A formação acadêmica dos professores de educação física: O quão importantes são os estágios supervisionados ?
Publicado em 24 de julho de 2011 por Flaiane Rodrigues Costa
A FORMAÇÃO ACADÊMICA DOS PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA: O QUÃO IMPORTANTES SÃO OS ESTÁGIOS SUPERVISIONADOS
A educação física escolar encontra-se atualmente relegada a segundo plano, sendo protagonista de preconceitos que são responsáveis pelo seu baixo status profissional. Esta situação tem origem no eixo sobre o qual a escola gira, onde passam das matérias humanísticas para as ciências naturais e exatas, disciplinas ditas como profissionalizantes. Muito se tem discutido sobre esse tema, no entanto percebe-se que a problemática tem aumentado a cada dia.
No ambiente escolar, os educandos devem apropriar-se de conhecimentos que justifiquem a presença e a importância da educação física. Logo, devem compreender que este componente curricular atua na superação das desigualdades sociais, na constituição de atitudes éticas, destacando-se em ações coletivas sobre as individuas, cooperativas sobre as competitivas, atuando também como agente socializador. Além disso, é dever dos educandos, saber que a disciplina tem por objetivos oferecer suporte para que as diversas manifestações da cultura corporal sejam difundidas, preservadas e conhecidas.
A escola é uma das instâncias responsáveis pela formação do cidadão, assim como a família, o trabalho, a igreja, entre outros. Quanto mais nos aproximamos do ambiente escolar, mais nos convencemos de que o ator principal na escola ainda é o professor. Para tanto, o professor atua como eixo articulador entre o educandário e os educandos, permitindo assim, que sejam discutidos alguns saberes indispensáveis a formação docente.
Discutir sobre a formação do professor é avaliar os conhecimentos, técnicas e instrumentos adquiridos no decorrer de sua vida acadêmica, averiguar os projetos desenvolvidos em função da experiência e descrever sobre seus medos, paixões, experiências e tantas outras ações presente no cotidiano escolar. Abordar o assunto sobre a formação do educador é expor as dificuldades encontradas no agir profissional, que por muitas vezes precisam ser pai, mãe, artistas, amigos e aos inúmeros problemas enfrentados devido à falta de preparo.
O perfil do professor de educação física estava diretamente ligado ao âmbito esportivo e não ao processo de escolarização, assim, ao invés de termos professores, tínhamos técnicos. Hoje a realidade da educação física é um pouco diferente, devido à reformulação dos currículos dos cursos de formação profissional, temos o bacharelado, que formam profissionais em educação física e os licenciados, que formam professores de educação física. No curso de educação física da Universidade de Passo Fundo, estas alterações ocorreram em 2004, onde o currículo que serviria tanto para Licenciatura Plena quanto para o Bacharel, passou a ser apenas do curso de Licenciatura em educação física.
A formação dos professores de educação física carece tanto de matérias teóricas quanto de práticas, qualificando e habilitando para que o profissional atue no planejamento, na orientação e na supervisão das diferentes manifestações da cultura corporal.
A reforma curricular dos cursos de Licenciatura em educação física, aponta como principais contribuições para a construção do profissional a formação Filosófico-Pedagógica, a iniciação esportiva, os jogos recreativos, o esforço pessoal, as aulas práticas, a influência docente e os estágios. Assim, analisando as contribuições da reforma curricular, observa-se que o estágio é o momento que proporciona ao graduando pleno contato com o ambiente escolar.
O estágio supervisionado assegura a indissociabilidade do conhecimento teórico com a prática. No decorrer das vivências pedagógicas, o acadêmico de educação física realizará suas ações agindo com maior segurança, demonstrando capacidade de formular objetivos, selecionar conteúdos, isso permitirá que o professor em formação vivencie e consolide as competências exigidas para o exercer docente.
O paradigma da disciplina de educação física, encontrado na maioria das escolas, é aquele que apresenta a matéria na forma de treinamento, desenvolvido através de exercícios mecânicos ou como momento de lazer dos educandos, do que como parte da área da educação. Acredita-se que a corporeidade e seu cultivo não são objetivos de grandes preocupações pedagógicas. Deste modo, a disciplina preenche os espaços e horários inutilizados pelas disciplinas ditas como profissionalizantes. A partir do exposto, pode-se questionar: Quais valores são atribuídos a educação física no contexto escolar?
Os estudos de Arroyo (2000) e Perrenoud (2001) apontam que o professor é a força que impulsiona a escola. No que tange é necessário refletir sobre sua formação, avaliando sua trajetória acadêmica, suas experiências, sua vocação, seu profissionalismo e inúmeros outros aspectos relevantes para a formação do educador. Neste sentido indaga-se: Em que medidas a formação acadêmica contribui para a formação profissional?
A reforma curricular trás para os graduandos em educação física disciplinas responsáveis com a formação profissional, estabelecendo uma relação científica, pedagógica, ética, moral e política, assegurando a indissociabilidade entre teoria e prática. Esta relação ocorre através do estágio supervisionado, disciplina presente nos currículos dos cursos de Licenciatura Plena, que remete o graduando frente ao trabalho docente. Com base nessa afirmação, questiona-se: O estágio supervisionado é o primeiro contato do acadêmico com o ambiente escolar?
Considerando que o plano político-pedagógico do curso de Licenciatura em educação física explicita desenvolver em seus acadêmicos, características como: problematizar o contexto escolar, conhecer a importância da educação física para a construção do cidadão, interpretar e ter conhecimentos sobre as manifestações da cultura corporal, planejar e construir processos avaliativos, entre inúmeras outras características que podem ser desenvolvidas ou aprimoradas nos graduandos do curso de educação física. Para tanto, a disciplina de Estágio Supervisionado permite ao educando a aplicabilidade e a adequação dos conhecimentos adquiridos sobre a cultural corporal. Contudo, ao realizar a docência através do estágio supervisionado o acadêmico utiliza os conhecimentos teóricos e práticos que adquiriu no decorrer da graduação?
É necessário promover uma formação mais crítica dos graduandos, associada à prática da pesquisa e a uma maior reflexão teórica sobre a educação e ainda, consolidar a formação de cidadãos. Como base no exposto acima, interroga-se: Qual a importância do Estágio Supervisionado para formação do professor de educação física ?
As constantes transformações na educação atual nos desafiam a superar a distância entre os que pensam e os que fazem, entre os que prescrevem e os que executam a educação escolar, também nos remetem a repensar sobre as ações e os protagonistas de toda a educação, assegura Mello (2002).
Santin (1987), em um dos seus estudos, afirma que o elemento fundamental de toda educação é o ser humano, defendendo que a educação é do homem como um todo e não somente de uma parte dele. A este respeito, Freire (2004) argumenta que os conteúdos escolares não devem ser exclusivamente dirigidos ao desenvolvimento do raciocínio lógico ou a memorização de informações. Assim, é preciso envolver o educando em sua totalidade, incentivando a ousadia, a emancipação e a autonomia do grupo discente, agregando o exposto as pesquisas de Cury (2003) onde frisa que os professores sulcam e cultivam os territórios mais difíceis de serem trabalhados, os da inteligência e da emoção.
A este respeito Freire (2004) reconhece a importância de ensinar a sensibilidade, a viver em sociedade e a ter moral autônoma, atitudes que são construídas não somente pelo desenvolvimento intelectual, mas também pelo desenvolvimento da cultura corporal. Estas características vão de encontro à proposta da educação física escolar, que visa libertar os educandos do confinamento da sala de aula, desenvolvendo necessidades de educar os sentidos, ensinando a ouvir, a ver, a sentir, a saborear e a tocar. Coadunando com o exposto por Moreira (2009), onde afirma que o educando deve realizar as atividades escolares de forma prazerosa, criando condições para que os mesmos trabalhem com a criatividade, a moralidade e a sociabilidade, construindo cidadão autônomo, crítico e íntegro.
Atuando como agente responsável pela formação do cidadão, a escola, assim como a família, a igreja, o trabalho entre outras instâncias, carrega sobre si a missão de contribuir na formação dos cidadãos. Para tanto, Freire (1993) afirma que: "haveria um tipo de educação não apenas para transformar as pessoas...mas haveria educação que refletisse com as pessoas a transformação do país inteiro." (p.17)
Assim, Benincá (2002), destaca que toda e qualquer idéia de ensino, educação formal e vida nas escolas implica, necessariamente, um pensar sobre a formação dos profissionais que atuam neste universo: os professores. Compreende-se que o principal instrumento do professor é ele mesmo e as atitudes do professor poderão ser à base da formação da cidadania do educando, afinal, ensina-se mais aquilo que se é do que aquilo que se sabe, aponta Perrenoud (2000). O mesmo autor (2001) coloca que o professor constitui-se não somente pelo domínio de conhecimentos, mas também por analisar situações presentes em seu cotidiano profissional, tomadas de decisões, planejamento e outros aspectos que lhe permitam mobilizar seus conhecimentos em uma determinada situação. Desta forma, o autor afirma a importância do aspecto pessoal do educador que entrelaçado ao conhecimento dos conteúdos e de metodologias de ensino, poderão proporcionar maior habilidade em planejar, avaliar, resolver situações de conflito, interagir com a sociedade escolar, entre outros aspectos presentes no ambiente escolar, e, assim, possibilitar a formação moral, cognitiva, afetiva e motora do educando.
Com relação à formação de professores, Lech (2007), salienta que é urgente a atenção que deve ser dada a formação do professor. Como exemplo, Bodah (2010) cita que um dos principais problemas que enfrentou no exercer docente, foi devido à falta de preparo, argumentando que: "as instituições de ensino geralmente nos preparam para o aluno "ideal", enquanto o aluno "real" tem de ser decifrado cotidianamente." (p.13).
Assim, a formação dos professores de educação física deve ter disciplinas práticas como: esportes, danças, ginásticas entres outras, e também disciplinas como: filosofia, sociologia, psicologia, didáticas e os estágios. Assim, o acadêmico terá a oportunidade de estabelecer a relação entre teoria e prática. Sendo assim, Pimenta (2008) considera que: "Na formação de professores, os currículos devem considerar a pesquisa como princípio cognitivo, investigando com os alunos a realidade escolar, desenvolvendo neles essa atitude investigativa em suas atividades profissionais e assim tornando a pesquisa também princípio formativo na docência." (p.17). Para tanto, entende-se que o processo educativo, ocorre entre a teoria e a prática, logo, a educação sempre será prática intecionalizada pela teoria.
Considerando as afirmações acima, compreende-se que os graduandos em educação física, através da disciplina de Estágio Supervisionado estabelecem a relação entre a teoria e a prática, fazendo com que os graduandos conheçam e problematizem o contexto escolar, elaborem projetos, organizem e coordenem as atividades docentes.
Neste aspecto é válido salientar a reforma curricular do curso de educação física da Universidade de Passo Fundo que no ano de 2004 o currículo que serviria tanto para Licenciatura quanto para Bacharel, passou a ser somente do curso de Licenciatura. Destaca-se ainda a alteração sofrida no ano de 2008 que implantou o "DNA" da instituição, que são disciplinas ofertadas para diversos cursos, como Português, que teria ementa e carga horária padronizada e teria equivalência entre os diversos cursos da UPF.
O Estágio Supervisionado, segundo Pimenta (2008), contribui para a formação profissional, permitindo que o acadêmico esteja frente ao trabalho docente, avaliando, refletindo, planejando e realizando tantas outras tarefas pertencentes ao corpo docente. Deste modo, a autora, frisa que a formação do docente deve ser constituída a partir da sólida formação teórica, tendo a pesquisa como componente essencial na formação. Deste modo, é através do estágio que o futuro professor conscientiza-se que sua atuação vai além do que reproduzir informações, sendo responsável pela formação humana por meio de conteúdos e habilidades, do pensamento e da ação, o que resulta em escolhas, valores e compromissos éticos.
Portanto, o estágio supervisionado é um momento "especial" para a formação do professor de educação física, pois é a etapa de corrigir possíveis erros cometidos na docência, colocando o estagiário frente a frente com a realidade do ambiente escolar. Desta maneira, teremos professores inovadores e sem perspectivas de repetir os velhos refrões, logo, os docentes deverão, através de um bom trabalho, expor para todos a importância desta disciplina, onde o objetivo não é somente ensinar a servir ou bloquear, tocar ou finalizar, por exemplo, mas sim, aprimorar habilidades de relacionamento interpessoal, incentivar hábitos de higiene, orientar as devidas regras do jogo, pois, se ao jogar o educando respeita as regras, no convívio da sociedade saberá respeitar leis, e, assim, a justiça, a tolerância, e generosidade farão parte do processo de construção do educando e para tanto, contribuindo para uma sociedade mais justa e honesta.
Finalmente, de acordo com Freire (2008) " O preparo científico do professor ou da professora deve coincidir com sua retidão ética. (...) Formação científica, correção ética, respeito aos outros, coerência, capacidade de viver e de aprender com o diferente, não permitir que o nosso mal-estar pessoal ou a nossa antipatia com relação ao outro nos façam acusá-lo do que não fez obrigações a cujo cumprimento devemos humilde mas perseverantemente nos dedicar." (p.16). A formação docente, portanto, talvez devesse estar embasadas nessa concepção.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARROYO, Miguel. Ofício de Mestre: Imagens e auto-imagens. Petrópolis ? RJ: Vozes, 2000.
BENINCÁ, Elli; CAIMA, Flávia: Formação de professores: Um diálogo entre a teoria e a prática. Passo Fundo ? RS: UPF, 2002.
BODAH, Eliane Thaines: THAINES, Jaira: Conversa entre educadoras: Do dia-a-dia à utopia. Passo Fundo: Berthier, 2010.
CURY, Augusto: Pais brilhantes, professores fascinantes. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.
FREIRE, João Batista. Educação como prática corporal. São Paulo: Scipione, 2004.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2008.
FREIRE, Paulo; NOGUEIRA, Adriano. Que fazer: Teoria e Prática em educação popular. 4ªed..Petrópolis:Vozes, 1993.
GIL, Antônio Carlos.Como elaborar projetos de pesquisa. 3ªed.. São Paulo: Atlas, 1995.
LECH, Marilise Brockstedt. Agressão na escola: Como entender e lidar com essa questão. Porto Alegre: Mediação, 2007.
MELLO, Reynaldo Irapuã Camargo (Org.). Pesquisa e formação de professores.Cruz Alta ? RS: Centro Gráfico UNICRUZ, 2002.
MOREIRA, Evandro Carlos; PICCOLO, Vilma Leni Nista. O quê e como ensinar Educação Física na escola. 1ª Ed.. São Paulo: FONTOURA, 2009.
PERRENOUD, Philippe; PAQUAY, Léopold; ALTET, Marguerite; CHARLIER, Évelyne (Org.): Formando Professores Profissionais 2ª ed.. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.
PIMENTA, Selma Garrido. O estágio como campo de conhecimento. 3ªed.. São Paulo: Cortez, 2008.
SANTIN, Silvino. Uma abordagem filosófica da corporeidade. Ijuí ? RS: UNIJUÍ, 1987.
A educação física escolar encontra-se atualmente relegada a segundo plano, sendo protagonista de preconceitos que são responsáveis pelo seu baixo status profissional. Esta situação tem origem no eixo sobre o qual a escola gira, onde passam das matérias humanísticas para as ciências naturais e exatas, disciplinas ditas como profissionalizantes. Muito se tem discutido sobre esse tema, no entanto percebe-se que a problemática tem aumentado a cada dia.
No ambiente escolar, os educandos devem apropriar-se de conhecimentos que justifiquem a presença e a importância da educação física. Logo, devem compreender que este componente curricular atua na superação das desigualdades sociais, na constituição de atitudes éticas, destacando-se em ações coletivas sobre as individuas, cooperativas sobre as competitivas, atuando também como agente socializador. Além disso, é dever dos educandos, saber que a disciplina tem por objetivos oferecer suporte para que as diversas manifestações da cultura corporal sejam difundidas, preservadas e conhecidas.
A escola é uma das instâncias responsáveis pela formação do cidadão, assim como a família, o trabalho, a igreja, entre outros. Quanto mais nos aproximamos do ambiente escolar, mais nos convencemos de que o ator principal na escola ainda é o professor. Para tanto, o professor atua como eixo articulador entre o educandário e os educandos, permitindo assim, que sejam discutidos alguns saberes indispensáveis a formação docente.
Discutir sobre a formação do professor é avaliar os conhecimentos, técnicas e instrumentos adquiridos no decorrer de sua vida acadêmica, averiguar os projetos desenvolvidos em função da experiência e descrever sobre seus medos, paixões, experiências e tantas outras ações presente no cotidiano escolar. Abordar o assunto sobre a formação do educador é expor as dificuldades encontradas no agir profissional, que por muitas vezes precisam ser pai, mãe, artistas, amigos e aos inúmeros problemas enfrentados devido à falta de preparo.
O perfil do professor de educação física estava diretamente ligado ao âmbito esportivo e não ao processo de escolarização, assim, ao invés de termos professores, tínhamos técnicos. Hoje a realidade da educação física é um pouco diferente, devido à reformulação dos currículos dos cursos de formação profissional, temos o bacharelado, que formam profissionais em educação física e os licenciados, que formam professores de educação física. No curso de educação física da Universidade de Passo Fundo, estas alterações ocorreram em 2004, onde o currículo que serviria tanto para Licenciatura Plena quanto para o Bacharel, passou a ser apenas do curso de Licenciatura em educação física.
A formação dos professores de educação física carece tanto de matérias teóricas quanto de práticas, qualificando e habilitando para que o profissional atue no planejamento, na orientação e na supervisão das diferentes manifestações da cultura corporal.
A reforma curricular dos cursos de Licenciatura em educação física, aponta como principais contribuições para a construção do profissional a formação Filosófico-Pedagógica, a iniciação esportiva, os jogos recreativos, o esforço pessoal, as aulas práticas, a influência docente e os estágios. Assim, analisando as contribuições da reforma curricular, observa-se que o estágio é o momento que proporciona ao graduando pleno contato com o ambiente escolar.
O estágio supervisionado assegura a indissociabilidade do conhecimento teórico com a prática. No decorrer das vivências pedagógicas, o acadêmico de educação física realizará suas ações agindo com maior segurança, demonstrando capacidade de formular objetivos, selecionar conteúdos, isso permitirá que o professor em formação vivencie e consolide as competências exigidas para o exercer docente.
O paradigma da disciplina de educação física, encontrado na maioria das escolas, é aquele que apresenta a matéria na forma de treinamento, desenvolvido através de exercícios mecânicos ou como momento de lazer dos educandos, do que como parte da área da educação. Acredita-se que a corporeidade e seu cultivo não são objetivos de grandes preocupações pedagógicas. Deste modo, a disciplina preenche os espaços e horários inutilizados pelas disciplinas ditas como profissionalizantes. A partir do exposto, pode-se questionar: Quais valores são atribuídos a educação física no contexto escolar?
Os estudos de Arroyo (2000) e Perrenoud (2001) apontam que o professor é a força que impulsiona a escola. No que tange é necessário refletir sobre sua formação, avaliando sua trajetória acadêmica, suas experiências, sua vocação, seu profissionalismo e inúmeros outros aspectos relevantes para a formação do educador. Neste sentido indaga-se: Em que medidas a formação acadêmica contribui para a formação profissional?
A reforma curricular trás para os graduandos em educação física disciplinas responsáveis com a formação profissional, estabelecendo uma relação científica, pedagógica, ética, moral e política, assegurando a indissociabilidade entre teoria e prática. Esta relação ocorre através do estágio supervisionado, disciplina presente nos currículos dos cursos de Licenciatura Plena, que remete o graduando frente ao trabalho docente. Com base nessa afirmação, questiona-se: O estágio supervisionado é o primeiro contato do acadêmico com o ambiente escolar?
Considerando que o plano político-pedagógico do curso de Licenciatura em educação física explicita desenvolver em seus acadêmicos, características como: problematizar o contexto escolar, conhecer a importância da educação física para a construção do cidadão, interpretar e ter conhecimentos sobre as manifestações da cultura corporal, planejar e construir processos avaliativos, entre inúmeras outras características que podem ser desenvolvidas ou aprimoradas nos graduandos do curso de educação física. Para tanto, a disciplina de Estágio Supervisionado permite ao educando a aplicabilidade e a adequação dos conhecimentos adquiridos sobre a cultural corporal. Contudo, ao realizar a docência através do estágio supervisionado o acadêmico utiliza os conhecimentos teóricos e práticos que adquiriu no decorrer da graduação?
É necessário promover uma formação mais crítica dos graduandos, associada à prática da pesquisa e a uma maior reflexão teórica sobre a educação e ainda, consolidar a formação de cidadãos. Como base no exposto acima, interroga-se: Qual a importância do Estágio Supervisionado para formação do professor de educação física ?
As constantes transformações na educação atual nos desafiam a superar a distância entre os que pensam e os que fazem, entre os que prescrevem e os que executam a educação escolar, também nos remetem a repensar sobre as ações e os protagonistas de toda a educação, assegura Mello (2002).
Santin (1987), em um dos seus estudos, afirma que o elemento fundamental de toda educação é o ser humano, defendendo que a educação é do homem como um todo e não somente de uma parte dele. A este respeito, Freire (2004) argumenta que os conteúdos escolares não devem ser exclusivamente dirigidos ao desenvolvimento do raciocínio lógico ou a memorização de informações. Assim, é preciso envolver o educando em sua totalidade, incentivando a ousadia, a emancipação e a autonomia do grupo discente, agregando o exposto as pesquisas de Cury (2003) onde frisa que os professores sulcam e cultivam os territórios mais difíceis de serem trabalhados, os da inteligência e da emoção.
A este respeito Freire (2004) reconhece a importância de ensinar a sensibilidade, a viver em sociedade e a ter moral autônoma, atitudes que são construídas não somente pelo desenvolvimento intelectual, mas também pelo desenvolvimento da cultura corporal. Estas características vão de encontro à proposta da educação física escolar, que visa libertar os educandos do confinamento da sala de aula, desenvolvendo necessidades de educar os sentidos, ensinando a ouvir, a ver, a sentir, a saborear e a tocar. Coadunando com o exposto por Moreira (2009), onde afirma que o educando deve realizar as atividades escolares de forma prazerosa, criando condições para que os mesmos trabalhem com a criatividade, a moralidade e a sociabilidade, construindo cidadão autônomo, crítico e íntegro.
Atuando como agente responsável pela formação do cidadão, a escola, assim como a família, a igreja, o trabalho entre outras instâncias, carrega sobre si a missão de contribuir na formação dos cidadãos. Para tanto, Freire (1993) afirma que: "haveria um tipo de educação não apenas para transformar as pessoas...mas haveria educação que refletisse com as pessoas a transformação do país inteiro." (p.17)
Assim, Benincá (2002), destaca que toda e qualquer idéia de ensino, educação formal e vida nas escolas implica, necessariamente, um pensar sobre a formação dos profissionais que atuam neste universo: os professores. Compreende-se que o principal instrumento do professor é ele mesmo e as atitudes do professor poderão ser à base da formação da cidadania do educando, afinal, ensina-se mais aquilo que se é do que aquilo que se sabe, aponta Perrenoud (2000). O mesmo autor (2001) coloca que o professor constitui-se não somente pelo domínio de conhecimentos, mas também por analisar situações presentes em seu cotidiano profissional, tomadas de decisões, planejamento e outros aspectos que lhe permitam mobilizar seus conhecimentos em uma determinada situação. Desta forma, o autor afirma a importância do aspecto pessoal do educador que entrelaçado ao conhecimento dos conteúdos e de metodologias de ensino, poderão proporcionar maior habilidade em planejar, avaliar, resolver situações de conflito, interagir com a sociedade escolar, entre outros aspectos presentes no ambiente escolar, e, assim, possibilitar a formação moral, cognitiva, afetiva e motora do educando.
Com relação à formação de professores, Lech (2007), salienta que é urgente a atenção que deve ser dada a formação do professor. Como exemplo, Bodah (2010) cita que um dos principais problemas que enfrentou no exercer docente, foi devido à falta de preparo, argumentando que: "as instituições de ensino geralmente nos preparam para o aluno "ideal", enquanto o aluno "real" tem de ser decifrado cotidianamente." (p.13).
Assim, a formação dos professores de educação física deve ter disciplinas práticas como: esportes, danças, ginásticas entres outras, e também disciplinas como: filosofia, sociologia, psicologia, didáticas e os estágios. Assim, o acadêmico terá a oportunidade de estabelecer a relação entre teoria e prática. Sendo assim, Pimenta (2008) considera que: "Na formação de professores, os currículos devem considerar a pesquisa como princípio cognitivo, investigando com os alunos a realidade escolar, desenvolvendo neles essa atitude investigativa em suas atividades profissionais e assim tornando a pesquisa também princípio formativo na docência." (p.17). Para tanto, entende-se que o processo educativo, ocorre entre a teoria e a prática, logo, a educação sempre será prática intecionalizada pela teoria.
Considerando as afirmações acima, compreende-se que os graduandos em educação física, através da disciplina de Estágio Supervisionado estabelecem a relação entre a teoria e a prática, fazendo com que os graduandos conheçam e problematizem o contexto escolar, elaborem projetos, organizem e coordenem as atividades docentes.
Neste aspecto é válido salientar a reforma curricular do curso de educação física da Universidade de Passo Fundo que no ano de 2004 o currículo que serviria tanto para Licenciatura quanto para Bacharel, passou a ser somente do curso de Licenciatura. Destaca-se ainda a alteração sofrida no ano de 2008 que implantou o "DNA" da instituição, que são disciplinas ofertadas para diversos cursos, como Português, que teria ementa e carga horária padronizada e teria equivalência entre os diversos cursos da UPF.
O Estágio Supervisionado, segundo Pimenta (2008), contribui para a formação profissional, permitindo que o acadêmico esteja frente ao trabalho docente, avaliando, refletindo, planejando e realizando tantas outras tarefas pertencentes ao corpo docente. Deste modo, a autora, frisa que a formação do docente deve ser constituída a partir da sólida formação teórica, tendo a pesquisa como componente essencial na formação. Deste modo, é através do estágio que o futuro professor conscientiza-se que sua atuação vai além do que reproduzir informações, sendo responsável pela formação humana por meio de conteúdos e habilidades, do pensamento e da ação, o que resulta em escolhas, valores e compromissos éticos.
Portanto, o estágio supervisionado é um momento "especial" para a formação do professor de educação física, pois é a etapa de corrigir possíveis erros cometidos na docência, colocando o estagiário frente a frente com a realidade do ambiente escolar. Desta maneira, teremos professores inovadores e sem perspectivas de repetir os velhos refrões, logo, os docentes deverão, através de um bom trabalho, expor para todos a importância desta disciplina, onde o objetivo não é somente ensinar a servir ou bloquear, tocar ou finalizar, por exemplo, mas sim, aprimorar habilidades de relacionamento interpessoal, incentivar hábitos de higiene, orientar as devidas regras do jogo, pois, se ao jogar o educando respeita as regras, no convívio da sociedade saberá respeitar leis, e, assim, a justiça, a tolerância, e generosidade farão parte do processo de construção do educando e para tanto, contribuindo para uma sociedade mais justa e honesta.
Finalmente, de acordo com Freire (2008) " O preparo científico do professor ou da professora deve coincidir com sua retidão ética. (...) Formação científica, correção ética, respeito aos outros, coerência, capacidade de viver e de aprender com o diferente, não permitir que o nosso mal-estar pessoal ou a nossa antipatia com relação ao outro nos façam acusá-lo do que não fez obrigações a cujo cumprimento devemos humilde mas perseverantemente nos dedicar." (p.16). A formação docente, portanto, talvez devesse estar embasadas nessa concepção.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARROYO, Miguel. Ofício de Mestre: Imagens e auto-imagens. Petrópolis ? RJ: Vozes, 2000.
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BODAH, Eliane Thaines: THAINES, Jaira: Conversa entre educadoras: Do dia-a-dia à utopia. Passo Fundo: Berthier, 2010.
CURY, Augusto: Pais brilhantes, professores fascinantes. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.
FREIRE, João Batista. Educação como prática corporal. São Paulo: Scipione, 2004.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2008.
FREIRE, Paulo; NOGUEIRA, Adriano. Que fazer: Teoria e Prática em educação popular. 4ªed..Petrópolis:Vozes, 1993.
GIL, Antônio Carlos.Como elaborar projetos de pesquisa. 3ªed.. São Paulo: Atlas, 1995.
LECH, Marilise Brockstedt. Agressão na escola: Como entender e lidar com essa questão. Porto Alegre: Mediação, 2007.
MELLO, Reynaldo Irapuã Camargo (Org.). Pesquisa e formação de professores.Cruz Alta ? RS: Centro Gráfico UNICRUZ, 2002.
MOREIRA, Evandro Carlos; PICCOLO, Vilma Leni Nista. O quê e como ensinar Educação Física na escola. 1ª Ed.. São Paulo: FONTOURA, 2009.
PERRENOUD, Philippe; PAQUAY, Léopold; ALTET, Marguerite; CHARLIER, Évelyne (Org.): Formando Professores Profissionais 2ª ed.. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.
PIMENTA, Selma Garrido. O estágio como campo de conhecimento. 3ªed.. São Paulo: Cortez, 2008.
SANTIN, Silvino. Uma abordagem filosófica da corporeidade. Ijuí ? RS: UNIJUÍ, 1987.