Em três séculos de colônia, sem dúvida aquele seria o acontecimento mais empolgante e inesperado: o rei, em pessoa, acompanhado da família real, chegaria ao Brasil. E não para um passeio, mas de mudança, sem data marcada para o retorno. Era a primeira vez que um rei europeu pisava na América.

O  Rio de Janeiro preparou uma fabulosa festa, digna dos carnavais que a tornaria famosa mais tarde, para recepcionar Dom João, que desembarcou acompanhado de sua mulher, Carlota Joaquina, e de suas filhas, Maria Francisca e Isabel Maria.

No entanto, as senhoras da alta sociedade colonial, que se apinhavam para assistir à cerimônia, estranharam que Carlota, as filhas princesas e as outras damas da corte estivessem com a cabeça raspada, ou com o cabelo bem curto, e usassem turbante. Mas logo deduziram que aquela deveria ser a última moda nas cortes europeias.

Não demorou mais que dois ou três dias para que as madames começassem a passear pelas ruas da cidade com a cabeça raspada e envolta em um turbante, apesar do clima escaldante do Rio de Janeiro. Mal desconfiavam elas que havia um segredo por detrás daquela estranha moda.

Este fato banal, relatado por Laurentino Gomes, no livro “1808” (Editora Planeta do Brasil, 2007), é representativo de um traço do comportamento brasileiro: a de copiar qualquer coisa que pareça novidade, desde que provinda dos países considerados mais adiantados. Pode ser um sistema político, um modelo organizacional, uma teoria ou a prosaica moda de tosar o cabelo e usar turbante.

Raymundo Faoro, em sua obra “Os donos do poder” (Editora Globo, 1989) já destacava que os detentores do poder na sociedade local sempre valorizaram os modos de vida dos países tidos como referência em cada época (Portugal, Grã-Bretanha, França), como forma de articulação com o mundo desenvolvido. E o Estado brasileiro historicamente, desde a sua formação, tem implantado modelos estrangeiros, quase sempre sem muita preocupação em adaptá-los às particularidades locais.

Também no campo da administração não é difícil encontrar executivos que, ávidos por novidades e pressionados pela necessidade de resultados imediatos, estão sempre dispostos a implantar, sem muita reflexão, novos modelos e teorias, principalmente se vierem dos EUA e forem recomendados por algum desses gurus que lotam as salas de conferências.

Mas é uma ilusão acreditar em soluções generalizáveis. Não há modelos, programas ou tecnologias que possam ser copiados com a garantia de que sempre serão alcançados os resultados esperados. Ocorre que há muitas variáveis que interferem na implementação de novos conceitos, e a cultura organizacional talvez seja a principal delas.

É claro que isso não significa que devemos ignorar as experiências e inovações que vêm de fora e adotar uma mentalidade de auto-suficiência ou de isolamento. É importante que as organizações comparem seu desempenho com o das organizações líderes, imitando seus processos, produtos e serviços. A isso chamamos de benchmarking, que, para muitas situações, é uma excelente técnica de gestão. O essencial, contudo, seja com relação a uma estratégia de benchmarking ou com relação a um modismo, é que haja discernimento, inteligência e espírito crítico para se fazer a adaptação necessária às peculiaridades locais.

Ah, sim. Falta explicar o segredo daquela excêntrica moda das mulheres da família real portuguesa na chegada ao Brasil. Na verdade, as cabeças raspadas eram o resultado de uma infestação de piolhos durante a viagem marítima e os turbantes apenas uma solução emergencial para tentar disfarçar o deplorável visual.