1 INTRODUÇÃO

 Humanizar é cuidar, compreender e valorizar o paciente. É fazer com que o sofrimento humano, a dor ou o prazer sejam reconhecidos pelo outro. (OLIVEIRA et al, 2006). O ambiente hospitalar e a internação são situações delicadas para qualquer paciente, especialmente os mais indefesos, como crianças e recém-nascidos.

De acordo com Waldow (2001), o cuidado humanizado é “uma atitude ética em que seres humanos percebem e reconhecem os direitos uns dos outros”. No cuidado humano há um compromisso com o outro, uma responsabilidade em estar no mundo.

Esse ainda é um tema que permanece continuamenteem alta. Omovimento pró-humanização nos hospitais tem o apoio fundamental de órgãos governamentais através de programas do Ministério da Saúde, a exemplo da Política de Humanização do SUS. Sendo assim, Barbosa e Silva (2007) consideram que cuidar de maneira humanizada é uma necessidade atual; é, antes de tudo, perceber que o ser ao qual se aplica as técnicas de assistência é um agente biopsicossocial. 

Muito já se conquistou em relação à humanização da assistência ao recém-nascido. Colaboraram para isso a sociedade – através de movimentos organizados, os pesquisadores – divulgando evidências científicas, e os organismos internacionais, como UNICEF e OMS, com suas recomendações. 

As políticas de humanização foram implantadas com o objetivo de melhorar a assistência prestada pelos serviços de saúde. Dessa forma, surgiram a Política de Humanização da Assistência Hospitalar, o Programa Mãe Canguru e o Hospital Amigo da Criança. 

De acordo com Oliveira et al (2006), o internamento de um recém-nascido em Unidade de Terapia Intensiva traz embutidas inúmeras implicações para os envolvidos no processo de hospitalização, ou seja, o recém-nascido, sua família e a equipe multidisciplinar de saúde.

Por se tratar de recém-nascidos de alto risco, que demandam uma assistência qualitativa e quantitativamente maior que aquela dispensada aos neonatos em condições clínicas mais estáveis, os familiares mostram-se inseguros quanto aos cuidados a serem prestados aos seus filhos e quem estará prestando. 

A família se importa com o cuidado dispensado aos pequenos pacientes e se este é carinhoso ou não. A dificuldade e o stress da situação são amenizados pelo bom tratamento dispensado pela equipe ao paciente e seus familiares. Como nem a mãe nem a família desses recém-nascidos são preparadas anteriormente para vivenciarem esse turbilhão de acontecimentos, o processo de humanização se torna a filosofia ideal a ser incorporada ao cuidado quando este é centrado na família. 

Dentro deste panorama, a humanização da assistência ao neonato de alto risco busca atualmente envolver a família cada vez mais na prestação dos cuidados. Nota-se que a equipe de cuidados responsável por assistir ao neonato passou a incluir também a família como objeto participante, tanto do planejamento como da assistência ao recém-nascido. 

Mas, que visão de humanização da assistência tem a família de um RN de alto risco internado em uma unidade de terapia intensiva neonatal? Qual o significado de uma assistência humanizada para eles? De que forma a equipe de saúde insere a família no contexto do cuidado a esse recém-nascido? 

Para responder a esses questionamentos, tem-se por objetivo geral, no presente trabalho, identificar, em produções literárias, a visão da família sobre a humanização da assistência ao recém-nascido de alto risco em uma unidade de terapia intensiva neonatal. Mais especificamente, procura-se verificar na produção científica o conhecimento da família sobre a humanização da assistência a esse recém-nascido internado na unidade de terapia intensiva e também identificar que estratégias são usadas pela equipe de saúde para favorecer a inserção da família nesse contexto de cuidado.

2 METODOLOGIA

 O estudo em questão se desenvolveu na área de Neonatologia. A pesquisa foi realizada através de uma revisão sistemática de literatura com abordagem qualitativa. 

Os artigos foram identificados e selecionados através de consultas às bases de dados eletrônicas LILACS (Literatura Latino americana e do Caribe em Ciências da Saúde), SciELO (Scientific Electronic Library Online), BDENF (Base de Dados de Enfermagem) contidas na rede BVS (Biblioteca Virtual em Saúde) e o site de buscas Google Acadêmico.  

Para obtenção dos artigos foram usadas as seguintes palavras-chaves: Humanização; Cuidado Humanizado; Família; Neonatal; Recém-nascido de alto risco para assim atingir os objetivos propostos. Foram incluídos na pesquisa artigos publicados nos últimos 10 anos e que estivessem escritos na língua portuguesa. Dessa forma, dos 17 artigos encontrados apenas 10 contemplaram os objetivos do estudo. 

Os resultados foram apresentados através de quadros representativos abordando as seguintes variáveis: a equipe de saúde e o cuidado humanizado; a inserção da família no contexto do cuidado; o cuidado humanizado visto pela família, além da descrição dos achados nos diversos estudos onde foram abordados os objetivos propostos.

A análise do conteúdo presente nos artigos foi feita tomando-se como fundamento a interpretação da idéia de cada autor, comparando os dados expostos nos diversos artigos abordados, a fim de que fossem detectadas conformidades e diferenças entre os diversos estudos no que se referiam aos objetivos da pesquisa. 

Toda a coleta de dados e sua posterior apresentação se basearam nos princípios éticos contemplados pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde que incorpora os quatro referenciais básicos da bioética: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça e visa assegurar direitos e deveres da comunidade científica e dos sujeitos de pesquisa envolvidos no estudo. 

Sendo assim, a pesquisa científica que envolva seres humanos deve seguir apenas quando houver o consentimento destes (autonomia), além de ponderar riscos e benefícios (beneficência), evitando a ocorrência de danos previsíveis (não maleficência) e que a pesquisa tenha uma relevância social (justiça). 

Além disso, o estudo também foi respaldado pelo Código de Ética de Enfermagem, que em seu artigo 37 obriga o pesquisador a ser honesto no relatório dos resultados da pesquisa e que em seu artigo 56 proíbe o uso, sem referência ao autor ou sem autorização prévia, de dados, informações ou opiniões ainda não publicadas.

 3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS 

A apreciação de todos os artigos pesquisados (Quadro 1) permitiu obter uma visão acerca do material encontrado. Este quadro apresenta os principais achados bibliográficos, através dos quais pôde ser possível realizar uma integralização de dados, o que propiciou informações teóricas importantes sobre o tema escolhido. 

 QUADRO 1 – Artigos encontrados nas bases de dados LILACS, SciELO, BDENF e Google Acadêmico

 

 

ARTIGO

 

AUTOR

 

TÍTULO

 

ORIGEM

TIPO DE

ESTUDO

01

GALVA, Maria Aparecida Munhoz; SCOCHI, Carmen Gracinda Silvan

 

A participação da família no cuidado ao prematuro em UTI neonatal

 

Rev. Brasileira de Enfermagem

Vol. 58, pág. 444-448(2005)

 

 

-Pesquisa Qualitativa

 

 

 

02

PEDROSO, Glicínia Elaine Rosilho; BOUSSO, Regina Szylit

O significado de cuidar da família na UTI neonatal: crenças da equipe de enfermagem

Acta Scentiarum – Health Sciences. Vol. 26, nº 1, pág. 129 - 134(2004)

 

-Pesquisa qualitativa

03

 

CYPEL, Saul

A humanização no atendimento ao recém-nascido: a importância das relações interpessoais e a organização neurobiológica

 

Rev.Einstein Vol. 5, pág. 69 – 73 (2007)

-Artigo científico

04

ROSSATO-ABÉDE, Lisabelle Mariano; ANGELO, Margareth

Crenças determinantes da intenção da enfermeira acerca da presença dos pais em unidades neonatais de alto risco

 

Rev.

Lat. Amer. de Enfermagem. Vol. 10, pág. 48-54 (2002)

 

-Pesquisa qualitativa

 

05

REICHERT, A.; LINS, R. N. P.; COLLET, N.

 

Humanização do cuidado da UTI neonatal

Rev. Eletrônica de  Enfermagem. Vol. 9, nº 1, pág. 200-213 (2007)

 

-Pesquisa qualitativa   bibliográfica

06

MOLINA, Rosemeire Cristina Moretto, et al.

 

Presença da família nas unidades de terapia intensiva pediátrica e neonatal: visão da equipe multidisciplinar

Rev. Enfermagem Escola Anna Nery. Vol. 11, pág. 437-444 (2007)

 

-Pesquisa qualitativa

07

FROTA, Mirna Albuquerque, et al.

 

 

Recém-nascido em uma unidade de internação neonatal: crenças e sentimentos maternos

 

Rev. Cogitare Enfermagem. Vol. 12, pág. 323-329 (2007) 

-Pesquisa qualitativa

 

 

08

 

 

GOMES, Maria Magda Ferreira

O nascimento de uma criança de alto risco: significado e vivência dos familiares

 

Rev. Acta Paul. Enf. Vol. 9 (1996)

- Pesquisa qualitativa

09

 

 

WERNET, Monika; ÂNGELO, Margareth

A enfermagem diante das mães na unidade de terapia intensiva neonatal

 

Rev. Enferm. UERJ. Vol. 15, pág. 229-235 (2007)

-Pesquisa qualitativa bibliográfica

10

 

 

CUNHA, Maria Luzia Chollopetz da

Recém-nascidos hospitalizados: a vivência de pais e mães

 

Rev. Gaúcha Enfermagem. Vol. 21, pág. 70-83 (2000)

- Pesquisa qualitativa

Fonte: Quadro elaborado pela própria autora

 A partir dos achados expostos no Quadro 1, fez-se necessário pautar essa revisão de literatura com os seguintes aspectos: a equipe de saúde e o cuidado humanizado; a inserção da família no contexto do cuidado; cuidado humanizado visto pela família, todos descritos e apresentados em quadros representativos.

 3.1 A equipe de saúde e o cuidado humanizado:

 QUADRO 2 – A equipe de saúde e o cuidado humanizado

 AUTOR

ABORDAGEM

CUNHA, M. L. C. da

A união entre a tecnologia e o cuidado como transformadores do ambiente na UTI

GOMES, M. M. F.

A equipe de saúde como promotora de um cuidado amplo ao paciente.

Percepção das necessidades básicas dos RNs e das famílias

FROTA, M. A., et al

Cuidado humanizado com competência, ética e sensibilidade estendido ao RN e sua família

MOLINA, Rosimeire Cristina Moretto, et al.

Cuidados intensivos fornecidos sem desumanização

REICHERT, A.; LINS, R. N. P.; COLLET, N.

Procedimentos técnicos realizados pela equipe de saúde sem desumanização do binômio família – RN

Escuta sensível RN – família

PEDROSO, Glicinia Elaine Rosilho; BOUSSO, Regina Szylit

Crença de que o recém-nascido é o objetivo principal do cuidado humanizado

 

CYPEL, Saul

 

----------

ROSSATO-ABÉDE, Lisabelle Mariano; ANGELO, Margareth

 

----------

 

GALVA, M. A.; SCOCHI, C. M.

 

----------

 

WERNET, M.; ANGELO, M.

 

----------

Fonte: Quadro elaborado pela própria autora

 Cunha (2000) constata em seu estudo que a união entre tecnologia e cuidado humanizado transforma um ambiente de dor e sofrimento, como a unidade de terapia intensiva, em um ambiente que inspira esperança no futuro. As atitudes de respeito e consideração são julgadas como indispensáveis.

 Gomes (1996) percebe que a enfermagem participa no encontro das necessidades dos pacientes neonatais e das necessidades da família, no sentido de haver um cuidado mais amplo, que não se limite ao cuidado biológico, mas busque ver o ser que está assistindo.

 Frota et al (2007) destacam que o cuidado de enfermagem ao RN e sua família com competência, sensibilidade e ética é essencial num ambiente como a UTI neonatal. Assim, torna-se relevante a orientação sobre os procedimentos realizados, a tentativa de reduzir manuseios excessivos e quaisquer outras atitudes que possam comprometer o bem-estar do bebê.

 Para Molina et al (2007), é preciso derrubar barreiras, eliminar diferenças, fazer-se presente, tornar-se empático. Diante desse contexto, os cuidados intensivos são fornecidos visando alcançar a estabilidade hemodinâmica do RN sem desumanizar a assistência ou desconsiderar a família.

 Reichert, Lins e Collet (2007) confirmam em seus estudos que a equipe de cuidados não pode desconsiderar os cuidados com a manipulação, som, luz, estresse e dor no recém-nascido. Segundo eles, a presença efetiva da equipe de enfermagem com o uso da escuta sensível é tão importante quanto o procedimento técnico. Vendo, escutando e sentindo o binômio RN - família como um todo, se compreenderá a essência do ser humano. 

 Avanços tecnológicos são necessários e devem buscar promover uma melhoria na qualidade de vida do recém-nato e não aumentar os efeitos já tão nocivos da hospitalização.

 Comprovando o que foi encontrado, Oliveira et al (2006) afirmam que o cuidado humanizado só existirá de fato quando a equipe de saúde desenvolver ações que busquem humanizar o cuidado. Deve-se compreender o recém-nascido como um ser que sente, chora, mas não fala. Além disso, é parte de um núcleo familiar que sofre, necessitando ainda de acolhimento e amparo. 

O Ministério da Saúde recomenda a promoção da assistência neonatal humanizada. Assistência humanizada também diz respeito ao ambiente que atende a esse neonato de alto risco. Dias e Vieira (2005) ratificam os dados pesquisados assegurando que ambientes agradáveis, harmoniosos e sem fatores estressores propiciam bem-estar para o pequeno paciente e sua família.

 Dos autores pesquisados, Cypel (2003), Rossato-Abéde e Ângelo (2002), Galva e Scochi (2005) e Wernet e Ângelo (2007) não fazem referência ao cuidado humanizado prestado pela equipe de saúde. Dessa forma, fica claro pelo exposto pelos outros autores que o cuidado humanizado é uma atitude nobre praticada pela equipe de saúde e pela própria instituição.

 Entre os autores pesquisados constata-se que a idéia do cuidado humanizado realizado pela equipe de saúde que assiste ao recém-nascido (RN) passa pelo reconhecimento de que o neonato é o centro da assistência à saúde. Esse cuidado deve ser pautado nas necessidades humanas básicas do recém-nascido e da sua família e a execução desse cuidado pode compatibilizar conhecimento técnico e científico, além de sensibilidade, ética e respeito pelo RN e por sua família. 

 Com isso, o paciente passa a receber os cuidados merecidos por mãos humanas e que propiciem a ele um trabalho digno de ser humano. Contudo, o treinamento por si só não é o bastante para humanizar os atos. E sim, ter como aliado o gostar de pessoas, principalmente quando elas são recém-nascidos, permitindo, assim, a integralidade da assistência humanizada. 

 3.2 A inserção da família no contexto do cuidado:

 QUADRO 3 – A inserção da família no contexto do cuidado

 

AUTOR

ABORDAGEM

CUNHA, Maria Luzia Chollopetz da

A importância do apoio dado à família

GOMES, Maria Magda Ferreira

A humanização da assistência passando pela convivência com a família

FROTA, Mirna Albuquerque, et al

O suporte necessário da equipe de saúde para inserção da família nos cuidados.

Desmistificação do RN frágil – genitora realiza cuidados

MOLINA, Rosimeire Cristina Moretto, et al.

O estabelecimento da relação de confiança entre a família e a equipe e a promoção dos meios de inserção

REICHERT, A.; LINS, R. N. P.; COLLET, N.

Cuidado integral dado à família e ao recém-nascido

 Escuta sensível. Participação da família executando cuidados. As visitas flexíveis, o toque e o apego

PEDROSO, Glicinia Elaine Rosilho; BOUSSO, Regina Szylit

Inclusão da família nos cuidados captando suas experiências de vida

 

CYPEL, Saul

Inserção da família como dever da instituição. Participação e acolhimento afetivo

ROSSATO-ABÉDE, Lisabelle Mariano; ANGELO, Margareth

Introdução da família no meio de cuidados promovendo orientações e facilitando a interação da família com a criança

GALVA, M. A.; SCOCHI, C. M.

Uso de estratégias para inclusão da família nos cuidados: visita da família, permanência dos pais, grupos de apoio, participação das mães no cuidado e tratamento.

WERNET, M.; ANGELO, M.

 

                                -------------

 

Fonte: Quadro elaborado pela própria autora

 Para Cunha (2000), a experiência de ter um filho recém-nascido hospitalizado é bastante dolorosa tanto para o bebê como para seus pais. Por isso, há por parte dos profissionais que atuam nessa área a preocupação inerente em assistir as famílias de maneira humanizada. Em seu estudo, esse autor demonstra a necessidade das enfermeiras estarem conscientes da importância do apoio dado aos pais durante este momento.

 Molina et al (2007) em seu estudo comprovam que incluir a família não é apenas permitir a entrada e permanência dos pais na unidade, mas estabelecer relação de confiança entre a equipe, a família e o recém-nascido, é proporcionar meios para inserção dos pais no processo de cuidado do neonato, é esclarecer dúvidas e preparar os pais para o processo da alta hospitalar.

 Reichert, Lins e Collet (2007) relatam que a equipe de enfermagem deve saber quando e o que falar, saber ouvir, proporcionar aos pais e outros familiares a oportunidade de visualizar e tocar o RN, promover horários flexíveis para visita de familiares no sentido de gerar o apego com o recém-nascido. Para estes autores, humanizar a assistência à família e ao neonato implica proporcionar um cuidado integral a ambos.

 Cypel (2006) em seu estudo afirma que é dever da instituição desempenhar o papel expressivo de valorizar a importância da presença dos pais, sua participação e acolhimento afetivo ao recém-nascido nesse período.

 De acordo com Pedroso e Bousso (2004), incluir a família no contexto do cuidado exige do profissional que ele capte as nuances de experiência da família, desfazendo-se da idéia de que o cuidado deve ser individual e não com o grupo familiar. 

Para Galva e Scochi (2005), diante das transformações sofridas pelas unidades neonatais nos últimos anos várias estratégias são usadas para inclusão da família nos cuidados. De acordo com esse estudo, atualmente já se permite a liberação de visitas para outros membros da família como irmãos, avós e outras pessoas próximas, permanência dos pais junto ao filho internado, criação de grupos de apoio, incentivo à participação das mães no cuidado ao RN e inclusão na tomada de decisões no tratamento. 

Frota et al (2007) consideram a presença da mãe junto ao filho na UTI neonatal de fundamental importância. Ao receber suporte da equipe de saúde, essa mãe começa a se adaptar à rotina do ambiente, desenvolve o cuidado e desmistifica a percepção de fragilidade do RN de alto risco. 

Para ratificar os estudos analisados, Oliveira et al (2006) dizem que a busca pela qualidade de vida do recém-nascido de alto risco faz com que se procure um atendimento individualizado e direcionado ao bebê e sua família. Assim, incluem-se pai e mãe nos cuidados para o estabelecimento de vínculo e afeto com o neonato. 

Tendo apenas Wernet e Ângelo (2007) entre os pesquisados que não faz qualquer referência à inserção da família no ambiente dos cuidados, fica claro que o acolhimento da família pela equipe de saúde reduz o medo e a ansiedade desta. 

Para humanizar o cuidado, os pais são inseridos nesse contexto e passam a participar dos cuidados e da tomada de decisões. Suas dúvidas são solucionadas, os procedimentos realizados são explicados e também são fornecidas todas as informações sobre o estado de saúde do recém-nascido.

 Estimulação precoce, promoção do toque sem super estimulação, horários flexíveis de visita, reunião de grupos de pais e familiares estimulam o vínculo da família com o recém-nascido e fazem com que esta acredite no cuidado realizado pelos profissionais responsáveis pelo neonato. 

Bessani, Lima e Fleiter (2007) dizem que atitudes como levar os pais para conhecer a UTI, incentivar sua visita à unidade, mostrá-los gestos, gostos e comportamentos do RN, incentivar a prática do contato pele a pele e do aleitamento materno são exemplos de simples, mas importantes, estratégias que contribuem para preservar o vínculo família-neonato durante a estadia deste paciente na UTI.

 Ainda de acordo com os mesmos autores, a equipe de enfermagem torna-se nesse ambiente uma fonte de apoio para os pais sendo responsável por transmitir informações, zelar pelos cuidados com o recém-nascido e promover a entrada da família na unidade neonatal e, por conseguinte, a participação destes no cuidado com o RN. 

Para os autores dos estudos pesquisados é unânime afirmar que o cuidado humanizado é caracterizado pela assistência integral à família e ao neonato, com participação ativa da família no planejamento e tomada de decisões relativas à assistência. Para tanto, é preciso um esforço conjunto de todos os envolvidos no processo assistencial. 

As estratégias mais comumente citadas pelos autores foram a permanência e ampliação da presença da família, com participação no planejamento e execução do cuidado ao RN, 

3.3 O cuidado humanizado: visão da família 

QUADRO 4 – O cuidado humanizado: visão da família

 

AUTOR

 

ABORDAGEM

CUNHA, M. L. C.

Valorização da forma do cuidado prestado pela equipe permeado pela humanização do cuidado. Vínculo de confiança.  

GOMES, M. M. F.

Ausência do cuidado humanizado. Pais como agentes estranhos ao cuidado. Sentimento de perda e impotência.

FROTA, M. A., et al

_______

MOLINA, R. C. M., et al.

Valorização por parte da família da interação com os membros da equipe

REICHERT, A.; LINS, R. N. P.; COLLET, N.

Aumento do stress com a falta de informações sobre o estado de saúde do neonato. Ambiente da UTI neonatal gera ambivalência: esperança e medo

 

PEDROSO, Glicinia E. R.; BOUSSO, R. S.

 

______

CYPEL, Saul

______

ROSSATO-ABÉDE, L. M.; ANGELO, M.

Presença constante da família na unidade realizando cuidados diminui o sentimento de ansiedade

WERNET, M.; ANGELO, M.

Família se considera mera expectadora dos cuidados

GALVA, M. A.; SCOCHI, C. M.

Presença constante da família na unidade realizando cuidados diminui o sentimento de ansiedade

     

Fonte: Quadro elaborado pela própria autora

 De acordo com Molina et al (2007), os pais percebem a hospitalização de seu filho através da interação com os membros da equipe e do cuidado prestado ao filho. A família valoriza a tecnologia e a dedicação dos profissionais, mas, antes de tudo, as atitudes de respeito e consideração, julgando serem estas indispensáveis nessa relação. 

Wernet e Ângelo (2007) consideram em seu estudo que o relacionamento com os profissionais pode ser visto pela família como um estressor a mais na experiência de internação de um recém-nascido em UTI devido à existência de divergências entre as expectativas familiares e as ações profissionais. 

Reichert, Lins e Collet (2007) comentam que, para os pais o ambiente da unidade de terapia intensiva mescla esperança e medo. Esperança por saber que é um local preparado para atender seu filho e aumentar as chances de sobrevida. Medo por saber dos riscos inerentes a esse tipo de paciente. De acordo com os autores, o estresse da família aumenta quando os pais percebem que as informações passadas são incompletas, conflitivas ou de difícil compreensão. 

Rossato-Abéde e Ângelo (2002) constatam que à medida que os pais freqüentam mais a unidade, passam a confiar cada vez mais na equipe que presta assistência a essa criança, diminuindo assim a ansiedade transmitida pelo ambiente. Os pais começam a sentirem-se mais aptos a prestar cuidados e ter um maior vínculo afetivo com o recém-nascido. 

Cunha (2000) identifica que, para os pais a internação de seu filho recém-nascido é um acontecimento único e a esperança é transmitida a eles através das atitudes dos profissionais, na forma de olhar o RN, na maneira de tocá-lo e no empenho diário em prestar-lhe cuidados. A maneira como esses pais são recebidos os faz confiar ou não na equipe de profissionais responsáveis por cuidar de seu filho. A autenticidade desse cuidado dá esperança e conforto aos pais. Os pais valorizam a forma maternal de cuidado, deixando claro que a humanização do cuidado é fundamental. 

Gomes (1996) verifica em seu estudo que quando os pais não são entendidos em seus temores, seus silêncios, choros e desespero terminam por se perceber estranhos ao ambiente, sofrendo assim antecipadamente a perda do filho. Os pais não se sentem como sujeitos do processo de cuidar e essa exclusão faz-nos sentirem-se impotentes diante do sofrimento do filho.

 Confirmando as idéias de alguns autores encontrados, Buarque et al (2006) dizem que ao se admitir um recém-nascido de alto risco na unidade neonatal surgem inúmeros fatores de stress, incluindo aí o aspecto do paciente e seu prognóstico. Para estes autores caberá à equipe de saúde fornecer suporte emocional adequado ao paciente e sua família. 

De acordo com Tronchin e Tsunechiro (2006), os pais confiam na equipe de profissionais e na assistência prestada por eles. Mas, isso só acontece à medida que eles passam a receber esclarecimentos e informações precisas a cerca do estado de saúde de seu filho, além de serem acolhidos pela própria equipe e poderem conviver diariamente com o neonato. 

Dos autores encontrados, apenas Frota et al (2007), Cypel (2003) e Pedroso e Bousso (2004) não fazem qualquer referência à visão da família sobre o cuidado humanizado.

 Dessa forma, ratificando a idéia da maioria dos autores encontrados, Kamada e Rocha (2005) dizem que para a família, o que realmente importa é o cuidado dispensado ao neonato e se este é carinhoso ou não. O stress próprio da situação e a dificuldade de enfrentamento são amenizados pelo tratamento dispensado ao paciente por parte da equipe. Assim, não há como promover o cuidado humanizado sem a inclusão da família. 

Por fim, demonstra-se abaixo em quadro comparativo uma síntese dos artigos analisados visando os objetivos propostos pelo estudo. Através do quadro pode-se perceber que nem todos os artigos pesquisados contemplaram os três objetivos ao mesmo tempo, embora cada um deles prestasse uma contribuição para o estudo como um todo.

QUADRO 5 – Quadro síntese contemplando objetivos do estudo

 

ARTIGO

 

AUTOR

 

Visão da família sobre a humanização

 

Conhecimento da família sobre a humanização

Inserção da família no contexto do cuidado

01

GALVA, Maria Aparecida Munhoz; SCOCHI, Carmen Gracinda Silvan

 

 

Família expectadora de cuidados

 

 

 

______

Uso de estratégias para a inclusão da família

 

 

02

PEDROSO, Glicínia Elaine Rosilho; BOUSSO, Regina Szylit

 

 

______

Recém-nascido como objetivo do cuidado humanizado

 

Inclusão da família captando suas experiências de vida

03

 

CYPEL, Saul

 

______

 

______

Dever de a instituição acolher a família 

04

ROSSATO-ABÉDE, Lisabelle Mariano; ANGELO, Margareth

 

 

 

______

Presença constante da família diminui a ansiedade

 

Introdução da família no meio de cuidados promovendo orientações e facilitando a interação da família com a criança

 

05

REICHERT, A.; LINS, R. N. P.; COLLET, N.

 

Falta de informações gerais - aumento de stress

Realização de procedimentos técnicos sem desumanização do binômio RN- família

 

Promoção do cuidado integral à família e ao RN

06

MOLINA, Rosemeire Cristina Moretto, et al.

 

Valorização pela família da interação com os membros da equipe

Cuidados fornecidos sem desumanização

 

Estabelecimento de uma relação de confiança e promoção de meios de inserção

07

FROTA, Mirna Albuquerque, et al.

 

 

 

_____

Cuidado com ética e sensibilidade 

Suporte da equipe de saúde para inserção da família

 

08

 

 

GOMES, Maria Magda Ferreira

Pais como agentes estranhos ao cuidado

 

Promoção pela equipe de um cuidado amplo

A humanização da assistência passando pela convivência com a família

09

 

 

WERNET, Monika; ÂNGELO, Margareth

Relacionamento com a equipe como fator de stress

 

 

_____

 

_____

10

 

 

CUNHA, Maria Luzia Chollopetz da

Valorização da forma do cuidado prestado

 

União entre tecnologia e cuidado como transformador do ambiente

Importância dada à família pela equipe de saúde

Fonte: Quadro elaborado pela própria autora

 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS:

 Considerando os resultados apresentados, a autora considera que os objetivos propostos no início do estudo foram alcançados. Porém, é necessário destacar alguns pontos importantes que ficaram evidenciados durante a pesquisa.

 Ficou evidenciado em todos os artigos pesquisados que, na verdade, a maioria dos autores ainda não considera a opinião familiar como medidora da existência ou não de um cuidado verdadeiramente humanizado. Para muitos autores, o juízo feito pelos profissionais é o bastante para que se possa afirmar se este cuidado é humanizado ou não.

 Dos artigos pesquisados, nove consideravam a idéia de promover estratégias para inserção da família desse recém-nascido nos cuidados prestados a ele pela equipe. Ressalta-se aqui, que os autores referem às estratégias de inserção não apenas como abrir a unidade para entrada da família, mas sim dividir com os familiares a realização de cuidados básicos e que possam ser realizados sem prejuízo fisiológico ao neonato.

 No que se refere ao objetivo primordial desse estudo, os artigos pesquisados demonstram que, muitas vezes, a família se considera como mera expectadora dos cuidados realizados como recém-nascido. Isso leva, por conseguinte a situações de stress com os membros da equipe responsável pelo neonato e gera sentimentos de ansiedade quando há falta de informações. Mas, os pesquisadores analisados relatam também que quando há a filosofia verdadeira do cuidado humanizado e essa família é inserida nesse meio, o que irá importar realmente para eles, é a qualidade dos cuidados, é a existência ou não de carinho por parte da equipe de saúde, é a valorização da forma do cuidado.

 O cuidado humanizado é um tema por vezes repetitivo. Mas, o que muitas vezes se vê é que a filosofia é deveras repetitiva, mas a prática muitas vezes inexiste e quando existe, não ocorre em sua forma plena.

 É preciso inserir a filosofia do cuidado por completo em todas as instituições. Além disso, é necessário arraigar essa filosofia na mente dos profissionais de saúde, principalmente quando estes cuidam de recém-nascidos internados em unidade de terapia intensiva.

 Hoje, a literatura ainda carece de estudos que possam demonstrar a opinião da família sobre o cuidado humanizado praticado na unidade de terapia intensiva neonatal. Assim, ressalta-se quão importante é a realização de novos estudos sobre o tema.

 As informações levantadas pela presente revisão foram apenas um recorte que visou contribuir com os estudos que desejam compreender a visão da família sobre o cuidado humanizado prestado ao recém-nascido de alto risco em unidade de terapia intensiva neonatal. Muito ainda tem que ser feito, mas percebe-se que, em geral, o que já é feito contribui e muito para a diminuição da dificuldade de enfrentamento por parte dos familiares da situação vivida.

 REFERÊNCIAS

 BARBOSA, Ingrid de Almeida; SILVA, Maria Júlia Paes. Cuidado humanizado de enfermagem: o agir com respeito em um hospital universitário. Rev. bras. enferm, set./out. 2007, vol.60, no. 5, p.546-551.

 BESSANI, Lorena da Silva; LIMA, Fabíola Amorim de; FLEITER, Margarete. Humanizando o atendimento ao prematuro em UTI neonatal. 2006.

 BRASIL, Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pnhah01.pdf Acesso em: 01/12/2008.

 BUARQUE, Virginia et al. O significado do grupo de apoio para a família de recém-nascidos de risco e equipe de profissionais na unidade neonatal. J. Pediat. (Rio J.), jul/ago. 2006, vol. 82, nº 4, p. 295-301.

 CUNHA, Maria Luzia Chollopetz da. Recém-nascidos hospitalizados: a vivência de pais e mães. Ver. Gaúcha Enfermagem, vol. 21, pág. 70-83. 2000.

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