A eternidade das canções.

 

 

Na imensidão do mundo que carregamos, cada um de nós, existem as lembranças que agem como uma espécie de depoimento sobre nossa experiência de vida. E é neste vasto mundo interno, que as canções fazem certo “fundo musical” para nossas recordações ou, não raro, as despertam inesperadamente.

Quando chegamos, muitas destas canções já existiam. Quando partirmos, certamente, elas seguirão em seus papéis de enfeite da eternidade, como se respeitassem, com reverência, nossa efêmera existência.

Muitas canções falam de amores perdidos, ou encontrados. Da saudade da própria origem que também carregamos e de tantas outras formas poéticas que tentam traduzir sentimentos.

Então, em alguns momentos de nossa vida, de repente, ao ouvirmos uma canção especial, voamos para o passado, através de nossa “máquina do tempo” chamada memória e sorrimos, ou choramos.

Muitas vezes visitamos nossa infância, levados pelo som mágico de uma canção que ouvíamos à época. Em certas vezes chegamos a sentir o cheiro que predominava no ar naquele tempo, agora recordado.

Ninguém jamais será tão pobre que não tenha uma canção que lhe revele, periodicamente, coisas da memória, de sua própria história. Lembranças mágicas, que o levem a rememorar momentos únicos. Instantes em que era mais emoção que razão e o aproximava mais de si mesmo.

Na difícil – e ingrata – tarefa de conciliar o emocional com o racional, temos – em contrapartida – as canções que nos servem de guia seguro na caminhada.

Muitas vezes não temos prestado atenção a isso, ou sentimos e nem percebemos. Perdemos a magia que nossa mente guarda, envoltos na pressa, no imediatismo absurdo em que tudo se transforma a cada dia.

As canções parecem não desejar que sejamos estranhos a nós mesmos, por isso nos levam “para dentro” e nos mostram quem somos. Mas, o que é uma pena, a maioria insiste em não perceber, ou – por outras palavras – prestar um pouco de atenção a si mesmo.

Assim, quando tristes em seu resultado lembrança, as canções nos tornam melhores, nos amadurecem. E talvez, um tanto melhorados, sejamos agradáveis ao convívio e nos aproximemos da paz.

Nossa vida tem som, ela possui fundo musical.

Nem sempre ouvimos, mas a música exercita sua perenidade todo o tempo ao nosso redor. Cânticos sacros nos fazem caminhar, internamente, para instantes de maior ligação com o todo, ao passarmos por uma catedral.

A natureza possui sua sinfonia própria, distribuída entre pássaros e trovoada. Há música no som de uma cachoeira ou no suave som de um riacho e nos pequenos galhos que se quebram sob os pés.

Nosso caminho possui música, embora nem sempre a ouvimos.

A trilha sonora de nosso tempo atual, nem sempre é agradável, quando, principalmente, surge num rap que lembra falência social.

Existem músicas para tudo. Até para funerais, como uma recepção da Terra, ao que lhe pertence de fato e de direito.

A vida sempre foi, é e será perfeita. Sempre terá cores, movimentos e sons. Sempre será viva e fracassaremos toda vez que tentarmos matá-la. Porque ela sempre ressurgirá triunfante nas canções eternas que contam dos atos grandes e pequenos dos homens.

 As canções cantam o amor, este eterno incompreendido da humanidade que busca, ávida, as respostas bem à sua frente.

As canções são óbvias, mas, nem por isso, menos lindas. Clássicas ou bregas, não importa, são canções. Passaremos, elas nunca!