Universidade Estadual de Ponta Grossa

Setor de Ciências Exatas e Naturais Departamento de Geociências

 

 

 

 

Arlindo Aparecido Madoenho

Vera Silene Correia Lacerda

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A formação do espaço urbano e o processo de construção da cidade de Cândido de Abreu-Pr

 

 

Ponta Grossa

2014

Universidade Estadual de Ponta Grossa

Setor de Ciências Exatas e Naturais Departamento de Geociências

 

 

 

 

 

A formação do espaço urbano e o processo de construção da cidade de Cândido de Abreu-Pr

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Licenciatura em Geografia (UAB) na modalidade à distância do Departamento de Geociências, Setor de Ciências Exatas e Naturais, da Universidade Estadual de Ponta Grossa.

Professor orientador: Adalberto Alves Pereira Professor Formador: Almir Nabozny.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ponta Grossa

2014

Arlindo Aparecido Madoenho

Vera Silene Correia Lacerda

A formação do espaço urbano e o processo de construção da cidade de Cândido de Abreu-Pr

 

 

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Licenciatura em Geografia (UAB) na modalidade à distância do Departamento de Geociências, Setor de Ciências Exatas e Naturais, da Universidade Estadual de Ponta Grossa.

Professor orientador: Adalberto Alves Pereira Professor Formador: Almir Nabozny.

 Ponta Grossa,........de....................de..............

Banca examinadora

..........................................................

Adalberto Alves Pereira – orientador

 

..........................................................

Professor avaliador

 

..........................................................

Professor avaliador

 

 

 

A formação do espaço urbano e o processo de construção da cidade de Cândido de Abreu-Pr

                                                              

                                                                Arlindo Aparecido Madoenho[1]

                                                              Vera Silene Correia Lacerda[2]

 

Resumo: Este trabalho apresentará alguns aspectos acerca da formação do meio urbano. Em primeiro momento é importante conhecer o conceito de cidade enquanto espaço urbano. É relevante entender a construção deste meio dentro do sistema atual, como é sabido das influências exercidas pelo sistema capitalista, no processo de urbanização no mundo contemporâneo. Dentro deste anseio se buscará conhecer a formação da cidade de Cândido de Abreu, que mesmo sendo uma pequena cidade, não deixa de apresentar diversos problemas decorrentes da falta de planejamento. Para desenvolver esta pesquisa, será analisado dados do IBGE, livro atas, Plano Diretor, projetos de leis, fotos e ainda será feito um trabalho de campo junto a uma turma de educandos do nível médio. É pretendido com este estudo, poder contextualizar temas relacionados, dentro da disciplina de geografia, com a realidade vivenciada pelos estudantes nas escolas locais.   

Palavras chaves: geografia, educandos, urbanização, capitalismo.

Abstract: This paper presents some aspects concerning the formation of the urban environment. In the first instance it is important to know the concept of the city as an urban space. It is important to understand the construction of this medium within the current system, as is known from the influences exerted by the capitalist system, the process of urbanization in the contemporary world. Within this longing will seek to know the formation of the city of Cândido de Abreu, even being a small town, not without many problems arising from lack of planning. To develop this research will analyze data from the IBGE, minutes book, Master Plan, draft legislation, and photos will still be done fieldwork together with a group of students from the middle level. It is intended with this study, power contextualize related topics within the discipline of geography, with the reality experienced by students in the local schools.

Key words: geography, students, urbanization, capitalism

Sumário

1-Introdução ....................................................................................................06

2-A origem das primeiras cidades.....................................................................06

3-O surgimento do conceito de urbanização.....................................................08

4-A concepção de meio urbano após as revoluções europeias do século XVIII ...........................................................................................................................10

5-A formação do meio urbano no Brasil.............................................................11

6-A formação histórica e urbana de Cândido de Abreu.....................................15

7- Os problemas típicos dos meios urbanos também foram surgindo...............21

8- A geografia e o estudo do meio urbano .......................................................23

9- A abordagem deste tema em sala de aula ..................................................24

7-Considerações finais.....................................................................................28

8-Referências...................................................................................................29

 

 


1- Introdução.

 

O presente texto abordará o espaço urbano enquanto cidade perpassando pelo processo histórico de formação do conceito de cidade, e o papel desta nos diferentes períodos até os dias atuais. Lembrando que dentro do sistema capitalista, tudo gira em função do lucro, enquanto este modelo ainda tem por característica, a individualização das pessoas. Outro ponto importante é a segregação que naturalmente é provocada, separando as pessoas por suas condições sociais. O resultado final, sem dúvida, são as desigualdades encontradas nas cidades atuais, com bairros mais valorizados nas áreas consideradas com melhor localização, e as periferias menos valorizadas, reservadas a ocupação das famílias mais empobrecidas. Como é pretendido, o referido assunto, deverá ocupar as salas de aulas, haja vista, que o mesmo é parte importante nas grades curriculares em várias disciplinas, mas principalmente em geografia. Partindo do princípio que a função da escola na vida dos educandos é formar cidadãos, conforme as Diretrizes Curriculares (DCE, 2008)  da SEED:

Fundamentando-se nos princípios teóricos expostos, propõe-se que o currículo da Educação Básica ofereça, ao estudante, a formação     necessária para o enfrentamento com vistas à transformação da realidade social, econômica e política de seu tempo. (DCE, 2008, p. 20).

            E formar cidadãos conscientes capazes de transformar a realidade na qual estes educandos estejam inseridos. Então, conhecer este espaço urbano se trata de algo importante, lembrando que ninguém será capaz de transformar nenhuma realidade que seja desconhecida.

 

2- A origem das primeiras cidades

 

As cidades também são uma construção histórica, que surgiram em um dado momento da sociedade. Determinadas cidades podem até definhar vindo a desaparecer, assim como certas cidades podem passar por grandes transformações. Conforme Leonardo Benevolo (2007) destaca:

A cidade permanece como uma criação histórica particular; ela não existiu sempre, mas teve início num dado momento da evolução social, e pode acabar, ou ser radicalmente transformada, num outro momento. Não existe por uma necessidade natural, mas uma necessidade histórica, que tem um início e pode ter um fim. (BENEVOLO, 2007, p. 9).

Assim as cidades surgiram historicamente em um momento da sociedade, algumas não evoluindo enquanto outras se transformaram permanecendo até os dias atuais. As primeiras cidades que temos como referências históricas, são: Kisch, Ur e Uruk, surgiram por volta de 5000 a.C., situadas próximas aos rios Tigres e Eufrates na Ásia menor, na região da  antiga Mesopotâmia, conforme Carlos (1999) comenta:

Foi em torno de 5000 a.C. que surgem, junto ao Eufrates e em outros pontos da Ásia Menor, as primeiras povoações às quais pode-se dar o nome de cidade. Dentre essas as mais antigas foram provavelmente: Kisch, Ur e Uruk. As duas últimas desapareceram com a mudança do leito do rio Eufrates. (CARLOS, 1999, p.61).

Assim é perceptível que nem todos os projetos de cidades deram certo, no caso de Ur e Uruk, o Rio Eufrates que foi determinante para o surgimento destes agrupamentos de pessoas próximo às suas margens. Posteriormente o mesmo rio se encarregou de afetar estas cidades primitivas. Ocasionando a finalização destas. Conforme argumenta (CARLOS 1999), na citação acima, quando a mudança do leito do Rio Eufrates, teria provocado o desaparecimento de Ur e Uruk. Observa-se a importância dos rios para a sobrevivência destas cidades. As pessoas buscavam habitar próximo aos rios. Porém, estes rios localizados em plena região desértica, possibilitavam áreas agricultáveis ao longo de suas margens. Lembrando que a agricultura proporcionava condições de alimentação a estes grupos que se estabeleceram na antiga Mesopotâmia. Segundo argumentação de Faber:  “Para que se tornassem sedentários, foi essencial o desenvolvimento da agricultura, que, por sua vez, exigia terras férteis, e estas eram proporcionadas pelos rios”. ( FABER, 2011, p. 7 ). Assim o Crescente Fértil, contribuiu para a sedentarização daquela população. Só a agricultura nas terras fertilizadas pelas águas dos rios poderia dar condições de sobrevivência. Uma vez, que os grupos se estabeleceram próximo a margens dos rios em nome da necessidade de alimentação.

As cidades não nasceram prontas, houve um processo histórico evolutivo desde as primeiras formações que não eram consideradas cidades e sim aldeias. Mas, remotamente se observa que esses aglomerados de pessoas se dá com a fixação do homem à terra através da agricultura. A seguir historicamente as cidades são compostas de maneira a organizar as formas de trabalhos. “Embutida na origem da cidade há uma outra diferenciação, a social: ela exige uma complexidade de organização social só possível com a divisão do trabalho.” (SPOSITO,1998, p. 14). Na época do feudalismo com os burgos e o consequente enriquecimento dos burgueses, através do comércio, surgem então as vilas. Com a Revolução Industrial, o trabalho deixou de ser manual para a criação das fábricas, o aglomerado humano se multiplicaram, então, os pobres foram viver em cortiços e os ricos em lugares de influência. “A cidade nunca fora um espaço tão importante, e nem a urbanização um processo tão expressivo e extenso a nível mundial, como a partir do capitalismo.” (SPOSITO, 1998, p. 30).

3- O surgimento do conceito de urbanização

Outro momento de significativa relevância foi a Grécia antiga, com a organização da polis[3]. É notório destacar o papel exercido por estas cidades gregas, principalmente a cidade de Atenas que passa a se destacar como o berço da política, da democracia e, sobretudo da cidadania. Embora o direito a cidadania nesta época era privilégio de uma pequena parte daquela sociedade. Ressaltando  que o termo urbano que vem de urbes, tem  origem no latim, sob influência da cultura greco-romana. Conforme a abordagem feita por Fustel de Coulanges (2009).

Constroem-se algumas casas, é uma aldeia; aos pouco o número de casas vai aumentando, é uma urbes; e agente se une, se for o caso, para cercá-la de um fosso e de uma muralha. Entre os antigos, a urbe não se formava ao longo de muito tempo, pelo lento aumento do número de homens e de construções. Fundava-se a urbe de uma vez, inteira num só dia. (COULANGES, 2009, p.150).

Atualmente o termo urbano não é utilizado apenas para fins de afirmação de crescimento das cidades, mas principalmente para definir mudanças ocorridas na forma de vivência das pessoas. Que ao longo do tempo foram deixando suas características rurais, passando a viver nas cidades. Logo se percebe que a população aos poucos foi se urbanizando, com isso passando acontecer certo crescimento dos sítios urbanos.           

  Percebe-se ainda que a fundação das cidades estavam sempre relacionadas a questão religiosa da época. Lembrando que tanto os gregos assim como os romanos antigos tinham um aspecto cultural marcado pela mitologia, que acabava exercendo influência direta na formação das cidades, conforme Coulanges (2009) continua a argumentar:

Mas era preciso que a cidade fosse primeiro construída, e essa era a obra mais difícil e, normalmente, a mais longa. Uma vez que as famílias, as fratarias e as tribos houvessem combinado unir-se e ter um mesmo culto, logo se fundava a urbe para ser o santuário desse culto comum. Desse modo, a fundação de uma urbes era sempre um ato religioso. (COULANGES, 2009, p.150).

           

Desta forma começa a existir o espaço urbano, totalmente direcionado pelas crenças religiosas da época própria daquela cultura. Lembrando que as cidades tanto europeias e posteriormente as do continente americano, também sofreram a influência religiosa, onde normalmente as cidades cresciam ao redor da igreja. Porém, a religiosidade tem a função de ajudar a direcionar as atitudes tomadas dentro das mais diferentes culturas.

Platão, pelo século IV a.C. também teve preocupação com a formação da cidade que  imaginava como cidade ideal. Quando o mesmo narra uma discussão de Sócrates com mais alguns companheiros, presente em sua obra intitulada por República, uma das preocupações era o fato de esta cidade ser governada por homens justos, afirma Platão (1965).

 As pessoas de bem não querem governar nem pelas riquezas nem pela honra; pois não querem ser tratadas de mercenários, exigindo abertamente o salário de suas funções, nem de larápios auferindo destas funções proveitos secretos; tampouco agem pela honra, pois de modo algum são ambiciosos. Portanto, é preciso que haja coação e castigo para que consintam em governar — por isso,  tomar o poder de plena vontade, sem que a necessidade obrigue, arrisca ser tachado de coisa vergonhosa — e o maior castigo está em ser governado por alguém mais perverso do que a gente, quando a gente mesma não quer governar; é neste temor que me parecem agir, quando governam, os homens de bem, e então vão ao poder  não como a um bem a fim de gozá-lo, mas como uma tarefa necessária, que não podem confiar a melhores do que eles nem a iguais. (PLATÃO, 1965,   p. 94 - 95).

Neste momento é notória a preocupação com a composição política a qual caberá a administração da cidade. O que parece é que as pessoas não estavam disponíveis para o exercício de tal função, carecendo até mesmo de leis que obrigasse a alguém a se colocar na condição de gestor público. Conforme a análise de Sócrates “quando os mais capacitados não se dispõem, o resultado final é serem governados pelos incompetentes”.

Sócrates, segue argumentando segundo Platão, que se houvesse esta cidade de homens bons, naturalmente ninguém ambicionaria o poder, mas na falta desta cidade ideal, os homens lutam para a obtenção do mesmo. Conforme segue a argumentação presente no texto de Platão (1965).

Se uma cidade de homens bons viesse à existência, lutar-se-ia nela, parece-me, para escapar ao poder, assim como agora se luta para obtê-lo, e daí tornar-se-ia claro que o verdadeiro governante não foi feito, na realidade, para buscar a sua vantagem própria, mas a do governado; de sorte que todo  homem sensato preferiria ser obrigado por outrem a se dar o incômodo de obrigar a outrem. Por conseguinte, não concordo absolutamente com Trasímaco, que a justiça seja o  interesse do mais forte. Mas retornaremos a este ponto, outra vez; atribuo muita importância ao que diz agora Trasímaco: que a vida do homem injusto é superior à do justo. (PLATÃO, 1965, p. 95).

Ainda contrariando afirmação feita por Trasímaco, em que a justiça estaria sempre em consonância com o lado dos mais fortes, Sócrates afirma que nesta cidade imaginada como sendo mais perfeita possível a justiça precisa estar ao lado dos homens justos.

Ao mesmo tempo em que tal analogia se apresenta como algo tão antigo, percebe-se que estas preocupações são recorrentes nos dias atuais. Existe uma carência, de governantes que estejam preocupados com seus governados realmente. Quanto à justiça, há momentos em que as pessoas têm a sensação de que a justiça premia os injustos, por outro lado, se observa que nem tudo que é legal é moral.

4- A concepção de meio urbano após as revoluções europeias do século XVIII

 

A partir do século XVIII, com a consolidação do sistema capitalista, o espaço urbano passa por transformações significativas. O processo de industrialização iniciado na Europa coloca a formação das cidades em um novo patamar. Quando as políticas de favorecimento aos interesses burgueses, sobretudo, os donos dos meios de produção, passam a mudar a realidade do campo, assim como ocorrem mudanças na composição do meio urbano. Carlos (1997) argumenta sobre este contexto:

Assim, as terras de cultura são transformadas em pastagens e a população camponesa expulsa delas. A expropriação que vai despojar o trabalhador da terra através da lei do cercamento, com o consequente estabelecimento da propriedade privada da terra constitui o fundamento de todo o processo. De um lado dá origem a uma massa de trabalhadores despojados dos meios de produção que não encontrando terra para o cultivo se dispõem em vender sua força de trabalho: são os braços necessários ao crescimento da manufatura. De outro lado, produz a concentração de bens e capital necessários ao impulso de novas iniciativas. O solo passa a ser um artigo comercial; a necessidade de concentração de terras reduz o cultivo e expulsa a população para a cidade. A violência dá a tônica ao processo que transforma a terra em propriedade privada, em função de uma necessidade econômica. ( CARLOS, 1997, p.25).

            Tais políticas desenvolvidas na Europa a partir do século XVI, iniciam importantes mudanças, haja vista, que trata do rompimento com o modelo feudal. Buscava-se construir algo novo, e esta novidade era o sistema capitalista que se consolida no final do século XVIII, com a Revolução Francesa. Dentro deste contexto de transformações, a Revolução Industrial provocou por meio do cercamento dos campos a expulsão dos camponeses para as cidades. Objetiva o aproveitamento das terras para a produção de matéria prima para a indústria, enquanto o povo rural deveria ir parar no meio urbano para servir de mão-de-obra farta e barata. Conforme argumenta Dennison de Oliveira (2001):

O êxodo rural, que já era intenso desde o cercamento dos campos, intensificou-se. De fato, já no século XIX, a proporção da população urbana da Inglaterra ultrapassava a rural. As cidades onde se localizavam os novos centros do poder econômico atraíam as multidões de trabalhadores, geralmente sem qualificação e com escassos recursos sociais e econômicos. (OLIVEIRA, 2001, p. 21).

É inegável que as políticas desenvolvidas, tinham como proposição, o favorecimento da burguesia industrial recém-surgida na Europa do século XVIII. Posteriormente, é este mesmo modelo que será importado para o continente americano. No caso do Brasil, é o que vai ajudar na formação dos centros urbanos com todos os problemas conhecido nos dias atuais. Assim como o modelo da concentração de terras, também o incentivo a monocultura para exportação tendo como consequência a expansão do latifúndio, consequentemente provocando o êxodo rural com o crescimento desordenado dos meios urbanos. As cidades atuais da forma em que foram construídas historicamente, chegaram  ao modelo de meio

urbano caótico, em que é vivenciado pelas pessoas a partir deste contexto, que influenciou também a formação das cidades aqui no Brasil.

5- A formação do meio urbano no Brasil

 

No Brasil no decorrer do último século houve uma transformação significativa, quando o meio urbano passa a se expandir. O resultado é a origem de grandes cidades, ou, um sistema composto de várias  cidades que vão crescendo, formando as regiões metropolitanas. A este contexto de mudança ocorrido durante os últimos 100 anos no Brasil dá-se o nome de urbanização, responsável por este crescimento estrondoso das cidades em nosso país. Urbanização, não consiste apenas em aumentar o tamanho das cidades, mas também em diminuir a população vivendo no meio rural. J. Willian Vesentini e Vânia Vlach (2012) abordam:

Urbanização significa um crescimento do meio urbano proporcionalmente maior do que o meio rural, ou seja, representada por uma migração gradativa da população do campo para a cidade. Isso ocorre em consequência do chamado êxodo rural, ou migração rural-urbana. Por sua vez, o crescimento urbano consiste na expansão das cidades e pode existir sem que haja urbanização. Esta só ocorre quando o crescimento urbano é superior ao rural, ou seja, quando há migrações do campo para as cidades e a população urbana aumenta proporcionalmente em relação a rural.(VESENTINI & VLACH, 2012, p. 91).

Partindo destas afirmações, se entende o processo de urbanização em decorrência do êxodo rural, responsável pelo esvaziamento populacional presente no campo, enquanto esse fenômeno vem provocando o enchimento demográfico nos meios urbanos. Este fator vem dando uma nova cara a atual composição demográfica no Brasil, que nas últimas décadas se tornou mais urbana do que rural. Lembrando que esta situação não ocorreu por acaso, e sim foi algo dirigido propositadamente, como já havia ocorrido na Europa no século XVIII, período compreendido como a era das grandes revoluções europeias. Porém, o povo forçadamente precisou deixar os campos, indo morar nas cidades, pois precisava de mão de obra farta e barata na Europa que se industrializava.

No Brasil, também ocorre algo parecido no século passado, principalmente a partir de meados do século XX. Quando em chão brasileiro passa a fortalecer a ideia de modernização, com um país buscando sua industrialização, ao mesmo tempo em que na agricultura também se buscava a mecanização dentro desta mesma ideia de Brasil moderno. Então, partindo desta visão os autores Visentini & Vlach (2012) afirmam:

A partir da industrialização da economia brasileira, iniciou-se uma intensa urbanização, ocorrendo aumento proporcional dos empregos no setor secundário e no terciário (bancos, comércio, escolas, seguradoras, setor público, entre outros). A porcentagem da população urbana sobre o total dos habitantes do país passou de cerca de 16% em 1920 para 31% em 1940, 45% em 1960 e 84,4 em 2010. (VESENTINI & VLACH, 2012, p. 92).

Conforme as informações acima apresentadas se entendem que dentro do período analisado pelos autores houve uma inversão no que se refere ao contingente populacional brasileiro levando em consideração o rural e o urbano. O percentual da população que vivia na cidade em 1920, agora a temos vivendo no meio rural.

A questão é que esta transformação veio acarretada de diversos problemas. Também aqui no Brasil do século XX, não significou que tudo foi acontecendo naturalmente. Todo este contexto é resultado de políticas desenvolvidas, para dar exatamente nisso e que desta forma podemos chamar de um país urbanizado. A gravidade está presente no fato das cidades não estarem adequadas para receber todo este povo, que passaram a buscar de forma forçada pela situação criada por tais políticas. Hoje o que vemos é um espaço urbano caótico, cheio de problemas de diversas naturezas, com destaque para a falta de moradias dignas, saneamento básico, saúde, educação e trabalho com remuneração decente.

Outro ponto com pertinência de análise, são justamente as cidade formadas sob influência do sistema capitalista. Lembrando, que o capitalismo  influi na busca incessante do lucro. E, na corrida atrás do lucro, termina por gerar especulações de várias naturezas, com destaque para a especulação imobiliária, responsável por ocorrer a transformação de determinados bairros ou até mesmo áreas rurais que vão virando cidades. Quando construtoras começam a fazer casas ou até mesmo construir condomínios de luxo, disponibilizando para a venda no mercado imobiliário, transformando as cidades com áreas com maior valor em relação a outras que valem menos.

É importante entender os principais fatores que tornaram as nossas cidades em verdadeiros amontoados de pessoas, onde se observa uma forte segregação, encarregada de separar as pessoas por classes sociais. E assim, havendo a compreensão de como são formadas as diferentes paisagens urbanas que compõe as nossas cidades atualmente. Com todos os problemas que são característicos das cidades, como falta de saneamento básico, agravamento na área de saúde, transportes, etc. Mazelas provocadas pelo crescimento desordenado, que tem tornado as cidades em meios urbanos cheio de complicação, conforme o geógrafo Milton Santos (1994) comenta:

Com diferença de graus e de intensidade, todas as cidades brasileiras exibem problemáticas parecidas. O seu tamanho, tipo de atividade, região em que se inserem etc. São elementos de diferenciação, mas em todas elas problemas como os do emprego, da habitação, dos transportes, do lazer, da água, dos esgotos, da educação e saúde, são genéricos e revelam enormes carências. Quanto maior a cidade, mais visível se tornam essas mazelas. (SANTOS, 1994, p. 95).

O êxodo rural ocorrido nas últimas décadas colaborou imensamente para essa transformação, provocando o crescimento desordenado nos espaços urbanos. Aliados a falta de políticas públicas decentes que visem atender esta realidade, leva uma parte significativa das sociedades urbanas, a penarem principalmente nas grandes cidades brasileiras. Não que as cidades pequenas estejam livres dos problemas, apenas estes ocorrem em menor proporção. Mas as cidades menores também perecem pela falta de infraestrutura, sem garantir dignidade para uma parcela de sua população.

Outro problema relevante, é a crise de identidade, provocado pela ausência da individualização, quando este mesmo povo precisa partir para o “salve-se quem puder”, em busca da garantia de uma melhor sobrevivência. Lembrando que a construção de identidades é algo formado a partir do coletivo. Sendo que o pensar coletivamente fica comprometido dentro destes aspectos conforme análise de  Carlos (1999).

A cidade aparece enquanto conjunto numérico, um edifício: 35 andares, 1.200 janelas, 14 elevadores, 6.000 cabeças. É concentração de casas, seres humanos transformados em massa disforme sem identidade, personalidade, necessidades, desejos. “salve-se quem puder!” É a ciência da violência e dos seres humanos esmagados. (CARLOS, 1999, p. 14). 

Os aspectos acima mencionados vêm colocar estes seres humanos urbanos, em condições de maior vulnerabilidade diante da realidade encontrada com toda complexidade representada por este meio. Haja vista, que as condições de organização por parte destes indivíduos que compõe este espaço urbano se torna algo com um grau maior de dificuldade, pelo fato de criarem espaços de discussões dos problemas a fim de encontrarem particularidades em comum, na busca de equacionarem suas dificuldades.

É comum ouvirmos falar muito sobre a falta de segurança, por outro lado, a violência é sempre crescente, aterrorizando parte significativa da sociedade. Porém,  a violência existente, em muitos casos, é consequência da marginalização de quem vive mal, quando muitas vezes é pela própria sociedade segregada se encarregam de se marginalizar e acabam transformando certos espaços urbanos em verdadeiros barris de pólvora, prestes a explodir, principalmente quando envolve os interesses do tráfico de drogas. Hoje, esta é a realidade não apenas dos grandes centros urbanos, observa-se, que mesmo nas médias e pequenas cidades também acabam convivendo talvez com muitos dos mesmos problemas das cidades grandes, embora  às vezes seja com menor intensidade.

Por isso, se faz necessário trazer este assunto para o chão da sala de aula, conhecer a realidade em que estamos inseridos, é condição primordial no processo de formação cidadã. Sendo que a cidadania deve nos levar ao comprometimento com as transformações sociais. Lembrando que ninguém pode mudar aquilo que desconhece. Por este motivo a geografia enquanto disciplina na educação básica, busca trabalhar bem este tema. 

6- A formação histórica e urbana de Cândido de Abreu

 

O início do povoamento na região se dá no ano de 1847, quando na região, chegam os primeiro imigrantes oriundos da França. Sob a liderança do médico francês Jean Maurice Faivre, fundou a então Colônia Agrícola Tereza Cristina. Atualmente é um dos distritos, localizado na região sul do município, a uma distância aproximada de 50 km da cidade de Cândido de Abreu. Em homenagem a imperatriz brasileira, haja vista, que Faivre era bem relacionado com Tereza Cristina, pois era o médico da família imperial brasileira. Conforme Furman (2010) faz esta abordagem:

A colonização do município de Cândido de Abreu data de 1847, quando o francês Dr. João Mauricio Faivre, a mando do imperador D. Pedro II, chegou à confluência dos rios Ivaí e Ivaizinho e ali deu origem ao povoado que, em 1871 foi elevado a Freguesia de Terezina e em 1891, por sua vez, elevado a Distrito judiciário com o atual nome de Tereza Cristina em homenagem a imperatriz D. Tereza. (FURMAN, 2010, p. 05).

Assim inicia a imigração para a região, tendo os franceses como precursores no processo de ocupação das terras pertencente a este município. Posteriormente foi a vez dos poloneses passarem a fazer parte da história inicial, quando em 1908, começam a chegar à região os primeiro imigrantes do leste europeu, se tornando os principais colonizadores deste município. Conforme informações trazidas por Furman (2010).

A presença dos poloneses neste município de Cândido de Abreu teve inicio na data de 29 de junho de1908, quando um navio austríaco aportava no Rio de Janeiro, trazendo famílias e, entre elas, a de Ferdinando Malanowski, vindo de Wroclaw, Polônia. (FURMAN, 2010, p.15).

O historiador Romário Martins (1995), em seu livro intitulado História do Paraná, comenta a respeito do início do povoamento desta região, destacando os principais imigrantes que marcaram o começo de Cândido de Abreu:

Cândido de Abreu, situada entre os rios Ivaí, Ubazinho, Jacaré e do Baile, em terras fertilíssimas. Apucarana, à direita do rio Ivaí, a sudeste da Colônia Cândido de Abreu, constituída de 3.132 polacos, ucranianos, alemães e nacionais. Tereza, fundada em 1847 pelo médico francês Dr. João Mauricio Faivre, sob os auspícios da Imperatriz Tereza Cristina Maria, com 87 franceses, dos quais a maioria não se fixou demoradamente na localidade, espalhando-se por outras regiões da Província. (MARTINS, 1995, p. 353).

Os poloneses começam então a chegar, chegam também ucranianos e outros, e as terras vão sendo ocupadas. A vila de Cândido de Abreu começa a surgir em 1915, denominada de Colônia Federal Cândido de Abreu, cujo titulo lhe foi dado em homenagem ao engenheiro civil que projetou a antiga estrada que ligava a região à cidade de Ponta Grossa. O mesmo foi importante incentivador da ocupação do território brasileiro, em um momento que buscavam um jeito de desenvolver o Brasil e “civilizá-lo” com a vinda de europeus. Trindade e Andreazza citam uma afirmação feita pelo próprio Cândido de Abreu, em seu livro Cultura e Educação no Paraná, “É preciso cuidar-se seriamente em aumentar a densidade de nossa população. De que servem vastos territórios onde imperam despoticamente animais ferozes e servem de passeio temporário ao erradio aborígene?” (TRINDADE E ANDREAZZA, 2001, p. 51). Há outras importantes argumentações sobre o mesmo assunto. Conforme discussão apresentada por Furman. “o nome Cândido de Abreu surgiu no ano de 1915 quando ali foi criada e instalada a colônia federal “Cândido de Abreu” (FURMAN, 2010, p.34).  vindo a buscar sua emancipação politica em no ano de 1954, como afirma Furman. “Em 1954 passou a ser município assim constituído em suas autoridades: 1º delegado: Ernesto Ramos; 1º juiz da paz: Onivaldo Ramos; 1º escrivão civil: Alcides Silva; 1º prefeito: Ary Borba Carneiro”. (Furman, 2010, p. 35).

 O município de Cândido de Abreu, está localizado na região central do Estado do Paraná. Cândido de Abreu se encontra na seguinte escala geográfica: Latitude: 24º 34' 01" S,  e Longitude: 51º 20' 00" W,  se estabelecendo a 540m de altitude, com uma área de 1470 Km². Sua economia é baseada na agropecuária, o clima é subtropical úmido. Em relação ao relevo, grande parte da região possui uma superfície acidentada, com formações montanhosas, e depressões. O que confere ao respectivo município o título de Paraiso das Serras, conforme inscrição no portal na entrada da cidade

 

FIGURA I, Imagem do portal na entrada da cidade. Fonte:  http://www.verdejava.com.br/porticos/

De acordo com levantamento feito pelo IBGE, no censo ocorrido em 2010 o município se encontra com uma população estimada em 16.655 habitantes, divididos em 8.112 mulheres e 8,543 homens. Contendo densidade demográfica de 11,03  hab/km². Lembrando que a população total do município em questão, já alcançou no passado números bem maior do que se encontra no presente. No inicio da década de 1990, o município contava com uma população superior aos 20.000 habitantes, conforme informa Furman (2010).

A população do município, pelo recenseamento de 01/09/1991 realizado pelo IBGE, contava com os seguintes dado estatísticos: 21.615 habitantes. Assim distribuídos:

- Área urbana ........................................3.957 habitantes

- Área rural ..........................................17.658 habitantes

A descendência em sua maioria é de poloneses, ucranianos e em menor escala alemães. Muito da população é constituída de migrantes que aqui assentam moradia, como comerciantes ou fazendeiros, com aquisição de terra. Em 1996 a população era de 19.772 habitantes. (FURMAN, 2010, p. 37).

 

            De acordo com as informações acima, se percebe que a população do município vem sofrendo uma forte redução nos últimos anos. É sabido que a população no início da década de 1980, portanto, uma década antes destas informações era de aproximadamente 25.000 habitantes. Conforme se verifica ao iniciar a década de 1990, mais de 80% da população do município se encontrava vivendo na área rural, quando o índice de urbanização do município era baixa. Se conclui a partir desta análise, que ao mesmo tempo em que o município vem perdendo parte significativa de seus habitantes para outras regiões com mais indústrias, porém, com maior urbanização, a cidade de Cândido de Abreu vem crescendo, enquanto o meio rural encolhe em termo populacional. A dificuldade para a permanência deste povo no município é resultante dos baixos índices de rendimentos, que dificulta a sobrevivência deste povo na região. Haja vista, que o município citado se apresenta como um dos IDH mais baixo do Estado paranaense. Conforme informações apresentadas pelo Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2013) - PNUD, IPEA, FJP).

ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH-M) - 2010

INFORMAÇÃO 

ÍNDICE                 

UNIDADE

Índice de Desenvolvimento Humano             

(IDH-M) 0,629

 

IDHM – Longevidade                                           

0,783

 

Esperança de vida ao nascer                           

71,96 anos                

anos

IDHM – Educação                                                

0,494

 

Escolaridade da População Adulta                     

0,28           

 

Fluxo Escolar da População Jovem                    

0,65

 

IDHM – Renda                                                      

0,643

 

Renda per capita                                                  

438,62                 

R$ 1,00

Classificação na unidade da federação                

383

 

Classificação nacional                                         

3.501

 

FONTE: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2013) - PNUD, IPEA, FJP).

NOTA: Os dados utilizados, para o cálculo do índice, foram extraídos dos Censos Demográficos do IBGE. O índice varia de 0 (zero) a 1 (um) e apresenta as seguintes faixas: 0,000 a 0,499 - muito baixo; 0,500 a 0,599 - baixo; 0,600 a 0,699 - médio; 0,700 a 0,799 - alto; e 0,800 e mais - muito alto.

Os dados acima apresentados são responsáveis pelo esvaziamento populacional ocorridos nos últimos anos neste município. Quando os indivíduos que aqui vivem, não tem um ganho considerável, com renda per capita mais para baixa, que possa dar garantia de dignidade na vida, geralmente é buscado o sonho da possibilidade de melhores condições de vida na área urbana municipal, ou então, partindo para um centro urbano maior atrás deste desejo. Atualmente conforme dados coletados no censo mais recente, temos 4093 indivíduos vivendo na cidade de um total de 16655 habitantes. De acordo com a fonte verificada, se constata que até o ano 2010, ano em que ocorreu a última contagem populacional aproximadamente 25% da população municipal viviam na cidade de Cândido de Abreu, enquanto em torno de 75% do contingente populacional do município, estavam estabelecidos na área rural. Com  uma característica própria, pois a maior parte dos municípios paranaenses possui a maioria  de sua população vivendo no meio urbano. Embora, se observa que em Cândido de Abreu também nos últimos anos vem aumentando sua população urbana, a medida que o meio rural diminui seu número de habitantes. Lembrando que outros municípios da região central do Estado do Paraná também apresente seu meio rural com um número relevante de habitantes.

 

FIGURA II, localização de Cândido de Abreu. Fonte: https://www.google.com.br/search?q=MAPA+DO+PARANA+COM+CANDIDO+DE+ABREU+DESTACADO+IMAGENS&client=firefox-a&hs=bl3&rls=org

FIGURA III, Imagem via satélite da cidade de Cândido de Abreu. Fonte: Google Earth. acesso em 15/11/2014

A formação urbana da cidade de Cândido de Abreu, conforme argumentos mencionados, anteriormente ocorrem com a participação dos imigrantes poloneses. Pois marcavam presença na região em maior número. Estes europeus começam  a se estabelecer a partir de 1908. Conforme segue afirmação feita por Furman (2010).

A presença dos poloneses neste município de Cândido de Abreu teve inicio na data de 29 de junho de 1908, quando um navio austríaco aportava no Rio de Janeiro, trazendo famílias e, entre elas, a de Ferdinando Malanowski, vindo de Wroclaw, Polônia. Em 1915, foi o administrador geral da Colônia Federal “Cândido de Abreu” e, pela assistência prestada à colonização, recebeu do então presidente da Polônia, a comenda “Cruz de honra ao mérito”. (FURMAN, 2010, p. 15).

 Estes, por sua vez chegaram a projetar a formação de uma cidade próximo de onde esta localizada a Comunidade Indígena Faxinal, na comunidade de Faxinal de Catanduvas. Os imigrantes estabelecidos nesta localidade organizaram uma importante cooperativa que teve aproximadamente 3 décadas de permanência, denominada de: Cooperativa Mista do Agricultor, conforme consta na ata de fundação desta:

A Cooperativa Mista do Agricultor tem por objetivo unir os agricultores e criadores residentes em sua área de operação, recebendo as produções de todos e vendendo-as em comum, bem como adquirindo artigos necessários as suas culturas”. (ARTIGO 12º DO ESTATUTO, ATA DE FUNDAÇÃO).

          

FIGURA IV, Representação da sede da cooperativa. Fonte: (FURMAN, 2010, p.14).

 

Esta comunidade se chamava Morska Wolla[4], chegaram a produzir até uma planta do que seria a então cidade pretendida. A cidade neste lugar ficou apenas no planejamento, uma vez que, surge em outro local próximo, uma vila que recebeu a nomenclatura de Colônia Federal Cândido de Abreu. Onde acabou sendo estabelecido o então meio urbano de Cândido de Abreu. Surgindo a vila de Cândido de Abreu, ainda no início do século XX, com algumas famílias de imigrantes que se fixaram próximo às margens do Rio Ubazinho, um pouco mais abaixo da então Morska Wolla. A vila de Cândido de Abreu buscou sua emancipação politica no ano de 1954, desmembrando do município de Reserva. Conforme: “Criado através da Lei Estadual nº 253 de 26 de novembro de 1954 e instalado oficialmente em 22 de dezembro de 1955, foi desmembrado do Município de Reserva”. Assim Cândido de Abreu passa a existir enquanto município, tendo autonomia para decidir seu próprio caminho político.

No dia 20 de julho de 1967, foi instalada a comarca no município, podendo então contar com os três poderes constituído nesta cidade. A cidade foi se adequando, conforme a necessidade presente em cada momento.

7- Os problemas típicos dos meios urbanos também foram surgindo

Ao longo deste tempo, a falta de regulamentação adequada, somado ao baixo nível de informação, mais a falta de perspectiva de um futuro que fosse depender de atitudes tomadas outrora. Levou à formação de uma cidade que foi se adaptando de acordo com a época vivida em cada momento. Haja vista, que em seu início, os veículos usados ainda eram os de tração animal, então não existia a necessidade de  pensar em ruas mais espaçosas. Conforme pode ser observado por meio da imagem a seguir, ponto comercial localizado na região central da cidade, na atual Avenida Visconde Charles de Laguiche.

FIGURA V, Avenida Visconde Charles de Laguiche, antiga Rua Paschoal Villaboim (1935). Fonte: (FURMAN, 2010, p.35).

FIGURA VI, Avenida Visconde Charles de Laguiche (2014). Fonte: Arquivo pessoal.

Assim a cidade atravessou do século XX para o século XXI, com mazelas  típicas das cidades que se formaram sem planejamento. O que se observa é uma série de problemas, que não afeta apenas a questão estética da cidade, mas se convive com ruas e avenidas insuficientes, construídas de formas inadequadas. Pelo fato da cidade ter se formado em região baixa, à beira do rio, boa parte desta, se encontra sob área de mananciais. Como a política de saneamento básico não chega para todos, chega apenas parcialmente, atendendo principalmente a parte mais “nobre” da cidade, uma parcela da população fica desprovida desta politica pública. Sendo que justamente a parte mais pobre da sociedade que acabam se estabelecendo em áreas de riscos. Muitos que estão morando nas áreas de mananciais permanecem utilizando fossas, geralmente inadequadas, altamente poluentes, ou estão descartando dejetos nos riachos, ou direto no Rio Ubazinho. Com a falta de saneamento, estas regiões são as que apresentam maiores chances de contaminação direta. Outro ponto crítico, é que a cidade dispõe de dois cemitérios ambos construídos em lugares inadequados, em um deles o Rio Ubazinho passa ao fundo, com possibilidade do chorume ser drenado direto nas águas do rio, o outro construído em cima de áreas de mananciais com nascentes muito próximas ao seu fundo. Várias famílias de baixa renda estão estabelecidas nos arredores a estas nascentes com possibilidades de fazerem uso destas águas,  onde o risco de contaminação é constante.

           

8- A geografia e o estudo do meio urbano

            Nestas circunstâncias a disciplina de geografia, presente nas grades curriculares da educação básica tem papel importante, quando proporciona o estudo do meio ambiente em diferentes proporções. É de fundamental importância construir conhecimentos nas diversas áreas abordadas pelas ciências geográficas, provocando reflexões sobre os problemas existentes. Não com o objetivo de ser juiz para julgar aquilo que aconteceu no passado, mas buscando o entendimento do processo de construção. Neste caso, o meio urbano municipal de Cândido de Abreu, com o intuito de torná-lo melhor. Outro ponto digno de análise, ao passo que o tempo corre e tudo vai se transformando até chegar as leis ambientais, no caso específico citado, o Estatuto das Cidades ou Lei nº 10.257. de julho de 2001. Esta tem a função de readequar as cidades brasileiras, tornando cada município obrigado a elaborar uma lei municipal para este mesmo fim. Surgindo então o chamado Plano Diretor para normatizar o processo de formação urbana nos municípios brasileiros.

No caso da cidade de Cândido de Abreu, boa parte da cidade cai em condições de irregularidade, devido a certos espaços ocupados, como as áreas de mananciais que deveriam ser destinadas a preservação ambiental. Depois que a cidade já se formou ocupando estes espaços, qual a solução? Para se adequar a esta nova realidade, os municípios precisavam elaborar seus planos diretores. Assim o município de Cândido de Abreu buscou elaborar o projeto de lei, nesta perspectiva o poder legislativo aprovou o Projeto de Lei Nº 11/2012, que passa a tratar da questão urbana em Cândido de Abreu, conforme está especificado no Artigo sétimo do então Plano Diretor (2012):

 Art. 7°. O desenvolvimento urbano e o saneamento ambiental serão norteados pelas seguintes diretrizes:

 I - compatibilização do processo de assentamento humano com as características da base natural, para assegurar a qualidade ambiental da ocupação urbana no Município;

II - formulação e institucionalização das diretrizes do sistema viário, para orientar o arruamento nos novos loteamentos, de modo a melhorar o nível de acessibilidade intraurbana;

III - pavimentação de vias urbanas e estradas rurais, melhorando a acessibilidade a todos os bairros da Cidade e às localidades rurais;

IV - controle da expansão de loteamentos, a fim de assegurar o acesso da população de todos os bairros a padrões satisfatórios de qualidade urbanística e ambiental;

V - incorporação efetiva dos imóveis urbanos não-edificados, sub-utilizados ou não-utilizados ao processo de desenvolvimento urbano;

VI - oferta de infraestrutura de modo eqüitativo nas áreas urbanizadas, visando à justa distribuição dos investimentos públicos entre a população;

VII - melhoria das condições de habitação e saneamento na Cidade, sob a liderança do Município;

VIII - provisão e manutenção de praças e equipamentos urbanos nos novos loteamentos;

IX - proteção e recomposição intensiva da arborização das áreas públicas e privadas, incluindo ruas, praças, bosques, parques, fundos de vales, lotes e quadras, de modo a elevar a qualidade ambiental das áreas urbanas;

X - adoção de sistemas eficazes de limpeza e de coleta e disposição final de resíduos sólidos na Cidade, para assegurar condições satisfatórias de saneamento básico e preservação ambiental;

XI - proteção aos mananciais de água, em específico à bacia do Rio São Vicente;

 XII - prevenção e combate aos processos de erosão hídrica;

XIII - proteção e revitalização dos bens de inequívoco interesse cultural, histórico ou paisagístico; (PROJETO DE LEI Nº. 11/2012).

 Aprovado pelo poder legislativo municipal e sancionado pelo poder executivo vigente naquele ano. Assim sendo, não apenas dá um ar de solução ao problema existente, como ficou determinado um novo parâmetro para expansão da cidade, com a ocupação de novas áreas rurais, que poderão ser transformadas em áreas urbanas. Infelizmente após estes meios urbanos caóticos e problemáticos estarem formados, esta adequação por meio dos planos diretores, acabam passando a sensação de legalizar aquilo que foi produzido de forma irregular, demonstrando uma imagem de que tudo foi resolvido ou solucionado.

9- A abordagem deste tema em sala de aula

 

            Ao tratar do tema urbanização em sala de aula é necessário ultrapassar os limites do que está proposto nos livros didáticos, aproximando os conteúdos trabalhados, com a realidade vivenciada pelos educandos. Nesta perspectiva, na condição de estagiários na formação acadêmica de licenciatura em geografia, buscamos junto a uma turma de nível médio desenvolver um projeto educacional, cujo tema: (As áreas com ocorrência de impactos ambientais no meio urbano  em Cândido de Abreu), quando foi discutido o assunto urbanização, observando a formação da cidade de Cândido de Abreu e a construção das situações impactantes, o mesmo acabou por contribuir com a nossa pesquisa.

O trabalho foi desenvolvido junto a uma turma de 1º ano do nível médio do Colégio Estadual Dr. Cândido de Abreu. Trata-se de uma turma composta de 39 alunos matriculados, sendo que 38 destes residem no meio urbano. O projeto foi desenvolvido com 2 h/aulas de observação, 4 h/aulas apresentação da parte teórica e mais 4 h/aulas de prática de campo e um retorno para a sala de aula para um momento avaliativo. No desenvolvimento da parte teórica, buscou-se trabalhar a questão urbana, a as situações impactantes. Na prática de campo saímos com os educandos, observamos alguns pontos na cidade onde há ocorrência dos impactos mencionados, visualizando bairros construídos em áreas de mananciais. A falta de saneamento básico e as possibilidades de contaminações. Porém, estas áreas deveriam ser destinadas à preservação ambiental. Ainda foi visitado a estação de captação e tratamento de água da Sanepar (Companhia da Saneamento do Paraná), quando também se observou que na ocasião da construção da mesma, não houve planejamento visando aumento de demanda no futuro. Conforme informação prestada por um funcionário, a estação quando foi colocada em funcionamento, servia apenas para atender uma necessidade de 180 ligações. Atualmente, esta tem que atender acima de 2000 ligações. Este fato forçou o bombeamento de água de um segundo rio para suprir a necessidade de consumo da cidade.

Porém, se de um lado existem situações desagradáveis, por outro existem boas experiências acontecendo. Visitamos ainda com a turma o lote do Sr. Anderson Teles Meneguette, assentado no assentamento 19 de Junho, localizado na Linha Marumbi, local da nascente do Rio Koleicho, neste mesmo rio foi construído a estação de captação e tratamento de água da Sanepar para abastecer a cidade. Nesta localidade esta acontecendo o desenvolvimento do Projeto Entre Rios, acompanhado pelos engenheiros agrônomos Diogenes Raphael Soares Ribeiro e Vinícius Bodanese Demarch,  representantes da UEPG ( Universidade Estadual de Ponta Grossa). Ainda nos acompanhou nesta caminhada o professor supervisor técnico Ramon da Costa Barbosa.

FIGURA VII, Organizando para a saída de prática de campo. Fonte: Arquivo pessoal.

FIGURA VIII, Antes da saída à campo. Fonte: Arquivo pessoal.

FIGURA IX, Visita ao Projeto Entre Rios, Assentamento 19 de Junho. Fonte: Arquivo pessoal.

Este projeto que está sendo desenvolvido junto aos agricultores assentados visa a recuperação das matas ciliares, com o intuito de preservar as águas do rio que serve a estação de tratamento da Sanepar para o abastecimento da cidade. Se Verificou que a vasão atual não está sendo suficiente para atender a demanda necessária. Na propriedade visitada, é exercida a atividade leiteira, como atividade principal, sob orientação dos agrônomos, desenvolveram um sistema de rodizio de pastagem, com piqueteamento, garantido uma melhor produção e viabilizando as pequenas propriedades no assentamento.

Ao retornarmos no final da tarde para a sala de aula com os educandos, foi proposto um momento avaliativo, quando foi organizado um debate sobre a experiência que acabara de ocorrer, e os alunos afirmaram terem gostado. Afirmando: pois assim ao vermos na prática fica mais fácil, podendo fazer a relação do conteúdo com a realidade local. Ainda se manifestaram sentindo-se estimulados a defenderem não apenas o Rio Koleicho, onde já esta sendo desenvolvido o Projeto de recuperação por parte da UEPG, mas há também a necessidade de cuidar dos outros rios. Principalmente do Rio Ubazinho, que se encontra com sinais intenso de poluição, e está sendo bombeada suas águas para ser tratada, ajudando a suprir a demanda de consumo no meio urbano. Os alunos também produziram um texto de forma coletiva, citando estas preocupações.

Outro ponto avaliado em sala foi sobre o próprio ambiente escolar, como destino dado ao lixo gerado na escola e o uso consciente da água. Foi verificado que o Colégio Dr. Cândido de Abreu já coleta parte da água da chuva para fazer uso em uma pequena horta que a escola cultiva, para fins de irrigação dos canteiros.

10- Considerações finais

Percebemos que conhecer a realidade é o melhor caminho para transforma-la. Quando envolve teoria e prática, é mais fácil proporcionar que os conteúdos trabalhados em sala, venham ter significado na vida dos educandos. Porém, a aprendizagem tem maior chance de ocorrer, juntando as experiências vivenciadas na prática, e que é parte do presente no dia a dia dos alunos. São pontos indispensáveis para a formação de conceitos, e ainda abre uma possibilidade maior de comprometimento da parte dos alunos.

Desta forma este trabalho nos levou a ter uma melhor compreensão, da questão urbanização, e a perceber a construção também dos problemas recorrentes nas cidades. Hoje podemos nos considerar, com um pouco mais de preparo para abordar temas ligados ao meio urbano em sala de aula, podendo contribuir de forma mais efetiva na formação de nossos educandos. Considerando que é papel da escola formar os cidadãos que estarão engajados nas transformações necessárias na sociedade, e esta só é possível por meio da participação cidadã. O exercício da cidadania deve ser resultado do processo de aprendizagem.

Por isso o tema urbanização se torna tão relevante, não apenas para a disciplina de geografia, mas em todas as áreas do conhecimento. Porém, é sabido que o processo de formação de cidadania envolve todas as matérias contidas nas grades curriculares da educação básica. Lembrando, que para se ter o mínimo de conhecimento sobre o atual sistema urbano do qual fazemos parte, precisamos entender como tudo isso foi construído ao longo do tempo. Neste ponto a geografia, assim como outras ciências devem se preocupar com este tema, haja vista, que o conhecimento deve ser construído de forma interdisciplinar.

8- Referências:

 

BENEVOLO, Leonardo - História das cidades, São Paulo: Perspectiva 2007

 

CARLOS, Ana Fani A. - A cidade, 4ª  ed. São Paulo : Contexto, 1999

Diretrizes Curriculares da Educação Básica – SEED, Paraná 2008

COULANGES, Fustel de - A Cidade Antiga, São Paulo: Martin Claret, 2009

FABER, Marcos - A IMPORTÂNCIA DOS RIOS PARA AS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES. 1ª ed. ( agosto 2011). Disponível em: http://www.historialivre.com/antiga/importancia_dos_rios.pdf , acesso em 05/12/2014

FURMAN. Leocádia Sawczuk – Cândido de Abreu, Nossa Terra, Nossa Gente.

2ª ed. Paraná Centro, Ivaiporã 2010

FURMAN, Leocádia Sawczuk – Os Filhos do Imigrante – Cândido de Abreu: MR gráfica e editora 2012.

MARTINS, Romário, História do Paraná – Curitiba: Travessa dos Editores, 1995.

OLIVEIRA, Dennison de – Urbanização e Industrialização no Paraná. Curitiba: SEED, 2001

PLATÃO  – A República, 1ª volume, Difusão Europeia do Livro. São Paulo, 1965

SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão – Capitalismo e Urbanização. 9ª ed. São Paulo, 1998

SANTOS, Milton – A urbanização brasileira, 2ª ed. – São  Paulo: HCITEC, 1994

TRINDADE, Etelvina M. de Castro; ANDREAZZA, Maria Luiza – Cultura e Educação no Paraná, Curitiba: SEED, 2001.

VESENTINI, J. Willian, Vânia Vlach – Geografia, O espaço social e o espaço brasileiro. 1. Ed. – São Paulo: Ática, 2012

http://www.geografos.com.br/cidades-parana/candido-de-abreu.php acessado em 21/10/2014

http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=410440&search=parana|candido-de-abreu|infograficos:-informacoes-completas, acessado em 21/10/2014

http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/temas.php?lang=&codmun=410440&idtema=16&search=||s%EDntese-das-informa%E7%F5es,  acesso em 21/10/2014

http://www.ipardes.gov.br/cadernos/Montapdf.php?Municipio=84470 acesso em 27/10/2014

http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?uf=41&dados=0 acessado em 27/10/2014

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http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A2ndido_de_Abreu#mediaviewer/File:Parana_Municip_C acesso em 29/10/2014

http://sit.mda.gov.br/download/ptdrs/ptdrs_territorio068.pdf    acessado em 01/11/2014

http://www.verdejava.com.br/porticos/ acessado em 04/12/2014

https://www.google.com.br/search?q=MAPA+DO+PARANA+COM+CANDIDO+DE+ABREU+DESTACADO+IMAGENS&client=firefox-a&hs=bl3&rls=org acesso em 04/12/2014

 



[1] Graduando em geografia pela UEPG

[2] Graduanda em geografia pela UEPG

[3] Cidade em grego

[4] Significado em português: força além mar