A EVOLUÇÃO DA DANÇA ZORE E SEU CONTRIBUTO À TRADIÇÃO DA LOCALIDADE DE GOLO, DISTRITO DE HOMOÍNE, PROVÍNCIA DE INHAMBANE (1960-2000)

Resumo

O presente artigo tem como assunto: manifestações culturais no sul de Moçambique; Objecto: Danças tradicionais no distrito de Homoíne; cujo tema: a evolução dança Zore da localidade de Golo (1960-2000). O trabalho tem como objecto geral: compreender a evolução da dança Zore e seu contributo à tradição da localidade de Golo (1960-2000). O mesmo está organizado em três distintos momentos. O 1º momento é o de descrever geográfica e antropologicamente a localidade de Golo; o 2º caracterizar a dança Zore da localidade de Golo e, o 3º analisar a evolução da dança Zore ao folclore da localidade de Golo (1960-2000); A pesquisa concluiu que, o tema referente a evolução da dança Zore é importante, pois permite-nos aferir o dinamismo cultural da mesma desde o tempo colonial até ao pós-independência. Inicialmente a dança Zore não era praticada por crianças, mas por adultos (homem e da mulher). Os homens realizavam movimentos fortes e vigorosos. As mulheres como actrizes realizam movimentos mais suaves. Durante a dança as mesmas eram colocadas tingelas de circunferência. Entretanto, com as mudanças estruturais ocorridas em Moçambique a partir da década de 90 e os efeitos da globalização permitiram algumas alterações no formato da dança Zore, já que, começou a incluir crianças no momento da sua execução, o próprio veste foi se modificando, a coreografia foi integrando igualmente traços externos. Em suma, pode-se concluir que, a dança Zore não ficou parada no tempo porque, o homem pela sua natureza é produto das relações.

 Introdução

Este artigo tem como assunto: manifestações culturais no sul de Moçambique; Objecto: Danças tradicionais no distrito de Homoíne; cujo seu tema: a evolução dança Zore da localidade de Golo (1960-2000). A escolha deste tema deveu-se à necessidade de querer compreender a evolução dança tradicional Zore da etnia vatswa da localidade de Golo no período acima referenciado.1 . Quanto à escolha da localidade de Golo, explica-se pelo facto da mesma ser recorrente no que concerne à prática desta dança em convívios, eventos do governo local assim como em cerimónias rituais. Um outro factor é a língua xitswa da zona que facilitou a comunicação na recolha dos dados. A escolha de 1960, deveu-se ao facto de ser o ano em que se intensificara a resistência à ocupação colonial em Moçambique. A colonização não encorajou a prática da dança Zore devido ao teor das suas mensagens contestatárias. Assim, as populações nativas não praticavam livremente esta dança. Portanto, a dinâmica desta dança foi bastante fraca que quase levaria à sua extinção. Por outro lado, 2000 justifica-se por ser o ano em que a mesma dança passou a ser praticada por pessoas de todas as faixas etárias. Ainda no mesmo ano, verificou-se uma revalorização das culturas tradicionais por parte do Estado moçambicano com a realização do 1º festival nacional da cultura. De facto, numa perspectiva teórica e prática, as danças tradicionais representam um mosaico cultural de Moçambique. Estudar a dança Zore é importante na medida em que, a pesquisa procurou encontrar virtudes e limitações dos aspectos relacionados com a evolução daquela dança da localidade de Golo. O artigo reflecte os processos e procedimentos peculiares da dança Zore, das dinâmicas dos diferentes momentos da História cultural de Moçambique, o que poderá ser um contributo à cultura tradicional do distrito de Homoíne, da província de Inhambane e do país. Procedimentos metodológicos A abordagem deste tema obedeceu o método etnográfico, também conhecido por método de observação participante, ou ainda trabalho de campo. Para a concretização deste trabalho foi necessário: (i) consultar a bibliografia que fala do tema para compreender o nível de abordagem de modo a se elaborar resumos e fichas de leituras; (ii) recorrer-se ao mapa geográfico para encontrar elementos da localização geográfica da região onde a localidade está inserida; (iii) Neste sentido, usou-se a técnica da entrevista a universo de cerca de 10 membros da comunidade, eleitas 1 O mesmo tema enquadra-se também à disciplina da História Social e Cultural de Moçambique; 3 de forma aleatória, dos quais: a) dois líderes comunitários a fim de recolher o legado da dança Zore da localidade e as possíveis formas de sua conservação e disseminação. Por outro lado, encontrar evidências do que se possa considerar resultados provenientes dos ensinamentos da dança tradicional Zore; b) quatro assistentes, com diferentes experiências acerca da dança tradicional Zore da localidade de Golo; e c) quatro actuantes que participam activamente na dança Zore naquela localidade. Ainda no âmbito da entrevista, foram privilegiadas pessoas que vivem naquela localidade há cinco anos ou mais.

LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA LOCALIDADE DE GOLO E BREVE HISTORIAL

Segundo MAE2 (2007, p. 15) a localidade de Golo com área de 894 km localiza-se no extremo Sul do distrito de Homoíne província de Inhambane. A sua população pertence ao grupo étnico tswa e mais pequenas representações dos “bitongas” e “chopes”. A mesma é composta por 10 povoados que um deles é o povoado de Zualo onde se encontra inserida a dança tradicional Zore, cuja sua influência abrange todos outros povoados e a sua população é estimada em 1953 habitantes. Quanto aos limites geográficos da localidade de Golo 3 ; A Norte faz fronteira com a localidade de “Mubecua” em Homoíne. A sul faz limite com cidade da Maxixe, com as localidades de Bembe e Inhamússa, Este limita-se com o distrito de Jangamo e, por fim a Oeste faz fronteira com localidade de Xinginguire. Até 2007 a população existente na localidade de Golo estimava-se a um número de 1953 habitantes. Os mesmos são falantes da língua “Xitshwa” e estão divididos por dois grupos étnicos: “matswas” que falam “Xitshwa” e “bitongas” que falam “bitonga”. Deste modo, a área em estudo é habitada pelo povo que fala as duas línguas. (SGD4 , 2010, p. 14) Jacinto Kofe, líder tradicional daquela localidade sustenta que, “Os régulos tem presidido cerimónias de pedido de chuva, distribuem terras para as populações e resolvem os conflitos sociais. Os mesmos têm uma importância muito grande para a disseminação e imortalização da cultura e tradição das comunidades desta localidade. A comunidade acredita que os defuntos podem castigar-lhes através da sua acção espiritual no caso de não se observar convenientemente as regras culturais identitárias da região”. (Cp, Localidade de Golo, 13/07/2015) De facto, as lideranças autóctones tem um papel fundamental não só na disseminação dos valores culturais geracionais da região como também na sua preservação. A tradição e folclore locais são o substrato cultural das comunidades.

Como se pode depreender, a figura acima representa a localização geográfica do distrito de Homoíne bem como da localidade de Golo. Por conseguinte, é possível notar que Golo situa-se no extremo sul do distrito de Homoíne. 1.2.Principais actividades económicas Segundo Maússe (2009, p. 78) no âmbito económico, o distrito onde a localidade se encontra possui extensas terras férteis, razão pela qual, a agricultura é a actividade que garante a sobrevivência da população local. Além disso, pratica-se ainda pecuária (a criação de gado bovino, suíno, caprino e de aves: galinhas e patos). A pesca, a caça, o comércio informal também constituem outras actividades. SGD5 (2010, p. 14) corrobora com o autor supracitado, ao afirmar que, no geral as principais potencialidades da localidade de Golo evidenciam-se pela existência de zonas férteis que 5 Secretariado do Governo Distrital de Homoíne (SGD). Caracterização e Divisão Administrativa do Distrito. Homoíne. 2010, 26p. Mapas geográficos 1: Enquadramento geográfico do distrito de Homoíne e localidade de Golo Fonte: MAE, (2010, p. 15) 6 permitem a prática da agricultura e pastagem, condições ambientais adequadas para o desenvolvimento de actividades económicas. Portanto, a localidade de Golo é caracterizada pela prática da agricultura pelas suas populações. As outras actividades tais como: comércio, mineração, pecuária, pequenas fabriquetas de sabão e óleo são complementares à economia da localidade. Venancio Zacarias, (líder comunitário) afirmou que, a agricultura na localidade de Golo é praticada pelo sector familiar em condições predominantemente de sequeiro e nas baixas. Em relação às épocas de cultivo regista-se duas situações diferentes. Assim, a agricultura pratica-se em duas épocas sendo a 1a de Outubro a Março e a 2a de Abril a Maio. As principais culturas são: amendoim, feijão-nyemba, arroz, hortícolas, milho, batata-doce e reno, mandioca, banana, ananases e Caju. Para além destas culturas, produzse também o coco e Citrinos (laranjeiras, tangerineiras, papaieiras, abacateiros).

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