Altina Costa Magalhães

Durante muito tempo os livros impressos foram o mais importante meio de difusão do conhecimento vivenciado pela humanidade. A alfabetização iniciava-se com a oralidade, depois a escrita. Hoje os livros passaram a ser distribuídos também no formato eletrônico. A cultura digital propõe uma nova estratégia de alfabetização, que acontece a partir do manuseio das teclas do computador que são apresentadas à criança e ela desde muito cedo vai tendo contatos com variados textos escritos, jogos, fotos, músicas, slides, filmes, vídeos, desenhos, animações e outras ferramentas que dão a ela a possibilidade de multileituras ao mesmo tempo, isto faz com que a criança interaja e conquiste autonomia no seu processo de alfabetização. Antes, através dos impressos o aspecto físico e visual dos livros era estável e controlado de modo exclusivo pelo autor. Já atualmente o livro eletrônico é fluido, dinâmico o que facilita o surgimento de outros estilos de escrita e de leitura que exigem utilização de novas formas ou estratégias didáticas para o desenvolvimento do processo de letramento.
A cultura digital leva os processos educacionais a sofrerem uma profunda transformação especialmente na fase de alfabetização e no processo de letramento que se inicia cada vez mais cedo. A sala de aula é transformada em um espaço colaborativo de aprendizagem. A postura do professor deverá possibilitar aos aprendizes desenvolver diversas competências através de atitudes compartilhadas, coletivas e sociais. Nestes moldes a escola não deve utilizar o computador como uma ferramenta, mas como um agente transformador do processo educacional como um todo. Vale ressaltar que o computador por si só, não possui uma característica interativa, transformadora. O modo como a escola utiliza o computador, a internet e outras tecnologias é que poderá estimular nos alunos a criatividade, a transmissão de informações, novas formas de sociabilidade e o desenvolvimento das habilidades cognitivas. O sucesso ou o perigo não está no aparato tecnológico, mas no uso que dele se faz.
O momento que ora a sociedade vive está sendo marcada pelo advento de práticas de leitura e escrita digitais. Isto certamente conduz professores, alunos e a escola a um estado ou condição diferentes daquelas praticadas no letramento da cultura impressa no papel. Agora surge um novo espaço de leitura e escrita - a tela do computador - este novo contexto, esta nova cultura leva o educando não apenas a ser alfabetizado, mas sim, a ser letrado. A tecnologia trouxe consigo uma nova forma de educar, onde pode se aplicar ferramentas que transcendem à escrita pura e simples tal como se estava acostumado. Esta nova cultura educacional facilita a produção de textos para um entendimento que pode ser produzido e partilhado simultaneamente e coletivamente. É uma nova forma de escrita, e de comunicação da sociedade da informação. No campo da educação, a estrutura do hipertexto facilita a mediação para a produção do conhecimento e implica novas formas de ler, escrever, pensar, e aprender. A hipertextualidade esta relacionada com as formas de produzir e organizar o conhecimento, no espaço virtual, substituindo sistemas conceituais fundados já existentes por ferramentas modernas: sites, nós, links e redes. A escola precisa lidar com esta situação de forma a promover a inserção do aluno nesta nova era, chamada de cibercultura.

O hipertexto é um meio de comunicação online estruturado em rede composta de nós que são cada unidade de informação e ligação tais como: palavras, páginas, imagens ou parte de imagens que oferecem ao "navegador" diferentes trajetos de leitura. O pesquisador de hipertextos deverá ter mais conhecimentos partilhados, mais atenção, e decisão constante para que a pesquisa seja produtiva e ele construa nestas páginas virtuais, sua trajetória de leitor saindo do tradicional sistema de leitura imposta pela cultura do papel impresso, possibilitando sua projeção em outra realidade interconectando-se no ciberespaço, experimentando nova forma de ler e de manipular objetivamente os elementos que integram um texto virtual.
Cada site é um hipertexto criado parcialmente pelo autor que o organiza e parcialmente pelos leitores que tecem novos caminhos de acordo com sua preferência. Isto distancia o educando/leitor/pesquisador da linearidade da página, mas ao mesmo tempo possibilita visualizar, ler, interpretar, interagir com imagens, sons, movimentos. O hipertexto não é linear, não obedece a uma forma, a uma hierarquia interna. É subversivo com relação à postura física do leitor, com relação ao monologismo e na relação entre o leitor e autor. Possui volatibilidade devida à própria natureza virtual do suporte. Não possui margens nem fronteiras por isto é topográfico. A absorção de palavras, efeitos sonoros, ícones, tabelas tridimensionais, diagramas pode ser viabilizada em uma mesma superfície textual, por isto é multisemiótico. Promove acessibilidade em todo tipo de fonte: dicionário, enciclopédia, museu, obras científicas e literárias.
A hipertextualidade permite o hipernavegador determinar as direções da leitura a partir de seus interesses e necessidades. A internet favorece a escrita hipertextual com imagens, sons, movimentos e maior facilidade em acessar bancos de informação em formato virtual diferente do papel, pois é um espaço de publicação em formato hipertextual e hipermidial, que está mudando a relação do indivíduo leitor com a leitura e a escrita, porque estas não acontecem no espaço virtual de forma sequencial, linear, mas sim de forma plurilinear com uma multiplicidade de possibilidades de produção do conhecimento, a fim de tornar o leitor um cidadão letrado digital. Estas mudanças na aquisição da leitura e da escrita através da web não eliminam a idéia de autoria, pois no hipertexto os leitores se tornam independentes podendo criar e recriar tornando-se juntamente autor e co-autor.
O professor deve se preparar para adquirir autonomia no tocante à utilização das tecnologias na sala de aula, pois o discurso corrente é que as crianças, os adolescentes e os jovens têm mais intimidade com todas estas novidades tecnológicas do que os professores e isto muda as relações de poder no ambiente escolar, o que pode dificultar um pouco a situação do professor. Neste contexto o professor deve fazer parceria com seus alunos e assim construir relações totalmente novas onde educando e educador tornam-se aprendizes.
Acredita-se que as dificuldades que os leitores/cibernautas encontram na leitura apoiada por suportes virtuais são o excesso de informações e recursos disponíveis na rede mundial de computadores o que pode desviar a atenção dos alunos ou leitores e confundí-los, inclusive com relação à qualidade das obras disponibilizadas na web, entretanto um trabalho sério, responsável por parte da escola, e do professor pode amenizar estas dificuldades, uma vez que é possível proporcionar a organização de trilhas a serem seguidas a partir da indicação de sites, elos hipertextuais a fim de que o aluno acesse os links e descubra novas janelas que vão lhe ajudar na construção de determinada atividade. Sabe-se que para o sucesso deste processo é necessário que educando e educador leiam, analisem e reflitam sobre o que realmente é mais interessante para o desenvolvimento da atividade a que eles se propõem construir e os objetivos que desejam alcançar.
Por todos os benefícios, ferramentas, pluralidade de possibilidades de leitura e escrita pode-se afirmar que as TICs não ameaçam o processo de letramento, e sim, são possibilidades dentre tantas outras de transformar seres humanos em leitores críticos, participativos enfim cidadãos conscientes de seu papel na sociedade. O computador, a internet e o hipertexto devem ser vistos como um desafio ao processo de letramento, como elementos potencializadores do ato de ler e escrever e não como uma ameaça, também não devem ser impostos de uma hora para outra, tornando-se o foco do ensino, As tecnologias devem sim ser inseridos na escola, mas de forma gradativa a fim de não causar desconfortos, pois são recursos ainda não acessíveis à maioria da população.

REFERÊNCIAS
Etimologia do hipertexto. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hipertexto Acessado em: 08 de setembro de 2010
LER E ESCREVER NA CULTURA DIGITAL Andrea Cecília Ramal . Disponível em:
http://www.revistaconecta.com/destaque/edicao04.htm Acessado em 08 de setembro de 2010.
Hipertexto: Outra Dimensão para o Texto, Outro Olhar para a Educação
DIAS, Maria Helena Pereira ? PUCCAMP. Disponível em: http://www.anped.org.br/reunioes/27/gt16/t168.pdf. Acessado em 09 de setembro de 2010
LEITURA, COMUNICAÇÃO E HIPERTEXTO
Karl Elliot Rezende1. Disponível em: http://www.fals.com.br/revela6/leitura.pdf. Acessado em 09 de setembro de 2010
O hipertexto como um novo espaço de escrita em sala de aula
Luiz Antônio Marcuschi. Disponível em: http://www4.pucsp.br/~fontes/ln2sem2006/f_marcuschi.pdf Acessado em 10 de setembro de 2010