Work experience with the genre poem: is it necessary to be a poet to creat, make texts?

 

Jordana Romero Silva Motta ͣ*

ᵃProfessora do Colégio Bom Jesus Santo Antonio do Pari-SP/ Especialista em avaliação e formação de professores para o ensino superior.

*[email protected]

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Resumo

 

O artigo apresenta a sequência didática para a produção de texto do gênero poema por meio de um trabalho interdisciplinar entre Língua portuguesa e Geografia durante o segundo trimestre de 2011. Partindo de uma produção individual proposta pelo professor de Geografia para estruturar o conteúdo trabalhado a respeito da região amazônica e da globalização, construímos um poema coletivo, em sala. Aintrodução das caraterísticas do gênero poema foi apresentada nesta construção coletiva proporcionando ao aluno a oportunidade de rever o que havia escrito e reelaborar sua ideia inicial. Com a leitura de diversos poemas e de textos em prosa que apresentavam poesia, os alunos passaram a perceber a diferença entre poema e poesia.

PALAVRAS-CHAVE: Gênero textual. Poema. Sequência didática.

 

Abstract

 

This article shows the teaching sequence for the production of a poem through an interdisciplinary work between the subjects Portuguese Language and Geography during the second quarter of 2011. Derived from individual productions proposed by the Geography teacher as a way to structure the content studied in class regarding the Amazonia region and globalization, a collective poem was written in the classroom. An introduction to the features of the poem was presented to the students during this collective production, which provided them the opportunity to review their texts and to reformulate their first ideas. After reading several poems and prose texts with poetry elements, the pupils started to notice the difference between poem and poetry.

KEYWORDS: Textual genres. Poem. Teaching sequence.

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1 Introdução

As palavras são pequenas casas com porão e sótão. O sentido comum reside no nível do solo, sempre perto d “comércio exterior”, no mesmo nível de outrem, este alguém que passa e que nunca é sonhador. Subir a escada na casa da palavra é, de degrau em degrau, abstrair.

Descer ao porão é sonhar, é perder-se nos distantes corredores de uma etimologia incerta, é procurar nas palavras tesouros inatingíveis. Subir e descer, nas próprias palavras, é a vida do poeta. Subir muito alto, descer muito baixo; é permitido ao poeta unir o terrestre ao aéreo.[1] (BACHARELARD IN PAIXÃO, 1984, p.80)

O desafio é despertar em nossos alunos o desejo por ler, escutar, recitar e escrever poemas, mostrar que a poesia está em todos os lugares, seja na rua, no sorriso de uma pessoa, em fotos de família ou em uma escultura.

Para que isso se efetive, é necessário conduzir o aluno, por meio de atividades, não só ao reconhecimento de elementos composicionais do gênero e de suas funções, como também demonstrar de que modo esses elementos reforçam o caráter poético característico das produções desse gênero, sejam eles poemas sociais, de amor, de humor, sátira, entre outros tantos temas que esse gênero possa abordar. “Poesia: é, na realidade, a qualidade presente em certos artefatos culturais, capaz de despertar o sentimento do belo e provocar o encantamento estético.” (MORAES, s/n)

Percebemos então que o poema é uma forma de composição que se destaca por uma espécie de melodia e de ritmo que vêm do modo como as palavras são organizadas, já a poesia, é o caráter que emociona, toca a sensibilidade, sugere emoções por meio da linguagem e pode aparecer em vários textos.

Assim, poema é um gênero textual, o qual apresenta uma série de características próprias (verso e estrofe, musicalidade etc.), segundo Marcuschi (2002, p.22)

...os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica. Se os tipos textuais são apenas meia dúzia, os gêneros são inúmeros. Alguns exemplos de gêneros textuais seriam: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva, reunião de condomínio, notícia jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio de restaurante, instruções de uso outdoor, inquérito policial, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea, conferência, carta eletrônica, bate-papo por computador, aulas virtuais e assim por diante. (MERCUSCHI, 2002, p.22).

Percebe-se então que os gêneros textuais são fenômenos históricos profundamente vinculados à vida cultural e social, cumprem funções diversas em diferentes situações comunicativas.

Ao organizar o trabalho que será desenvolvido, o professor, elabora as atividades em uma sequência, todas ligadas entre si de acordo com os objetivos que quer alcançar para a aprendizagem de seus alunos.

Essa sequência didática auxilia o professor a organizar o trabalho que será desenvolvido em sala de aula de forma gradual, partindo de níveis de conhecimento que os alunos já dominam para chegar aos níveis que eles precisam dominar.

A realização de uma aula ou conjunto de aulas requer uma estruturação didática, isto é, etapas ou passos mais ou menos constantes que estabelecem a seqüência do ensino de acordo com a matéria ensinada, características do grupo de alunos e de cada aluno e situações didáticas específicas. (LIBÂNEO,1994, p.17)

É por meio da aula preparada didaticamente que os alunos terão contato com a matéria de ensino, esse processo de ensino seqüenciado possibilita uma aquisição do conteúdo de forma gradual partindo do conhecimento individual do aluno.

2 Perfil do colégio e dos estudantes

Localizado no Pari, bairro comercial da cidade de São Paulo, o colégio Franciscano Bom Jesus Santo Antônio do Pari, pertencente à rede Bom Jesus, tem como estudantes os filhos de moradores da região e dos comerciantes locais, que desejam um ensino de qualidade, com valores educacionais baseados na ética franciscana.

Sua infraestrutura é muito boa, contando com salas de aulas espaçosas e bem arejadas, laboratórios de informática e de ciências, com funcionários do setor de tecnologia de informação para auxiliar o docente, uma ampla biblioteca, sala de multimídia e projeção, além de outros espaços preparados para receber os alunos.

Em relação ao material didático, os professores podem contar com os livros individuais de cada disciplina, o plano de atividades que contem o cronograma das aulas, o encaminhamento metodológico e as atividades a serem xerocopiadas para serem trabalhadas com os alunos, há também o caderno de habilidades separadas por eixos metodológicos para serem trabalhadas no decorrer do ano letivo.

As classes têm cerca de 30 alunos, que são de nacionalidades diversas: árabes, coreanos, bolivianos, chineses e brasileiros. Os professores possuem, no mínimo, uma especialização.

O ano letivo é dividido em três trimestres para o ensino fundamental II, e o docente, juntamente com seus coordenadores produz o planejamento do período em questão no início do ano, baseados nas habilidades e competências que precisam ser desenvolvidas. Cada docente elabora seu plano de aula individualmente, levando em consideração as habilidades e competências para o eixo didático em questão.

3 A prática educativa

A sequência utilizada para o ensino do gênero textual poema que foi utilizada tinha como objetivo os seguintes critérios: apontar no texto os elementos que caracterizam o gênero poema; Interpretar as expressões metafóricas de um poema; distinguir poesia de poema, de modo a reconhecer que qualquer texto pode conter poesia; Interpretar a função da linguagem utilizada no texto; apontar no texto os elementos que caracterizam o gênero poema; produzir poemas, considerando as características peculiares desse gênero textual; produzir poemas tendo em vista o público-alvo ao qual o poema se dirige; empregar estratégias próprias da escrita: planejar, redigir rascunhos, revisar e cuidar da apresentação.

Com uma visão processual, com uma interligação entre o planejamento, a aplicação e a avaliação, o aluno participa das aulas interagindo com o professor e os demais colegas de sala, percebe suas dificuldades e consegue assim se autoavaliar.

Para atingir os critérios estabelecidos a atividade inicial partiu do conhecimento prévio que os alunos apresentavam a respeito do conteúdo a ser trabalhado por meio de uma produção individual de um poema a respeito da região amazônica e a preservação do meio ambiente.

Após a análise dos poemas produzidos, as atividades seguintes foram preparadas, e, com a devolução dos poemas corrigidos aos alunos, iniciamos uma produção coletiva, com o professor no papel de escriba, utilizando as ideias apresentadas oralmente pelos alunos.

Conforme as ideias eram apresentadas, o conteúdo conceitual foi sendo introduzido e esquematizado, ao final da aula, com um poema pronto na lousa, um aluno da sala foi escolhido para registrar o poema e entregá-lo ao professor de geografia que o disponibilizou no site do colégio.

Uma das exigências que as aulas devem cumprir, segundo Libâneo (1994, p. 178), “condução do trabalho docente na classe, tendo em vista a formação do espírito de coletividade, solidariedade e ajuda mútua, sem prejuízo da atenção às peculiaridades de cada aluno”.

Um dos objetivos citados nos Parâmetros Curriculares Nacionais de 5ª a 8ª série é que o aluno saiba “posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas;” (BRASIL, 1998, p.07)

Com a finalização do poema coletivo, os alunos tiveram como tarefa de casa reescrever seu poema individual melhorando-o nos aspectos apresentados durante a aula como versos, rimas (opcional) e estrofes.

Cada unidade de intervenção pedagógica, tarefas, exercícios, debate, exposição, leitura, entre outras, apresentam as três fases de toda intervenção reflexiva: planejamento, aplicação e avaliação. (ZABALA, 1998, p. 18) Essas unidades permitem uma articulação da sequência didática e uma visão global do processo ensino/aprendizagem.

Esse exercício de reescrita após a elaboração de um poema coletivo e esquematização do conteúdo, proporciona ao aluno a ampliação do conhecimento com relação ao gênero em estudo e ao conteúdo apresentado na disciplina de geografia por meio das colocações orais dos alunos e as discussões que surgiram.

Para Libâneo (1994, p. 181), esse momento é quando há um encontro entre conteúdo já aprendido e o conteúdo apresentado,

A aplicação, na qual os alunos mostram capacidade de utilizar autonomamente conhecimentos e habilidades adquiridos, também assegura o enlace entre matéria velha e matéria nova; já que tem por função a ligação dos conhecimentos com a prática”. (LIBÂNEO, 1994, p. 181)

Na aula pré-estabelecida para a entrega da reescrita dos poemas cada aluno declamou o seu para treinar a linguagem oral. Conforme os PCNs; cabe à escola proporcionar aos alunos situações contextualizadas para o domínio da fala pública. (BRASIL, 1998, p.025)

Após uma segunda leitura, os poemas foram digitados e devolvidos aos alunos, juntamente com uma folha de sulfite com margens para que cada aluno o representasse por meio de desenhos para serem incorporados ao livro.

4 Conclusão

Através do que foi analisado ao longo do artigo, conclui-se que a metodologia de trabalho com o planejamento, a aplicação e a avaliação permeando todo o processo de ensino/aprendizagem foi fundamental no tocante a desenvolver as competências e habilidades necessárias ao 7º ano com relação ao gênero poema. Essa sequência utilizada não pode ser considerara uma solução milagrosa para todas as dificuldades dos alunos, pois a construção de cada plano de aula requer muita dedicação e trabalho.

É importante o docente ter em mente que as salas de aulas não são homogêneas e os alunos apresentam dificuldades variadas, então, o que funcionou com uma sala de aula pode não funcionar da mesma maneira com outra, por isso, é sempre necessário a sondagem inicial do conteúdo a ser trabalhado.

Planejar a aula definindo os objetivos, os papéis esperados do aluno e o papel do professor e como tudo isso será avaliado.

Outro ponto importante é o aluno perceber que produz com um propósito, que seu texto tem um objetivo definido e não escreve apenas para o professor ler e dar uma nota.

O produto final foi atingido, os poemas foram organizados em um livro chamado Letras incipientes sobre a Amazônia, que foi formatado em PDF para ser disponibilizado no site do colégio para donwload e impresso.

Com planejamento e métodos que favoreceram a autonomia e o diálogo vencemos o desafio de uma aprendizagem para o novo milênio articulando os dois eixos básicos: o uso da língua oral e escrita, e a reflexão sobre a língua e a linguagem.

Referências

BACHARELARD, Gastón. In: PAIXÃO, Fernando. O que é poesia. São Paulo: Brasiliense, 1984, p. 80

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.106 p.

DIONISIO, Ângela, et al. (org.). Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro. Lucema, 2002, p.19-36.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. (Coleção magistério 2º grau. Série formação do professor)

MARCUSCHI. Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONISIO, Ângela, et al. (org.). Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro. Lucema, 2002

MORAES, Jorge Viana de. Poesia ou poema? Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação. Disponível em: < http://educacao.uol.com.br/portugues/versificacao-definicoes.jhtm> Acesso: 18/12/2011.

ZABALA, Antoni. A prática educativa: Como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.


[1] Texto retirado do caderno de atividades do professor da 6ª série do ensino fundamental do 2º semestre de 2011.