Resumo de um texto de Bossuet, tirado do livro “Bossuet” de Gustave Lanson – Editora: Lecène, Ondin e Cie. – Paris – 1891 (ps. 82 a 84)

 

Para um discurso, há duas coisas a fazer, primordialmente: formar o estilo e saber das coisas.

No estilo, deve-se considerar em primeiro lugar, o falar bem. Depois, é preciso encontrar o estilo pensado, elevado, requintado e ornado. Deve ter variedade, que é o segredo da arte de agradar o público.

Eu li poucos livros franceses. O que aprendi sobre estilo, devo às leituras dos autores latinos e alguma coisa dos gregos, de Platão e Demóstenes.

Li Cícero, sobretudo seus livros sobre Oratória, onde encontrei vários exemplos de eloqüência; suas orações como Pro Murema, Pro Marcello, algumas catilinárias e algumas Philipicas. Li também Tito Livio, Salustio e Terêncio. Esses são os meus autores preferidos da latinidade. Presumo que lendo esses livros em horas perdidas, podemos ter algumas idéias do estilo torneado e figurado.

Os poetas também ajudam bastante. Só leio Virgílio e alguma coisa de Homero. Horácio é bom à sua maneira, mas um pouco distante da Oratória. Os outros poetas só atrapalham.

Contudo, da leitura de autores franceses, as obras de Guez de Balzac dão um pouco a idéia de estilo fino e apurado. Não há pensamento; mas ele ensina a dar várias formas a idéias simples. Ele exprime e enriquece o texto com belas locuções e frases nobres.

Os livros e os prefácios dos senhores de Port-Royal são bons, pois tem gravidade e elevação. Mas como seus estilos não possuem variedade, convém ler apenas algumas partes...

Bem, tudo isso, sem se desviar das outras leituras sérias. Lendo um ou dois capítulos às vezes bastam para se conhecer o estilo.

Mas, o que é realmente necessário para formar o estilo, é compreender bem a coisa, é penetrar o fundo e a finalidade de tudo, e de saber muito, porque é isso que enriquece o estilo, o qual consiste principalmente nas alusões e relações subentendidas, que mostra que o orador sabe muito mais do que está falando, e sabe prender a atenção do público com os seus diversos pontos de vista. Cícero pede a seu orador multarum rerum scientiam, pois é necessária a plenitude para ser fecundo, e a fecundidade para dar variedade, sem a qual não há interesse.

 

Quem foi Bossuet?

Jacques Bénigne Bossuet, prelado francês, escritor e orador sacro, nasceu em Dijon (1627) e faleceu em Paris (1704). Chegando a Paris em 1659, tornou-se rapidamente o mais reputado orador religioso. Quando bispo de Condom (1669) foi escolhido como preceptor do Delfim, para quem escreveu o “Discurso sobre a Historia Universal”. Foi nomeado bispo de Meaux em 1681 e apoiou a política religiosa de Luís XIV. Sua obra oratória, que compreende Sermões e Orações Fúnebres, e suas obras históricas fazem dele um dos grandes escritores clássicos. (Dicionário Enciclopédico Larousse – Seleções do Rider’s Digest – p. 1045).