RESUMO

 

A ética nos permite buscar critérios para definirmos o que é ser bom e moralmente correto. Ao se relaciona diretamente com o tempo, a cultura e a sociedade, podemos dizer que a ética é um conceito reflexivo e adaptativo. A proposta do trabalho é discutir a importância da ética dentro das escolas num diálogo entre professores e alunos. O estudo tem caráter de revisão bibliográfica e foi constituído de revisões críticas preferencialmente que abordassem o tema. Anteriormente, a ética ou a moral foi inserida na escola como uma forma doutrinaria de ensino do politicamente correto, na conjuntura atual, a ética é requerida novamente dentro dos currículos com um olhar de liberdade e construtivismo e respeito. O desafio agora é introduzi-la e alcançar a criança, lembrando que o compromisso de ensino de hábitos morais e ético é competência de toda a sociedade.

 

Palavras Chaves : Ética escolar, professores, alunos.

 

INTRODUÇÃO

 

O estudo dos juízos de apreciação à conduta humana qualificando-a do ponto de vista do bem e do mal; a ética, assim definida, então nos permite buscar critérios para definirmos o que é ser bom ou moralmente certo e que nos fornece explicações para nosso senso de dever moral. Ao dizer que uma pessoa “não tem ética”, normalmente significa que ela não obedece a condutas por regras (MENIN, 2001; FORMENTINI E OLIVEIRA, s/d).

Em suma, impossível hoje, alguém não apresentar-se como “pessoa ética” ou respeitável. Paradoxalmente, talvez nunca as queixas sobre o comportamento humano tenham sido tão freqüentes e radicais. Afinal, tem se vivido momentos de difícil definição de valores (TAILLE, SOUZA, VIZIOLLI, 2004).

Ao projetar uma linha histórica, observa-se que no Brasil durante a ditadura tentou-se fazer das escolas campos de direcionamento de cidadãos morais e na atualidade os Parâmetros Curriculares orientam a educação para levar em consideração a ética de uma forma mais reflexiva.

A educação, nesse contexto, passa a ser vista como um caminho privilegiado de intervenção, com condições de auxiliar na construção de valores éticos e democráticos por parte dos atores sociais, objetivando, por fim, a justiça em suas diversas manifestações (ARAÚJO, 2007).

A proposta desse estudo é justificar a importância dessa discussão sobre éticas nas escolas e a forma de como devem ser inseridas dentro da sala de aula.

Desta forma o estudo tem caráter de revisão bibliográfica o qual foi realizado a partir de uma busca eletrônica nas bases de dados LILACS, SciELO e outras fontes de documentos com relevância na área de ética educacional. A elegibilidade dos artigos incluiu artigos que apresentassem relevância textual e convergissem com o tema com preferência para revisões críticas. Assim, para a localização dos artigos científicos foram utilizados os seguintes descritores: “ética escolar, professores e alunos” .

A partir de uma seleção criteriosa de artigos científicos nos sites de busca nacionais e bibliotecas online de livros e dissertações, foram selecionados os materiais bibliográficos destacados pela relevância e homogeneidade com o tema .

 

DESENVOLVIMENTO

 

Ao consultar o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda, 2007, a ética e moral podem ser definidos como “o estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto”

Comumente, a palavra ética possui uma relação com a definição que se dá à palavra moral, sua referência está ligada a um conjunto de princípios e regras de cumprimento obrigatório onde a transgressão gera punição. A ética, num contexto mais abrangente aborda uma reflexão científica e filosófica que estuda os costumes e normas de comportamento dos seres humanos sociais (FORMENTINI E OLIVEIRA, S/D; TAILLE, SOUZA, VIZIOLLI, 2004).

Ao se individualizar a ética, ou seja, ao dizer que uma pessoa “não tem ética”, normalmente significa que ela não obedece a condutas por regras que, se seguidas, evitariam que alguém fosse, de alguma forma, por ela prejudicado. Uma pessoa sem ética é, neste contexto, uma pessoa imoral (TAILLE, SOUZA, VIZIOLLI., 2004).

É por meio da ética que nos orientamos a buscar critérios para definirmos o que é ser bom e certo dando-nos explicações para nosso senso de dever moral. A essa questão para sermos considerados éticos devemos nos conduzir conforme é estipulado como valores morais.

Entretanto, os valores são determinados por culturas coletivas e em função de certos momentos históricos, variando, portanto, de acordo com o que cada sociedade e período de sua existência. As ações humanas seriam, assim, avaliadas de acordo com os costumes locais; ora são corretas e justas ora em outra época, podem ser consideradas erradas ou injustas (MENIN, 2002).

Ao afirmarmos que a ética se relaciona diretamente com o tempo, a cultura e a sociedade, podemos dizer que os valores e costumes podem se transformar com a modificação da sociedade, portanto a ética é um conceito reflexivo e adaptativo.

É notório o quanto a palavra “ética” tem transitado nas mais diversas esferas da vida contemporânea. E cada dia tem aumentado o número de publicações sobre o assunto principalmente na área da saúde, onde há um cume de publicações (TAILLE, SOUZA, VIZIOLI, 2004).

Por outro lado, hoje tem sido muito intensa as queixas sobre o comportamento humano em sociedade, avaliando que vivemos num momento de total insensibilidade pelo respeito ao direito e a vida do outro.

Demonstrações confirmativas a esta situação são observadas nas esferas do poder político as quais andam corroídas pela corrupção, pelo crime organizado que cresce, pela violência urbana que aumenta, inclusive, entre jovens dentro e fora das escolas além das incivilidades, a ausência de cidadania, a desconfiança mútua comum que tem dificultado o contato social e o terrorismo que vem redesenhando a ordem mundial (TAILLE, SOUZA,VIZIOLI, 2004).

Se fizermos um paralelo com a história do país destacamos que durante a ditadura militar (1969 a 1986), houve um forte movimento dentro do ambiente escolar para doutrinar crianças e adolescentes na educação moral. As disciplinas Educação Moral e Cívica ou Estudos dos Problemas Brasileiros eram matérias específicas que por intermédio de professores especialistas deveriam passar certos valores assumidos como fundamentais. Essas disciplinas foram estruturadas pelo decreto-lei de 1969 com a finalidade de controlar a “desordem social” vista como causadora dos malefícios da sociedade brasileira. Valores como o nacionalismo, amor à pátria e aos seus governantes para o alcance do progresso geral foram colocados como fins de toda a educação e pela obediência e severidade muitas regras eram seguidas (MENIN, 2002). Entretanto esses valores não eram legítimos, pois os valores ensinados se distanciavam da moralidade efetiva dos brasileiros (SILVA, s/d)

Como o ensino não pode e não deve ser algo estático e unidirecional; com o decorrer dos anos, novas concepções de ensino e valores passaram a enxergar que a sala de aula não é apenas um lugar para transmitir conteúdos teóricos; é, também, local de aprendizado de valores e comportamentos, de aquisição de uma mentalidade científica lógica e participativa, que poderá possibilitar ao indivíduo, bem orientado, interpretar e transformar a sociedade e a natureza em benefício do bem-estar coletivo e pessoal (SIQUEIRA, 2001). Uma confirmação levantada por Freire, de que ensinar também é um compromisso ético:

 

Não é certo, sobretudo do ponto de vista democrático, que serei tão melhor professor quanto mais severo, mais frio, mais distante e “cinzento” me ponha nas minhas relações com os alunos [...] A afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade. O que não posso obviamente permitir é que minha afetividade interfira no cumprimento ético de meu dever de professor no exercício de minha autoridade. Não posso condicionar a avaliação do trabalho escolar de um aluno ao maior ou menor bem querer que tenha por ele.(FREIRE, 1996, p.159-60).

 

Sendo assim, a educação em valores nas escolas pode, no entanto, se dar de forma oposta à maneira doutrinária. A escola não precisa ter um código moral ou de valores declarado e assumido, e a adoção de valores seria uma questão individual, pessoal. Nessas escolas, o corpo de professores pode ser completamente diverso em termos dos valores mais adotados e sua transmissão fica a cargo de cada um, de forma assistemática e acidental (MENIN, 2002).

Assim, por exemplo, embora constatemos que nos últimos anos têm-se fortalecido uma posição antiviolência nas escolas, como as campanhas pela paz, desde 1998 observamos, no entanto, na mesma época, em cursos para professores de pré-escola, que a violência física entre crianças pode ser admitida como uma forma de realizar justiça. Ainda predomina via senso comum que o revide é uma forma justa de resolver conflitos entre crianças. É importante nos questionar se isso não pode levar a uma agressividade de adolescentes no futuro (MENIN, 2002).

Numa pesquisa realizada por Shimizu (1998), foram entrevistados professores das séries iniciais da rede pública numa cidade do interior paulista, constatou-se que conheciam muito pouco das teorias psicológicas que poderiam lhes dar uma base para realizar algum tipo de educação moral e que utilizavam, na grande maioria, opiniões do senso comum para decidir o que é moral, imoral ou como educar moralmente. Os professores declaravam que o conceito e a vivencia da moralidade de seus alunos vinha de exemplos familiares, de influências religiosas e pouca importância foi dada à própria escola nessa formação.

Diferentemente do que é empregado nos Parâmetros Curriculares Nacionais de 1998, os quais têm objetivo de trazer novos rumos à educação brasileira e propunha que os ideais da Constituição de 1988 se concretizassem: os direitos universais do ser humano, a igualdade entre os indivíduos e a diversidade cultural e étnica. Também era proposta que a escola levasse em conta o combate a desigualdade de condições sociais, a injusta divisão da renda e de oportunidades ao caber à educação legitimar tais ideais, torná-los conhecidos, aceitos, válidos e necessários. Seria tarefa de toda a sociedade fazer com que “tais valores vivam e se desenvolvam” inclusive dentro da escola (SILVA, s/d).

 O fundamento dos PCNs era pensar e valorizar uma educação comprometida com a justiça social, a pluralidade cultural e a idéia de brasilidade, idealizando uma comunidade fraterna que vivesse num contínuo processo de aprendizagem e busca por condições eqüitativas e pelo reconhecimento de cada individuo como cidadão (SILVA, s/d).

Alguns valores propostos não se tratam de serem ensinados segundo os parâmetros como uma transmissão de uma tradição, mas visa possibilitar aos indivíduos a aprendizagem, sem imposição ou doutrinação, da validade dos fins coletivos como a democracia e a liberdade.

Já o respeito entre as pessoas, a honestidade fazem parte da natureza humana, e devem apenas ter condições especiais para florescerem como o exemplo familiar. Estes valores são tomados como valores universais que cruzam as culturas (SILVA, s/d).

 Assim, ao mesmo tempo em que a educação brasileira se descentraliza, e abre espaço para as comunidades, valores e culturais locais, tenta concretizar o um trabalho pedagógico de resistência ao despotismo e a verticalização do ensino, valorizando a diversidade cultural e a tolerância.

Diferente do momento da ditadura onde a severidade impunha os valores já definidos; na atual conjuntura, na mesma escola, enquanto professores incentivam a cooperação entre alunos, outros a competição; alguns teriam aversão às mais variadas formas de violência, enquanto outros seriam tolerantes a certas manifestações violentas ou agressivas dos alunos ou dos próprios professores (MENIN, 2002). Uma disposição de revelar a diversidade de valores para mesclarmos ou declararmos a sua incompatibilidade com princípios básicos de respeito aos valores e as opiniões pessoais de cada um.

Assim, com a escola assumindo um currículo baseado em projetos, associando sempre as temáticas de ética e de direitos humanos como referências para as aulas e as ações desenvolvidas; podemos conseguir que os princípios socialmente desejáveis impregnem o ambiente educacional (ARAUJO, 2007). Desta forma, mesmo com tantas afirmativas na educação moral não há lugar para certezas, mas de dúvidas as quais devem estar ser sempre discutidas (MENIN, 2002)

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A despeito de tantas reflexões e comissões de ética, o mundo ainda parece pouco ético. Em busca do politicamente correto, no esquema atual as coisas não vão bem e buscam-se explicações e soluções.

 O estudo reflete que o tema “ética” dentro das escolas tornou-se presente e necessário, a fim de firmar valores tanto ao alunado quanto aos docentes, em vista das preocupações com esse novo panorama social que vivemos de violência e incivilidades. E a ética é um tema que deve ser discutido em todos ambientes dentro da escola. O diálogo entre professores e alunos de como ensinar ética e sua reflexão mostra-se fundamental para a construção dos valores e para o crescimento desse tema na sociedade.

Anteriormente, a educação moral e cívica foi chamada a modelar crianças e jovens “corretos”, hoje a escola é recrutada para introduzir conceitos e idéias de ética e tolerância entre alunos e professores. Deve-se deixar claro que o compromisso na formação de homens e mulheres com o compromisso ético, não é só da escola, mas de toda sociedade.

 O estudo também permitiu entender que a ética vem sendo introduzida de forma lenta e progressiva e todos na escola deve se atentar para essa questão. Inclusive o psicopedagogo como gestor pode auxiliar muito como articulador promovendo e alertando da importância dessa discussão tanto entre os profissionais, alunos e na relação aluno e profissional.

 

REFERÊNCIAS

 

ARAÚJO, U F. Educação e Valores. Encontro Temático Regionalizado. Expoente excelência na educação. Universidade de São Paulo, 2007.

 

DICIONÁRIO AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA. [Material online] V. 5.0. 2007

 

MENIN, M S S.Valores na escola. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.28, n.1, p. 91-100, jan./jun, 2002.

 

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

 

FORMENTINI, M; Oliveira, T M. Ética e Responsabilidade Social –Repensando a Comunicação Empresarial.  UNIJUÍ, s/d.

 

SHIMIZU, A M. As representações sociais de moral de professoras das quatro primeiras séries do ensino de 1º grau. Dissertação (Mestrado) – Marília, Unesp,1998.

 

SILVA, J T. A Ética nos Parâmetros Curriculares Nacionais: Entre o Comunitarismo e o Liberalismo. Filosofia da Educação.s /d.n.17.

 

SIQUEIRA, D C T. Relação Professor – Aluno: Uma Revisão Crítica. Ano IX, nº 33, 2001.

 

TAILLE, Y. DE LA, SOUZA, L. S., VIZIOLLI, L. Ética na educação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, n.1, p. 91-108, jan./abr. 2004 .