente o nível de escolaridade tem sido exigido em diversos times.

Maurício Marques, coordenador dos cursos de treinadores da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), acredita que o nível de escolaridade do jogador de futebol profissional é capaz, sim, de influenciar a sua performance em campo, colaborando com o desempenho do time: “A capacidade de interpretar o discurso do treinador, as questões do treinamento, a ciência do esporte e a questão científica por trás do treino, têm a ver com o nível educacional e o desenvolvimento cognitivo e social do jogador.” [4]

Ao passar dos anos, cada vez mais é exigido do atleta. A evolução que o futebol vem sofrendo nos últimos anos é um grande sinal para isso, Treinadores, Preparadores Físicos, Massagista e vários outros membros de comissão técnica vêm ano após ano se atualizando, se especializando para se adequar ao nível de mercado tão concorrido que é o meio futebolístico. Devido a isso, com a bagagem que esses profissionais ganham através de seus conhecimentos adquiridos, principalmente os Treinadores que passam diretamente informações aos atletas durante treinamentos e jogos, o dialogo entre as duas partes se torna em muitas vezes um atraso, devido a não compreensão do linguajar e raciocínio do Técnico, devido na maioria das ocasiões o atleta não ter contato com a escola ou ter abandonado os estudos, resultando na dificuldade que diversos atletas tem em absorver alguma informação, a grande dificuldade de se dar uma entrevista e principalmente em administrar seus próprios salários e bens adquiridos.

A grande questão é que esses atletas não carregam a culpa sozinhos pela falta de oportunidade de seguir os estudos, os clubes brasileiros têm uma grande parcela sobre isso, onde na maioria das vezes não disponibiliza aos seus atletas uma forma de se freqüentar os colégios.

A discussão não pode ser feita em cima de atletas profissionais, o atleta tem que ter essa base é nas categorias de base, onde o clube tem que encontrar uma forma de se conciliar ambas as tarefas. Um atleta  que nas categorias de base tem a seu dispor essa oportunidade, ao chegar a idade de se profissionalizar, ele próprio já terminou ao mínimo o Ensino Médio.

 

O Futebol

O futebol teve uma trajetória paradoxal em duas dimensões: na das nações e na das classes sociais. Surgiu na nação européia talvez mais desenvolvida política e economicamente do século XIX, a Inglaterra, e rapidamente se expandiu para nações pouco desenvolvidas ou, mesmo, subdesenvolvidas, dentre as quais se destacou e destaca na sua prática, tanto em termos de quantidade quanto de qualidade, o Brasil. Surgiu entre as elites inglesas, em instituições de ensino superior, e passou logo a ser praticado pelas classes populares que, em muitos casos, não contavam com chuteiras nem bolas apropriadas e, muito menos, com campos adequados. Assim, a trajetória do futebol se caracteriza por um duplo deslocamento: o da internacionalização e o da popularização.

A história nacional dá um lugar de destaque na chegada do futebol para o Brasil a Charles Muller, estudante na Inglaterra, e filho de mãe afro descendente brasileiro e pai alemão. A mistura racial do Muller parece profetizar a mistura de nações e classes sociais que caracterizará o futebol, suas organizações e seus praticantes.

A figura de Muller parece uma boa metáfora das contradições no desenvolvimento do futebol e de sua apropriação internacional e popular.

O esporte se tornou, de forma crescente, espetáculo que combate o tédio, ou seja, se tornou um passatempo de massa ao mesmo tempo em que um campo significativo de negócios. A luta exitosa dos trabalhadores pela redução da jornada de trabalho, iniciada nos países desenvolvidos, gerou crescente tempo livre, além do tempo livre das massas desocupadas. Os negócios destinados a ocupar o tempo livre se multiplicaram, desde os locais de veraneio aos parques, desde o rádio à televisão, passando pelo cinema. O esporte cresce como espetáculo nos estádios, no rádio, no cinema e na televisão.

Elites e populares passaram a jogar com a bola no pé. Os populares, quase sempre trabalhadores não qualificados, passaram a reivindicar salários para poder dedicar-se ao esporte de forma integral. Os anos 1920 viriam ascender e crescer o debate entre amadorismo e profissionalismo. No final da década, o direito à profissão de futebolista tinha se tornado prática aceita. Os clubes tinham que incluir entre os objetivos da gestão o pagamento dos times, dos técnicos e do pessoal de apoio. Os populares, portanto, ganhariam uma nova profissão, um modo novo de sobreviver e o amadorismo deixou seu lugar ao profissionalismo nas divisões superiores do futebol. [5]

A crescente movimentação no mercado do futebol aguça a perspectiva de jovens pretendentes a esta formação profissional, que vêem neste esporte a possibilidade de um futuro promissor. Na visão dos jogadores das categorias de base e de seus familiares, o investimento precoce na profissionalização no futebol se faz necessário. Este esporte aparece como um modo de ascensão social e econômica, fomentando um planejamento familiar intencional (RIAL, 2006; SOUZA et al., 2008).

O sonho que move os esforços dos indivíduos para alcançarem um lugar no oásis da profissão não se torna realidade para a maioria dos jogadores profissionais. De modo geral, os salários dos atletas no Brasil são baixos se considerarmos o desejo de mobilidade social e econômica desses jovens. Os dados disponíveis indicam que 84% dos jogadores, de todas as divisões do futebol profissional no Brasil, recebem salários de até R$1.000,00, 13% recebem entre R$1.000,00 e R$9.000,00, e apenas 3% recebem acima de R$9.000 por mês. Esses indicadores não sofreram mudanças significativas nos últimos seis anos (HELAL et al., 2005). No entanto, a divulgação desses dados parece não desestimular a busca pela profissionalização no futebol. O sonho dos jovens de nossas categorias de base de se tornarem jogadores de grande prestígio na Europa está longe das estatísticas de riqueza. O mercado de futebol europeu é o que absorve a maior parte dos jogadores brasileiros exportados, mas o destino dessa massa é se estabelecer em clubes europeus de segunda e terceira divisões ou em países em que a remuneração está aquém do imaginário dos altos salários do futebol. [6]

 

A Escola

Nos últimos 15 anos, o aumento da quantidade de indivíduos entre 7 e 17 anos recebendo os cuidados de uma instituição de educação formal reflete a maior possibilidade de acesso à escola. No entanto, tal acréscimo ainda não se traduz em melhoria da qualidade do ensino oferecido. Veloso (2009) mostra que embora tenha havido a ampliação do contingente de alunos matriculados com idade entre 15 e 17 anos, cerca de 40% deles não estão na série compatível com sua idade e sequer estaria no ensino médio, o que indica um elevado número de repetências. O mesmo acontece no ensino fundamental. Embora tenha sido atingida a quase universalização de acesso, grande parte dos envolvidos ainda não concluiu esse nível de ensino (idem).

Dados estatísticos do PNAD de 2006, apresentados por Neri (2009), mostram os motivos pelos quais estudantes com idade entre 15 e 17 anos, período em que a evasão escolar é mais expressiva, optam por abandonar a escola. As respostas foram alocadas em quatro principais explicações, a saber: 10,9% dos entrevistados relataram ter dificuldade de acesso à escola; 27,1% mencionaram a necessidade de trabalhar e gerar renda; 40,3% dos jovens disseram não ter interesse intrínseco na escola; e outros motivos totalizaram 21,7% das respostas.

É evidente que a dedicação aos estudos permite uma maior possibilidade de ocupação na vida adulta, mas sua recompensa está longe do imediatismo de muitos jovens. Provavelmente, “os jovens ignoram a importância da educação por desconhecerem tais variáveis objetivas, (...) outra possível razão é que os maiores retornos estão longe no horizonte de tempo” (ibidem, p. 36). Esse quadro pretende insinuar que o futebol pode ser visto como uma porta de entrada para aqueles que pretendem apostar rapidamente no sonho de rápida mobilidade econômica e social em um mercado que pouco depende da formação escolar. Em levantamento das percepções sobre o futuro profissional de alunos matriculados em escolas públicas de alto e baixo prestígio, Costa e Koslinski (2006) observaram que a carreira esportiva aparece em maior percentual como expectativa de futuro para os alunos que freqüentavam escolas de baixo prestígio.

Além da pressa dos jovens em um mundo marcado pela celebridade, do sonho de enriquecer por meio da profissão de jogador de futebol e dos problemas estruturais da escola atual, que parece não dar conta dos desejos e necessidades dos adolescentes, cabe ressaltar que outros fatores também poderiam contribuir para o desinteresse pela escola, como a falta de capital cultural dos pais; a falta de tempo para cobrar dos filhos um bom rendimento escolar; as incertezas e exigências cada vez maiores do mercado de trabalho; o apelo midiático e o glamour que envolvem determinadas profissões, como a de jogador de futebol, marcadas pela “aura” do talento e pela ideia equivocada de que não demandam muito esforço; entre outros aspectos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Futebol x Escola

O tempo desses jovens é dividido entre a preparação profissional nos campos de futebol e a vida nos bancos escolares. O tempo de dedicação ao treinamento das habilidades específicas se aproxima de 15 horas semanais, enquanto o tempo médio semanal de permanência na escola é de aproximadamente 20 horas.

Os jovens que precisam conciliar a escola e uma dura rotina de treinos encontram muitas dificuldades pelo caminho. Mas a realidade de alguns atletas de categorias de base pode ser ainda pior. O abandono escolar faz parte de suas vidas e, mesmo por motivos distintos, eles continuam sem escola.

Embora teoricamente os clubes mantenham os jovens atletas matriculados em escolas públicas ou privadas, o acompanhamento do processo de escolarização dos atletas recebe diferentes tratamentos pelos clubes. Os atletas oriundos de outros Estados chegam aos centros de treinamento no Rio de Janeiro com um histórico de abandono escolar ou com defasagem de aprendizagem, se for considerada a idade ideal de passagem pelas séries escolares no Brasil (MELO, 2010).

Além dos problemas da qualidade da escola brasileira e da ausência de significados de parte dos conteúdos escolares com o cotidiano, esses jovens atletas, em geral, enfrentam variados percalços no processo de escolarização que são específicos desse tipo de formação profissional: cansaço físico pelo excesso de treinamento; falta de tempo para o estudo e para assistir às aulas, em função dos treinos e viagens; falta de motivação pelo insucesso escolar; e interesse obsessivo pelo futebol, que desvaloriza a escolarização. Diante de tantas dificuldades, objetivas e subjetivas, a escola torna-se um objetivo secundário na vida desses jovens (DAMO, 2005).

A busca pela profissionalização no futebol oferece muitos riscos aos que a desejam. As dificuldades para conciliar as rotinas diárias dos atletas os distanciam da escola básica, apesar de não impedi-los de freqüentá-la. Todavia, os atletas entrevistados indicam em suas falas que a escola não é representada como a principal estratégia de vida nesse momento e a dedicação aos estudos não é a principal meta.

No entanto, temos que levar em conta que no caso de uma carreira frustrada no futebol, ainda que esses jovens atletas terminem o ensino médio, dados apontam que a população geral com esse nível de ensino concluído recebe em média R$ 847,00 mensais (NERI, 2009). Essa perspectiva salarial se insere nos valores recebidos pela maioria dos jogadores profissionais oficialmente inscritos na CBF atualmente. Isso mostra um distanciamento expressivo em relação às recompensas financeiras concedidas a uma parcela mínima de atletas de futebol, cujas cifras superam o valor de 20 salários mínimos. [7]

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Conclusão

 O presente estudo nos revela a grande evolução ocorrida no futebol nos últimos anos, sendo ela financeiramente como cientificamente. A única evolução que ainda não ocorreu no futebol em proporção ao financeiro e o cientifico é a escolaridade dos atletas.

A grande dificuldade que ainda se encontra entre conciliar a vida acadêmica e o sonho de se profissionalizar é evidente na grande parte dos clubes brasileiros. O presente estudo não é suficiente para responder questões especificas, mais deixo uma pergunta futura para os grandes clubes formadores de atletas: Qual o melhor modelo de se unir a vida acadêmica junto aos treinamentos e campeonatos e o resultado de se ter um atleta no clube culto e uma vida acadêmica solida?

 

 

 

 

Referências

 

  • ALMEIDA DA ROCHA, H.P.; BARTHOLO, T. L.; SILVA DE MELO. L.; GONÇALVES SOARES. A.J. Jovens esportistas: profissionalização no futebol e a formação na escola. Revista de Educação Física - UNESP,  Motriz, Rio Claro, v.17, n.2, p.252-263, abr/jun.2011
  • CORTEZ, J.A.A , SIMÕES, A.C., DREZNER, R.; DA COSTA, C.P., DE OLIVEIRA, A.R.R  & VARGAS, C.E.A.(2013). Crianças e jovens e a preparação do “craque”. Revista USP, São Paulo, n.99, p. 113-122
  • MARQUES, M.P.; & SAMULSKI, D.M.(2009). Análise da carreira esportiva de jovens atletas de futebol na transição da fase amadora para a fase profissional: escolaridade, iniciação, contexto sócio-familiar e planejamento da carreira. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v.23, n.2, p.103-19, abr/jun.2009
  • MELO L.B. S. Formação e escolarização de jogadores de futebol do Estado do Rio de Janeiro. 2010. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Programa de Pós-Graduação em Educação Física, Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, 2010.
  • PEREIRA, C. E. C., & BIZELLI, J. L. (2014). Futebol juvenil: entre o imaginário e a materialidade da vida nas categorias de base no Brasil. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, v.9, n.2, 2014.

 



[1] Daniel da Silva Martins, Graduando do Curso de Licenciatura de Educação Física na instituição Universidade Barra Mansa - UBM

[2] Marcelo Dantas de Britto, Graduado em Educação Física pelo Centro Universitário de Volta Redonda (1989). Pós-Graduação em Psicomotricidade na escola. Atualmente é professor horista da Universidade Barra Mansa (UBM) e no Centro Universitário Geraldo Di Biase (UGB). Tem experiência  na área de Educação Física Escolar, com ênfase em Educação Física, atuando principalmente nos seguintes temas: recreação, basquete,  atletismo, movimentos e comportamento.

[3] A referência é explicita ao artigo Jovens Esportistas: profissionalização no futebol e a formação na escola (2011)

[4] A referência é explicita ao Jornalismo Portal EF (2013)

[5] A referência é explicita ao artigo Futebol: Controvérsias e aproximações (2012) 

[6] A referência é explicita ao artigo Jovens Esportistas: profissionalização no futebol e a formação na escola (2011)

[7]  A referência é explicita ao artigo Jovens Esportistas: profissionalização no futebol e a formação na escola (2011)