Norteados, mediante uma ciência pós-revolucionária, (sócio-histórica) a qual indubitavelmente abarca ou engloba muitas das mesmas manipulações, realizadas com os mesmos instrumentos e, descritas nos mesmos termos, empregados por sua predecessora pré-revolucionária (lógico-metodológica), a comunidade científica, nesse bojo, passa a ver o mundo com outros olhos. A guinada de concepção, acerca de retrógradas ideias ou considerações cientificas, as quais não explicam satisfatoriamente o fenômeno por si só, destarte, propiciam alterações e avanços no campo da pesquisa.
O entendimento dogmático e doutrinário é estático, estagnado, inerte, o qual, não produz exacerbadas vicissitudes, apenas infere ou induz um comportamento humano maquínico, padronizado, robotizado, perante a morte do conhecimento, oriundo da sua (des)mensurável especialização e circunscrição de campo operacional.
A ciência, neste contexto, não seria uma mera aglutinação de conhecimento cumulativo e contínuo, mas justamente, os espaços-tempo, no qual o alicerce do pensamento se recombina, independentemente do positivismo científico. Ademais, os fatores fenótipos e genótipos do cientista influenciam mais na constituição de seu modelo intelectual do que os ranços apregoados pela norma conduta.
Imerso, nessa amálgama de períodos de transição ou transmigração da ciência formal, o cientista, por seu turno, possui sua organização perceptual alterada e concatenada, as novas asserções do mundo científico. Cognato nessa atarantação, da mesma forma, está, intrinsecamente, compelido e submisso com as transformações do meio ambiente.
As épocas de revolução compreendem estágios de adaptação sensorial (paradigma pré-revolução e paradigma pós-revolução, onde). O indivíduo deve reeducar-se, revendo seus conceitos, valores, e a forma como percebe o mundo, aceitando ou negando essa nova visão oferecida por um novo paradigma, o qual, quase sempre, acarreta conseqüências em todos os âmbitos da existência humana. As explicações paradigmáticas, atinentes as descobertas no campo científico fomentam uma ruptura com a visão de mundo vigente anterior, afetando outrossim, as categorias perceptivas. Ademais, o paradigma, neste imbróglio, pode ser entendido com a raiz disciplinar de uma comunidade científica, ou como um pressuposto de realizações científicas.
As mudanças de paradigmas estão atreladas à época histórica, assim como, as condições tecnológicas e o uso dos instrumentos feito pelos cientistas. As descobertas feitas por Copérnico, Galilei, Kepler, Newton, estavam condicionadas a evolução tecnológica ou dos instrumentos de observações científicas, circunscritas pelo momento histórico. Os períodos de transição de um paradigma para outro, compreendem a própria categoria da espécie humana em tentar cada vez mais, responder detalhadamente as questões concernentes à existência humana, formuladas desde os filósofos da natureza ou “pré-socráticos”.
O entendimento do mundo entre os vários períodos da evolução da humanidade encontra-se agregado à percepção de um determinado experimentador, isto é, saber como esse pesquisador reconhece um fenômeno observado (natural) ou provocado (laboral). Um mesmo fenômeno como assevera Van den Berg deve ser contextualizado tendo em consideração limites da linguagem, do mundo da cultura, dos valores, do espaço e do tempo. Van den Berg nega a universalização dos fenômenos inerentes ao ser humano; sempre consciente de seus limites, ou seja, seu ponto de partida é sempre antropológico, finito, passível de erro e de mudança. Neste contínuo, um fenômeno pode manifestar-se durante miríades de anos e nunca ter sido passível de observações estruturadas, sistemáticas e transformadas em um enunciado teórico. Cada ser humano pode ver e perceber, aquilo que sua organização perceptiva lhe permitir, sendo que esta se apresenta condicionada por elementos naturais, culturais, sociais, históricos, propiciando as discrepâncias de percepção dentre os indivíduos, no que tange a um mesmo fenômeno.
No que concerne à revolução científica, esta, não é meramente reducionista e reduzida a uma (re) interpretação de dados inertes e segregados de sua totalidade. Os dados não são estáveis ou individuais, as interpretações induzem a um novo paradigma que está submerso em uma ciência normal.
Os cientistas inicialmente, não dissociam o todo gradual, das partes separadas em diversas categorias. O cientista está estabelecendo distinções úteis para todo o mundo, formulando questões e aparatos para tentar responder as próprias indagações. Assim os paradigmas determinam ao mesmo tempo grandes áreas da experiência, que não fazem sentidos, quando percebidas sob um único prisma isolado.
Como descreve David Ausubel inerente aos conceitos subçunsores, o cientista terá que construir seus conhecimentos dos elementos externos e correlacioná-los a signos que arraigados no seu âmago, fazem sentido para suas experiências.
A aceitação de um paradigma embasado em novas evidências que elucidam a penumbra que pairava sobre as dúvidas existentes, invariavelmente conduz o cientista a labutar em um novo mundo, norteado por novas concepções decorrentes de uma revolução. Transcender a visão de um princípio formal e buscar paradigmas, que possibilitem uma explicação mais abalizada e complexa do fenômeno observável ou interpretável é um árduo labor a ser feito
É mister iterar os aspectos internos dos cientistas e tentar compreender que os caracteres subjetivos e elementos inconscientes exercem considerável influência no desenrolar de uma nova pesquisa, ou o fato de um determinado postulado teórico, poder possuir intrinsecamente resquícios psíquicos de frustrações, angústias, sofrimentos, dores, o que compreende sentimentos humanos, os quais, alimentam a existência do homem, possuem força para determinar a personalidade do indivíduo para a produção ou destruição.
Os valores consuetudinários do pesquisador, sua visão particular de mundo, seu entendimento acerca do homem, constituem, partículas que se aglutinarão, possibilitando a gênese de seus construtos cognitivos que circunda toda a sua produção intelectual.
Nesta conjuntura, podemos asseverar que o homem não é um ser imóvel. O hommo sapiens é produto e produtor de sua historicidade, estando atrelada à sociedade, cultura, instituições e todos os aparatos que compõem o seu existir, enquanto animal racional.
A ciência na modernidade está em constante evolução, não devendo ser percebida como algo isolado ou inerte. Suas expressões refletem em todos os campos do existir humano. A própria percepção de homem e o sentido de sua existência, estão concatenados as revoluções e mudanças de concepções propagadas pelas transformações científicas.



KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas Edição 5.ed. São Paulo: Perspectiva, 1998.