A FAMILIA E A EDUCAÇÃO EM BUSCA DE NOVOS CAMINHOS PARA A SOCIEDADE

Quando se ouve falar em educação, pensamos em escola, em educação formal. E quando o assunto é família temos vários pensamentos. Educação e Família são dois temas bastante complexos, porque educação é muito mais que escolarização, letramento e formação, sendo que família é a instituição mais antiga da sociedade e sofre constantes transformações. Ambas tem a função de socializar e transformar o homem biológico em um ser social.

Como o processo de socialização e formação é contínuo o homem ao mesmo tempo recebe influências sendo moldado pela sociedade, ele age no sentido de transformá-la.

 As transformações da família

A família tem tido seu conceito modificado ao longo da história e muitos estudiosos e pensadores formulam discussões e teorias em torno do tema, o que demonstra a dificuldade de se determinar o que é família. De modo geral, quando nos reportamos à ideia de família, nos vem à mente um grupo, comumente formado por pai, mãe e filhos, todos morando na mesma casa. Hoje existem novos arranjos familiares compostos por mãe e filhos, pai e filhos, avós e netos, a união civil de casais homoafetivos trouxe também mudanças significativas.

Segundo Michael Anderson, a história da família pode ser feita segundo abordagens diferentes: a psico-histórica (que o autor diz nem merecer ser considerada), abordagem dos sentimentos (que busca compreender as modificações de significados de família) e a abordagem da economia doméstica (cuja preocupação reside nos processos sócios relacionados à organização da família como uma unidade de produção). Pelo que se pode

 Perceber, as três abordagens se completam e todas estão sujeitas a críticas.

As famílias tinham como objetivo inicial satisfazer as necessidades básicas do grupo social, porém, aos poucos, foi assumindo outras funções, tais como dar apoio à velhice, proteger seus membros contra agressões de outros grupos, transmitir os conhecimentos práticos acumulados pelo grupo aos membros mais jovens e, principalmente, ensinar a seus componentes normas, regras e valores que garantem a manutenção da sociedade. Como qualquer outra instituição social, constitui-se de ideias, comportamentos e relação entre pessoas. Além disso, organiza-se em torno de objetivos comuns que visam aos interesses do grupo, os quais mudam com o tempo.

A família assume novas funções e se consolida como lugar de afetividade quando aumenta a privacidade, no momento em que se dá a separação do publico e do privado. Até meados do século XVIII, especialmente até a Revolução Industrial, quando o local de trabalho ainda era o mesmo local de moradia, não havia separação e muito menos sentimento de privacidade. Quando se aprofunda essa separação, tem-se uma nova organização da família e uma revisão de suas funções.

Há quase um consenso entre os autores em conceituar família como um grupo de pessoas ligadas por laços de casamento e/ou afetivos, por consanguinidade ou adoção, constituindo um único lar, onde seus membros interagem uns com os outros, por meio de seus papeis de pai, mãe, marido, esposa, filho e filha, e relacionam-se com os demais membros da sociedade. A organização pai-mãe-filhos é chamada tradicionalmente como família nuclear, em oposição à chamada família extensa, que seria composta pelos elementos da família nuclear acrescida de agregados de vários tipos, como avós, primos, empregados e outros. No ocidente, há muito tempo a família nuclear tem sido o pradão encontrado. Alguns autores afirmam, inclusive, que a família extensa jamais existiu por aqui. De qualquer forma, a família é vista como a mais antiga instituição que compõe a sociedade. Após a Revolução Industrial a família nuclear patriarcal tornou-se dominante.

As transformações pelas quais passa a sociedade refletem em todos os setores da vida social, especialmente aquelas geradas nas sociedades industriais com a consolidação do capitalismo. Assim, a família perde ou percebe suas funções alteradas em razão das funções que o Estado passa a assumir, essas mudanças também implicam nas transformações da estrutura da família, que deixa de ser uma unidade de produção. A grande mudança que levou a família conjugal foi mesmo a afirmação da vida doméstica que levou o surgimento da disciplina no meio familiar.

 

Educação e Família

As práticas e representações relacionadas à família mudaram muito ao longo do tempo, com a mesma velocidade em que consolidavam as transformações sociais que aconteceram a partir da idade média até o final do século XIX. Nas últimas décadas as mudanças tem se intensificado. Há quem acredite que a família esta vivendo uma crise de identidade e procura redefinir seu papel na sociedade.

As transformações percebidas na sociedade brasileiras demonstram que as mudanças não ocorrem somente na estrutura familiar, mas também surgem novos valores e novas atitudes que tornam a família mais democrática, na qual não se observa mais apenas a imposição da autoridade paterna e também mães e filhos não se submetem mais as vontades e desejos imperativos do pai.

 Também é preocupante a falta de autoridade e envolvimento das famílias, que de certo modo, pensando ser liberais e como intuito de proporcionar liberdade e autonomia se afastam do processo educacional dos filhos.

Para Paulo Freire (2000) essa situação é percebida com preocupação. Segundo ele,

A mim me dá pena e preocupação quando convivo com famílias que experimentam a     tirania da liberdade” em que as crianças podem tudo: gritam, riscam as paredes, ameaçam as visitas em face da autoridade complacente dos pais que se pensam ainda campeões da liberdade. (PAULO FREIRE, 2000: 29) 

 

 

 

Considerações Finais

Percebo que atualmente as famílias com menor poder aquisitivo lutam pela sobrevivência, enfrentam a situação de miséria, e a desumanização. Em muitas delas há muita solidariedade e cumplicidade. As famílias de classe média também têm suas lutas, mas estão determinadas a lutar pelo fortalecimento dos laços familiares porque consideram porque para elas a família é um valor social.

Na sala de aula chegam todos os dias os reflexos da situação das famílias, que muitas vezes deixam a educação dos filhos a cargo da escola, pelos mais diversos motivos. Quem realmente sofre essas consequências somos todos nós, direta ou indiretamente. Sofre o aluno que aprende pouco ou não aprende a família que é cobrada pela escola e pelo filho pela sua ausência ou relapso e a sociedade que recebe um homem que por muitos motivos não conseguiu conquistar sua cidadania, no sentido amplo e pleno da palavra.


REFERÊNCIAS

ANDERSON, M. Elementos para a história da família ocidental: 1500-1914. Lisboa: Querco, 1984.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Indignação: Cartas Pedagógicas e outros escritos. São Paulo: UNESP, 2000.