A FILOSOFIA DO DIÁLOGO COMO PROPÓSITO 

Nosso objeto de trabalho se voltará para a questão do diálogo. Faremos breve análise no que tange a este respeito e apresentaremos uma reflexão onde dois personagens exercerão de forma simples e ao mesmo tempo filosófica, o ato de pensar. Ao examinarmos a história da humanidade, notaremos com a simplicidade de uma criança, que temos enorme dificuldade em dialogar com os seres humanos. Saber falar, não é sinônimo de bom uso da linguagem. Posso falar bem e expressar-me de forma ruim. Também posso expressar-me bem e não dominar de maneira correta a linguagem. Por outro lado, posso ter as qualidades citadas e ser altamente ignorante quando estou a dialogar com outras pessoas.

Afinal, quantas pessoas suportariam ficarem alguns minutos a dialogar cordialmente com Sócrates na Grécia antiga? (ver também a obra De Magistro, Santo Agostinho). Não é questão de ganhar ou perder um diálogo, apenas deve-se acumular conhecimento com ele. Não deve ser questão de competição, mas sim, de episteme filosófica.

A velha frase ignorante: ‘nóis viemo aqui pá bebê ou pá cunversá?’ Ou seja, a bebida acaba sendo mais importante que o diálogo, que o humano em si. Sinal de decadência? Vou dar-lhes uma simples dica filosófica sem compromisso. Se for sair apenas para beber, não há necessidade alguma de levarmos mais alguém ou alguns. Beba e pronto. Se quiser alguém apenas para dialogar, neste caso é bom levar alguém ou alguns. Caso contrário, tu corres o risco de ficar falando sozinho. Um psicanalista freudiano pode não suportar ver esta cena. A não ser que tu estejas bem alterado! Agora, se estiver a fim de beber e dialogar eu vos aconselho levar pessoas interessantes ao seu lado. Pois, nem só de automóveis, motocicletas e vaidades fúteis sobrevive um Diálogo!  ‘Antes só, com um bom vinho, que mal acompanhado’. (Dos Verbetes da Decadência. Bessani, D. É uma coletânea de frases que deve ser publicada pelo autor). Os motivos são diversos. Todos supõem ter ‘razões’. É difícil dialogar com indivíduos que estão sempre certos em tudo. Não é um diálogo, mas, um monólogo! O mundo está cheio de supostos dono do palco.

Apresento-vos dois personagens diferenciados e reforço a ideia de que para tanto, não há necessidade de se ter idade adulta, mas sim, certa disposição a enfrentar as dificuldades do querer saber. Algo que atualmente há em raríssimos jovens.

 

Diálogo Socrático entre Max e Dona? Seria isso possível?[1]

- Max, você já reparou o quanto nós dependemos do DIÁLOGO?

- Sim, é por meio dele que evitamos uma série de ações ruins. Entramos em acordo até mesmo com o inimigo e também podemos resolver questões de nossos interesses sem prejudicar aos outros.

- Li, Dona, certo dia num dos livros de meu pai, que existiu um homem chamado Sócrates que viveu bem antes de cristo e que dava muita importância a esta palavra, o DIÁLOGO. Ele gostava de coisas simples e vivia numa praça dando aulas sem cobrar nada dos alunos.

- Ele não cobrava nada Max?

- Nada. E era chamado de filósofo…

- O que é um filósofo, Max?

- É um livre pensador que se dedica ao estudo da filosofia. Que cria conceitos. Não rouba ideias dos outros. Procura criar ideias próprias. Diferente de copiar e colar pelo computador. Entendeu?

- Sim. Mas não copiei e nem colei. Parece-me ser bem interessante, mas, fale-me mais deste homem!

- Dizem que ele dava uma de ‘ignorante’, dizendo que nada sabia e ironizava o DIÁLOGO.

- Seu método tinha a ver com perguntas e, ele foi o primeiro filósofo a utilizar este método. Para ele Dona, ‘inteligente é o ignorante’, pois, geralmente, é este quem faz perguntas! Inventou também… (Max, pensativo) É uma palavra muito estranha… Como é mesmo?! Lembrei-me! MAIÊUTICA! É isto aí…

- Realmente Max, o nome é meio esquisito. Afinal, o que significa esta palavra?

- MAIÊUTICA, Dona, tem a ver justamente com o DIÁLOGO. É o DIÁLOGO. Com ela, Sócrates era capaz de extrair da outra pessoa a verdadeira ciência que a própria pessoa já possuía, dentro do seu íntimo, sem saber.

- Olha que legal! Então quer dizer Max, que as pessoas já possuem um conhecimento, mas, na maioria das vezes elas não sabem que possuem?

- É isso aí Dona. É com a MAIÊUTICA ou o DIÁLOGO, que você amplia seu conhecimento e sua ‘sabedoria’. Sócrates sabia muito bem disso, e era bom de conversa!

- Agora que ‘me toquei’, Max, o que nós estamos a fazer é MAIÊUTICA, não é?

- Perfeito. Estamos dialogando, e claro, fazendo brotar ideias que já existiam dentro de nós, segundo Sócrates.

E como este homem morreu?

- Por motivos de conspiração, Dona. Foi acusado, entre outras coisas, de corromper a juventude com suas ideias. Razão a qual foi condenado à morte e ‘convidado’ a tomar cicuta.

- Nossa! Mas, ele estava errado?

- Não Dona. Às vezes, no mundo dos adultos, é por estarmos ‘certos’ que ‘pagamos um preço alto’ e tal, pode ser a própria vida.

Depois deste DIÁLOGO Max, cheguei à conclusão que preciso conhecer melhor a vida dos filósofos e suas filosofias… Será que você poderia emprestar-me algumas obras?

- Claro que sim, Dona! Iniciaremos com Críton ou, Eutífron?

- Novamente você com esses nomes difíceis..!

- Quem foram eles?

- Pesquise, e depois caminharemos para filosofia!

- Mas, Max‼

- ‘senhorita’ Dona, saiba que sem pesquisar não dá para fazermos filosofia…

- Não entendi ‘senhor’ Max, a pouco você havia dito que temos certo conhecimento dentro de nós! Você mudou de ideia? Temos um problema filosófico? Mais um! Estaria Sócrates equivocado?

Em toda insatisfação, existirá um cunho filosófico pairando sobre nossas cabeças. O que não quer dizer, que iremos conseguir pegá-la e fazê-la dela um nobre diamante, afinal, do que adiantaria estarmos num deserto com uma enorme sacola de ouro puro e não termos uma mísera xícara com um pouco de água? Se alguém plenamente saciado nos oferece uma troca, o ouro continuaria a ser ouro? Qual vale mais? Você o trocaria pela xícara d’ água?  Esperaria mais alguns quilômetros? ‘Assim é na filosofia, não basta pensar é preciso pensar mais!’. Não basta saber falar difícil ou ter noção de história da filosofia. É preciso fazer Filosofia. É aí que a área de filosofia da educação se complica. “É preciso saber enxergar pelo ouvido”. (Dos Verbetes da Decadência. Bessani, D.) Ver as coisas como elas são, não é mesma coisa de vê-las como deviam ser. Como elas são a maioria sabe. E daí?

 

Obrigado! Mas não por obrigação, apenas obrigado!



[1] Este diálogo foi apresentado pelo docente na “II Mesa-Temática do Programa de Mestrado em filosofia da Educação: A relação da filosofia e Literatura na Educação Filosófica”. Promovida pelo Departamento de Educação, Comunicação e Artes da Universidade Estadual de Londrina, PR UEL em junho de 2005. Na atual ocasião os nomes dos personagens que compunham o diálogo eram: “Gil E Carol”. Doravante foram estrategicamente mudados.