Numa reportagem apresentada num canal de TV, mostrava-se um grupo de pessoas que criou uma associação para ajudar os indigentes que dormiam na rua. A reportagem exemplificava a coragem e a força do grupo, que conseguiu resolver todas as dificuldades e problemas no caminho de realização das metas traçadas. O grupo, com a maior dedicação e alegria, superou cada obstáculo para poder alcançar os objetivos. Eles conseguiram arrumar o lugar para alojamento, cesta básica para alimentação, material para aulas de alfabetização e professores para capacitação dos pobres. A pergunta é: por que este grupo trabalhou com tanta união e empenho, mesmo que o trabalho não representasse uma renda ou ganho material? Pode-se imaginar que a força motriz, geradora de empenho e esforço, neste caso, era oriunda da união do grupo. E esta união não poderia ser criada a não ser através de um ideal que reunisse todos os esforços. A ansiedade e vontade de realização correspondiam ao seu comprometimento com os valores que regiam as metas da associação e a necessidade de atender os conceitos nobres que fazem parte da configuração da consciência humana. O exemplo ajuda a visualizar e comparar o espírito de trabalho em grupo numa atividade como esta com ambientes de trabalho nas empresas. Na maioria das empresas não há nenhum conceito central que reúna os esforços individuais ao seu redor, sustentado pela consciência humana. Na verdade, um grupo de pessoas está aglomerado numa instituição, mas os empenhos no trabalho são isolados, mesmo que aparentemente todos trabalhem para um mesmo propósito. Cada um dos integrantes, seja proprietário, dirigente ou subordinado, se dedica aos seus interesses, e sua motivação para o trabalho é diferente da dos outros. Apesar dos magníficos sistemas administrativos das organizações que abarcam a maioria das empresas, na verdade não há nenhum conceito ou fundamento sustentável que amalgame a sua estrutura e crie firmeza, equilíbrio e estabilidade. Há, sim, certas determinações a se seguir, como por exemplo: deve-se ser competente; sem eficiência perde-se o emprego; deve-se trabalhar visando maior lucro, deve-se aumentar a produtividade; deve-se correr contra o tempo. Mas nenhuma destas regras é capaz de gerar motivação para promover conceitos como fidelidade e honestidade, que garantem firmeza na estrutura da empresa. Nestas circunstâncias, as pessoas não trabalham com a alma e o coração. Este tipo de organização apenas funciona com impulsos, gerados por aquelas pessoas que são ambiciosas, e que no fervor de suas pretensões se dedicam dia e noite ao seu trabalho. Dedicação esta que não garante a estabilidade da empresa. Pois, caso um destes homens de ferro se decline ao mau caráter, levará toda a empresa junto, à corrupção e depois à falência. As ferramentas essenciais para a proteção da integridade dos empregados e a preservação dos interesses da empresa são as virtudes e atributos humanos. A sua prática gera os pilares e vigas que erguem a verdadeira estrutura de uma empresa, e garantem a sua estabilidade, embora sejam invisíveis. Portanto, diante desta teoria, a prática apropriada das virtudes e atributos relacionados é o mais perfeito modo de capacitação dos recursos humanos, e é o melhor procedimento para evitar as forças desintegradoras. Para estabelecer uma instituição bem-sucedida, deve-se criar campanhas de relacionamento virtuoso que promovam a atuação das qualidades nobres entre todos. A prática das qualidades e virtudes, como honestidade, fidelidade, dignidade, lealdade, bondade, humildade e desprendimento atende às necessidades espirituais dos indivíduos. Estes são os pilares invisíveis que estruturam uma empresa e solidificam o seu funcionamento, sem maiores transtornos. E ainda garantem a tranqüilidade, paz e saúde para seus funcionários, incluindo os dirigentes. A prática das virtudes é essencial para o fortalecimento dos laços de entendimento entre os membros de uma instituição. Esses laços são vínculos que constroem a estrutura firme e sólida da empresa. Os laços verdadeiros de companheirismo, amizade, solidariedade, sinceridade e confiança comovem as pessoas. Sem estes não haverá força, ânimo, motivação e entusiasmo suficientes para o desempenho adequado no trabalho. Um relacionamento virtuoso, com real intenção de camaradagem entre todos os empregados, cria uma atmosfera de confiança, harmonia e respeito. Neste ambiente digno, todos terão a motivação de utilizar o máximo possível da sua capacidade, na preservação dos interesses da empresa. Para isso, as empresas devem implantar, dentro de um programa eficiente e verdadeiro, a prática de qualidades e virtudes, com o objetivo de atender às necessidades espirituais, que são de extrema importância. Ainda, devem exigir de todos que no decorrer de suas atividades não desonrem estes valores. As pessoas têm que transmitir, umas para as outras, qualidades como: honestidade, cooperação, dignidade, lealdade, confiança e respeito. Devem criar uma atmosfera de harmonia, desprendimento e humildade. Sem estes, as pessoas não terão a força, a energia, o ânimo, a motivação, a vontade e a alegria de se dedicar ao trabalho, e pouco a pouco perdem a sua concentração e atenção nos assuntos delicados. Esta é, exatamente, a situação que os empresários não querem que aconteça. Para verificar como é eficiente este método, basta ver alguns exemplos de empresas que eventualmente promovem uma campanha que estimula apenas um dos itens dentre tudo o que foi citado, e percebem um resultado surpreendente. Por exemplo, uma empresa inicia uma campanha de amizade entre colegas de trabalho. Logo percebe que através desta injeção todos se animam, e constata um aumento de motivação. Isso acontece porque a amizade é um parâmetro que atende a uma das necessidades espirituais. Porém, sabe-se que o ânimo logo passa e todos novamente voltam para o estado anterior. É obvio que isso iria acontecer, uma vez que a empresa apenas deu início a uma campanha sem sustentação. Os parâmetros das necessidades espirituais formam um conjunto e todos juntos devem ser estimulados. Uma empresa não pode promover amizade entre seus integrantes se ao mesmo tempo estimula a competição. Nesse processo, cada item depende dos demais. Portanto, o sucesso do modelo depende, em primeira instância, da abolição das regras anteriores, tais como a competição, ambição, superioridade, jogo duplo. Enfim é necessário eliminar as práticas que vão contra a natureza espiritual do homem. Só depois implantar o novo modelo em toda a sua amplitude. Além do mais, a prática destas virtudes é necessária para proporcionar um ambiente propício para o desenvolvimento das atividades cognitivas. Por exemplo, um pesquisador que está fazendo pesquisa, só pode alcançar a sua plena capacidade se os requisitos espirituais forem praticados no ambiente de seu trabalho. Isso é, durante a sua atividade precisa ter toda tranqüilidade em relação a tudo que acontece ao seu redor, sem medo de ser atropelado por outros, de ser alvo de fofoca, ou de ser demitido. Para que as pessoas trabalhem em cooperação, devem ser honestas. Para serem honestas, precisam ser verazes. Para que trabalhem numa atmosfera de harmonia, como uma equipe integrada, devem ser dignas de confiança. Para que um aceite a orientação do outro e corrija as próprias falhas, devem aprender a serem desprendidas, humildes e tolerantes. Uma vez dotados de mente sadia e espírito desenvolvido, os integrantes da força de trabalho se aproximam mais da sua plenitude e da prosperidade. Sendo assim, beneficiariam muito mais a empresa, e teriam satisfação constante com seu trabalho e sua vida. As empresas poderiam caminhar para o pleno crescimento, num processo sem doenças, sem estresse e sem perdas. Enfim, se as empresas almejam que o empregado produza e ofereça de si o máximo e o melhor, deveriam criar as condições de seu desenvolvimento pleno no ambiente de trabalho. Vale lembrar que um dos problemas mais enraizados nas organizações é a questão de corrupção, em todos os seus modos. O modelo proposto viabiliza a eliminação da corrupção, justamente devido à ação dos parâmetros da consciência. Embora o comando desta batalha seja invisível, é ela que promove os meios mais eficazes na prevenção dos mecanismos de corrupção. Livrando-se deste mal que corrói os pilares das empresas e as enfraquece financeiramente, pode-se dizer que uma nova era se inicia na sociedade, onde todos podem se beneficiar, tanto os empresários como os seus empregados. Autora: Felora Daliri Sherafat (2000) Este artigo faz parte da pesquisa e dissertação da autora, registrada na biblioteca virtual da UFSC em ano 2000. Trabalho e o Reencontro de Interesses, Felora Daliri Sherafat, Editora NAVVÁ, Rio de Janeiro, 2006