A EVOLUÇÃO DOS MODELOS ORGANIZACIONAIS DE PRODUÇÃO SOB A ÓTICA DO PROCESSO HISTÓRICO DA FIAT NO BRASIL E NO MUNDO

Ana Maria dos Santos Oliveira


Resumo
O referido trabalho terá como tema principal a apresentação das mudanças ocorridas no processo produtivo fabril. Mudanças essas decorrentes da implantação de máquinas e, posteriormente, a automação e a microeletrônica. Também será feita uma análise nos modelos de produção taylorista/fordista, e o momento em que se mescla, ou é substituído, pelo toyotismo. Para ilustrar essas mudanças, será usada como exemplo a montadora de automóveis Fiat e seu histórico de transformações produtivas, na busca incessante e ininterrupta de colocar-se e manter-se no mercado entre as maiores montadoras do mundo.

Palavras-chave: trabalho/processo produtivo/ reestruturação produtiva/Fiat

Abstract
This work will have as its main theme the presentation of the changes in manufacturing production process. Changes resulting from implementation of these machines and, later, automation and microelectronics. Also an analysis is made in production models Taylorista / Fordista, and when it merges or is replaced by Toyota. To illustrate these changes, will be used as an example the carmaker Fiat and its historical changes in production, uninterrupted, and the constant quest to get and stay on the market between the largest automaker in the world.

Keywords: work / production process / production restructuring / Fiat








Introdução

Esta pesquisa terá como objetivo precípuo, apresentar as mudanças cruciais nas relações de trabalho, permeadas pela evolução em seu modo de produção e reprodução através de inovações organizacionais e da automação microeletrônica. Mudanças essas que desencadearam um processo de reestruturação produtiva, influenciadas pela nova base técnico-organizacionais _toyotismo _ implantado, tardiamente no Brasil, nos anos 80. Para tanto será utilizado como ilustração, a análise histórica da montadora de automóveis FIAT _ Fábrica Italiana de Automóveis Turim _ exemplo de avanço tecnológico, fundada em 1899 em Turim/Itália, e instalada no Brasil na década de 70.

O trabalho será divido em três partes. Em seu intróito, serão apresentados alguns conceitos básicos do quem vem a ser trabalho e processo de trabalho, assim como, uma panorâmica destas relações do período do surgimento do sistema fabril, desencadeando na revolução industrial, até a contemporaneidade.

Num segundo momento, bastante relevante, serão analisados os modelos de produção taylorista/fordista _ principais agentes de transformação produtiva industrial até meados do século XIX _ originários da introdução das máquinas no processo produtivo. Também o momento em que este começa a perder força, devido à introdução do desenvolvimento tecnológico da automação, da robótica e da microeletrônica e também da desconcentração produtiva, apresentada pelo Modelo Toyota de produção japonês. Dessa forma se dá uma mescla, ou substituição, do antigo modelo de produção pela reestruturação toyotista.

Por fim, será feita uma análise histórica da montadora FIAT desde o seu nascimento na Itália, até sua vinda para o Brasil. Neste processo serão enfocados os principais impactos na sua organização produtiva, decorrentes do toyotismo A finalidade dessa correlação é identificar traços dos três modelos supracitados como partícipes do corpo global da citada montadora.

Para tanto, será utilizado como referência para tal estudo, uma gama de autores dentre eles: Marilda Yamamotto, Harry Braverman , Ricardo Antunes e outros. Também será necessária uma análise histórica da fábrica, cujas informações serão extraídas do periódico de circulação interna, para melhor apreciação das possíveis conseqüências daquilo que alguns autores chamam de nova rotinização do trabalho, decorrentes das mudanças observadas historicamente na reestruturação produtiva fabril.


1. Conceitos Básicos ? Trabalho e Processo de Trabalho

Segundo Harry Braverman (1987), o trabalho é uma atividade exercida pelo homem para transformar a natureza no sentido de melhorar sua utilidade, ou seja, melhor satisfazer suas necessidades. Toda forma de vida exerce atividade neste sentido, porém, o que difere o homem dos outros seres vivos é, simplesmente, a capacidade de projetar, em sua mente, a ação antes de executá-la, sendo que o animal a exerce instintivamente. Assim:

Uma aranha desempenha operações que se parecem com a de um tecelão, e a abelha envergonha muito arquiteto na construção de seu cortiço. Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que o arquiteto figura na mente sua construção antes de transformá-la em realidade. No fim do processo do trabalho aparece um resultado que já existe antes idealmente na imaginação do trabalhador. (BRAVERMAN. 1987.p.49)

E ainda, de acordo com Braverman (1987), ao agir sobre o mundo exterior e transformá-lo, o homem automaticamente altera a natureza humana criando o mundo da forma que conhecemos. Assim surgem as possibilidades de relações sociais oriundas das características do trabalho humano.

No que tange à divisão de funções, o autor expõe que, as mesmas são observadas nos animais e nos homens, porém, nos primeiros, decorrem de uma incitação biológica e no segundo, de uma "infinita variedade de funções e divisões de funções com base nas atribuições da família, do grupo e sociais" (Bravermam 1987).

Dessa forma admite-se que uma idéia concebida por uma pessoa pode ser executada por outrem, e a essa capacidade humana de executar trabalho, denomina-se força de trabalho. E somente "quem for o senhor do trabalho de outros confundirá força de trabalho com qualquer outro meio de executar uma tarefa, porque para ele, vapor, homem ou água quando move moinho, são vistos como fatores de produção" (Bravermam 1987). Esta forma de trabalho é dominada por aspectos sociais introduzidos pelo capitalista, ou seja, as novas relações de trabalho como processo de trabalho explicado pelo referido autor da seguinte forma:

O trabalhador faz o contrato de trabalho porque as condições sociais não lhe dão outra alternativa para ganhar a vida. O empregador, por outro lado, é o possuidor de uma unidade de capital que ele se força para ampliar e para isso converte parte dele em salários. Dessa modo põe-se a funcionar o processo de trabalho, (...) um processo para a expansão do capital, para a criação do lucro. (BRAVERMAN, 1987 p. 55)


Assim, tornou-se imprescindível para o capitalista, manter o controle sobre o processo de trabalho acarretando o que Braverman (1987) define como: alienação progressiva dos processos de produção do trabalhador.

Também Marilda Yamamotto (2007) faz uma análise da divisão do trabalho em sociedade. Segundo a autora "à medida que a satisfação das necessidades sociais se torna mediatizada pelo mercado, isto é, pela produção, troca e consumo de mercadorias", o processo de trabalho passa a ser efetuado através de integração de trabalhadores livres e máquinas no interior da fábrica. E estes passam a ter horários e ritmos preestabelecidos, ocorrendo o nascimento de uma nova classe: o proletariado.

Em seguida será feita uma análise de como se deu o surgimento e consolidação da sociedade industrial tendo início com aquilo que economistas denominam como: acumulação primitiva do capital.

1.1.- O Surgimento da sociedade industrial

Em estudo apresentado por Fernando Motta (2006), observa-se que, até o século XIV, a classe assalariada não era considerável, passando a representar um número significativo a partir do advento do capitalismo. Para tanto o autor faz uma análise histórica desde o declínio das bases do feudalismo e o surgimento das corporações de oficio até a ascensão das classes burguesas hegemônicas e a consolidação industrial.

Segundo Motta (2006), com o declínio das bases do sistema feudal, houve um crescimento das cidades e introdução de economia monetária, já que até então, os senhores feudais, proprietários das terras, contavam com o trabalho gratuito dos servos.

Inicialmente a economia era baseada em trocas, mas com a expansão do mercado, o comércio passou a visar lucro. O trabalho escravo foi substituído por arrendamentos de terra pagos em dinheiro por antigos servos, intensificando o comércio e o progresso das cidades. Os artesãos especializados em um ofício, que até então eram servis, abandonaram a agricultura e passaram a viver de seu trabalho. Esses artesãos, donos de sua matéria prima e ferramentas, formaram corporações de ofício próprias, monopolizando o trabalho e a indústria manufatureira.

Para manter o monopólio e controlar a concorrência, os mestres-artesãos limitaram a passagem de seus aprendizes ao grau de mestre, reduzindo a abertura de estabelecimentos autônomos. Dessa forma, o mercado se concentrou em um número reduzido de indústrias manufatureiras que passaram a centralizar o poder e controlar os recursos produtivos. Seus donos passaram a constituir "uma classe social emergente que concentrava recursos, influência e poder com a fabricação e o comércio de manufaturas" (Motta, 2006), denominada de burguesia mercantil e burguesia manufatureira.

A burguesia se aliou ao poder central do rei com o intuito de derrubar os monopólios corporativos regionais e o poder dos nobres. Como estratégia real foi favorecido o poder da burguesia mercantil e da indústria manufatureira

(...) regulamentando a aprendizagem dos trabalhadores industriais, as condições de emprego e a alocação da força de trabalho nos diversos tipos de ocupação. Promulgando leis que regulamentavam os salários, a qualidade dos produtos e o comércio (...). ( MOTTA, 2006 p. 16)

Assim estabeleceu-se o conceito de indústria nacional. Esta passou a ser protegida pelo Estado Absolutista com o intuito de aumentar as exportações, e conseqüentemente, ao ingresso de divisas para a nação.

Contudo, após a consolidação da burguesia mercantil e industrial como classes sociais hegemônicas, o poder real absoluto passa a ser questionado e em seguida derrubado com a Revolução Francesa , em 1789, consolidando a produção industrial.

A partir desse momento os processos de produção vão se intensificando. A busca por uma maior acumulação de capital, pelo capitalista, se torna cada vez maior trazendo em seu cerne transformações, tanto no modo de produção, como de reprodução industrial, repercutindo na vida do trabalhador. É o que será explicitado nos itens seguintes.

1.2 A Revolução Industrial e a Organização das Primeiras Fábricas

Com o advento do capitalismo, as relações de produção e de reprodução do trabalho no sistema fabril passaram por intensas modificações no intuito de aumentar, cada vez mais, a acumulação de capital.

Aranha (2003) argumenta, de forma sintética que, a partir do século XVIII, em decorrência do aumento da produtividade, a mecanização é introduzida no setor têxtil e em seguida no metalúrgico. Nesse modo de produção, os instrumentos de trabalho são retirados das mãos do trabalhador e transferidos para máquinas a vapor, atuando diretamente na matéria-prima na objetivação do resultado desejado.

Segundo Aranha (2003), essas mudanças levam, automaticamente, a um aumento na produção e busca efêmera de acumulação de capital pelo empregador.

A autora constata que há um crescimento da população trabalhadora, em decorrência dessas transformações, caracterizando um "aumento da exploração do proletariado e das condições subumanas de vida".

Também Motta (2006) aponta o custo social impugnado à classe trabalhadora pelo crescimento econômico decorrente do sistema fabril mecanizado.

De acordo com o autor, camponeses que migraram do campo para as cidades em busca de trabalho nas fábricas

(...) tinham que vender a sua força de trabalho em troca de salários irrisórios para sobreviver. Homens , mulheres e crianças trabalhavam até 16 horas por dia, em condições difíceis e precárias. (...) As relações trabalhistas ainda não eram regulamentadas e a desigualdade no tratamento dos empregados prevalecia.(...) As condições de vida nessas cidades eram assustadoras, com epidemias de cólera, sujeira e pobreza. (MOTTA, 2006 p.18).

Essas condições subumanas culminaram em diversas associações sindicais que, para Motta, buscavam através de mobilizações sociais " conquistar melhores condições de trabalho para essa primeira mão de obra industrial".

Num outro recorte analítico, pontuaremos os modelos de produção taylorista/fordista, surgidos em decorrência da crescente complexidade de divisão do trabalho dentro das fábricas.

2. Modelos Organizacionais de Produção

2.1- Taylorismo e Fordismo

Na análise que se segue, serão pontuados os modelos de organização produtiva que surgiram, após a Revolução Industrial, pela busca incessante de acumulação de riquezas pelo capitalista.

Neste propósito Harry Braverman (1987) pontua que, dentro do sistema doméstico de manufatura, que precedeu a Revolução Industrial, os mestres artesãos trabalhavam com menos independência. Eles eram os donos das ferramentas de trabalho e mantinham os aprendizes e ajudantes sob seu domínio, mas, não eram os detentores da matéria prima. Esse sistema perdurou pelos séculos XVI e XVIII.

Porém, com o advento do sistema fabril e a busca pela produtividade como finalidade a acumulação de capital cada vez maior, os modos de produção se transformaram concomitantemente à crescente complexidade da divisão de trabalho.

Segundo Braverman (1987), à medida que a produtividade aumentava, fazia-se necessário "buscar esforços para encontrar modos de incorporar até mesmo quantidades menores de tempo de trabalho em quantidades cada vez maiores de produto". A partir daí, o capitalista empreende o trabalho parcelado e controlado, onde o processo de trabalho como um todo já não é mais responsabilidade individual do trabalhador. Ele se torna responsável apenas por uma parte da produção, tornando-se alienado, ou seja, não se reconhecendo mais no produto final de seu trabalho. Ele se torna um trabalhador parcial.

O trabalho passa a ser estabelecido através de um parâmetro científico de racionalização da produção, implementado por Frederick Taylor, no final do século XIX, denominado Taylorismo.

Esse método visava o aumento da produtividade em detrimento à economia de tempo, suprimindo gestos desnecessários no processo de produção e utilização, cada vez maior, das máquinas.

Em decorrência da busca incessante de produtividade, a divisão do trabalho foi intensificada. Segundo análise de Aranha (2003), o maior responsável por essa intensificação produtiva foi Henry Ford, a partir do momento que "introduziu, no início do século XX, a linha de montagem na indústria automobilística. Procedimento que mais tarde foi conhecido como fordismo.

As características deste novo modelo organizacional são explicitadas por Antunes (2002) como sendo

(...) a forma pelo qual a indústria e o processo de trabalho consolidaram-se ao longo deste século, cujos elementos constitutivos básicos eram dados pela produção em massa, através da linha de montagem d de produtos mais homogêneos; através do controle dos tempos e movimentos pelo cronometro taylorista e de produção em serie fordista; pela existência do trabalho parcelar e pela fragmentação das funções; pela separação entre elaboração e execução no processo de trabalho; pela existência de unidades fabris concentradas e verticalizadas e pela constituição/consolidação do operário-massa, do trabalhador coletivo fabril (...). (ANTUNES, 2002)


Ainda segundo o autor, este sistema de produção em massa passa por grandes mudanças em decorrência da rigidez de seu modelo e de problemas ligados ao controle pessoal.

Na década de 70 e 80 o fordismo começa a perder força devido à introdução do desenvolvimento tecnológico da automação, da robótica e da microeletrônica e também da desconcentração produtiva. Esta denominada flexibilização, foi apresentada pelo Modelo Toyota de produção japonês.

Na seqüência, serão apresentados os pontos mais relevantes do novo modelo de organização denominado toyotismo e sua aplicação na montadora FIAT de automóveis.

2.2- Modelo Toyota de Produção

O presente trabalho vem apresentando, a partir de recortes analíticos de uma gama de autores, as diversas fases, vivenciadas pelos trabalhadores, dentro do processo evolutivo dos modelos de organização da produção dentro do sistema fabril. Foram analisados, desde o sistema da manufatura, até a inserção fabril e seus modelos organizacionais taylorista/fordista, no século XX. A partir daí, será feita uma síntese dos estudos de Ricardo Antunes no que tange o Modelo Toyota de produção japonesa denominado toyotismo.

Segundo Antunes (2002), nas décadas de 70 e 80, devido à implantação da tecnologia avançada nos modos de produção, o fordismo se mescla ou é substituído pelo toyotismo. Nesse modelo, como observa o autor, "a produção em série é substituída por um modelo artesanal, mais desconcentrado e tecnologicamente desenvolvido, produzindo um mercado mais localizado e regional". E este traço básico em sua constituição é o que o diferencia do modelo fordista quando

(...) ao contrario do fordismo, a produção sob o toyotismo é voltada e conduzida diretamente pela demanda. A produção é variada, diversificada e pronta para suprir o consumo. É este quem determina o que será produzido, e não o contrario, como se procede na produção em serie e de massa do fordismo, Desse modo, a produção sustenta-se na existência do estoque mínimo. (ANTUNES, 2002 p.34)


De acordo com o autor, o que sustenta esse estoque mínimo é o Just in time, a partir do qual se evita a acumulação de estoques ao atender pedidos de acordo com a demanda.

Outra característica do toyotismo, apresentada por Antunes (2002), refere-se ao processo produtivo flexível que "permite a um operário operar com várias maquinas (...) rompendo-se com a relação em homem/uma maquina que fundamenta o fordismo. E esse processo é chamado de "polivalência" do trabalhador, que o permite operar várias máquinas combinando "várias tarefas simples". Assim o trabalho perde seu caráter parcelar e se torna trabalho de equipe.

Também em sua analise, o autor recorre a Coriat para discorrer sobre os diversos traços inerentes ao Modelo Toyota de produção, onde são apontados: a descentralização da forma de produzir e o compromisso com a melhor qualidade do produto. Assim

Ao contrario da verticalização fordista (...) à medida que as montadoras ampliaram as áreas de atuação produtiva, no toyotismo tem-se uma horizontalização, reduzindo-se o âmbito de produção da montadora e estendendo-se as subcontratações (...) a produção de elementos básicos, que no fordismo são atributos das montadoras. (ANTUNES, 2002p.35)


Nessa forma horizontalizada, o autor pontua a expansão de processos como Just in time, flexibilização, terceirização, CCQ, subcontratação, dentre outros. Processos esses que serão mais bem explicitados, no transcorrer dos próximos itens, dentro da organização produtiva da FIAT.

3- Processo Histórico e Organizacional da FIAT no Mundo e no Brasil

Em estudo realizado a partir de uma revista de circulação interna da FIAT Automóveis, _ Expresso FIAT _ publicada há exatos dez anos, em comemoração aos 100 anos da fábrica, será discorrido toda a história inicial da montadora. Também será abordado o momento em que a mesma foi instalada no Brasil e a evolução de seu processo organizacional de produção.

3.1- FIAT e seu Processo Histórico

De acordo com a revista supracitada, a FIAT _ Fábrica Italiana Automobille Torino _ tem seu nascimento registrado no final do século XIX, mais precisamente em julho de 1889, na cidade italiana de Turim.

Seu processo de fabricação acontecia de forma semi artesanal passando a produção organizada em decorrência do "aumento significativo do volume da produção" (Expresso FIAT, 1999). A revista retrata a descrição das instalações iniciais de produção dentro da fábrica da seguinte forma:

As instalações tinham a aparência de uma oficina mecânica semi-familiar e as máquinas recebiam força motriz por correias de transmissão ligadas à central elétrica da fábrica. As peças dos primeiros veículos eram montados em galpões isolados onde agrupavam-se todas as máquinas responsáveis por um mesmo tipo de trabalho. (EXPRESSO FIAT, 1999)

Ao longo desses 100 anos, a fábrica se transformou. Sua produção se intensificou e ela se expandiu para todo o mundo. Sua história não se limitou apenas a produção de automóveis, ela também se destacou na "fabricação de outros veículos como tratores, trens, navios, aviões e até mesmo submarinos" (Expresso FIAT, 1999). Além disso, a FIAT ao longo desse período, tornou-se proprietária ou acionista das principais escuderias automotivas do mundo, entre elas, a Alfa Romeo, a Lancia, a Masserati, Autobianchi, Innocenti e a fascinante Ferrari. Também formou parcerias com indústrias de sucesso como; Magneti Marelli, Iveco, Tecksid, Comau entre outras.

Seu processo produtivo se tornou cada vez mais eficiente. Passou de "artesanal" para "tecnologia de ponta", sendo responsável por produtos com design avançado e aerodinâmico.

A fábrica que nasceu no século XIX, como apenas mais uma de um contingente de pequenas fábricas automobilísticas em Turim, se coloca, hoje, no hall das maiores fabricantes mundiais de automóveis.

3.2- FIAT no Brasil

Após mais de 70 de sucesso pelo mundo, a FIAT foi inaugurada no Brasil, em 9 de julho de 1976, na cidade de Betim, pelo presidente Ernesto Geisel, representando o processo de "descentralização industrial do país".

Segundo informações coletadas na revista comemorativa Expresso FIAT, neste mesmo dia, foi dado o pontapé inicial para a produção em série do FIAT 147, considerado como carro ideal para o Brasil. Sua produção alcançou o número de 20 mil veículos por ano chegando, em 1981, a 200mil/ano.

A implantação da fábrica em Minas Gerais provocou profundas mudanças sócio-econômicas da região, passando de uma economia baseada na agropecuária e mineração, para a categoria de estado industrializado. Ela também exerceu um papel importante no desenvolvimento do país. Sua rede inicial de 100 concessionárias presentes na região centro sul e sul do país, em 1999 passou a contar com 389 em toda região brasileira. Também foi responsável por introduzir, no mercado interno, tecnologias e processos disponíveis apenas em países de 1º mundo. A revista também aponta que "a montadora foi pioneira no lançamento do carro a álcool, a pick-up derivada do automóvel, o motor 16V, o motor turbo, o carro popular, o cambio de seis marchas e muitas outras inovações".

Após 23 anos de instalação no Brasil, a fábrica também foi precursora de inovações tecnológicas e em uma serie de tendências, entre elas, a utilização de metodologias da qualidade, conquista simultânea de dois certificados internacionais de qualidade ISO 9002 e ISO 14001, programas como Autonomy e o FIAT On Line, e várias iniciativas culturais.

Na área produtiva destaca-se: CCQ ( Controle de Ciclo de Qualidade), CEP (Controle do Estatístico do Processo), EAV (Engenharia de Análise de Valor), CEDAC (Diagrama de Causa e Efeito com Adição de Cartões), FMEA (Análise de Modos das Falhas e seus Efeitos), G.Me. (Grupo de Melhoria) e TPM (Manutenção Produtiva Total). E todos esses processos têm como objetivo:

Todos (...) com objetivos de melhorar a qualidade; minimizar o processo produtivo; e reduzir o índice de perdas, refugos e parada de linha (...) tendo influência direta no custo do processo e do produto e, sobretudo, na satisfação do cliente. (EXPRESSO FIAT 1999)

No próximo item será dada ênfase à evolução organizacional do processo produtivo dentro da montadora, através de dados compilados no periódico destinado aos empregados FIAT, na já citada revista comemorativa dos 100 anos e também através de constatação direta a partir de visita realizada na montadora.

3.3- Desenvolvimento Organizacional de Trabalho na FIAT

Neste texto, serão apresentados, de forma sintética, os passos evolutivos da organização produtiva dentro da FIAT. Esta síntese será baseada nos relatos publicados no periódico especial de julho de 1999, distribuído aos empregados, que destinou à comemoração do centenário da fábrica.

De acordo com o supracitado, nos idos de 1899, a fábrica FIAT teve sua primeira instalação situada na cidade de Turim. Seus primeiros 150 operários atuavam em um espaço de doze mil metros quadrados, em regime semi-artesanal e quase militar.

Com o aumento ininterrupto da produtividade, se fez necessário reestruturar o modelo produtivo através das rígidas regras do taylorismo difundidas na época, entre elas,

(...)mensuração cronomêtrica do trabalho e eliminação dos movimentos inúteis, ritmo mais conveniente e máxima produção (...). Foram instaladas as primeiras linhas de montagem com conexão direta entre setores mecânicos e de carroceria, padronizados os materiais, simplificados os procedimentos de fundição e os sistemas de transporte interno (...). (EXPRESSO FIAT. 1999)

Porém nos anos 20 surge, através de Henry Ford, "um novo modelo de conceber o trabalho da fábrica" (Expresso FIAT,1999). Neste modelo o transporte das peças usinadas passa a ser mecanizado e a construção arquitetônica, também, é modificada para melhor atender às necessidades da produção.
A usinagem dos automóveis é dividida em cinco andares do edifício e cada setor é imediatamente identificado por números e letras. (...) a estrutura vertical do edifício, de fato, divide o fluxo do trabalho, vinculando-o aos limites do elevador. (EXPRESSO FIAT, 1999)


Contudo, devido a segunda guerra mundial, a produção em massa de automóveis foi desacelerada, sendo necessário esperar pelo início dos anos cinqüenta, em um novo cenário social, a retomada da produtividade. Esse retorno se deu efetivamente nos anos 60 com a implantação da automação provocando uma verdadeira revolução na maneira de produzir. O marco dessa inovação foi o robogate: "um grande sistema composto por uma série de robôs antropomorfos que executam as operações de montagem do chassi".

Já nos anos 80 a automação se tornou mais acelerada e em decorrência da utilização dos computadores e dos robôs, as operações se tornaram de maior qualidade e confiabilidade, repercutindo na segurança do trabalho. Dessa forma diminuíram acidentes e ruídos, e aumentaram a produção. Em contrapartida, as linhas equipadas com tecnologias sofisticadas, demonstraram alguns limites, constatando-se que o homem é insubstituível nas "operações que exigem ductibilidade e capacidade de adaptação, e que nenhuma máquina, por mais evoluída que seja, poderá substituí-lo".

Assim a FIAT muda sua organização de trabalho colocando o homem como o centro do sistema e protagonista absoluto da oficina. Nascendo, assim, a fábrica integrada. Aos homens são atribuídas funções que exigem alto nível de instrução e às máquinas são atribuídas àquelas mais pesadas, perigosas e fadigosas.

Seus métodos mais difusos de trabalho são o Just-in-time, responsável pela sincronia do fluxo dos fornecimentos com as necessidades da produção, eliminando o acúmulo de peças no estoque, e o TPM, que visa prevenir os tempos de parada nas máquinas. E também as CCQs, as terceirizações, os programas de qualidade , treinamento, formação, entre outros. Na busca incessante e ininterrupta da evolução, a FIAT inova com a fábrica "por rede". Nela a montagem é feita nos centros, situados em áreas de comercialização dos produtos. E nessas estruturas, cada vez menores e espalhadas, por todo o mundo, são produzidos os vários componentes do produto. Neste sistema há uma interação sincronizada para que "os componentes, os produtos e as informações se desloquem de um país ao outro em um fluxo organizado e contínuo.

Como resultado dessa reestruturação produtiva, é favorecido a expansão da fábrica para além de seus limites físicos. Assim o trabalho deixa de ser parcelar e passa a ser realizado por equipe, visando um comprometimento mútuo de trabalho em torno de um único objetivo: o sucesso e a satisfação da Família FIAT.

4- Considerações finais

De acordo com o tema proposto, foram analisados os vários modelos presentes na formação e transformação industrial e em seu processo produtivo. O marco destas mudanças ocorreu com a Revolução Industrial, através da introdução das máquinas no seio das fábricas. Estas passaram a ser responsáveis diretas pela dissociação do homem do seu modo de produção, causando mudanças irreversíveis em suas relações sociais, econômicas e políticas.

Também foi realizado estudo sintéticas dessas transformações dentro daquela que é considerada uma das maiores fábricas automobilísticas do mundo. Estudo este retirado de um exemplar comemorativo do centenário da fabrica de automóveis FIAT.

Por fim, conclui-se que, a montadora, desde o seu nascimento, inovou várias vezes seu processo produtivo e continua a inovar na busca de satisfação dos clientes, dos empregados e da sociedade.

Em sua história, passou por grandes percalços que foram superados com afinco e sabedoria. Transformou limites em seu maior desafio, apostando na segurança, na qualidade e no desempenho "através de políticas inovadoras de participação nos resultados, benefícios, treinamento e formação"(Expresso FIAT,1999).

Em uma viagem na linha do tempo pela fábrica, passamos pelo seu início modesto, de base quase artesanal, insurgindo através das máquinas, num modelo taylorista/fordista, até a plenitude tecnológica da automação e microeletrônica, dos programas de qualidade, responsabilidade social e cultural, treinamento, formação e outros.

A fábrica, que se iniciou arcaicamente no século XIX como apenas mais uma de um contingente de pequenas fábricas automobilísticas em Turim, coloca-se, hoje, no hall das maiores fabricantes de mundiais de automóveis. Mas essa história, com certeza, não pára aí.

6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as Metamorfose e a Centralidade do Mundo do Trabalho. 8ª Ed. São Paulo: Cortez. 2002

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando. 3º Ed.São Paulo: Moderna. 2003

BRAVERMAN,Harry. Trabalho e Capital Monopolista. A Degradação do trabalho no Século XX. 3º Ed. Rio de Janeiro: LTC. 1987

IAMAMOTTO, Marilda Villela. Renovação e Conservadorismo no Serviço Social. 9ª.Ed. São Paulo: Cortez. 2007

MOTTA, Fernando C. Prestes; VASCONCELOS,Isabella F. Gouveia. Teoria Geral da Administração. 3º Ed. São Paulo: Thomson. 2006.

Revista EXPRESSO FIAT. Edição de ouro. Betim. 1999

Revista ILUSTRATO FIAT. 100 Anos depois. Nº especial. Satiz 1999