A FAMÍLIA COMO BASE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: um estudo na Creche Municipal Tia Caroliny em Picos – PI.

 

 

THE FAMILY AS A BASIS IN EARLY CHILDHOOD EDUCATION: a study in Municipal Nursery Aunt Caroliny in Picos - PI.

 

 

Jairo Bispo de Araújo[1]

Maria Nayara B. B. Leite[2]

Nayedson Batista Leite[3]

Nazildes Leite Alves[4]

 

 

RESUMO

 

O tema abordado trata sobre a família como base na educação infantil na Creche Municipal Tia Caroliny em Picos – PI, realizada no ano de 2011.  Os instrumentos de coleta usados foram: observação não participante e entrevista semiestruturada com (01) uma professora e (05) cinco famílias, cujos filhos são matriculados no período vespertino da creche pesquisada, analisando os resultados dentro de uma abordagem qualitativa com o aporte do método dedutivo. Contudo, foi verificado o quanto é imprescindível o acompanhamento das famílias no desenvolvimento escolar de suas crianças, porém ainda, é pertinente o enfrentamento de algumas barreiras na atualidade, no intuito de obter um maior diálogo entre família, escola e crianças.

 

Palavras-chave: Família. Educação infantil. Desenvolvimento escolar

 

 

ABSTRACT

The topic is about the family as the base in early childhood education in the Municipal Nursery Aunt Caroliny in Picos - PI, held in 2011. The data collection instruments were used: non-participant observation and semistructured interviews with (01) and a teacher (05) five families whose children are enrolled in the afternoon daycare investigated by analyzing the results within a qualitative approach with the injection method deductive. However, we observed how essential is the support of families in the educational development of their children, but still, it is pertinent to face some barriers today in order to get a better dialogue between family, school and children.

 

Keywords: Family. Early childhood education. School development

INTRODUÇÃO

 

O presente trabalho tem como temática: “A família como base na educação infantil na Creche Municipal Tia Caroliny em Picos - PI”, visando através de pesquisas bibliográfica e de campo analisar a sua importância, e embasar a teoria estudada com o conhecimento da realidade local.

Sendo assim, o período da educação infantil é de suma relevância os pais manterem uma comunicação com os seus filhos e com os professores, pois é nessa fase que a criança começa a assumir papéis e passa aos poucos a incorporar alguns personagens que estão a sua volta, ou seja, a criança ao entrar na escola, ela começa a ver o mundo de uma forma diferente.

Contudo, a família deve atuar como verdadeira base na vida escolar dessas crianças, pois não se deve culpar somente a rede de ensino pelas falhas que existe na educação infantil. Por isso, é necessário que a família assuma seu papel em prol dessa transformação.

Tendo como objetivo central: Analisar como a família tem desempenhado seu papel de base na Educação Infantil da Creche Tia Caroliny em Picos - PI. A escolha de trabalhar essa discussão partiu da observação que a família na era da globalização tem buscado cada vez mais, cumprir seus interesses no mercado de trabalho, se eximindo do seu papel no processo educacional de suas crianças.

Sendo assim, a parceria família e escola se encontra fragilizada, necessitando ocorrer de fato, pois com essa efetivação os resultados na formação da criança serão positivos.

 

DESENVOLVIMENTO

 

Construção histórica da educação infantil, da família e da criança.

 

Os interesses da criança antes eram confundidos com os do adulto, havendo grandes reflexos de discriminação, onde o perfil da educação infantil no Brasil apresentou significativas mudanças no decorrer das décadas.

Durante séculos não se atribuía direito à infância, ela era, simplesmente, algo a margem da família, considerada como um vir a ser (ARROIO, 1994, apud EIBEL, 2005). Isto posto, reflete que a criança era considerada como sujeito somente quando chegava a idade da razão, ou seja, a fase adulta.

A partir da abolição dos escravos e posteriormente, com a proclamação da República a sociedade brasileira passou por enormes transformações na política e nas indústrias, foi nesse período que o Estado começou a se preocupar com a questão da criança. A esse respeito, Campos (2003, p. 52) menciona que:

 

[...] As esferas governamentais elaborou leis que regulou a vida e a saúde dos recém-nascidos; regulamentando o serviço das amas de leite; velando pelos menores trabalhadores e criminosos; atendendo às crianças pobres, doentes, defeituosas, maltratadas e moralmente abandonadas; criando maternidades, creches e jardins de infância.

 

 

Portanto, a preocupação das famílias de baixo poder aquisitivo era sobreviver, onde muitas vezes, os maus tratos e o desprezo pelas crianças tornaram-se aceitos como regra e costume pela sociedade de um modo geral. As mazelas contra a infância se tornaram tão comuns que, seja pelo Estado ou por filantropia, algumas pessoas resolveram tomar para si a tarefa de acolher as crianças desvalidas que se encontravam nas ruas.

Com isso, surgiram as creches populares com intuito de atender não somente as demandas das famílias que trabalhavam na indústria, mas também as famílias ainda menos abastardadas do que essa, entre elas, as que trabalhavam nos lares como domésticos. Consoante a isso, Oliveira (2010, p. 95) faz menção que:

 

[...] As fábricas criadas na época tiveram de admitir grande número de mulheres no trabalho, o problema do cuidado de seus filhos enquanto trabalhavam teve algum tipo de resposta [...] Para atrair e reter a força de trabalho fundaram vilas operárias, clubes esportivos e também algumas creches e escolas maternais para os filhos de operários em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e várias outras no interior de Minas Gerais e no norte do país, iniciativas que foram sendo timidamente seguidas por vários empresários.

 

Na década de 20, as inúmeras reivindicações dos trabalhadores desencadearam a criação de creches, escolas maternais e parques infantis por parte dos órgãos governamentais, como mostra Oliveira (2010, p. 97): “Nos anos 20, surgiram às primeiras regulamentações do atendimento de crianças pequenas em escolas maternais e jardins de infância”.

Logo, novos arranjos de creches foram se constituindo no sentido de atender às crianças das mais diversas classes sociais, como pontua Didonet (2001, p. 13):

 

Enquanto para as famílias mais abastadas pagavam uma babá, as pobres se viam na contingência de deixar os filhos sozinhos ou colocá-los numa instituição que deles cuidasse. Para os filhos das mulheres trabalhadoras, a creche tinha que ser de tempo integral; para os filhos de operárias de baixa renda, tinha que ser gratuita ou cobrar muito pouco; ou para cuidar da criança enquanto a mãe estava trabalhando fora de casa, tinha que zelar pela saúde, ensinar hábitos de higiene e alimentar a criança. A educação permanecia assunto de família. Essa origem determinou a associação creche, criança pobre e o caráter assistencial da creche.

 

No entanto, as creches públicas não alcançaram o seu objetivo por ausência de uma estrutura física e organizacional, pois era formada por professores sem qualificação e prestava um serviço extremamente assistencialista, que forneciam um atendimento precário em troca de outros interesses. Já as particulares conseguiram desenvolver suas atividades, porém também revelava um foco insuficiente.

De acordo com Oliveira (2010), outro modelo de creche também foi criada, a comunitária, promovida por iniciativa da população, geridas pelos próprios usuários e financiadas pela classe média e/ou verbas públicas para atendimento de crianças de famílias de baixa renda.

Como fruto de toda essa mobilização e questionamentos a Constituição Federal de 1988 foi promulgada definindo o Brasil como um Estado Democrático de Direito, sendo denominada “cidadã”, em que a educação infantil é reconhecida como direito de todos e dever do Estado, rompendo com a visão assistencialista para fazer parte da política educacional, por meio dos princípios pedagógicos que mostrava a importância da família no rendimento escolar e levantava uma nova idéia sobre a criança, percebendo-a como um sujeito social e histórico. Conforme a própria Constituição Federal (2008):

 

Art. 208 O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia:

IV- educação infantil, em creches e pré-escola, às crianças até 6 (seis) anos de idade.

 

 

Na década de 90 surge no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, Lei n° 8.069/1990) para reafirmar esses direitos, ao mesmo tempo, estabelecer direitos específicos, mecanismos de participação e controle social na formulação e na implementação de políticas para a infância. Conforme pontua Müller (2010, p. 124):

 

No Brasil, em 1990, tendo como base a Declaração dos Direitos da Criança, foi promulgado o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), considerado uma das legislações mais adiantadas do mundo ocidental. Pela primeira vez, foi introduzido, no país, os direitos de cidadania das crianças e dos adolescentes, redimensionando o papel do Estado nas políticas sociais destinadas a ambos.

 

 

Nessa ótica, o ECA explicita os direitos da criança e do adolescente, bem como os princípios norteadores às políticas de atendimento, determinando a criação dos Conselhos de Direito da Criança e do Adolescente (CDCA), conforme as esferas governamentais (federal, estadual e municipal) e dos Conselhos Tutelares (CT) de cada município.

É importante ressaltar dentro da concepção de garantia de direito, a família é o primeiro lugar onde as condições necessárias (direito à vida, saúde, liberdade, respeito à educação, lazer e cultura) devem ser promovidas e respeitas. Assim, de acordo com o ECA, a família deve se preocupar com o desenvolvimento pleno e a formação do sujeito, proporcionando oportunidades para que essa formação se concretize.

Em 1996 a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei n° 9.394) evidenciou a relevância da educação infantil, que passou a ser considerada como essencial, trazendo o trabalho pedagógico para crianças de 0 a 6 anos.

Vale ressaltar a recente iniciativa do MEC, que instituiu a data de 24 de abril com o Dia Nacional da Família na Escola. Neste dia, todas as escolas devem convidar os familiares dos alunos para participar de suas atividades educativas (ROCHA; MACÊDO, 2002), isto é, a família foi vista como fundamental no aprendizado dos filhos.

A partir disso, Müller (2010) afirma que o modo como a família cuida dos seus filhos está baseado na sua relação com o Estado, ou seja, na sua socialização com as redes sociais (comunidade, escola, dentre outras) para formar a moral das crianças.

Nessa perspectiva, atualmente as creches abandonam suas práticas paternalistas, para se configurar como espaço de interações, que se traduzem por atividades diárias que as crianças realizam com a companhia de outras crianças sob a orientação de um professor. Nas palavras de Abramowiz (1995, p. 39, apud SILVA e LUCAS, 2003, p.133): “a creche é um espaço de socialização de vivências e interações”.

Diante da realidade, a educação infantil, embora tenha mais de um século de história, somente nos últimos anos foi reconhecida como direito das crianças, das famílias e dever do Estado. Sendo a primeira etapa da educação básica a LDB, ressignificando o ensino e, de certa forma complementou a ação da família e da sociedade, no que tange o pleno desenvolvimento da criança pequena.

 

A relevância do papel da família na Educação Infantil

 

De acordo com Kaloustian (1995, p. 38, apud ROCHA e MACÊDO, 2002, p. 34):

 

A família desempenha um papel decisivo na educação formal e informal, e é em seu espaço que são absorvidos o valor ético e humanitário, em que se aprofundam os laços de solidariedade. É também em seu interior que se constroem as marcas entre as gerações e são observados valores culturais.

 

 

Para tal compreensão, é imprescindível para entender que cada família possui sua identidade própria, não representando apenas um lugar para assegurar condições de sobrevivência, proteção e sentimentos de afeição para os filhos, mas também possui um papel crucial no espaço educacional.

Dessa maneira, são no ambiente familiar e escolar que o sujeito se prepara de acordo os padrões culturais e sociohistóricos definidos para atuar na sociedade, constituindo como referenciais fundamentais para a formação do educando. Em conformidade com Oliveira (2001, p. 10):

 

A participação efetiva dos pais no processo de aprendizagem facilita a prática pedagógica dos professores [...] A família, especialmente os pais, ocupa um importante papel na mudança do comportamento de seus filhos. Ela intervém no desenvolvimento humano do indivíduo, na relação com o meio natural e social [...]

 

 

Entretanto, a efetiva construção da relação família e educação, exige uma participação real dos pais, diferente daquela participação, onde enviam uma contribuição mensal, onde colaboram comprando rifas e/ou através da frequência em reuniões mensais.

O envolvimento da família nas creches e nas pré-escolas produz efeitos positivos tanto nos filhos, como nos pais e professores (ROCHA; MACÊDO, 2002). Os pais que colaboram habitualmente com a educação de suas crianças contribuem com o seu aprendizado que não se restringe somente ao conhecimento das tarefas escolares, mas também de aprender brincando e dialogando.

Para que a articulação da família com a creche contemple a proposta pedagógica, é necessário que o professor compreenda os novos modelos familiares, servindo como orientador nas ações das famílias e no atendimento das crianças.

Não obstante a isso, Oliveira (2010, p. 177) cita que:

 

 

[...] Ele [professor] deve possuir habilidades para lidar com as ansiedades da família e partilhar decisões e ações com ela. Se assim ocorrer, a família terá no professor alguém que lhe ajude a pensar sobre seu próprio filho e a se fortalecer como recurso privilegiado do desenvolvimento infantil.

 

Com isso, o professor deve agir com criticidade e de forma democrática para possibilitar uma maior interação entre a família e a escola, especificamente a creche, estabelecendo ainda, um maior desenvolvimento da própria criança.

Por outro lado, os comportamentos escolares não se reduzem às influências do ambiente familiar, o aluno também participa das interações sociais seja no bairro, na escola ou na família entre outros, devendo haver uma articulação da realidade cultural e socioeconômica do sujeito de forma ampliada. No entanto, ainda há um longo caminho a ser percorrido em prol dessa ação, caminho este, que necessita da contribuição da escola, do professor e da comunidade.

 

A família como base na educação infantil da Creche Municipal Tia Caroliny em Picos-PI

 

Tomando como base os objetivos a que este trabalho propõe-se a atingir, utiliza-se da pesquisa exploratória, em virtude dessa ser a mais adequada à investigação do problema abordado, tendo subsídio da pesquisa bibliográfica. O critério de inclusão dos sujeitos pesquisados foi intencional, onde a pesquisadora encaminhou um termo de consentimento e um roteiro de entrevista aos mesmos, estes foram nomeados com nomes fictícios de flores para assegurar o sigilo.

Assim, é necessário visualizar a cidade de Picos, que fica localizada no centro sul piauiense e é uma das principais cidades do Estado do Piauí. Com uma população estimada em 73.021 habitantes (IBGE, 2009), é caracterizada como um intenso pólo comercial intensificado pela posição geográfica, apresentando-se como o segundo maior entroncamento do Nordeste e recebendo diariamente um intenso fluxo de população flutuante, proveniente das mais diversas cidades da região, que utilizam Picos para serviços referentes à saúde, comércio, educação, lazer, previdência social e para os mais diversos setores.

E é nesse contexto, que se encontra a Creche Municipal Tia Caroliny, lócus dessa pesquisa, localizada no bairro Aerolândia, a instituição surgiu desde 1983. E, hoje possui cerca de 50 (cinquenta) crianças matriculadas entre os turnos matutino e vespertino, contando em seu quadro de funcionários com 02 (dois) professores divididos em ambos horários, 01 (uma) zeladora, 01 (uma) merendeira, 01 (um) vigia, 01 (um) coordenador e 01 (um) supervisor.

A família desempenha um papel decisivo na educação formal e informal, é esta que se configura um espaço, onde são absorvidos os valores éticos e humanitários, aprofundando os aportes afetivos e, sobretudo os materiais necessários ao desenvolvimento e bem-estar dos seus componentes.

Com isso, ao indagar as famílias acerca do que significa os pais acompanharem a educação dos seus filhos na creche, estas mencionam unanimente acreditar na relevância desta para o desenvolvimento escolar dos seus filhos.

 

“É importante [acompanhamento da família]. Porque é preciso existir essa relação da família na creche para um melhor acompanhamento e presença na educação dos filhos”. (Professora Rosa de Saron)

“É ser pais presentes em tudo na vida do filho, desde saída até a creche, ao acompanhar e ensinar a disciplina do filho” (Família Girassol).

 

 “Levar, trazer, acompanhar na hora de fazer os deveres [...]” (Família Margarida).

 

“É fundamental a família acompanhar em casa, pois a criança não aprende só na escola” (Família Tulipa).

 

“Significa estar sempre do lado dele, nas horas difíceis e nas horas de alegria, verificando as disciplinas junto com ele” (Família Orquídea).

 

“Significa está sempre presente no dia-a-dia do filho, procurar saber o que ele fez na aula, se tem alguma dificuldade, se precisa de ajuda, mesmo sem ter tempo é preciso separa pelo menos uma hora por dia para conversarmos com os nossos filhos, dessa forma, eles se sentem seguros” (Família Cravo).

 

À vista disso, Post e Hohmann (2003, apud BHERING, SARKIS, 2005), afirmam que partilhando informações e participando conjuntamente de atividades, a família pode criar um ambiente de apoio para o desenvolvimento infantil.

Dentre as formas de participar do desenvolvimento dos filhos na creche pode-se referir as reuniões entre pais e professores, e o monitoramento dos exercícios de casa, estes permitem um maior envolvimento entre a família e a creche, bem como um acompanhamento da vida escolar da criança.

Na visão de Paro (2000, p. 38), “as reuniões de pais, são os momentos mais representativos destas intersecções entre família e escola”, isto é, momento dos pais conhecerem os professores, o funcionamento da creche como também, o andamento do seu filho na instituição. Assim, a professora e as famílias fazem suas menções acerca da sua participação nas reuniões.

“A maioria dos pais participam da vida escolar dos filhos, mas existem alguns que raramente aparecem nas reuniões para acompanharem o desempenho das crianças por falta de tempo” (Professora Rosa de Saron)

“Às vezes [participa], nem sempre estou disponível para ouvir as mesmas coisas de sempre, só reclamações, ou até mesmo organizar os deveres de casa”. (Família Girassol)

“Sim, participo todo mês. Porque quero saber o andamento do meu filho, e sobre as tarefinhas de casa ajudo sempre que arranjo um tempinho”. (Família Margarida)

“Sim, porque tem que saber se a criança está bem. Ajudo nos deveres de casa”. (Família Tulipa)

“Nem sempre, só quando posso [reuniões e exercícios de casa]. Pois trabalho fora e saio tarde do meu trabalho”. (Família Orquídea)

“Sim, algumas vezes faço o possível para está presente [reuniões e exercícios de casa]. Porque sei que sempre bem estar acompanhando o desenvolvimento do seu filho em sala de aula”. (Família Cravo)

Nesse sentido, tal mecanismo além de oportunizar uma aproximação dos pais com a realidade dos filhos na creche, também estabelece compromissos, no intuito de construir uma parceria com os professores, fortalecendo o papel da família no desempenho escolar dos filhos. Porém, há alguns pais que ainda, não visualizaram o extremo valor desta, resumindo-as como momento de reclamações ou até mesmo, não possuem disponibilidade para tal participação.

Todavia, a frequência nas reuniões escolares em muitas situações tem se configurado numa obrigação natural das mães, como faz referência Carvalho (2004, p. 46):

 

A presença de um pai é sempre surpreendente, pois todas as professoras, de escolas públicas e privadas, reportam a presença predominante, quando não exclusiva, das mães nas reuniões de “pais e mestres”. Também são as mães que dão uma palavrinha com a professora quando entregam o filho ou filha na escola.

 

Desse modo, em muitas situações a figura paterna tem se esquivado de estar presente nas reuniões escolares, já que acreditam não ser necessário participar da educação escolar dos filhos, e esse pensamento prevalece quando as crianças possuem bom desempenho na escola, preferindo deixar para as professoras a tarefa de ensinar o currículo escolar. Como mostram os depoimentos abaixo.

“É raro contarmos com a presença do pai nas reuniões mensais, sempre vejo eles deixarem as mães, mas não permanecem no espaço para ouvir o conteúdo da discussão”.  (Professora Rosa de Saron)

“O pai nunca pode ir no lugar da mãe, ele sempre arranja um desculpa para não comparecer”. (Família Girassol)

 

“O pai nunca vai, porque as reuniões demoram muito, ele não tem tempo e nem paciência”. (Família Margarida)

 

“Nem sempre ele [pai] está disponível”. (Família Tulipa)

 

“Porque muitos pais acham que é obrigação da mãe, eles nem se preocupam e deixam a mãe se virar”. (Família Orquídea)

 

“Porque o pai já deixa esta responsabilidade pras mães, por trabalharem muito e não ter tempo”. (Família Cravo)

 

Nessa direção, a figura paterna ainda não acompanha de fato o desenvolvimento do filho na creche, necessitando de um maior estímulo para que este contribua e de certa forma efetive seu papel na educação do seu filho.

Outro aspecto fundamental para a família desenvolver sua função de base na educação escolar das crianças é o envolvimento dos pais com os professores.

Conforme Carvalho (2004, p. 36), à medida que os pais e o professor vão familiarizando-se entre si, também vão criando vínculos, e a criança se beneficiará desses vínculos cada vez mais estreitos entre professores e pais. Assim, a relação família e professor estimula o desenvolvimento ensino-aprendizagem da criança na creche.

Isto posto, mostra o quanto é essencial os pais conhecerem os professores dos seus filhos para buscar uma parceria ativa no desenvolvimento do aprendizado das crianças, como expõe as menções da professora e das famílias entrevistadas.

 

“A família tem importante papel na formação dos filhos na Educação Infantil, os pais nessa fase devem estar presentes acompanhando, auxiliando e ajudando os filhos, e não somente responsabilizando os professores pelo aprendizado e pela execução dos deveres”. (Professora Rosa de Saron)

 

“Sempre que posso procuro conversar com ela [professora], muitas vezes, até por telefone, pois quero saber como meu filho está se comportando na sala de aula”. (Família Girassol)

 

“Eu sempre procuro saber da professora como está o comportamento, o andamento do meu filho na creche”. (Família Margarida)

 

“Eu sou muito presente na vida escolar dos meus filhos, procuro saber dos seus rendimentos e comportamentos na creche”. (Família Tulipa)

 

“Conheço a professora da minha filha e sempre que posso vou a escola e falo com ela pra saber se a minha filha se interessa pra fazer o dever de classe”. (Família Orquídea)

 

“Sempre que vou deixar ou buscar, procuro saber como ele se comporta na aula, se está obedecendo à professora”. (Família Cravo)

 

Nesse contexto, o envolvimento das famílias com a creche, especificamente com a professora tem ocorrido através de diálogos acerca do comportamento e da execução das atividades de classe.

 

 

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Embora não haja a pretensão de finalizar o estudo da temática, são levantados os comentários finais, no sentido de fornecer informações relevantes que podem contribuir com o papel da família como base na educação infantil, bem como impulsionar novas discussões acerca da temática.

No que se refere à pesquisa de campo constatou-se a relevância do acompanhamento familiar na creche, onde é pertinente que os pais se responsabilizem em assegurar um monitoramento diário dos deveres de casa e a participação nas reuniões, bem como manter um bom diálogo com a professora da instituição.

Em relação a tal participação, ainda se observou uma grande ausência da figura masculina nas reuniões e no auxílio das atividades de casa, como também certos receios das mães em frequentar estas, seja por ausência de disponibilidade ou até mesmo, por esses mecanismos muitas vezes se constituir em algo rotineiro que não busque uma discussão inovadora. Assim, estes consistem em desafios contínuos para serem enfrentados cotidianamente tanto pelas famílias como pela professora.

No que concerne a essa implicação, é cabível alguma ação no sentido de fortalecer cada vez mais a parceria família e creche, com vistas à elaboração de estratégias pedagógicas que obtenham resultados favoráveis em prol desse objetivo. Mobilizando assim, não somente a professora, mas os pais/mães como mútuos responsáveis pelo desempenho da criança na creche, onde estes passam a perceber a instituição não como um espaço inibidor, em que só predominam queixas e reclamações, mas como lugar de trocas na educação de seus filhos.

 

REFERÊNCIAS

 

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 2008.

 

BHERING, Eliana; SARKIS, Alessandra. A inserção de crianças na creche: um estudo sobre a perspectiva dos pais. In: Revista Psicologia: teoria e Pesquisa, 2005.

 

CAMPOS, M. M., Rosemberg F. Ferreira, I.M. Creches e pré-escolas no Brasil. São Paulo: Ed. Cortez, 2003.

 

CARVALHO, Maria Eulina de Pessoa. Modos de educação, gênero e relações escola–família. In: Cadernos de Pesquisa, v. 34, nº 121, 2004.

DIDONET, Vital. Creche: a que veio, para onde vai. In: Educação Infantil: a creche, um bom começo. Em Aberto/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. v 18, n. 73. Brasília, 2001.

EIBEL, Maria Irene Reginatto. A importância da educação infantil no contexto educacional e social. Disponível em: <http://www.fungab.org.br/comam_net/artigos/Microsoft%20Word%20-%20artigo%20-%20MariaIrene_Eibel15-8.pdf> Acesso em: 20 de outubro de 2011.

 

MÜLLER, Fernanda (org). Infância em perspectiva: políticas, pesquisas e instituições. São Paulo: Cortez, 2010.

 

OLIVEIRA, Leidiane Pereira de. Uma relação tão delicada:           a participação da família no processo de aprendizagem de crianças do ensino fundamental de 1ª a 4ª série e classes de alfabetização. EDUFPA, 2001.

 

OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. Educação Infantil: fundamentos e métodos. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 2010.

 

ROCHA, Cláudia de Souza; MACÊDO, Cláudia Regina. Relação família & escola. 2002. 54f. Monografia (Graduação em Pedagogia), Centro de Ciências Humanas e educação da Universidade da Amazônia, Belém, 2002.

 

SILVA, Sílvia Mara da; LUCAS, Maria Angélica Olivo F. A importância das interações sociais na educação infantil: um caminho para Compreender o processo de aprendizagem. In: I Encontro Paranaense de Psicopedagogia, 2003.

 

 

 



[1] Acadêmico do Curso de Licenciatura em Pedagogia (UESPI – Campus Floriano).

[2] Assistente social do Hospital Regional Justino Luz (HRJL) de Picos-PI; Especialista em Gestão de projetos sociais.

[3] Acadêmico do Curso de Bacharelado em Administração (UESPI – Campus Picos).

[4]  Graduada em Pedagogia (CEERSEMA).