A FALTA DE GESTÃO DE CRISE E A VACA LOUCA

Infelizmente mais uma vez se constata a total ineficácia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em um momento extremamente delicado para o setor pecuário bovino de corte. Há dois anos passados uma fêmea bovina veio a óbito e como é de praxe para nós Médicos (as) Veterinários (as), procedeu-se a necropsia. É procedimento protocolar e em especial quando o quadro clínico que antecedeu a óbito, no caso específico o bovino apresentava uma sintomatologia de distúrbios nervosos, suspeitar-se de Raiva Bovina, assim como das demais enfermidades neurológicas, que acometem bovinos.

A medida adotada com o abate sanitário dos animais existentes na propriedade, dentro dos procedimentos normais, foi a medida mais correta em termos de configurar uma zona de exclusão sanitária.

Mas decorridos dois anos, eis que surge a notícia bomba: Vaca Louca no Paraná.  Era tudo isto que não se esperava e desejava. No município de Sertanópolis um caso isolado foi detectado e identificado em um animal, morto em dezembro de 2010, com idade superior a dez anos.

Até onde chega a loucura: dois anos são passados e tão somente agora o assunto vem à baila. Será que o MAPA não tem consciência de que quando se depara com uma situação desta magnitude a melhor ação é administrar de forma mais clara possível este tipo de situação? Ou estaria escondendo a informação?

No que resultou toda esta pasmaceira? Se há dois anos passados o MAPA operasse de forma mais eficiente, dirigindo-se imediatamente a OIE, solicitando apoio internacional, a situação seria totalmente diferente, do que estamos vivendo, com repercussões sem condições de previsões futuras. Inclusive solicitando todos os procedimentos laboratoriais, junto a entidades internacionais.

No momento do sufoco, da crise, do desespero surgem os “bombeiros mediáticos” de última hora que nunca d’antes se posicionaram para difundir os produtos da pecuária bovina de corte. Verdadeiros urubus.

Quem deveria pautar a condução deste episódio, seria em um primeiro momento por situação constitucional o MAPA e em seguida a Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária e posteriormente as Academias de Medicina Veterinária e então a Defesa Sanitária Animal Estadual. Mas como sempre acontece nestas situações os administradores oportunistas do caos não perdem a oportunidade de aparecer e em especial na mídia. Questiona-se se ocupam cargos administrativos de entidades representativas, sabedores que são da ineficácia operacional do MAPA e não dos seus valorosos profissionais, por qual razão não tomaram providências para que tal não acontecesse? Explico.

  1. O LANARA se é que  ainda existe é ineficaz;
  2. Não existe uma Central Nacional para monitoramento sistemático e apoio às Unidades Estaduais;
  3. O estado do Paraná não tem estrutura laboratorial para diagnosticar este tipo de enfermidade BSE e tão pouco fazer exames diferenciados em relação ao posicionamento topográfico do Pryon no SNC;
  4. O diagnóstico foi realizado em Minas Gerais o que confirma o acima citado;
  5. Para validação do resultado este foi enviado para o Reino Unido;
  6. Novamente se identifica a incompetência do MAPA.

 Indaga-se. De que forma um pais continental, detentor do maior rebanho bovino de corte, em relação aos demais países, não possuí um Laboratório de Referência para diagnosticar patologias específicas, em especial àquelas que os países importadores fazem rigorosas restrições?

No caso específico da Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária, o colega presidente tem uma excelente formação no setor. Mas isto não invalida o questionamento do MAPA como organismo responsável pela Sanidade Animal e Sanidade Humana (Segurança Alimentar). Nós afirmamos tal, em função da incrível falta de organização. A Defesa Sanitária Animal do Paraná procede à coleta e envia o material para análise. Destino Laboratório Marcos Enrietti. Este por sua vez se diz incapaz para diagnosticar outras patologias que acometem o SNC dos bovinos e notifica a Delegacia do MAPA/Pr. Este por sua vez consulta Brasília que responde que o material tem ser enviado à Minas Gerais que se diz incapaz de realizar exames além dos rotineiros e em especial da suspeita (e aqui não se sabe de onde partiu esta suspeita) e envia-se o material para a Inglaterra. Dois se passaram...

O comunicado desastrado feito de forma atabalhoada e por um profissional da imprensa que não sabe distinguir entre o mau da vaca louca e o mal da vaca louca... infelizmente acontecem tais situações, dai a necessidade de antes se publicar algo tão sério, o indicado é consultar profissionais habilitados e com expertise no assunto. Preferencialmente um profissional da área de Medicina Veterinária.

A falta de competência do MAPA beira a irresponsabilidade. Vejamos o que a imprensa noticia: Para Cesário Ramalho, presidente da Sociedade Rural Brasileira, a possibilidade de outros casos de vaca louca no País está descartada. “O Brasil está muito seguro da ação que fez”, disse. “Esse é um fato completamente isolado e temos segurança absoluta no fornecimento de carne brasileira.”

Sinceramente se tivesse permanecido calado faria melhor. Em qual patamar se estriba o venerando Cesário Ramalho? Se no caso específico, dependemos de uma terceira parte para validar um diagnóstico nativo? Que segurança em relação ao fornecimento de carne brasileira? Seria mais didático e coerente fazer o devido uso do vernáculo, mesmo porque não existe carne brasileira. Pode beirar a antropofagia., .

Não é possível ficar dois anos com um diagnóstico inconcluso”, afirmou. “É necessária uma sistematização, com um controle sobre os laboratórios regionais para agilizar os diagnósticos.”

No caso da vaca do Paraná, morta em 2010, a demora do diagnóstico se deu por conta de problemas estruturais no laboratório do Estado. A análise acabou sendo feita em Minas Gerais e, após a confirmação da EBB, o governo enviou a amostra para o Reino Unido, para uma contraprova. Somente após o resultado é que a divulgação sobre o caso foi feita. Durante uma averiguação mais detalhada de seu encéfalo, foi encontrado um príon, uma mutação de uma proteína que poderia causar o Mal da Vaca Louca.

E o que aconteceu? Uma série de erros que remontam desde a demissão do “arrumadinho” e corrupto Wagner Rossi até a atual gestão do filho do ex-deputado cassado pela Revolução de 64, que continua fazendo estragos ainda (a Revolução). Com a nomeação deste ministrinho, filho do Mendes Ribeiro cassado, a presidente Dilma resolveu fazer um agrado e nomeou o Deputado Federal Mendes Ribeiro (filho) para exercer o cargo de ministro do MAPA, deu no que deu. Agora recentemente recebemos os resultados vindos de um laboratório de referência da enfermidade localizado em Weybgidge na Inglaterra.

Hoje estamos diante de uma situação que pode se complicar, se já não se complicou.

O Itamaraty e nada é a mesma coisa. Juntando o MAPA e o Itamaraty fecha-se o circulo da incompetência.

Enquanto isso a Venezuela, Argentina, Uruguai, Canadá, Austrália, Estados Unidos, Colômbia e até o Paraguai estão felizes e ganhando mercado.

Médico Veterinário Romão Miranda Vidal.