Quase que invariavelmente, todas as modernas áreas do conhecimento tiveram lume na Grécia Antiga. Não o seria por menos que a era grega dos filósofos (dos pré-socráticos aos pós-socráticos) gregos é considerada pela gama maior dos historiadores como grande fonte do conhecimento humano, eis que as teorias cognitivas se passaram precipuamente, nos diálogos de Sócrates, anotados por Platão e, mais tarde, estudados criticamente por Aristóteles. Assim o é com a Ciência Jurídica e o estudo da Justiça, com a Administração Pública e a Política, com a análise das competências do homem, com a Filosofia em si, que àquela época abarcava diversas outras áreas e de forma consoante, também a sociologia. Como não haveria ser diferente, a Economia, ou melhor, o Pensamento Econômico também tem suas primeiras origens na Grécia, especificamente no que Aristóteles chamou de oikosnomos, que mais tarde se traduziria por economia. Platão também produziu esboços econômicos, contudo não asseverou suas considerações como que em um termo apartado. Para Platão, a Economia era partícipe da Filosofia, como todas as demais áreas do conhecimento.

Embora o pensamento filosófico grego tenha discorrido primeiramente sobre a economia, esta só vem se tomar corpo, quando surge a teorização sistemática econômica publicada na obra A riqueza das nações, por Adam Smith, em 1776. Como pré-concebido, até esta data a economia era parte integrante da Filosofia Social, da Moral e da ética, sendo que Smith é quem lhe dá status de ciência individual. A relação da economia com a moral é facilmente percebida quando analisada a Lei da Usura, em seus primórdios, quando se iniciou uma espécie de criminalização do abuso de juros, o que comprometeria toda a sociedade, subjugando-a ao poder dos economicamente poderosos.

Ainda no século XVI, nasce a primeira escola econômica, denominada como mercantilista. O mercantilismo é marcado por um processo de alargamento dos mercados consumidores e, principalmente, dos produtores de matéria-prima, bem como pela revolução comercial, pela centralização do comércio como atividade econômica e pelo protecionismo e intervencionismo estatal na economia. Evidentemente, as práticas econômicas neste período histórico só possuíam um viés, o de acúmulo de lucros, o enriquecimento. Esse apego descomedido à lucratividade criou a principal crítica proposta a esta escola econômica, pois como bem assestou Montaigne "o lucro de um país é o prejuízo de outro", já que o lucro era vislumbrado superior a qualquer outra concepção humana. A produção de riqueza, nesta fase do pensamento econômico, é individualista e regional. Contudo, inegável a contribuição deste período econômico, eis que os primeiros princípios da economia nascem justamente neste ínterim.

Após o mercantilismo, a fisiocracia nasce na França, já por volta do século XVIII, elaborando, essa escola do pensamento econômico, importantes trabalhos sobre o tema. Em primeiro lugar, é imprescindível analisar a etimologia da palavra fisiocracia, qual seja, a união dos termos fisio=natureza, e cracia=governo/poder. Desta forma, fisiocracia traduz-se por governo da natureza. Para os fisiocratas, a riqueza consistia nos bens produzidos a partir da natureza, em atividades econômicas que proviessem da relação do homem com o ambiente, a exemplificar a caça, a pesca e a mineração. Ao mesmo passo que a ciência econômica era conduzida ao pensamento fisiocrata, um grande movimento filosófico-cultural difundia uma nova percepção do homem, o Iluminismo. Relacionaram-se as duas veias epistemológicas iluministas de Rousseau, Locke e Montesquieu e a posição econômica de Quesnay. Contudo, alguns autores tratam como efêmero o pronunciamento da Teoria Fisiocrata, a rigor das palavras de Joseph A. Schumpeter[1]:

A fisiocracia não existia em 1750. Entre 1760 e 1770, Paris inteira, além de Versalhes, falava dela. Em 1780, quase todo mundo (exceto os economistas profissionais), já havia se esquecido dela.

De qualquer monta, a participação desta escola possibilitou novas tendências econômicas e, por isso, deve ser citada dada a sua importância, ao menos, científica, se é que na prática não exerceu maiores influências. A fisiocracia, por certo, surgiu como força reativa ao mercantilismo, argüindo que não se fazia necessária a intervenção estatal na economia, pois a lei natural era suprema, superior, até mesmo ao soberano.

Estas duas escolas, juntas das lições de David Ricardo, Jean Baptiste Say, Thomas Malthus e, por fim, John Stuart Mill, formalizaram o pensamento clássico da economia como ciência, todos partindo das linhas primordiais de Adam Smith, sendo que Mill foi o personagem principal da transição entre a teoria clássica da economia, o que viria a ser tratado – aprioristicamente – por Alfred Marshall como Teoria Neoclássica.

A Teoria Neoclássica, com início em 1870 e desenvolvimento até o século XX, impõe a relevância do conceito de microeconomia. Essa Teoria é manifestamente influenciada pelo período final da Revolução Industrial – se é que se pode dizer que houve um fim neste processo, considerando a amplitude do desenvolvimento industrial até os dias atuais – o que de antemão já clarifica a preocupação com as economias voltadas às unidades de consumo, diferente da polarização macroeconômica da Teoria Clássica.

Em terras tupiniquins é possível observar esta vertente teórica da economia, pois é justamente neste lapso temporal que se dá início ao que Celso Furtado chamou de "gestação da economia cafeeira", até a depreciação e queda do ciclo desta microeconomia que entre outras protagonizou a mais imponente crise econômica mundial em 1929, agindo diretamente na macroeconomia, portanto.

Justaposta esta fase do pensamento econômico, já em 1936, com a publicação de Teoria geral do emprego, dos juros e da moeda, de John Maynard Keynes, nasce a era keynesiana, assim denominada pela sobeja importância da obra acima identificada, relacionando o período com o seu autor.

Keynes ocupou a cátedra que havia sido de Alfred Marshall, na Universidade de Cambridge, sendo esse, então, seu antecessor acadêmico e teórico. Keynes voltou o foco da economia, enquanto ciência, para os efeitos provocados pelas microeconomias na macroeconomia, ou seja, as influências positivas e negativas que o comportamento das unidades de consumo poderiam exercer sobre a economia global.

Marco Antonio Vasconcellos bem delineia a proposta mais impositiva do pensamento Keynesiano, o que se mostra válido colar:

Segundo o pensamento keynesiano, um dos principais fatores responsáveis pelo volume de emprego é explicado pelo nível de produção nacional de uma economia, que por sua vez é determinado pela demanda agregada ou efetiva. Ou seja, inverte o sentido da lei de Say (a oferta cria sua própria procura) ao destacar o papel da demanda agregada de bens e serviços.[2]

Tais argumentos de Keynes foram fatores de forte influência nas economias capitalistas, principalmente no período pós-guerra (segunda guerra mundial), aduzindo-se, por mais, que tais países tiveram um bom desenvolvimento, creditando ainda mais as idéias de Keynes.

Após muito se tratar dos pilares econômicos construídos por Smith e ampliados por seus sucessores, não se pode deixar de trazer à baila a principal crítica ao pensamento que deu círio ao capitalismo, que é o entendimento de Marx, especialmente no que o autor chamou de Valor-Trabalho.

Para Marx, a apropriação do excedente produtivo – a reconhecida mais-valia – é a própria explicação da acumulação e da evolução das relações das classes sociais. Esse conceito da mais-valia, em resumo exprimido, é a diferença entre o valor da produção e da venda, que gera o lucro, por exemplo.

Karl Marx influenciou não só a economia com seus escritos, transcendeu esta área do conhecimento, sendo influenciador da sociologia, da filosofia, do direito e da administração, mas, contudo, irrompeu algumas barreiras postas pela teoria clássica de Smith e criou, ao menos, a dúvida, sendo o algoz do capitalismo mas, acima de tudo, o solucionador do problema social econômico, embora taxado por utópico, à semelhança de seu influenciador Hegel.

Em síntese a evolução do pensamento econômico variou por estas vertentes científicas expostas neste breve relato, formando a economia como a conhecemos hoje, marcando os conceitos de micro e macroeconomia e, destes tantos outros conceitos que fizeram desta ciência, uma das mais importantes para o desenvolvimento mundial.


Bibliografia UtilizadaFURTADO, Celso. A Formação Econômica do Brasil. 17 ed. São Paulo : Ed. Nacional, 1980.

VASCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval de. GARCIA, Manuel Enrique. Fundamentos de Economia. Ed. 1. São Paulo : Saraiva, 2003.


[1] SCHUMPETER, Joseph A. Historia del análisis económico I. Tradución de Lucas Mantilla. México: Fondo de Cultura Económica, 1984. (em http://www.cofecon.org.br/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=794 acessado em 26 de maio de 2008. Artigo de Luiz Machado, economista e professor da FAAP.

[2] VASCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval de. GARCIA, Manuel Enrique. Fundamentos de Economia. Ed. 1. São Paulo : Saraiva, 2003. p. 19.