FACULDADE SERIGY

















A FLOR DA CIDADE JARDIM:
LIDERANÇA E PODER VESTEM SAIA


















Umbaúba/SE
2010

CAROLINE GONÇALVES PEREIRA ASSUNÇÃO












A FLOR DA CIDADE JARDIM:
LIDERANÇA E PODER VESTEM SAIA





Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Pós Graduação em Metodologia do Ensino de História e Geografia da Faculdade Serigy, como parte das exigências para obtenção do título em especialista Orientado pelo Professor Willames Sampler.



















Faculdade Serigy
Umbaúba / 2010
CAROLINE GONÇALVES PEREIRA ASSUNÇÃO



















A FLOR DA CIDADE JARDIM:
LIDERANÇA E PODER VESTEM SAIA




















Faculdade Serigy
Umbaúba / 2010

ÍNDICE

AGRADECIMENTOS ............................................................................................................05
RESUMO ................................................................................................................................ 06
ABSTRACT .............................................................................................................................07
APRESENTAÇÃO ..................................................................................................................08
INTRODUÇÃO........................................................................................................................10
1- Cenário político sergipano na década de 1945 a 1950.......................................10
2- O prefeito é uma linda mulher...........................................................................18
3- Suas ações, obras e benfeitorias.........................................................................22
4- Tiroteio na Estância............................................................................................25
CONCLUSÕES .......................................................................................................................29
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................30
ANEXOS .................................................................................................................................31
1- Fontes Manuscrita
2- Lista de Tabelas
3- Lista de Recortes de Jornais
4- Lista de Fotos

AGRADECIMENTOS

A realização deste trabalho nasceu do esforço e da necessidade de evidenciar a trajetória da Senhora Núbia Nabuco Macêdo na história da cidade de Estância, como forma de reconhecimento e valorização do seu pioneirismo e audácia ao entrar na política nos anos 50.
O grande destaque deste artigo é a senhora Selma Barreto, a memória viva da cidade de Estância e detentora de um Arquivo Particular ímpar nesta cidade, ela nos deu subsídios para a realização desta pesquisa.
E, de forma especial, a Deus, sei que sem ti, de nada seriamos capazes.
Aos entrevistados, que muito nos ajudaram com suas narrativas essenciais para um bom andamento do presente trabalho. Aos funcionários do Arquivo Geral do Município, que muito bem nos receberam. O nosso muito obrigada.
A nossos pais por tornarem isso possível, nossos irmãos e todos que amamos.
Aos professores da instituição, que de uma forma ou de outra nos ajudaram na realização deste trabalho.

























RESUMO

Este estudo buscou construir uma trajetória dos partidos políticos, durante as décadas de 40 a 50 no Brasil e em Sergipe para compor um quadro histórico de um período rico em transformações. A Flor da Cidade Jardim: Liderança e Poder Vestem Saia. Analisando a participação feminina no poder executivo na cidade de Estância, nos anos de 1950 a 1954, fez-se necessário a investigação sobre as significativas mudanças ocorridas na sociedade estanciana com o advento de Núbia Nabuco Macêdo ao poder, mudando as concepções sociais políticas e culturais de uma cidade, e de que forma essas mudanças foram realizadas pela mesma.
Esta pesquisa tem como objetivo principal contribuir para o conjunto de estudos historiográficos sobre as mulheres, particularmente no que se refere às participações das mesmas na política estanciana.


PALAVRAS-CHAVE: Gênero, Política, Estância e Mulher.









































ABSTRACT

This study sought to build a trajectory of the political parties, during the decades from 40 to 50 in Brazil and Sergipe to compose a picture history of a period full of transformations. The Flower Garden City: Leadership and Power Vestem Exit. Analyzing women's participation in executive power in the city of Estância, in the years from 1950 to 1954, was a necessary research on the significant changes in society estanciana with the advent of Núbia Nabuco Macêdo to power, changing conceptions social and cultural policies a city, and how these changes were made by the same.
This research aims to contribute to the main set of historiographic on women, particularly with regard to participation in the same policy estanciana.


KEYWORDS: Gender, Politics, and Women Office.


























APRESENTAÇÃO

A causa principal de iniciarmos esta pesquisa foi à inexistência de estudos relacionados à presença feminina na administração municipal em Sergipe na década de 50, visto que grande parte destes estudos enfoca os vultos masculinos da política sergipana.
A explicação da metodologia para qualquer pesquisa sempre se apresenta como uma tarefa delicada. Afinal, ela implica numa decisão teórica que determina as formas e os caminhos que o trabalho irá tomar. Por isso, empregamos o método qualitativo, utilizando a complexidade de determinados problemas não respondidos na pesquisa bibliográfica e documental para possibilitar, um maior nível de profundidade o entendimento das particularidades do comportamento do sujeito da pesquisa. Para a concepção deste trabalho, foram pesquisadas bibliografias, nas quais buscamos embasamento, discorrendo reflexões a respeito de alguns estudiosos do tema como: Joan Scott, Eric Hobsbawn, Rachel de Soihet, Michelle Perrot, dentre outros, que analisam o gênero como uma categoria histórica.
Utilizamos também autores menos conhecidos, porém de fundamental importância para o nosso trabalho, como: Ibarê Dantas, Luciano Libório, Raimundo S. Sousa, Pascoal Nabuco D?Ávila e outros que nos ajudaram a construir a política em Sergipe e a presença de Núbia na política estanciana na década de 50.
Foi através das entrevistas que podemos perceber a representação da realidade construída nos 4 anos de governo de Núbia Nabuco Macêdo, bem como, os papéis sociais, as relações de poder, enfim, as tramas da sociedade e os projetos que estavam em jogo neste momento político sergipano. Como afirma Portelli: (1997; 122).
"Fontes orais contam-nos não apenas o que o povo fez, mas o que queria fazer o que acreditava estar fazendo e o que agora pensa que fez. Fontes orais podem não acrescentar muito ao que sabemos, por exemplo, o custo material de uma greve para os trabalhadores envolvidos; mas conta-nos bastante sobre seus custos psicológicos".

Com a utilização das fontes orais, resgatamos fatos importantes que fizeram parte da política feminina em Estância, tomando como referência a Senhora Núbia Nabuco Macêdo, primeira prefeita do município e do estado de Sergipe, eleita com a maioria absoluta dos votos nas eleições de 1950 . Ela é uma das precursoras na inserção das mulheres neste "reduto", no qual os homens dominam, e que as representações ainda são bastante desiguais. Em uma década marcada por constantes transformações no Brasil, principalmente, no campo político.
Esta importante e ousada mulher se lança na política de uma cidade tida como o berço da cultura de Sergipe, visto que é mãe de grandes vultos masculinos, e a partir desta pesquisa esperamos que seu papel como liderança política possa ser consolidado. Esta mulher que foi a todo o momento subjugada por seus adversários políticos, Francisco de Araújo Macêdo, jornalista e político atuante na região, viu na esposa um forte nome para concorrer à prefeitura de Estância, pelo PTB. Em seus primeiros meses de governo foi orientada por Macêdo. Porém, no decorrer do mandato, assumiu uma postura autônoma
Testemunhos de pessoas que viveram no município no período afirmam que no início de sua administração ela era a extensão das idéias do seu marido, e no decorrer de suas atividades ela absorveu o espírito político, foi uma prefeita atuante, sempre voltada para projetos sociais junto às comunidades mais humildes daquele município.
Porém, seu governo ficou manchado pelo grande número de jagunços, contratados pelo seu esposo para a proteção de sua senhora, os crimes cometidos por eles, o tiroteio existente na cidade devido aos conflitos entre as lideranças políticas do PTB, partido ao qual ela era filiada e o PR, principal partido de oposição a seu governo.
Este trabalho tem por objetivo contribuir para o conjunto de estudos historiográficos sobre as mulheres, particularmente no que se refere sobre as participações das mesmas na política estanciana nos anos de 1950 a 1954.
Com isto, esperamos colaborar para a compreensão desta mulher que conseguiu mudar as concepções sociais, políticas e culturais a partir da sua inserção no poder, e de que forma estas foram realizadas pela mesma.
Diante do exposto, esperamos que esse trabalho venha estimular nos prováveis leitores uma reflexão sobre comportamento e atitude que ratificam e legitimam a posição de submissão feminina no âmbito político e fora dele. Esta reflexão deve abrir um canal de discussão para que as mulheres dos setores políticos tenham conhecimento de sua realidade, e que esta pesquisa possa ser um dos agentes suscitadores dessa discussão.







INTRODUÇÃO

1- Cenário político sergipano período de 1945 a 1950
Sergipe entrava na fase constitucional, que se seguiu à deposição de Getulio Vargas em 1945, vendo o General Eurico Gaspar Dutra se eleger Presidente da República e José Rollemberg Leite, Governador do Estado.
Na eleição para governo do Estado de 1946, os candidatos eram, de um lado, Luiz Garcia da UDN e do outro lado, José Rollemberg Leite pela coligação PSD-PR. No início a LEC (Liga Eleitoral Católica) declarara apoio ao candidato da UDN, mediante compromissos que, mais tarde foram rompidos, levando o Bispo Diocesano Dom José Tomaz Gomes da Silva, a expedir nota no dia das eleições no jornal Diário de Sergipe, "É pecado mortal votar na UDN". Luiz Garcia e seu grupo correm doidos, é o fim.
O processo redemocratizador foi penoso, mas permitiu a organização de parte dos partidos nacionais em Sergipe, como a União Democrática Nacional ? UDN, sob liderança de Leandro Maciel, o Partido Trabalhista Brasileiro - PTB, tendo como principal figura Francisco Araújo Macedo, o Partido Socialista Brasileiro - PSB, com Orlando Dantas, o Partido Comunista Brasileiro - PCB, dirigido por militantes que se alternavam como Carlos Garcia, Robério Garcia, Agonaldo Pacheco, e outros menores, como: PSP, PST, PTN, PDC, siglas que agregavam a participação de lideranças da capital e do interior. "Alguns observadores afiançavam que em Sergipe não havia udenismo, mas leandrismo".(TER/SE: 2002, p.34).
Para cumprimento do calendário eleitoral, foram-se sucedendo os governantes provisórios. Francisco Leite Neto é deposto em 05/11/1945, assumindo o cargo, o presidente do Tribunal de Justiça do Estado, Hunald Santaflor Cardoso, que governaria até março do ano seguinte. O novo governante compôs um secretariado misto, incluindo oposicionistas e governistas, entre os quais alguns componentes da administração anterior.
Porém, em 31 de março de 1946, o interventor foi substituído pelo Coronel Antônio Freitas Brandão, pois sua gestão era voltada para a conciliação entre os grupos influentes.
"A essa altura, meados de 1946, iam-se esboçando as tendências do novo quadro político. O regime autoritário era substituído pelo liberal democrático. O governo central diminui o nível de ingerência na política interna. O índice de votantes aumentava consideravelmente." (DANTAS: 2004, p.121).
A população urbana, tanto da capital, quanto do interior do estado, passava a influir de forma decisiva no processo eleitoral. O eleitorado da capital votou majoritariamente na situação em 1947, quando a campanha apaixonada da LEC renegou o candidato udenista e o PSD ganhou. Dantas (2004, p.185) afirma que: "Os pessedistas, em aliança com os perrepistas, controlaram o governo nos dois primeiros mandatos".
A novidade da campanha de 1946/1947 era o PR, que anteriormente havia se aliado a UDN, coligado com o PSD e o PCB, com a UDN, tentando eleger o advogado Luiz Garcia. O PTB lança o líder populista Francisco Araújo Macedo.
José Rollemberg Leite venceu os seus adversários políticos com uma boa margem de votos. Como detalha o quadro abaixo:
Candidatos ao governo Partido/Coligações Votação Situação
José Rolemberg Leite PDS/PR 40.847 Eleito
Luís Garcia UDN 25.793 Não eleito
Orlando Vieira Dantas ED 948 Não eleito
Fonte:Tribunal Regional Eleitoral. 100 Anos de Eleição em Sergipe. Aracaju: TER/SE, 2002; 73.
Este governará de 1947 a 1951. O seu secretariado foi escolhido tentando atender os interesses por vezes contraditórios entre pessedistas e perrepistas. No interior do estado, o PSD e o PR elegeram a grande maioria dos prefeitos e vereadores no pleito de outubro de 1947.
O governador José Rollemberg Leite fez uma administração de grandes realizações, com destaque para o seu programa de educação pública com a construção de mais de 250 escolas rurais e com a criação das faculdades de Economia, Química, Direito e Filosofia.
As eleições de 1951 foram uma das maiores já vistas pelos sergipanos. Concorreram ao governo do Estado de Sergipe Arnaldo Rolemberg Garcez pela coligação PSD/PR, Leandro Maynard Maciel, apoiado pala UDN/PST e Francisco de Araújo Macedo, pelo PTB. A campanha foi apaixonada e ranhida por todo o estado.
As agressões mantiveram o nível histórico das baixarias. Tudo era política. Nem o futebol despertava tanto interesse do povo, mesmo porque o futuro de cada um não dependia de um gol, mas de uma futura eleição, nomeação de cargos públicos, ou negociação de produtos e serviços com o Estado, nos três níveis. Como afirma Leite (2004, p.97): "Em Sergipe, política é tudo".
Os jornais, principais meios de comunicação da época ,eram utilizados em larga escala pelos candidatos, visto que os dois jornais de maior circulação do Estado pertenciam aos candidatos Francisco de Araújo Macedo, O Nordeste, e a Leandro Maciel, dono do Correio de Aracaju.
Através deste meio de comunicação, o PTB inflamava os trabalhadores e a população em geral para a chamada "Redenção social do nosso Sergipe", Seu slogan era: Jornal político e noticioso defensor dos interesses sociais e, especialmente, da classe trabalhista.




Fonte: Jornal O Nordeste; setembro de 1950.
Além do seu slogan, trazia na sua primeira página durante o período eleitoral a fotografia de Getúlio e em menor tamanho a de Macedo com a seguinte frase: "Getulio Vargas Presidente da República, em 1951. Para governador do Estado: Francisco de Araújo Macedo, para deputado federal: Francisco de Araújo Macedo.

Francisco de Araújo Macêdo Getúlio Vargas
Fonte: Jornal O Nordeste; setembro de 1950.
A UDN utilizava-se da mesma forma o jornal Correio de Aracaju;

Fonte: O Nordeste, outubro de 1950.
Divulgando estampadamente em primeira página, a imagem e o nome de Leandro e a seguinte frase:
"O Brigadeiro é a salvação do Brasil e Leandro Maciel resume as aspirações e as esperanças do povo sergipano".
"Para o futuro do Brasil _Votai em: Tenente Brigadeiro Eduardo Gomes e Dr. Odilon Braga, para presidente e vice-presidente da Republica."
"Para a grandeza e a redenção de Sergipe _ Votai em: Leandro Maciel e Pedro Diniz Gonçalves Filho para governador e vice-governador do Estado".

Fonte: Jornal, O Correio de Aracaju, junho de 1950.
A imagem pública dos candidatos era trabalhada no sentido de enaltecer valores apreciados pela sociedade conservadora sergipana de então; como a de homem íntegro, honesto, pai amoroso e marido dedicado.
Além dos jornais, havia as campanhas eleitorais realizadas através dos rádios, onde o PTB fazia uso da rádio Difusora do Estado. Já a UDN, utilizava-se de programas diários da rádio Tamoio como mostra o anúncio do jornal, o Correio de Aracaju:



Fonte: Jornal O Correio de Aracaju, agosto de 1950.
Os comícios eram também utilizados nas campanhas eleitorais, principalmente por mobilizarem o eleitorado do interior e da capital, entre os quais terão destaque os dois maiores comícios realizados respectivamente pela UDN e o PTB, em Aracaju e no interior do estado. Para atrair um público maior, estes contavam com a presença de seus maiores líderes partidários. A visita do Brigadeiro Eduardo Gomes e a de Getúlio Vargas marcaram profundamente o povo de Aracaju e os estancianos, que os receberam com grande ansiedade e festa.Os jornais tinham papel determinante na divulgação destes comícios, inflamando o povo a ir ao encontro de seus candidatos.

Fonte: Jornal, O Correio de Aracaju, setembro de 1950.


Fonte: Jornal, O Correio de Aracaju, de setembro de 1950.
Eduardo Gomes não tinha o carisma de Getúlio Vargas, nem era conhecido pelo povo como político. Por este motivo se fazia tão necessária a sua visita e utilização de comícios para que o povo sergipano o conheça melhor.






Fonte: Jornal, O Correio de Aracaju, de setembro de 1950.
Cremos que este comício foi determinante para a Eleição de Leandro Maciel para o governo de Sergipe. Apesar da predileção do povo sergipano por Getúlio para a presidência, a UDN e seu candidato tinham o apoio do mesmo para a eleição de governador do Estado.
O PTB também organizou dois grandes comícios em Sergipe, um na capital, outro na cidade de Estância, escolhida por ser a segunda do estado em número de habitantes, e por ter como candidata a prefeitura a senhora Núbia Nabuco Macêdo, esposa do então líder do PTB, Francisco de Araújo Macêdo.








Fonte: Jornal O Correio de Aracaju, setembro de 1950.
"Com o objetivo de apresentar oficialmente ao povo os seus candidatos, o Partido Trabalhista Brasileiro, o único e legítimo partido do senador Getúlio Vargas, realizou no sábado e no domingo último, respectivamente, em Aracaju e Estância, dois grandiosos comícios." Fonte: Jornal, O Nordeste; de setembro de 1950. Este comício fez parte de uma caravana realizada por Vargas pelo território brasileiro, suas palavras foram divulgadas excessivamente pelos jornais. Como mostra o fragmento abaixo:




Fonte: Jornal O Correio de Aracaju, setembro de 1950.
Em Estância, esse comício foi determinante para a apresentação da candidata Núbia Nabuco Macêdo, esposa de Francisco Macêdo, à população, como candidata à prefeitura desta cidade. Com a aproximação das eleições, as campanhas ficaram mais acirradas, havendo relatos de agressões físicas entre concorrentes políticos. E tiroteios, como relata o jornal, O Nordeste, de agosto de 1950.










Fonte: jornal O Nordeste; agosto de 1950.
Este jornal fora alvejado devido à propaganda política em favor do PTB, pois, um dos seus editores e dono era Francisco de Araújo Macêdo.

Em Estância, disputam para a candidatura à prefeitura Francisco Pires pelos partidos UDN e PR coligados; Raimundo Silveira Sousa pelo PSD, o qual já havia administrado a cidade em 1947, juntamente com Francisco de Araújo Macêdo, e a candidata Núbia Nabuco Macêdo, que concorreu pelo PTB, como nos mostra este recorte do jornal, A Folha Trabalhista, de junho de 1950.
As eleições de 03 de outubro de 1950, no Estado de Sergipe foram marcadas por fraudes, com apuração difícil, demorada e cheia de batalhas judiciais, havendo até a "explosão " de uma urna. Este fragmento do jornal, O Nordeste de 18 de outubro de 1950, quinze dias após as eleições, representa muito bem o caos eleitoral que houve no período.








A apuração manual começa lenta, após mais de duas semanas, ninguém sabia a quem pertencia à vitória. Cada jornal estampava uma manchete que favorecia o seu candidato. Leite: (2004; 97) analisa esta situação quando afirma:
"Ao final, a diferença é mínima, até ridícula: de meros 144 votos. Leandro e toda a UDN não se conformavam. As acusações vão desde fraudes até eleitores fantasmas, uso da máquina, e favorecimentos ao Tribunal Regional Eleitoral."

O resultado das eleições demorou tanto que no dia da posse do governador a pendência continuava assumindo o governo, o presidente do Tribunal de Justiça João Dantas Martins dos Reis.
Várias seções eleitorais têm a votação anulada. São marcadas novas votações para 30 de janeiro de 1951, em Itabi, Saco (Estância) e Nossa Senhora da Glória. Três messes após, em 12 de março de 1951, Arnaldo Rolemberg Garcez vence as eleições com uma margem de 22 sufrágios.
Candidatos ao governo Partidos /coligações Votação Situação
Arnaldo Rolemberg Garcez PDS/PR 36.307 Eleito
Leandro Maynard Maciel UDN/PST 36.285 Não eleito
Francisco de Araújo Macedo PTB 21.415 Não eleito
Fonte: Tribunal Regional Eleitoral. 100 Anos de Eleição em Sergipe. Aracaju: TER/SE,
2002; 73.
Foi uma apuração difícil, Arnaldo Garcez somente ultrapassou no número de votos de Leandro Maciel nos últimos momentos. Esta vitória quebrara um paradigma do povo sergipano, pois será eleito um homem sem formação acadêmica, criado no campo, mestre do gado e coadjuvante político.
"Com a vitória de Arnaldo Garcez, depois de uma eleição plena de violência e de um processo de apurações particularmente tumultuados, ocorreram as vinditas em vários municípios com prisões e até morte. (...) estimulado pela imprensa de ambos os lados às acusações se repetiam, chegando os udenistas a denunciarem os governistas em jornais e na câmara de deputados". (Dantas: 2004, p. 127)

Francisco de Araújo Macedo é eleito deputado federal e a sua esposa que não fora vista como adversária política é eleita pelo povo estanciano, como cita Sousa: (1991 ;124).
"(...) tudo funcionou de tal forma que a muitos pareceu que eu havia ganhado as eleições. Mas a minha decepção foi enorme. Os votos para Núbia Macedo chegavam em correnteza. Salvo na primeira urna onde eu e Francisco Pires tivemos regular votação, ela dobrou nas demais os votos meus e dele."

A elite estanciana não via com bons olhos o fato de uma mulher assumir a prefeitura do município. Como afirma D?Ávila (2006, p.47), "Aliás, fato até então inédito na política sergipana, e talvez naquele tempo, no nordeste brasileiro, tão machista".
Tanto Raimundinho como Chiquito (Francisco Pires), foram fragorosamente derrotados, sendo eleita com maioria absoluta dos votos, D. Núbia.

Candidatos à Prefeitura Partido/ Coligação Votação Situação
Núbia Nabuco Macedo PTB 1.714 Eleito
Francisco Pires UDN/PR 945 Não eleito
Raimundo Souza PSD 765 Não eleito
Fonte:Tribunal Regional Eleitoral de Sergipe TER/SE.



2- O prefeito é uma linda mulher
Núbia Nabuco Macêdo é eleita prefeito municipal da cidade de Estância, em 03 de outubro de 1950.
Essa vitória foi muito explorada pelo jornal, a Folha Trabalhista, que durante toda a campanha eleitoral editou artigos escritos por Francisca Lima dos Santos , enaltecendo a imagem feminina, principalmente daquelas que participaram do pleito, foi grosseiramente manipulada, estas se tornaram o alvo predileto de seus opositores durante toda a campanha.
Apesar das fraudes eleitorais que proliferaram por todo o Estado, durante o pleito, D. Núbia assume o seu mandato aos seus 34 anos, em 01 de fevereiro de 1951, sem resistências ou manifestações de seus adversários, visto que ela foi eleita com maioria absoluta dos votos, superando a soma total dos sufrágios de seus adversários, Raimundo Silveira Souza e Francisco Pires, não deixando brechas para contestação dos mesmos.

Fonte: Jornal A Folha Trabalhista; fevereiro de 1951.
Foi uma comemoração estrondosa por parte da população menos abastada que moravam na periferia da cidade, nos bairros, Botequim e Porto d?Areia e da classe operária que residia nos bairros Industriais, Santa Cruz e Bonfim.
Como afirma o Sr. Miguel dos Santos, em entrevista concedida em 04/12/07: "Foi uma festa grande, o melhor Carnaval que já se viu, o povo brincava na rua e festejava o Carnaval e a vitória de Dona Núbia que tinha sido empossada ".
Este prestígio e admiração foram ganhos devido a seu esposo, o Sr. Francisco de Araújo Macêdo, líder do PTB e arregimentador da classe operária de Estância, que durante uma greve ocorrida em 1934, período que ele era prefeito municipal nesta cidade defendeu esta classe como cita Sousa (1991, p.107).
"(...) Os que nela tomaram parte foram sumariamente demitidos". (...) "O Prefeito Nozinho Macedo, que prestigiava os grevistas, deu-lhes então trabalho na prefeitura e por isso se tornou um grande amigo dos trabalhadores, que passaram a ver nele o seu líder".

Macêdo ganha às graças do povo da cidade, a sua vitória e a de sua esposa são muito celebrados pelos mesmos. A população brincava nas ruas com paródias das marchinhas mais populares utilizando o nome dos dois.
Fonte: Jornal A Folha Trabalhista; abril de 1951.
Era um homem paradoxal, um líder populista que não estava ao lado do povo. Muito formal, sempre estava vestido de paletó e gravata, porém como afirma o Senhor Pascoal Nabuco D?Ávila em entrevista concedida em 05/12/07:
"Ele era um homem muito rico que ficou pobre gastando tudo com a política, ele era um rico fazendeiro nessa região de Salgado, onde tinha uma fazenda enorme chamada Macedina. E, tinha também, uma fazenda no município de Itabaianinha, chamada "A Glória". Então, ele naquela época, era um grande fornecedor de dormentes, ele tinha muita madeira, mais ele gastava tudo com o povo, a campanha dele era assim, botava médicos, remédios, ajuda, ele era muito caridoso, por isso, ele era muito querido lá em Estância".
Dona Núbia não tinha habilidades políticas com a oratória de seu marido. Porém, por se tratar de uma mulher de muita coragem e com muita disposição para a política acabou sendo intitulada pela população como a "mãe dos pobres". Reforça esta afirmação, o Senhor Francisco Seno de Almeida, entrevista concedida em 14/11/2007.
"Ela era autoritária, mas o povo gostava dela, a prova é que ela foi eleita prefeita, ela foi deputada, o marido deputado federal. Ela foi prefeita não por causa do marido, e sim, porque o povo gostava dela. Ela se envolvia com todo mundo, com a classe desfavorecida, ela era boa! O povo adorava ela, ela não fez nada a não ser a beneficio do povo mesmo. Ela não podia ver uma pessoa sofrer que ela dava um jeito, ela sempre dava um jeito, é por isso que eu acho que ela não é uma mulher rica".
Porém, esta forma paternalista adotada em seu governo não era admirado por todos, eram muitos aqueles que faziam oposição a sua política populista, e o fato do prefeito ser uma mulher não facilitou a aceitação neste reduto machista, a presença de uma mulher de personalidade forte. Pascoal Nabuco D? Ávila, depoimento concedido em 05/12/2007, afirma que:
"(...) A classe média e os ricos de Estância tinham pavor a ela, como tinham ao marido dela, a classe média alta de Estância, o relacionamento dela era com os pobres. Eles achavam o seguinte: que ela era uma líder populista, um governo fraco, sem muitas realizações, mas naquela época, as prefeituras tinham pouca renda própria, viviam das cotas, como chamavam a verba que vem do governo federal para o governo municipal, não tinham como fazer grandes investimentos, não, e ela preferia gastar mais na assistência social, na saúde do pessoal, Por isso, se vocês entrevistarem pessoas do povo, lá em Estância vai elogiá-la, se for entrevistar pessoas mais abastardas, aí elas vão achar que ela foi péssima, ela não realizou nada".
Essa afirmação foi comprovada no decorrer desta pesquisa, quando fomos procurar os entusiastas deste momento histórico, da elite estanciana, não conseguimos as suas entrevistas e a alegação utilizada é que no seu governo não houve nada de bom para nos contar
Várias foram as formas pejorativas que então a elite estanciana se utilizava para denegrir e agredir a imagem desta mulher. Muitos dos homens de Estância sentiam-se incomodados em ter uma mulher como prefeita. Principalmente, porque ela havia derrotado nas urnas, as figuras anais preeminentes da política local. Ela que até então jamais fora candidata a qualquer cargo político. As lideranças oposicionistas que conspiravam para que o PTB não conseguisse eleger o prefeito nesta cidade.
O senhor João Batista de Oliveira Santos em depoimento concedido em 06/12/2007 afirma que: "O eleitor do partido adversário no dia da eleição, guardava a cédula na calcinha com o nome dela e na mão vinham com os nomes de outros candidatos".
Pascoal Nabuco D? Ávila, depoimento concedido em 05/12/2007 nos conta um fato que confirma esse incômodo, sentido pelos machistas estancianos.
"Mas ou menos uns 30 e poucos jovens da Estância estudavam em Aracajú, naquele tempo não tinha nenhum colégio na Estância, só tinha um ginásio das freiras para mulher (...) os homens estudavam aqui em Aracajú (...). Quando tinha feriado nós lotávamos uma marinete (...) na rua da frente (...) então nós estávamos lá e chegou um camarada que era da Estância, mas estava em São Paulo (...), dizendo que estava decepcionado por que o último homem da Estância foi ele, porque ele viajou e não tinha mas homem lá, e que o prefeito era uma mulher, então todo mundo ficou danado com ele, mas ninguém dizia nada. Então tinha uma velha, uma senhora que era parteira e que trabalhava no lactário (...),Dona Etelvina, então ela chegou e disse assim: o senhor me dá uma parte então, ela disse: sabe quem foi que aboliu a escravatura no Brasil? Ele disse: foi a princesa Isabel, pois é se não fosse essa mulher, gente como eu e o senhor seria mêe-mer-de-a-da (...). Ele ficou muito encabulado que terminou não viajando para Estância, porque a turma começou a baterem em cima dele".
As mulheres desta cidade ganharam voz e força na defesa de D. Núbia. Ela, Francisquinha Assunção e Joaquina de Sousa tornaram-se símbolo da luta das mesmas por espaço, tanto no cenário político, quanto social.
Porém, um acontecimento triste na vida particular da senhora Macêdo, irá afetar mais fortemente o ego dos homens estancianos. A então prefeita teve de se internar na maternidade, em razão de um aborto, e os machistas das cidades circunvizinhas provocavam os estancianos dizendo que: "O Prefeito da Estância está na Maternidade". D?Ávila: (2006, p.47).
Devido às circunstâncias deste incidente, Lauro de Menezes Alves assume como prefeito em exercício durante 15 dias de licença médica concedida a Dona Núbia. Lauro era o então presidente da Câmara Municipal de Estância, cargo conseguido através de uma manobra política. O Sr. Menezes é eleito vereador pelo PTB, e fazia parte do bloco aliado à prefeita, porém, ele se coliga com os opositores do PR , torna-se o líder daquela casa por ter a maioria da Câmara depondo a então presidente da mesma, a senhorita Francisca Lima. Após os 15 dias, a prefeita é impedida de assumir o seu cargo como cita: Francisco Seno de Almeida, entrevista concedida em 14/11/2007. "Ela se ausentou 15 dias e deixou Lauro na prefeitura, ela voltou para assumir e Lauro de Menezes disse: "que ela não assumia não (...)".
Foi neste momento que o impasse político se acirra e será o pivô de vários embates políticos entre os Macêdos e os Menezes.
3- Suas Ações, Obras e Benfeitorias
Como foi citado por Pascoal Nabuco, anteriormente a arrecadação da prefeitura era muito pequena nos anos de 1951 a 1954, dependendo das verbas federais muitas das quais angariadas pelo Deputado Federal Francisco de Araújo Macêdo, durante o seu mandato.
Ao assumir, Dona Núbia, tinha o orçamento para o ano de 1951, estabelecido em 1.600.000,00 cruzeiros, dos quais foram arrecadados através de impostos das indústrias e profissão da cidade, os quais no primeiro ano não houve aumento.
Fonte: Jornal A Folha Trabalhista, março de 1951.
Foi ação sua, o calçamento de diversas ruas da cidade, a criação da Guarda Municipal de Estância, lei n° 46, sancionada em junho de 1952, a qual com 5 (cinco) membros, 4 (quatro) guardas e 1 (um), comandante. A equiparação do soldo do funcionário público ao salário mínimo de todo o país, referente a CR$ 300,00 cruzeiros mensais, através da lei n° 48, sancionada em 30 de junho de 1952.
A instituição do fiscal de obras, cargo público até então inexistente na cidade da lei n° 49 de 30 de junho de 1952. A gratificação aos servidores públicos com mais de 25 anos de prefeitura de um terço em seu vencimento através da lei n° 32 de 03 de março de 1953.
Dentre as suas obras destaca-se a construção do Matadouro de Estância, lei n° 60, sancionada em 27 de fevereiro de 1953. Este custou ao órgão publico o valor de CR$ 1.000.000,00 de cruzeiros emprestados de instituições de crédito.
A criação de 2 (duas) escolas públicas municipais , mistas , que foram construídas nos povoados Cachoeirinha e na Praia de Boa Viagem (atual Praia do Saco). Estas escolas foram nomeadas respectivamente, Salgado Filho e Getúlio Vargas Filho, ainda estão em funcionamento, através da lei n° 45, de 08 de março de 1952.
A instalação da Maternidade, cujo prédio havia sido construído por Raimundinho Silveira Souza.
Fonte: Jornal A Folha Trabalhista, setembro de 1951.
No entanto, os equipamentos, funcionários e medicamentos necessários para seu funcionamento, foram conseguidos através de verba federal, pelo Deputado Francisco de Araújo Macêdo, como cita Assunção: (1998, p.90).
"(...) A Maternidade era mantida principalmente pelo Deputado Francisco de Araújo Macêdo e pela instituição por ele fundada ? APAMICE (Associação de Proteção a Assistência a Maternidade e a Infância da cidade da Estância)"...

O Senhor João Batista de Oliveira Santos em depoimento concedido em 06/12/2007, reforça estas informações quando afirma que:
"A Maternidade estava fechada, ela não estava funcionando, mas o prédio estava construído, foi o Senhor Raimundinho, quando foi prefeito tampão, passou 6 (seis) meses, como prefeito e construiu a maternidade e colocou o nome do pai dele, ela pegou conservou e Francisco de Araújo Macêdo como Deputado Federal conseguiu material, tudo para instalar a maternidade , cama, e o material todo, o material cirúrgico e tudo que precisava. Tanto que o povo dizia que a maternidade era casa rica e o hospital não tinha nada".

Este casamento entre a Câmara Federal e a prefeitura de Estância rendeu bons frutos para a população estanciana, que se beneficiava das benfeitorias proporcionadas pelas verbas federais conseguidas por Nozinho Macêdo, para a administração de sua esposa. Um dos frutos desta união fora à criação da APAMICE ? (Associação de Proteção à Assistência à Maternidade e à Infância da Cidade de Estância), criada em 21 de dezembro de 1952, por Francisco de Araújo Macêdo.
Como cita Assunção (1998, p.95).
"Lembrou a APAMICE, associação que por muito tempo manteve a Maternidade Leopoldo A. Souza. A 21 de dezembro 1952, liderados pelo Deputado Francisco de Araújo Macêdo, fizeram parte desta fundação varias pessoas, entre as quais, Núbia Nabuco Macêdo (esposa daquele, e na época, Prefeito do município da Estância), Francisca Lima dos Santos, Edson Freire Costa e a professora Joaquina de Souza (naquele ensejo, vereadores, os primeiros e ultima suplente de vereador). Raymundo Nóbrega de Mendonça, Thomaz Mutti Filho, Antônio A. Souza (Antônio de Romeu), João Batista O. Santos (João de Ágil), Antônio Fontes C. Carvalho (seu Tota) e Orlando Gomes (tesoureiro e secretário da prefeitura, respectivamente), Oscar F. Farias etc.".

Esta associação doava a todo o recém-nascido na maternidade Leopoldo Souza, filhos de pais carentes, o enxoval completo e assistência necessária para o desenvolvimento do mesmo. Visto que a mortalidade infantil entre os primeiros anos de vida, era elevado na década de 50 na cidade da Estância, como afirma Souza (1992, p. 239):
"Rara era a tarde em que, sentados a porta da papelaria Modelo, não víamos passar o enterro de uma criança. Duas filas de menores, um caixãozinho azul ou branco, ao meio, conduzido por crianças maiores. Atrás do cortejo, o pai, familiares e amigos. Alguns caixões passavam abertos e deixavam ver a face rosada, pintada de rouge, outras mais pobres com os rostinhos pintados com papel de seda vermelho..."

A APAMICE, também foi responsável pela criação do Hospital Infantil. Núbia Nabuco Macêdo, destinada no andamento das crianças de Estância e das regiões circunvizinhas. Este hospital foi de grande importância para a comunidade, visto que era especificamente para criança, descongestionando os corredores do Hospital Amparo de Maria, que não tinha uma estrutura preparada para este tipo de atendimento.
No terceiro ano de sua administração Núbia toma uma importante decisão, ela resolve unir todas as entidades filantrópicas patrocinadas por Macêdo e a APAMICE, o Hospital Infantil ao posto de Puericultura, chamado popularmente por Lactário . A criança estanciana era vista com carinho e se tornou a menina dos olhos da então administração.
A Escola Técnica do Comércio foi idealizada e fundada por Oscar Fontes de Farias e Arlindo Lima, inicialmente, funcionava em um sobrado que pertencia a fábrica Santa Cruz, cedida gratuitamente pelo então diretor, Senador Júlio César Leite. Oscar lançou a campanha tijolo, denominada de amigo da Estância, com diploma a preços baratos, o que fez com que toda população se empolgasse com aquela campanha que se estendeu até Itabuna, de onde vinham contribuições financeiras.
Foi graças ao empenho da sociedade estanciana, como também, a doação do terreno pela então prefeita, a Senhora Núbia Macedo e as verbas federais angariadas por Francisco de Araújo Macêdo e Julio César Leite, então Senador, que o prédio da escola foi erguido na Praça Jackson de Figueiredo, antiga praça da delegacia.

Fonte: Jornal A Folha Trabalhista; março de 1951.
A Escola Técnica de Comércio (ETC), como era chamada pela comunidade prestou relevantes serviços à juventude estanciana e a mocidade de toda a zona sul de Sergipe, oferecendo cursos como: secundário, técnico em contabilidade e técnico em administração.
Esta mulher, além de todo seu empenho pela saúde e educação do povo estanciano, dedicou-se também a fundação da diocese de Estância, angariando fundos com as prefeituras vizinhas para formar o patrimônio desta diocese, assumindo Dom Coutinho como Bispo, pessoa muito admirada por toda população estanciana até os dias atuais.
Neste período, foi também presidente da Filarmônica Lira Carlos Gomes de Estância, fundada em 1879, por quem brigou muito para sua manutenção e para a compra de instrumentos musicais para os alunos que eram educados gratuitamente.
4- Tiroteio na Estância
Porém, um terrível fato marcou o seu governo, ficando guardado na memória de toda a Estância. O tiroteio que ocorreu em via pública em frente à prefeitura entre Macêdo e Lauro Menezes. Como foi citado anteriormente com a "traição" de Lauro Menezes, o PR torna-se maioria na Câmara e este é empossado Presidente da mesma no dia da posse municipal. Este fato acirrou ainda mais o ódio de Macêdo pelo PR.
Apesar da rivalidade e das hostilidades políticas que ocorreram durante todo o mandato, vivia-se pacificamente o prefeito e a Câmara Municipal, prova disto são as sucessivas vezes em que Lauro assume a prefeitura, durante as ausências de Dona Núbia, quando esta ia para o Rio de Janeiro, então Capital Federal, angariar verbas, ou apenas, para ficar ao lado de seu esposo, como afirma Pascoal Nabuco D? Ávila, depoimento concedido em 05/12/2007, afirmando que: "Ele era um homem muito bem casado, eles estavam sempre juntos e apesar de político, porque político está sempre fora, ele andava com a família para todo canto"
No entanto, em 1953 o clima de tensão política aumentou na Estância, Lauro havia ameaçado a vida de Macêdo durante um discussão entre os dois. A família de Lauro preocupado com sua segurança, devido à fama que Macêdo tinha de Senhor de jagunços, que ele havia empregado na prefeitura. Três irmãos Lauro vêem de Riachão do Dantas para prestar solidariedade a ele, quando estes se dirigiam à casa do mesmo que era no fundo da prefeitura, foram surpreendidos com tiros por um mal entendido. Como comprova Liborio(2005, p.80):
"O Macêdo, com a jagunçada, estava na prefeitura, mas sem acreditar que aquela visita tivesse algo a ver com ele e sim com seu parente o Deputado Dortas, pelo qual não morria de amores. Porém, segundo me contou João Maciel da Franca Froes e que se encontrava junto ao Macedo, foi surpreendido por um aviso de um jornalista que era seu adversário, Manoel Macedo, o qual gritou ao pé da escada que Lauro e os irmãos iriam atacar o Deputado. Este está ao que parece convencido do pretenso perigo, foi em cãs se armar juntamente com João Froes".

Foi uma chuva de tiros. De um lado Macêdo, seu Dorta, João Fróes e os jagunços; do outro lado, Lauro e seus irmãos. Lauro foi atingido no estômago e um de seus irmãos na perna, Macêdo foi ferido nas nádegas por um tiro que passou de raspão. Eloísa Aquino, em entrevista concedida a 05/12/2007, disse-nos que:
"Quando o tiroteio começou, Dona Núbia estava na prefeitura, daí o meu pai, compadre dela pediu que ela se abaixasse pra se proteger, neste momento ela viu seu marido caído, então ela desceu e foi para o meio do tiroteio, pegou uma arma para defender o marido".

Como resultado do tiroteio, um mecânico que estava trabalhando a quase um quilômetro de distância foi atingido no momento em que, pôs a cabeça para fora para verificar o que estava acontecendo, morreu imediatamente, não houve mais mortes porque um soldado da polícia militar teve a coragem de segurar no cano da metralhadora impunhada por Macêdo.
Aproveitando a refrega, Lauro e seus irmãos fugiram. Macêdo ainda não satisfeito, juntamente com seus companheiros e sua esposa descem à Rua Capitão Salomão de arma em punho, dirigindo-se para a casa do líder do PR, o Senador Júlio César Leite. Liborio (2005, p.81) atesta que:
"(...) Mais teve um juízo necessário para não ir até lá. Segundo soube depois, o Dr. Júlio tinha conseguido armamento da policia em Santa Luzia e seus amigos estavam entrichados nas três casas dos seus auxiliadores mais diretos que circundava a praçinha, assim como em sua casa que fica nos fundos da praçinha e, se Macêdo para lá fosse, seria recebido com fogo cruzado e não sei se dali sairia alguém com vida".

Após o tiroteio, Estância assistiu a um show de acusações por parte de Macêdo contra o Senador Júlio Leite. Utilizando-se, para isso, o seu jornal, A Folha Trabalhista, despejando inúmeras injúrias contra Júlio e seu filho Jorge, como cita Leite (2004, p.103):
"Confirmada em sua plenitude, a participação do Senador Julio Leite, do seu filho e do sabujo Pedro Soares, no atentado de morte. Rico em detalhes, afirma que o Senador havia pagado CR$ 30.000,00 aos pistoleiros. Durante meses, Macêdo fez carnaval com o caso e castiga nos adjetivos contra Júlio Leite: "Venenoso, político sórdido, desagregador, incentivador do morticínio e da prostituição". Diz ainda que Júlio Leite mantém 15 (quinze), facínoras armadas, e que seu filho Jorge era o" Hitler da Estância".

O volume de infâmias contra a honra da família Leite daria um festival de processos-crimes. As ameaças físicas por parte de Macêdo eram constantes junto à sempre promessa de fazer os Leites correrem da Estância nem que seja a bala.
Todavia, o Senador alegava que não iria se ofender com as acusações ou com os adjetivos de Macêdo, e sim iria provar a sua inocência na justiça. Para resolver este impasse, Júlio pede ao Governador Arnaldo Garcez para que intervisse nas investigações em que estas transcorressem de forma rápida, para sua defesa, o Senador contratou o jurista Sobral Pinto, e Macêdo constituiu o advogado Mario Figueiredo.
O Presidente da República, a pedido de Julio envia a Estância o Procurador Oscar Pina. O PR partido do Senhor Leite divulga nota pública de desagravo ao Senador, que abre mão da imunidade parlamentar:
"(...) Face a essa circunstância, o Partido Republicano, ao mesmo tempo em que torna público que responsabiliza o Deputado Federal Francisco de Araújo Macêdo, vez que é ele o autor de tais acusações, por qualquer atentado de que venha a ser vitima, considerando a delicadeza da situação e diante dos precedentes de 25 de julho, dirigiu-se ao Governador do Estado para reeinvidcar que através de autoridades capazes de reprimir com energia e prontidão qualquer atentado a ordem pública, seja o fiador da tranqüilidade da família estanciana(...)". (Leite, 2004, p. 104).
Ao final das investigações foram ouvidas 38 (trinta e oito) pessoas, inclusive o Senador, o Deputado Estadual Pedro Soares e o acusador Macêdo. O relatório exime o Senador Júlio Leite e o Senhor Pedro Soares. Macedo, aos poucos foi retirando o assunto da pauta. Os jornais e a sociedade estanciana vão aos poucos voltando a sua paz costumeira.
O mandato de Dona Núbia ficou manchado não só por este acontecimento que abalou a cidade, como também, por várias mortes que aconteceram por assassinato. Como conseqüência a classe média e a população do centro da cidade criaram repulsa contra o Deputado Francisco Macêdo.
As conspirações políticas de seus muitos opositores iniciaram-se antes de findar o seu mandato, como argumenta Libório (2005, p. 83):

"Por causa disto, certa noite em nossa residência na presença de Raimundinho, incentivei Humberto Ferreira, (...) para que o mesmo saísse como candidato a prefeito, na sucessão de Núbia, pois ele reuniria toda a oposição".

Os três partidos que estavam de fora do governo municipal, PR/PSD/UDN, uniram-se para derrotar o PTB. A campanha foi anunciada no antigo cinema São João, que estava repleto de representantes da então elite política estanciana. Esta atitude irritou profundamente Dona Núbia, que estava nas proximidades como cita Libório (2005, p.83):
"(...) A Dona Núbia que era corajosa e encontrava-se na porta da casa de Dona Pepita, disse: "Vou acabar com aquilo..." Ato Contínuo, entrou em seu carro que era um cadilac, apelidado de dona cotinha , por causa das quotas federais que vinham para o município, fez a volta no jardim e se encaminhou para a multidão que silenciou e começou a abrir alas para o carro passar. Foi então que, de cima do passeio e defronte ao cinema São João, soltei um viva Humberto Ferreira e a multidão que, na realidade, estava comandada entusiasmou-se e gritou viva!".

A Senhora Macêdo saiu enfurecida, foi até a prefeitura e incitou seus jagunços a reagirem contra aqueles líderes, porém decidiu rever esta ordem. Os seus adversários temiam que durante suas campanhas, os tiroteios retornassem, no entanto, ela mostrou-se maior que eles e concorreu nas eleições de 1954 a Deputada Estadual e o seu esposo a Deputado Federal. Ambos venceram com uma votação extraordinária para injúria de seus opositores.
Ela foi a 16ª Deputada Estadual mais votada, em 1954, com 1.848 votos, dentre os 32 (trinta e dois) candidatos eleitos que compunham a Assembléia Legislativa. O Senhor Macêdo obteve 15.148 votos, tendo a segunda maior votação, suplantando o número de votos de figuras importantes do cenário político sergipano como: Seixa Dória, Luiz Garcia, dentre outros.
Este fato prova que a sua política paternalista, adotada em sua gestão enquanto prefeito municipal deu a esta mulher grande prestígio e admiração do povo de Estância, principalmente das camadas mais pobres da cidade.
O Deputado Federal Francisco de Araújo Macêdo, fora eleito Deputado Federal por mais três eleições, vindo a falecer durante o seu mandato, em 1966.
Dona Núbia Macêdo é eleita mais uma vez para a Assembléia Legislativa, após a morte de seu esposo, tornando-se um símbolo de resistência e persistência política, exemplo marcante de uma época, onde o ser mulher colocava as pessoas desse gênero numa condição imediata de subordinação à condição masculina; romper com esse estado cultural demandou esforço, tenacidade e grande dose de autoritarismo, condição sem a qual seria menos tolerada essa presença exótica numa sociedade grandemente influenciada pelo patriarcalismo em voga na Estância dos anos 50. Por tudo que essa mulher representou, cumpre-nos dignificar a personagem sem dicotomizar a pessoa em função do exposto ao longo da obra.











CONCLUSÃO

Levando-se em conta a fundamentação desta pesquisa, percebemos que no caso da senhora Núbia Nabuco Macêdo a sua iniciação política se deu ao fato do seu marido, Francisco de Araújo Macêdo, ser um homem de grande influência e representatividade no cenário político da cidade de Estância como líder do PTB.
Detentora do carinho e da admiração, da população carente desta cidade, ela foi indicada como candidata à prefeitura da mesma, sem antes ter concorrido a qualquer cargo público, talvez por este motivo tenha sido subestimada por seus adversários. Que durante toda a campanha tentaram menosprezar as mulheres que faziam parte deste pleito, com insultos pejorativos e agressões verbais.
No entanto, o povo ao ir às urnas, levou em conta a fascinação que tinham pelo sobrenome Macêdo e tornou Dona Núbia, assim chamada pela população, a primeira prefeita do município e do estado de Sergipe.
Para assumir o seu mandato e ser respeitada como autoridade, fez-se necessário assumir características até então atribuídas aos homens como: autoritarismo, audácia, astúcia, coragem e ousadia, porém manteve-se com traços peculiares femininos como afetividade, carinho, sensibilidade, elegância, por sinal muito valorizada por todos aqueles que a conheceram.
Estas características tão peculiares iriam ajudá-la a implantar em sua gestão uma política social, até então desconhecida em Estância, recebendo por este motivo o título de "Mãe dos Pobres", que inicialmente era utilizado pejorativamente pela classe média e a elite estanciana, entretanto, adotada pela população mais carente a quem o seu governo foi dirigido como forma de prestigiá-la.
A cidade jardim de Sergipe presenciou algumas nodoas que se perpetuarão ao longo do tempo, lembrados por aqueles que viveram este momento histórico, todavia, não cabe a este trabalho julgar a sua administração, mas sim, analisar a participação desta mulher na política e abrir espaço para esta no cenário político da nossa cidade, que valoriza apenas os seus vultos masculinos.





REFERÊNCIAS

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LIBÓRIO, José Luciano da Silveira. Memórias de Luciano Libório. Salvador, 2005
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PÓS-HISTÓRIA: Revista de pós-graduação em história (Universidade Estadual Paulista). In: OLIVEIRA Terezinha. Algumas considerações acerca da memória como método histórico. Assis, SP; 1995. V.4-1996. Anual.
PRIORE, Mary Del. História das mulheres no Brasil. 8. ed. São Paulo: contexto, 2006.
SCHUMA, Schumaher, DRSIL, Erico Vital. Dicionário das Mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade, biográfico e ilustrado. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed, 2000.
SERGIPE, Tribunal Regional Eleitoral. 100 Anos de eleições em Sergipe. Aracaju: TER/SE, 2002.
SOUSA, Raimundo Silveira. Gente que conheci coisas que ouvir contar. Aracaju: Governo Estadual de Sergipe, 1991.




ANEXO

















































LISTA DE TABELAS


1- Resultado das Eleições para Presidente da República em 1945.
2- Resultado das Eleições para Presidente da República em 1950.
3- Resultado das Eleições para Governador do Estado de Sergipe em 1945.
4- Resultado das Eleições para Governador do Estado de Sergipe em 1950.
5- Resultado das Eleições para Prefeito na cidade de Estância em 1950.
6- Pagamento do Funcionalismo Público.
7- Instituições Filantrópicas.

















LISTA DE FOTOS

1 - Foto de Francisco de Araújo Macedo no Jornal, O Nordeste; em setembro de 1950.
2 - Foto de Getúlio Vargas no Jornal, O Nordeste, em setembro de 1950.
3 - Foto de Dona Núbia Nabuco Macedo no Jornal, Folha Trabalhista, em 22 de outubro de 1950.
4 - Foto de Leandro Maciel no Jornal, O Correio de Aracaju, em julho de 1950.

















LISTA DE RECORTES DE JORNAIS

1 - Recorte do Jornal, O Nordeste, de agosto de 1950.
2 - Recorte do Jornal, O Nordeste, de setembro de 1950.
3 - Recorte do Jornal, O Nordeste, de setembro de 1950.
4 - Recorte do Jornal, O Correio de Aracaju, de agosto de 1950.
5 - Recorte do Jornal, O Correio de Aracaju, de setembro de 1950.
6 - Recorte do Jornal, O Correio de Aracaju, de setembro de 1950.
7 - Recorte do Jornal, O Correio de Aracaju, de setembro de 1950.
8 - Recorte do Jornal, O Correio de Aracaju, de setembro de 1950.
9 - Recorte do Jornal, O Correio de Aracaju, de setembro de 1950.
10 - Recorte do Jornal, O Nordeste, de agosto de 1950.

11 - Recorte do Jornal, A Folha Trabalhista, de junho de 1950.

12 - Recorte do Jornal, O Nordeste, de 18 de outubro de 1950.

13 - Recorte do Jornal, A Folha Trabalhista, de fevereiro de 1951.

14 - Recorte do Jornal, A Folha Trabalhista, de fevereiro de 1951.

15 - Recorte do Jornal, A Folha Trabalhista, de abril de 1951.

16 - Recorte do Jornal, A Folha Trabalhista, de março de 1951.

17 - Recorte do Jornal, A Folha Trabalhista, de setembro de 1951.

18 - Recorte do Jornal, A Folha Trabalhista, de março de 1951.






FONTE MANUSCRITA

Livro de Ata nº. 03 Registro das Leis Municipais da Estância nos anos 1951 a 1954. Arquivo Geral do Município.
Praça Barão do Rio Branco, nº 46, CEP:49200-000, Estância/SE.