A expansão das empresas brasileiras na Aliança do Pacífico.

Gustavo Lino

A Aliança do Pacífico é uma iniciativa de integração iniciada em 2011 e formalizada em junho de 2012 que conta com quatro membros: Chile, Colômbia, México e Peru. No último dia 10 de fevereiro, a Costa Rica assinou a declaração de adesão ao bloco e o Panamá deve juntar-se ao grupo em breve.

Os três objetivos principais da Aliança do Pacífico declarados são: avançar progressivamente rumo à livre circulação de bens, serviços, capitais e pessoas; impulsionar maior crescimento, desenvolvimento e competitividade de suas economias; e converter-se em uma plataforma de articulação política, de integração económica, comercial e de projeção ao mundo, com especial ênfase na região Ásia-Pacífico.

Algumas medidas já foram adotadas. Na livre circulação de pessoas, bens e serviços, destacam-se a retirada de exigências de obtenção de vistos e o acordo que, em agosto de 2013, eliminou tarifas alfandegárias de 92% dos produtos comercializados e previu a eliminação gradual dos 8% restantes. Na construção da plataforma de articulação comum, medida interessante é o compartilhamento das embaixadas em Gana, Marrocos, Argélia e Azerbaijão e do escritório de representação junto à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE.

Atualmente com 216 milhões de habitantes, o quarteto que forma a Aliança alcançou um produto interno bruto de US$ 2,02 trilhões em 2012 em termos nominais e de US$ 3,23 trilhões ponderados pela paridade do poder de compra, do que resulta uma renda per capita anual no mesmo ano de US$ 9.491 nominais e US$ 15.182 pela paridade do poder de compra. Para 2014, estima-se um crescimento do produto interno bruto do bloco de aproximadamente 4,5%. 

O porte da Aliança do Pacífico, o histórico recente de elevado crescimento econômico e a disposição de implementar reformas de ampliação da competitividade, além da própria ideia de integração, explicam o otimismo em relação às perspectivas de desenvolvimento e de realização de negócios, o que impulsiona o investimento estrangeiro direto. Em 2012, o investimento estrangeiro direto nos quatro países foi superior a US$ 71 bilhões, com crescimento de 7,5% em relação a 2011.

As empresas brasileiras, atentas às oportunidades de internacionalização de suas operações e de acesso a mercados amplificadas pela Aliança, realizaram ou anunciaram vultosos investimentos no Chile, na Colômbia, no México e no Peru desde 2012, tendo como exemplos divulgados nos sites das companhias ou no noticiário:

  • O Itaú Unibanco fundiu suas operações no Chile e na Colômbia com o CorpBanca, criando o quarto maior banco do Chile, em uma transação de aproximadamente US$ 3,7 bilhões (publicado em jan/2014).
  • O Itaú BBA estabeleceu um banco de investimento na Colômbia com capital de R$ 395 milhões (out/2012) e anunciou a abertura de um banco de investimento no México ainda em 2014, com investimentos estimados de US$ 200 milhões.
  • O banco BTG Pactual iniciou operações de sua corretora de valores no México (out/2013), adquiriu a corretora chilena Celfin Capital em uma transação avaliada em US$ 600 milhões, criando o BTG Pactual Chile (fev/2012) e comprou a corretora colombiana Bolsa y Renta por US$ 51,9 milhões (jun/2012).
  • O Bradesco solicitou ao Banco Central do México autorização para abrir um banco múltiplo no país (nov/2013), onde já possui o banco Ibi México.
  • BTG Pactual, Pátria Investimentos, Promon e a holding GMR fundaram a Latin America Power, empresa com sede no Chile, que atualmente desenvolve 14 projetos de energia hidroelétrica e eólica, sendo dez no Peru e quatro no Chile.
  • A mineradora Vale anunciou a ampliação da capacidade de produção da mina de Bayóvar, no Peru, de 3,9 milhões para 5,8 milhões de toneladas anuais de rocha fosfática (set/2013).
  • A CCX Colômbia foi criada por cisão da MPX, no valor de R$ 771 milhões, para o desenvolvimento de três minas de carvão e complexo logístico na Colômbia (abr/2012).  O projeto foi vendido posteriormente para a empresa turca Yildirim por US$ 125 milhões (fev/2014).
  • A Votorantim fez acordo com autoridades da Colômbia para ampliar a duração do contrato de exploração de carvão pela sua controlada Minas Paz del Rio no departamento de Boyacá, se comprometendo a elevar a produção das atuais 200 mil toneladas anuais para 2,5 milhões de toneladas em 2020 (jan/2013).
  • A Alupar, holding com atuação no setor de energia que integra o Grupo Alusa, adquiriu 65% da sociedade peruana La Virgen, detentora da concessão para o desenvolvimento do projeto da hidroelétrica peruana La Virgen, por US$ 3,5 milhões (dez/2013).
  • Foi anunciado que as empresas de engenharia Engevix e Enex integram o consórcio responsável pela implantação no Peru da Central Hidrelétrica Molloco, um projeto de US$ 600 milhões (mar/2013).
  • A construtora Andrade Gutierrez integra no Peru os consórcios que executam obras de recuperação e melhoramento da rodovia Huaura-Churí, no valor de US$ 183 milhões, e a ampliação de capacidade do sistema viário Gambetta, no valor de US$ 201 milhões.
  • A Odebrecht está construindo a Usina Hidrelétrica Chaglla no Peru, que deverá entrar em operação em 2016, com investimento de aproximadamente US$ 1,2 bilhão.
  • A Construtora Camargo Corrêa está reabilitando a Estrada Cajamarca e construindo a planta de tratamento de água de Huachipa no Peru. Na Colômbia, a empresa liderou o consórcio vencedor da licitação para a construção da Usina Hidrelétrica Ituango, a maior do país, com potência instalada de 2.400 MW e valor de US$ 1,1 bilhão (ago/2012).
  • A fabricante de materiais ferrosos Tupy adquiriu duas fábricas de ferro fundido no México por US$ 439 milhões (abr/2012).
  • O Grupo Renner Hermann adquiriu 70% da fabricante de tintas chilena Pinturas Cerrillos, a terceira aquisição naquele país (set/2012).
  • A Pilgrim´s Pride, controlada pela JBS, anunciou o início da construção de sua quarta unidade de processamento de frango no México, no estado de Veracuz (fev/2014).
  • A Tigre, fabricante de tubos, conexões e acessórios que possui fábricas na Colômbia e no Chile, adquiriu a Comercial Matusita, empresa de tubos e conexões do Peru (fev/2013).
  • A empresa de motores, automação, energia e tintas WEG anunciou investimentos de US$ 210 milhões na ampliação de sua unidade de motores elétricos no México (set/2013).
  • A Gerdau Corsa, operação da Gerdau no México, está investindo US$ 600 milhões na construção de uma nova planta produtora de perfis estruturais para a construção civil na província de Hidalgo, que iniciará sua operação no segundo semestre de 2014. A WEG fornecerá os principais equipamentos elétricos do projeto.
  • A Gerdau Diaco, operação da Gerdau na Colômbia, investiu US$ 16 milhões em 2013, incluindo sistemas de proteção ao meio ambiente, aumento de capacidade em duas fábricas e abertura de cinco unidades de corte e dobra de aço (jan/2014).
  • A Gerdau investirá US$ 253 milhões em sua filial peruana Siderperu para quadruplicar a produção de aço, alcançando 1,2 milhão de toneladas por ano (set/2012). 
  • A Eurofarma iniciou em 2012 suas operações na Colômbia ao comprar uma planta fabril da farmacêutica Merck Sharp & Dohme e, em 2013, adquiriu a peruana Refasa Carrión, por valores não revelados.
  • A Braskem, controlada pela Odebrecht, está construindo com sócios mexicanos uma planta de eteno e polietileno no México, que entrará em operação em 2015, com investimento de US$ 3,2 bilhões.
  • A Oxiteno, empresa do Grupo Ultra que atua na produção petroquímica de elementos utilizados em cosméticos, detergentes, embalagens e outros, concluirá em 2014 a expansão da capacidade produtiva em Coatzacoalcos, no México, país em que possui três unidades industriais (jan/2014).
  • A Artecola Química, que já possuía plantas na Colômbia e no Peru, assumiu o controle da Pegatex, maior fabricante colombiana de adesivos, formando a Pegatex Artecola S.A. (jun/2013).
  • A fabricante de ônibus Marcopolo, por meio de sua coligada colombiana Superpolo, que produziu 1.810 ônibus em 2013, inaugurou um centro de serviços em Bogotá (dez/2013). No México, a Polomex, associação entre Marcoplo e Daimler, produziu 1.367 ônibus em 2013 e investiu US$ 20 milhões na expansão de sua fábrica situada no município de Garcia (mar/2013).
  • A International Meal Company Holdings – IMC, administradora de redes de restaurantes, adquiriu as colombianas J&C Delícias, Traversata e Three Amigos por US$ 7,6 milhões (mai/2012) e a mexicana Gino´s (jun/2013).
  • A Allus, companhia do ramo de call centers pertencente à brasileira Contax, abriu novas unidades em Lima (jul/2012) e Medellín (nov/2013). Em 2014, pretende abrir nova unidade em Bogotá.
  • No setor de tecnologia, a integradora de serviços Resource IT Solutions abriu uma unidade na Colômbia (jul/2013).
  • A Bematech CMNet anunciou contrato com a rede hoteleira Time Suites&Apartments para implantação de solução tecnológica para os hotéis da rede no Chile (jul/2012).
  • O site de compras coletivas Peixe Urbano adquiriu as operações do Groupalia nos quatro países da Aliança do Pacífico, Argentina e Brasil por valor não revelado (mar/2012).
  • A vinícola Casa Valduga abrirá uma unidade no Chile ainda em 2014.  
  • A fabricante de cosméticos Natura pretende duplicar seus centros de distribuição no Peru, México e Chile em 2014 e na Colômbia em 2015, além de ampliar a gama de produtos produzidos localmente na Colômbia e no México.   
  • A EagleBurgman do Brasil, especializada em soluções de vedação para equipamentos rotativos, abriu um Centro de Serviços no Chile (jun/2013).
  • A Minerva Foods, que opera na Colômbia desde 2003, anunciou a constituição da subsidiária Minerva Foods Chile (dez/2013).
  • A rede de academias Bio Ritmo abriu dezesseis unidades no México e duas no Chile.
  • As franquias brasileiras Showcolate, Spoleto, Chilli Beans, Hering, Colcci e Bob's possuem pelo menos uma loja em países da Aliança do Pacífico.
  • A cervejaria AB InBev, empresa belga controlada por brasileiros, adquiriu ações do Grupo Modelo, do México, no valor de US$ 20,1 bilhões (jun/2013).
  • A Cemig e a colombiana Empresas Públicas de Medellín (EPM) anunciaram a formação de um consórcio para participar da privatização da geradora de eletricidade colombiana Isagén (mar/2014).
  • O Grupo Odebrecht planeja investir US$ 8,1 bilhões no México nos próximos cinco anos (out/2013).

Alguns desses investimentos de empresas brasileiras nos países que integram a Aliança do Pacífico representam os marcos iniciais de seus processos de internacionalização, o que os tornam ainda mais relevantes. A internacionalização de companhias brasileiras permite o acesso a recursos e a mercados, tende a gerar exportações da matriz para a filial, gera ganhos de escala que diluem os custos em pesquisa e desenvolvimento e estabelece um fluxo de lucros e dividendos, entre outros efeitos positivos para a economia nacional.

A instalação de bancos de investimentos brasileiros nos países do bloco e o sucesso dos empreendimentos em operação indicam que a perspectiva para o futuro próximo é o aumento dos investimentos realizados por empresas brasileiras na Aliança do Pacífico, o que muito contribuirá para a aceleração do fluxo de bens, serviços e pessoas entre Brasil, Chile, Colômbia, Peru e México e para a formação de transnacionais brasileiras capazes de prosperar no ambiente competitivo e integrado que caracteriza o capitalismo global deste século.