Frei Jonas Matheus Sousa da Silva – São Luís – MA 

Muito se diz que o Brasil é uma mistura, ou união de culturas e raças, mas pouco se interessa o povo em aprofundar-se sobre tal fato para na pesquisa científica conhecer suas raízes e dar sentido a atualidade de suas existência e história, pois só podemos compreender e transformar a nossa situação presente à medida que compreendemos nossa genesis pretérita. Para nos auxiliar, contamos com a obra do renomado antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro (1922 – 1997), mais especificamente em sua monumental obra literária “O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil”.

Para Ribeiro, o conhecimento da existência da “Ilha Brasil” na Europa seria anterior a tomada de nossas terras pelos portugueses, que apenas teriam oficializado a “certidão de nascimento” do Brasil, no entanto os agrupamentos indígenas focados em diversas áreas de nossas terras já desenvolviam uma cultura peculiar e primitiva integrada com a natureza, aí temos a “Matriz Tupi”, que teria se originado na região amazônica e ao longo do tempo migrado para as diversas áreas do nosso território; ademais Ribeiro enfatiza as matrizes, lusitana e africana, como essenciais para a formação do povo do Brasil.

Segundo Darcy Ribeiro: “A confluência de tantas e tão variadas matrizes formadoras poderia ter resultado numa sociedade multiétnica, dilacerada pela oposição de componentes diferenciados e imiscíveis. Ocorreu justamente o contrário”(p.20). No itinerário da formação popular do Brasil, um primeiro marco fora o encontro entre europeus e tupis, que ocorrera de modo pacífico devido às relações de cunhadismo e de escambo entre eles, e posteriormente, de forma mais dominadora por parte dos europeus com as missões de catequização indígena e as tentativas de escravizar o povo nativo. Com a  importação  de povos africanos para serem escravos em nossa terra a relação de dominação ocorrera de modo mais violento, porém o negro lutando pela conservação de seus valores também imprime forte marca na cultura nacional; mais ainda porque os homens europeus, que já vinha tendo relações sexuais com mulheres indígenas, também se envolveram sexualmente com suas escravas africanas; o que resulta na miscigenação de nosso povo, a despeito da rigidez da instituição matrimônio pregada pela Igreja através dos missionários, franciscanos e jesuítas.

Darcy Ribeiro ainda analisa as faces atuais do povo brasileiro no capítulo “Os Brasis na História”, destacando as esferas culturais, crioula, cabocla, sertaneja, caipira e sulina, presentes em determinas porções do território nacional e que constituem a riqueza cultural de nossa gente. Encerrando a obra, quanto ao “Destino nacional”, Ribeiro propõe que apesar das dores e lutas para aglutinar historicamente várias matrizes culturais, o povo do Brasil, constitui-se dessa diversidade e pode lançar-se para a construção de um futuro melhor devido a base de sua riqueza cultural, pois a nossa cultura não deriva apenas de uma matriz cultural ou de uma face geo-cultural dos diversos Brasis, mas apresenta-se como um conjunto indivisível.

 

 

REFERÊNCIA:

RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. 2.ed. São Paulo: Companhia das letras, 1995.