A FALTA DE UNIFORMIDADE METODOLÓGICA NA PESQUISA E INTERPRETAÇÃO SOCIOLÓGICA DA REALIDADE SOCIAL

Por Júlio Rangel Borges Neto

A sociologia contemporânea nada mais é do que o resultado da Sociologia clássica dos séculos XVIII e principalmente do século XIX e início do XX com forte base na produção teórica e científica de Durkheim e Weber e em boa medida de Karl Marx. Desta feita, não é possível um rompimento radical com toda essa estrutura que continua a influenciar a Sociologia que se faz hoje e a que virá depois. No entanto, um fator complicador para uma produção teórica mais confiável reside na multiplicidade de métodos levados a efeito por cada cientista social em particular. Tal variedade nos processos de pesquisa e interpretação da realidade social não é exclusividade apenas dos tempos atuais, tal confusão teórica e metodológica reina desde os primórdios e processo de consolidação das Ciências sociais (sociologia), comprometendo a interpretação sociológica como um todo, afinal a utilização de métodos e processos diferentes por cada observador/cientista social acaba por se fazer chegar inexoravelmente a resultados e entendimentos diferentes/contraditórios. Um bom exemplo de toda essa diversidade metodológica/teórica pode ser retirado dos próprios membros fundantes da Sociologia, a saber Weber, Durkheim e Marx. Durkheim construiu a maior parte de sua obra científica em cima do método comparativo, weber por sua vez concebeu suas análises e teorias sociológicas por meio do método compreensivo e por último Karl Marx se guiava em suas pesquisas sob a ótica do método dialético de origem remota na filosofia.
Como é possível perceber essa diversidade de métodos de pesquisa e conseqüente falta de padronização e uniformidade no modo de pesquisar/ interpretar a realidade social acabam por comprometer o rigor científico, bem como a credibilidade de toda a ciência social (sociologia), afinal caminhos diferentes nem sempre levam ao mesmo lugar ou destino, fato que até o senso comum poderia indicar isso.
A pesquisa sociológica não é unisona, daí resultando as mais diferentes teorias e abordagens sobre a realidade social. Graças a falta de padronização/uniformidade na forma de conceber a pesquisa científica, a qual se filia a diversas escolas metodológicas como o estruturalismo, o funcionalismo, o funcional-estruturalismo, o interacionismo simbólico, a teoria crítica e a fenomenologia.
Para uma melhor compreensão deste complexo emaranhado de abordagens teórico-metodológicas vejamos ainda que superficialmente cada uma delas. A começar pelo estruturalismo este objetiva e tem como foco cognitivo a interpretação a partir de cada ambiente cultural (cultura) em particular das estruturas da sociedade sobre o prisma das relações sociais. Dentro do estruturalismo aplicado a Sociologia/psicologia podemos destacar como grande expoente Jean Piaget.
Quanto a fenomenologia, podemos afirmar que esta se preocupa em entender a realidade social ou mesmo o fato social de tal modo a não fazer uma dicotomia/isolamento entre o sujeito e o objeto como queria Durkheim, mas pretendendo conhecê-los e estudá-los a partir da interação entre ambos. No que se refere a escola de cunho funcional-estruturalista, a abordagem teórico metodológica tem como ênfase primordial o movimento das estruturas da sociedade, dando especial relevância ao papel das Instituições sociais em meio ao estágio de desenvolvimento cultural como fatores de equilíbrio e coesão sociais.
Distanciando-se um pouco do funcional-estruturalismo, o funcionalismo propriamente dito concebe toda a sociedade como um verdadeiro sistema ou talvez organismo, onde cada órgão ou parte funciona em conjunto e harmoniosamente no intuito de gerar o equilíbrio e a solidariedade no ambiente social. Para essa escola metodológica/filosófica a ordem e a estabilidade são constantes na sociedade graças a um consciência moral que paira sobre todo o tecido social, condicionando-o e até mesmo moldando os hábitos e comportamentos dos seus membros/integrantes. Entre os seus maiores representantes nas Ciências Sociais (sociologia) estão Herbert Spencer, August Comte e o próprio Durkheim.
O interacionismo simbólico surge a partir da linguagem, do significado e da simbologia que as envolve, dando especial atenção aos modos e meios de comunicação/informação não verbais (símbolos). Esta visão teórica tem recebido muitas críticas por ser considerada muito reduzida, sendo para muitos por demais parcial em suas análises específicas, não dando assim conta da riqueza que envolve a diversidade da realidade social, bem como a própria sociedade.
Por último a Teoria Crítica, oriunda pode-se assim dizer da Escola de Frankfurt, tendo Max Horkheimer como seu criador o qual lhe deu ele mesmo esta denominação. Tal abordagem científica se caracteriza por unir teoria e prática, se colocando no entanto contrária a tória do tipo carteziana. Seus maiores expoentes são oriundos da própria Escola de Frankfurt como Walter Benjamim, Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Habermas e Eric Fromm.
Deixando de lado todas essas abordagens que integram o cabedal de métodos/teorias utilizados pela Sociologia, mister se faz deixar claro que talvez a rápida e porque não dizer a constante transformação da realidade social (sociedade), principalmente a partir do último século tenha obrigado as Ciências Sociais a lançar mão de tantos e diferentes métodos de pesquisa para dar conta da riqueza, complexidade e rapidez da transformação da sociedade moderna. Outrossim, sendo o objeto de estudo da Sociologia, tão amplo e diferente da de outras ciências e em sendo esta uma ciência recente para não dizer novíssima em comparação com as demais, não tenha havido nem tempo, nem condições ainda para o desenvolvimento de um método de pesquisa científico único e padronizado. A verdade é que encontrar um método de pesquisa realmente confiável e que seja usado pela maioria dos estudiosos da sociedade é um desafio que a Sociologia tem de vencer sob pena de ser considerada uma ciência menor de pouco ou nenhuma credibilidade.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Sociologia: um olhar crítico/ Silvia Maria de Araújo, Maria Aparecida Bridi, Benilde Lenzi Motim. - - São Paulo: Editora Contexto, 2009.
ARON, Raymond. As etapas do pensamento. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1993
/ Estudos sociológicos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1991.
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico; tradução Paulo Neves. ? 3ª ed. ? São Paulo: Martins Fontes, 2007.
GIDDENS, Anthony. Capitalismo e moderna teoria social. Lisboa: Presença, 1990.
SOUZA, Santos, Boaventura de. Um discurso sobre as ciências. Lisboa: Afrontamento, 1998.


Júlio Rangel Borges Neto ? Advogado e Sociólogo
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