Janete Pereira de Sousa Vomeri[1]



[1] Janete Pereira de Sousa Vomeri e Pedagoga Escola/Empresa , Licenciada em História, Psicopedagoga Institucional e Clinica, Especialista em Metodologia e Didática do Ensino Superior, Professora do Pró Educar, Professora de Cairu, Pesquisadora da História Local e Regional , Coordenadora do Memorial da Câmara e Conselheira de Cultura. Email [email protected]. Facebook Janete Vomeri e Memorial histórico blog Conhecendo o Baixo Sul da Bahia.

Para falar de Valença sua história e suas características sociais, culturais e étnicas tornam-se necessário falar de povos que aqui habitavam. Estes povos eram os índios Tupinambás e Aimorés de tipologias e línguas diversificadas. Segundo os teóricos e historiadores que se referiram a estas comunidades de milhões de índios no período do descobrimento, podemos destacar SOARES, ( XVI); FREI JABOATÃO,( XVI);  (DIAS, 1978); SILVA, ( 1979);  (OLIVEIRA, 1985);  (OLIVEIRA 2006) e (RISÉRIO, 2003) dentre outros.

Os índios que vieram para esta região foram atraídos pelo extenso litoral com exceção apenas dos tupinaés. ( RISÉRIO, 2003, pág 29). Vale salientar que os tupinambás eram em milhares no arquipélago de Cairu, especialmente nas ilhas de Boipeba e Tinharé. Só os tupinambás comiam suas presas. Os guerreiros corajosos e fortes viravam alimentos, eles acreditavam que ao comerem a carne de seus prisioneiros recebiam a força e a coragem dos abatidos em guerra.  Segundo ainda Risério os tupinaés e os tupinambás eram habitantes destas terras há tempos e tempos. Há mais de dois milênios ( Risério, 2003 pág, 30). Segundo o antropólogo Antonio Risério, no seu livro Tnharé, cita a presença de índios do litoral baiano, os tupinambás e os tupiniquins, que praticavam a antropofagia ritual que comiam carne humana. ( RISERIO 2003, pág 29). 

Temos muitos registros culturais da presença destes povos os sambaquis e as urnas funerárias encontradas no território baiano, especialmente em todo baixo sul (RISÉRIO, 2003,  pág 30) Na cidade de Valença temos os sambaquis do Mutá e as urnas funerárias encontrada nos alto do Amparo, a tipologia da urna eram aratu . Em Cairu os sambaquis na sede do município com a presença de cal virgem e cachimbos encontrados pelo memorialista Gilson Mucugê[1].

Das culturas indígenas temos o trato com a obtenção de ostra, que formam os sambaquis (depósitos de ostra) depois usados como reservas de cal vigem aproveitados nas construções portuguesas. E os moluscos e peixes, os indígenas usavam   nos moquém ( comida típica indígena ) semelhante aos moquear de carnes com a  exposição de peixes ao sol. Hoje um hábito muito comum na nossa cultura, também chamada de peixe salgado ao sol. (RISÉRIO, 2003, pág 33) Este costume é presenciado nas comunidades do Tento , bairro de Valença que tem como característica a origem com pescadores e a cultura do peixe salgado e seco ao sol, em camas de talas de palha oriundas da palmeira do dendê, planta habundante desta região e que dá nome ao território de jurisdição Baixo Sul, Costa do dendê.

Os tapuias eram outro povo, ou denominação dada ao povo indígena que não falava o tupy e o guarani, ou bárbaros . Também conhecidos como Aimorés ou guerens. Estes bárbaros eram tapuias que depois passaram a chamar aimorés ( botocudos),  pois usavam artefatos para alongar os lábios e as orelhas (botoques ) falavam a língua do tronco macro-jê e eram oriundos do sertão, eram tão difícil acesso que procuravam adaptar-se a terras difíceis.

Os aimorés eram fortes guerreiros, de estatura alta, cabelos longos de pele mais clara que tupinambás , hábeis corredores  e flecheiros e morriam enfezados. Praticavam a greve de fome quando capturados. Sua pele semelhava couro curtido, pois desde crianças eram surradas para dá resistência a pele.

Segundo Risério eram tantos os tupinambás, que é possível imaginar as aldeias que existiam em todo o litoral do povoado do una, atual Valença em especial Guaibim , barra do Jequiriça e como também no taquari . Por todo o território de Valença era possível encontrar comunidades indígenas de predominância tupinambás ( RISÈRIO, 2003).

Um fato para nossa atenção é que os tupinambás e os aimorés eram nações arquiinimigas. Ou seja, além de guerrearem com os colonizadores  procurando manter seus territórios, também  combatiam com os tupinambás por suas áreas de  jurisdições.

Os sinais fortes da presença indígena nas terras de Valença estão na cultura do artesanato de piaçava, na gastronomia ( moquém, peixe seco, trato com a mandioca e outros) e até na fabricação dos casebres de pau-a-pique .

Lugares como Alto do amparo e Aldeia de São Fidelis são a prova de povoamentos indígenas. Segundo Gentil Dias, no seu livro Depois do Latifúndio foi na aldeia de São Fidelis a primeira colônia agrícola de Valença, para onde os índios do Alto do Amparo foram viver para não serem totalmente dizimados pelas doenças dos brancos ( Dias, 1978, pág 60)

O distrito do Guerèm refere-se ao território dos índios guerèns do povoado do una, onde temos Bonfim, entroncamento e formiga dentre outros lugares.

Diante do exposto é possível confirmar que as terras do una ( 1560-1670), depois povoado do Amparo ( 1670-1799) ; Vila de Valença do Sagrado Coração de Jesus (1799-1849); Cidade de Valença (1849 até os dias atuais) foi colonizada, como também sua cultura, a sua  formação populacional foi influenciada e concebida na sua fundação por indígenas das tribos tupinambás, índios litorâneos e Aimorés( botocudos), índios do sertão que estas terras vieram habitar. A afirmação da presença destas nações indígenas  está nos traços do povo, na cultura aplicada dos saberes e fazeres de nossos antepassados perpassados por oralidade as populações atuais tão rica de miscigenação, manifestações artísticos  culturais locais e regionais.

Referência

DIAS, Gentil Martins. Depois do Latifúndio: continuidade e mudanças . Rio de Janeiro . Tempo Brasileiro.; Brasília , Ed. Universidade de Brasília, 1978.

OLIVEIRA, Valdir Freitas . A Industrial cidade de Valença Um  Surto da Industrialização na Bahia do século XIX . UFBA, 1985.

OLIVEIRA, Edgard Otacílio de . Valença dos Primórdios a Contemporaneidade, EGBA, 2006.

RISÉRIO, Antonio . Tinharé - História e cultura no Litoral Sul da Bahia. Salvador BYI Projetos Culturais LTDA, 2003.



[1] Sr. Gilsom Mucugê Meireles foi um dos grandes pesquisadores  e memorialistas do Município de Cairu, deteve uma  coleção de cachimbos encontrados em suas pesquisas pelo sitio histórico de Cairu-sede.