A FORMAÇÃO DE LEITORES INICIANTES A PARTIR DA ALFABETIZAÇÃO FAMILIAR

Adriana Silva Lopes
Pedagoga pela Universidade Estadual Vale do Acarau
Pós-graduando em Psicopedagogia Institucional pelo UNASP/UNB/FAAMA
Professora-Pesquisadora pela Universidade Federal do Maranhão
Coordenadora do Colégio Adventista de São Luís-MA
e-mail:[email protected]/ [email protected]

Resumo: O presente artigo se propõe a refletir sobre a atuação nas práticas familiares de leitura, uma vez que acreditamos que a aprendizagem e o gosto pela leitura e a escrita começam muito antes da incorporação da criança ao mundo da escola e se intensificam nesse espaço institucionalizado, sendo, portanto, imprescindível a participação da família nesse processo. As práticas familiares relacionadas com a leitura e a escrita existiram durante muitos séculos, em lares e comunidades, mas é apenas durante as últimas décadas que o estudo dessas práticas se converteu, para acadêmicos, políticos e investigadores, em um campo-chave para a educação e para o desenvolvimento das habilidades básicas. Compreendendo que a escola não pode trabalhar desarticulada da família, e o círculo familiar é a escola em que a criança recebe suas primeiras e mais duradoras lições a investigação e o envolvimento das famílias no processo de alfabetização-letramento das crianças. O aporte teórico- metodológico tem se consolidado a partir dos estudos de White (2008) Teberosky (2004), Chartier (1996), Smith (1999), Foucambert (1994), Vigotsky (1987), Colomer (2007), Polity (2001), tendo se fundamentado nos vínculos afetivos entre família-escola,f amília-criança; na melhoria do desenvolvimento da alfabetização da crianças.
Palavra-Chave: Leitura, formação, alfabetização familiar.
Abstract: This issue concerno to reflect about reading practical familiar action,one way believe that learning and fendness to,reading ond writing begin before child?s incorporation in the world?s school ond increase in this institutional space, thereby,therefore crucial family?s participation in this process. The familiar practical connected with reading and writing there were during many centuries,homes,and communities, but is only during the last decades that the study about thispratical converged,to academic,politic,and investigators,in a spoce-key to education and to development in basic skills.
Understanding that the school cannot work disjointed of family, and the familiar circle is the school which child receives first and durable lesson for inqyuiry and involvement of families in children literacy-lettered school.The presupposed theorical methodological consolidated according to White studies (2008),Teberosky ( 2004), Chartier ( 1996), Smith (1996),Foucamber ( 1994),Vigotsky(1987),Colomer(2007),Polity(2004),being grounded around affective bond between family-school,family-chil;In development advancement of children literacy.

Key words: Reading,formation,familiar literacy


Introdução

A formação do leitor é uma das grandes questões que tem mobilizado a sociedade brasileira nos últimos anos, o que não é por acaso. Segundo a pesquisa "Retratos da Leitura no Brasil", realizada pelo Instituto Pró-Livro em 2007, São Paulo IPL, 16% da amostra foram considerados não-alfabetizados, 77 milhões de pessoas dizem não gostar de ler e 48% declaram-se não-leitores (não leram um livro nos três meses anteriores à pesquisa). Dentre as principais razões para aqueles não-habituados à leitura estão: a má formação das habilidades necessárias à leitura, o que pode decorrer da fragilidade do processo educacional; a dificuldade de acesso aos materiais de leitura, especialmente ao livro, e a existência de ambientes em que a leitura não é socialmente valorizada, em que o livro não tem um lugar assegurado.
A pesquisa mostrou ainda que o número de não-leitores diminui de acordo com a renda familiar e de acordo com a classe social. Quase não há não-leitores na classe A e há apenas 1% de não-leitores quando a renda familiar é de mais de 10 salários mínimos, o que nos leva a acreditar que o poder aquisitivo é significativo para a constituição de leitores assíduos. No que diz respeito à valorização da leitura como um bem, 86% dos não-leitores afirmaram que nunca foram presenteados com livros na infância, enquanto que no universo dos considerados leitores esse índice cai para 48%. Outra informação importante diz respeito às práticas familiares de leitura. Nos lares dos não-leitores, 55% nunca viram os pais lendo.
Os dados apontam para a necessidade urgente de intervenções que coloquem a leitura como foco de prioridade. Fica, então, para cada um de nós a pergunta: o que fazer diante desse panorama?
Assim sendo, o psicopedagogo pode estar direcionado para as dificuldades e propor alterações, não para estabelecer um novo caminho, mas sim um novo jeito de caminhar, fazendo com que a interação família e escola, seja o início vitorioso de uma grande caminhada.

A formação de leitores iniciantes: a importância do psicopedagogo frente à relação família e escola

As investigações sobre o aprendizado da leitura e escrita, realizadas a partir da década de 1980, sob a perspectiva sociocultural, têm apontado que as crianças antes mesmo da escolarização, já possuem conhecimento sobre estes objetos, porque participam de atividades e de interações com esse conhecimento em suas casas e comunidade, ou seja, essas crianças mantêm numerosas experiências e intercâmbios com a língua escrita em seus meios sociais.
A teoria de Vigotsky (1998), cuja contribuição tem sido valiosa no campo educacional, tem iluminado a discussão sobre o aprendizado da leitura e da escrita como um processo cultural, de caráter histórico, envolvendo práticas interativas. A aprendizagem da escrita e da leitura refere-se, pois, à aquisição de um sistema de signos que, assim como os instrumentos, foram produzidos pelo homem em resposta às suas necessidades socioculturais concretas.
A partir dessa perspectiva a alfabetização transcende a mecânica do ler e do escrever (codificação/decodificação), ou seja, a alfabetização é um processo histórico-social multifacetado, envolvendo a natureza da língua escrita e as práticas culturais de seus usos. Conseqüentemente, a escola precisa pensar a alfabetização como processo dinâmico, como construção social, fundada nos diferentes modos de participação das crianças nas práticas culturais de uso da escrita, transcendendo a visão linear, fragmentada e descontextualizante presente nas salas de aula onde se ensina/aprende a ler e a escrever.
Sendo verdade a afirmação de que "os meninos e as meninas aprendem sobre a natureza, as características e as formas lingüísticas que se utilizam nos ambientes culturais com os quais se relacionam" (TEBEROSKY, 2004, p. 31), a família não seria um espaço, por excelência, de fomento à leitura e à escrita? Essa pergunta nos remete a outra: como ficariam as crianças de famílias cujas práticas não são valorizadas ou mesmo experimentadas em decorrência da não-alfabetização dos adultos?
É bem verdade que grande parte das famílias de nossas crianças não advém de lares que primam pelas vivências de práticas de leitura, mas, acreditamos que é possível desenvolver estratégias que ajudem as famílias a perceberem a importância destas, mesmo quando não dominam o código escrito.
A discussão sobre a participação da família no processo de aprendizagem da leitura e da escrita nos remete ao termo alfabetização familiar. Essa expressão surgiu com Dennis Taylor, a partir de estudos etnográficos, realizados em 1985. Sua primeira investigação, com duração de dois anos, aconteceu com famílias altamente escolarizadas e com esse estudo ele concluiu que era relevante a participação da família nas práticas de leitura e escrita para o sucesso escolar das crianças, pois as famílias cujos pais realizavam práticas leitoras as crianças apresentavam melhores desempenhos escolares.
Em 1988, Taylor realizou um novo estudo com Dorsey-Gaines, dessa vez com famílias pobres, marginalizadas e pouco escolarizadas, e os resultados demonstraram que as práticas de alfabetização e letramento também estavam presentes nesses ambientes, e conseqüentemente interferiam positivamente no rendimento escolar das crianças. Estes estudos reforçaram "a tese de que a escrita é um fenômeno do mundo que deve ser experimentado em uso (...) e que o lar é um lugar essencial para a aprendizagem da leitura e da escrita por parte dos meninos e meninas." (TEBEROSKY; GALLART, 2004, p.31).
Comungamos da idéia de que os pais desempenham um papel crucial no desenvolvimento de crianças para que tenham atitudes positivas em relação à leitura e que se tornem leitores bem sucedidos. De acordo com Spiegel (2001, p.89), o interesse e a atitude das crianças pela leitura são afetados por dois fatores: "primeiro, o clima no lar, o qual cerca a criança desde o nascimento e transmite mensagens explícitas sobre o valor da leitura; segundo, a própria competência da criança na leitura". Assim, o desempenho de leitura das crianças está articulado aos papéis que os pais ocupam no desenvolvimento do interesse pela leitura e das oportunidades que são criadas em torno de ambientes leitores. Percebemos, ainda, que o desenvolvimento da alfabetização na criança está relacionado às práticas cotidianas (socioculturais) de participação em eventos de leitura e escrita. Nesta direção, os estudos sobre letramento (SOARES, 1998) focalizam as dimensões sócio-históricas na aquisição da língua escrita, mostrando que indivíduos não-alfabetizados, mas partícipes das sociedades letradas (da cultura, dos modos de produção e dos valores sociais) constroem concepções a respeito do sistema de escrita e identificam seus diferentes usos e funções. Ou seja, dentro do contexto social e do contexto familiar da criança ocorrem práticas e usos da escrita e da leitura, de forma natural e espontânea, das quais ela participa direta ou indiretamente. O letramento decorre dessa participação, da vivência de situações em que o ler e o escrever possui uma funcionalidade, uma significação. Os atos cotidianos, corriqueiros, de ler um jornal, redigir um bilhete, ler um livro, fazer anotações, ler a Bíblia, ou seja, usar textos escritos como fonte, seja de informação, seja de entretenimento, contribuem para que as crianças percebam as diferentes formas de apresentação do texto escrito, bem como para que identifiquem seus diferentes sentidos e funções.


Alfabetização familiar: a intervenção do psicopedagogo na relação família e escola

Há uma queixa antiga entre os/as professores/as de que os pais não acompanham a vida escolar das crianças e, portanto, não participam efetivamente do processo de aprendizagem destas. Por outro lado, há também um discurso permanente dos pais sobre a necessidade de seus filhos terem sucesso na escola, sobretudo no que diz respeito à aprendizagem da leitura e da escrita. O que efetivamente pode ser feito para que a escola e a família estejam juntas no processo de formação de leitores/as?
Partindo do pressuposto de que intervenções familiares podem ser feitas para que as crianças percebam a importância da educação em suas vidas e desenvolvam o senso de valor pela leitura, é que iniciamos em 2010, no Estágio Supervisionado, do Curso de Psicopedagogia da FAAMA, o projeto Mãos que embalam histórias: a alfabetização a partir do envolvimento familiar, com o objetivo de favorecer o envolvimento das famílias no processo de alfabetização-letramento das crianças. A partir da modificação de alguns fatores ambientais em casa, como a disponibilidade de materiais de leitura, a freqüência de momentos de leitura em família, bem como a compreensão da natureza das interações de alfabetização leitora entre pais e filhos e das atitudes dos pais em relação aos seus papéis no processo de formação de leitores é que o trabalho foi esse trabalho foi se configurando.
De fato, tal prática de interação e o intercâmbio entre instituições educacionais, formais e informais, tornam-se, cada vez mais, necessário nessa sociedade complexa em que vivemos Symanzki (2007, p.15) para que a incorporação de interação e renda resultados vitoriosos no universo educativo, cognitivo e social
Sendo assim, reportamos ao que pensa Bossa (2007, p.89),pensar a escola, à luz da psicopedagogia,significa analisar um processo que inclui questões metodológica ,relacionais e socioculturais,englobando o ponto de vista de quem ensina e de quem aprende ,abrangendo,conforme já dissemos,a participação da família e da sociedade.

Metodologia

Esta pesquisa está classificada nos critérios de pesquisa bibliográfica para o embasamento teórico.
Partindo da pesquisa?intervenção realizada, os dados foram analisados a partir de pesquisa de campo e observação, leitura crítica e redação dialógica a partir dos autores apresentados.

Considerações finais

As reflexões aqui apresentadas constatam a necessidade de se abrir espaços, dentro da escola, para o estudo e análise das práticas de leitura nos ambientes familiares. Os avanços conceituais na área de alfabetização - o entendimento da leitura enquanto um processo sociocultural requer da prática escolar, o redimensionamento do aprendizado da leitura e da escrita e da intervenção pedagógica.
No que diz respeito à intervenção pedagógica, a experiência nos mostrou que duas condições metodológicas são fundamentais para aumentar o envolvimento das famílias e das crianças no aprendizado da leitura e melhorar a qualidade das experiências de alfabetização familiar: a imersão em contextos de leitura e a vivência de práticas leitoras. Essas duas condições orientaram o planejamento e a organização de estratégias para que aumentassem a integração de crianças e familiares em ambientes leitores.
A imersão diz respeito ao "mergulho" das crianças e pais em situações significativas e prazerosas de leitura, o que inclui a visita regular a espaços de leitura, a leitura individual e silenciosa, a leitura compartilhada, as rodas de leitura. A vivência, segunda condição, refere-se à experimentação de práticas de leitura mediadas pelo outro, seja professor, pais ou mesmo as crianças. Ela é responsável pelo caloroso convite à leitura e pela construção de vínculos positivos entre leitores e não-leitores.
A combinação dessas duas condições em nosso projeto permitiu aos pais valorizar a leitura e a educação como um bem, como também aumentou a consciência destes para a importância de criarem ambientes leitores em casa. Contudo, temos consciência de que muito ainda precisa ser feito para ajudar os pais para oferecerem ambientes de alfabetização mais efetivos, o que só poderá ser alcançado com o envolvimento pleno dos professores que acreditam na leitura como ferramenta para transformação da realidade e que estão dispostos a repensar sua prática continuamente.


Referências bibliográfica

BOSSA, Nadia A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.

CANDAU, Vera. Magistério: construção cotidiana. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

FOUCAMBERT, Jean. A leitura em questão. Porto Alegre: ArtMed, 1994.

HALBWACHS, Maurice. A Memória coletiva. São Paulo: Ed. Centauro, 2004.

INSTITUTO PRÓ-LIVRO. Retratos da leitura no Brasil. 2 Ed.IPL. 2007.

LINHARES, Célia; et al. Formação continuada de professores: o projeto Escola Sonhos do Futuro. XII ENDIPE, 2005.

SPIEGEL, Dixie Lee. Um retrato dos pais de leitores bem sucedidos. In: CRAMES, Eugene, H., CASTLE, Marrietta (orgs). Incentivando o amor pela leitura. Porto Alegre: ARTMED, 2001.

SOARES, M. B. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte, Autêntica, 1998.

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VIGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

WHITE, Ellen G. Fundamentos da Educação Cristã: a família, a escola e a comunidade no contexto da aprendizagem. Tatuí, SP:Casa Publicadora Brasileira, 2008.