A FORMA COMO A ÉTICA SE FAZ PRESENTE NA POLÍTICA

HOW ETHICS IS PRESENT IN POLITICS

 

Prof. Me. Mara Salvucci.¹

CARNEIRO, Gilson de Assis; GOMES, Geciane; GUIMARÃES, Denisson de Oliveira; SILVA, Alberto Lima da.²

 

RESUMO

 

A ética e a política possuem uma relação de dependência uma da outra. O homem é um animal político, porque é sociável e através de sua obediência ou crítica vive na sociedade de acordo com as regras estabelecidas por ela. O caráter do homem só se manifesta em comunidade, não há como ser ético isolado do mundo. A base de uma sociedade justa é para Sócrates o conhecimento particular de cada um sobre si mesmo, para Platão é a educação do cidadão. Para Aristóteles, a cidade é um bem maior e a sua harmonia é imprescindível. A partir dos filósofos, ocorre o surgimento da ética e da política ocidentais. O que mantém a harmonia de uma cidade é o bem aos outros. O bem é o princípio da ética, contudo, Maquiavel analisa a política em sua prática, não em sua teoria e nem seu ideal. A política apresentada separa-se da ética e da religião, logo é analisada em sua dinâmica. Esta visão é adotada pelos governos monarcas e segue ao longo dos anos como referência de conceito.

 

PALAVRAS-CHAVE

Ética, política, filósofo.

 

ABSTRACT

 

Ethics and politics have a dependent relationship to each other. Man is a political animal, because it's sociable and through his obedience or critique live in society according to the rules laid down by it. The character of man is manifested only in community, there is no ethical being isolated from the world. The basis of a just society for Socrates is the knowledge of each person about thyself, for Plato is the education of the citizen. For Aristotle, the city is a greater entity and it's harmony is essential. From these philosophers, arises the Western concept of ethics and politics. What keeps the harmony of a city is good done to others. Goodness is the principle of ethics, however, Machiavelli examines the real politics, not the theory nor it's ideal. The politics presented is separated from ethics and religion, then is analyzed in its dynamics. This view is adopted by monarchs and governments over the following years as the reference concept.

 

KEYWORDS

Ethic, political, philosopher.

 

INTRODUÇÃO

 

Através das concepções de ética e política de alguns dos principais filósofos, estabelecer a influência e a relação de tais concepções para a atualidade. Justifica-se a escolha desse tema pela necessidade de estudar o problema da moral nas relações humanas, pela necessidade de voltar ao início da ética e indicar os principais conceitos propostos pelos filósofos gregos: Sócrates, Platão e Aristóteles, ressaltando a relevância desta proposta ética no campo da política. Para a produção dessa discussão teórica foram realizadas leituras das obras dos filósofos estudados e de seus comentadores, pesquisa de significados de algumas palavras num dicionário de filosofia, resumos elaborados a partir destas leituras e pesquisas.

 

 

A FORMA COMO A ÉTICA SE FAZ PRESENTE NA POLÍTICA

 

O princípio supremo da ética é fazer o bem aos outros. Com Sócrates, pela primeira vez, o homem tornou-se tema da reflexão filosófica. O homem deveria conhecer a si mesmo para recuperar seu valor e sua dignidade moral, esta é a base para que tenhamos um bom cidadão numa pólis justa. A ética nasce com os temas centrais, nunca esgotáveis, do bem, da virtude, do valor da pessoa e da sociedade justa. Isto não nasce de pura reflexão, mas das análises dos fatos negativos de um contexto sociopolítico em decadência vertiginosa.

Platão buscou seguir os ensinamentos de seu mestre por um caminho muito mais longo, porém bem mais seguro: a educação dos cidadãos. A educação para a justiça e para o estado bem ordenado, ou seja, a república. Com isso surge a ética e a política do ocidente.

Ética e política estão relacionadas entre si. Podemos considerar que sem ética, que é a análise da conduta do homem, não há política, que é a análise da cidade. Por outro lado, sem política não há ética, pois é na convivência com a comunidade que o homem demonstra o seu caráter ético. Neste sentido, Aristóteles faz a seguinte colocação: O homem é naturalmente um animal político, destinado a viver em sociedade, e que aquele que, por instinto, e não porque qualquer circunstância o inibe, deixa de fazer parte de uma cidade, é um ser vil ou superior ao homem (Aristóteles,1966, p. 18).

O homem está fadado a viver em sociedade. Ou seja, é da natureza humana se socializar. Existem as circunstâncias que nos inibem, mas não significa que ao não praticar política o homem deixe de ser um animal político, pois não participar por um motivo ou outro ainda assim é fazer política. Esta situação envolve a ética. E Aristóteles ironiza o homem que se afasta da cidade e basta-se por si só, pois só pode ser vil ou superior a sua condição de humano.

Para Aristóteles, a cidade é um bem maior, pois é a associação dos homens trabalhando em conjunto por um mesmo objetivo positivo. Na relação de trabalho do governo político, há o senhor, que é aquele que manda, e o súdito, que é aquele que obedece. O filósofo compara que assim como a alma governa o corpo, o senhor governa os súditos, pois esta é uma convivência harmoniosa quando o senhor sabe mandar e o súdito sabe obedecer.

Sobre o ato de mandar e o ato de obedecer, Aristóteles afirma que ambos são determinados pelo destino, mas a natureza não faz distinção entre o homem livre e o escravo, e sim as leis, a convenção que estabelece as suas diferenças.

A história da Ética nos revela um problema que atravessa a história da humanidade, que fora abordada no auge da configuração política da Grécia Antiga. Sócrates e seus seguidores buscaram um meio de desvelar os verdadeiros conceitos acerca do dever do homem, pois somente embasados nesses verdadeiros conceitos o homem poderia agir virtuosamente, e como exemplo desta virtude o próprio Sócrates demonstrou ser um modelo de homem virtuoso, descritos nos diálogos de Platão. A busca pelos conceitos só era possível admitindo a própria ignorância, que é aquilo de mais temeroso para um homem político de Atenas, ou seja, um político formado pelos sofistas desenvolvedores da retórica, admitir tal estado não lhe era possível, pois sua natureza educacional e suas finalidades como cidadão ateniense o promovem para ser um bom orador e que atenda seus interesses acima dos interesses da pólis.

O bem passa a ser o objetivo de toda ação e atividade, contudo toda ação e toda atividade devem ter, não só o bem como finalidade, mas também o bem como referência. Em Aristóteles é imprescindível um elemento fundamental: a justiça, que em geral, é a ordem das relações humanas ou a conduta de quem se ajusta a essa ordem. Podem-se distinguir dois significados principais: justiça como conformidade da conduta a uma norma; como eficiência de uma norma (ou de um sistema de normas), entendendo-se por eficiência de uma norma certa capacidade de possibilitar as relações entre os homens.

Sócrates, Platão e Aristóteles defendem a ideia de que a razão, a dialética e a filosofia são ferramentas para o desenvolvimento de um homem justo, virtuoso e bom para exercer suas funções políticas dentro da sociedade.

A obra de “O Príncipe” de Maquiavel (2007) constitui uma revolução no campo da teoria política. A política deixa de ser objeto de especulações sobre um estado ideal para se fundamentar na experiência: a prática torna-se uma teoria. Assim, a política pela primeira vez é mostrada como esfera autônoma da vida social, não é pensada a partir da ética nem da religião: rompe com os antigos e com os cristãos.  Não é pensada no contexto da filosofia: passa a ser campo de estudo independente tem regras e dinâmica independentes de considerações privadas, morais, filosóficas ou religiosas. É a atividade constitutiva da existência coletiva: tem prioridade sobre todas as demais esferas. É a forma de conciliar a natureza humana com a marcha inevitável da história, envolve fortuna e virtu: as qualidades como a força de caráter, a coragem militar, a habilidade no cálculo, a astúcia, a inflexibilidade no trato dos adversários. Abre caminhos para o homem intemperante. Há no mundo, a todo o momento, igual massa de bem e de mal, do seu jogo resultam os eventos e a sorte. É a esfera do poder por excelência.

A toda hora, os meios de comunicação anunciam que é preciso "mais ética" nas relações humanas, na política, na ciência, nas empresas, e em todos os âmbitos da vida. Mas o que significa "ética"? Ética deve ser entendida como reflexão, estudo, moral dos seres humanos cuja legitimação se baseia na sua racionalidade, já que é impossível uma vida social sem normas preestabelecidas para um convívio em harmonia. Através da discussão democrática de princípios da convivência humana, poderão ser estabelecidas boas ou más condutas sociais e individuais, normas válidas para todos que vivem em sociedade a fim de alcançar a harmonia e felicidade humana.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Na tentativa de analisar e resgatar o conceito de política existente no paradigma dos filósofos Aristóteles e Maquiavel, essa pesquisa remeteu os nossos pensamentos para, assim, melhor compreender a inclinação do homem para a compreensão política em que, graças à ética, é possível o desenvolvimento da sociedade. Maquiavel, com seu estudo sobre a teoria politica, isto é, do estado de natureza para o estado idealizado. E para Aristóteles (1966), a cidade é um bem maior e a sua harmonia é imprescindível, e isso traz consigo certa ordem, porém ao elevado custo de restringir a liberdade, e por conta dessa liberdade perdida, o ser humano estará em permanente conflito com a sociedade.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Brasília: UnB, 1999.

 

ARISTÓTELES. A política. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1966. 384 p.

 

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. 2ª ed. Trad. de Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2007.

 

PEGORARO, Olinto. Ética dos maiores mestres através da história. 3ª ed. Petropólis, RJ: Vozes, 2008.

 

VERGNIÈRES, Solange. Ética e política em Aristóteles: Physis, ethos, nomos. São Paulo: Paulus, 1998.



¹ Professora Titular da PUC-Campinas.

² Alunos de Graduação em Filosofia pela PUC-Campinas.