UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIDADE ACADÊMICA DE GARANHUNS
CURSO DE PEDAGOGIA









ELÁINE MELO DOS SANTOS
KARLA GISELY MACIEL GUEDES
MARIA APARECIDA VIEIRA DE MELO











A ESCRITA SURDA






















GARANUNS-PE
2010

ELÁINE MELO DOS SANTOS
KARLA GISELY MACIEL GUEDES
MARIA APARECIDA VIEIRIA DE MELO












A ESCRITA SURDA






























GARANHUNS-PE
2010

A Escrita Dos Surdos

A escrita, depois da fala é o primeiro meio de comunicação que se aprende. E para quem não fala como os surdos? Em uma época de inclusão social onde a maioria das pessoas não conhece a Língua de Sinais (LIBRAS ? Língua Brasileira de Sinais) que é a língua oficial do surdo, a escrita se torna um importante instrumento de comunicação entre surdos e ouvintes. Mas, como ocorre a aquisição da Língua Majoritária (Língua Portuguesa)? Através de associações entre figuras e seus signos lingüísticos (em Língua de Sinais) e posteriormente é feita a associação dos mesmos com a representação escrita do signo lingüístico.
A escrita de surdos tem um diferencial, pois a produção das pessoas privadas da audição e usuárias da Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) pode-se ser comparada com a escrita de estrangeiros, ou seja, de falantes de outra língua.
Na sintática os alunos apresentam dificuldades na estruturação da sentença, geralmente eles entendem o que os outros escrevem, porém não conseguem formular orações adequadas, devido às dificuldades morfológicas e sintáticas, como: concordância verbal e nominal. Difícil é o emprego dos tempos verbais no perfeito e no imperfeito, do subjuntivo; das preposições e dos pronomes oblíquos.
Com a educação bilíngüe e o reconhecimento da língua de sinais como primeira língua dos surdos. As diretrizes do MEC (2002) indicam que o ensino de português para surdos deva assumir metodologias de segunda língua. Uma compreensão limitada a respeito da linguagem e de sua importância em relação ao processo avaliativo do surdo é também daqueles que ouvem. Assim tanto professores como alunos requerem uma formação diferenciada para lhe dá com as especificidades de tais limitações.
Considerando a hipótese de que a língua de sinais é a língua natural dos surdos, se o surdo for usuário da língua de sinais, a Libras assumirá um caráter mediador e de apoio na aprendizagem do português, uma vez que, para o surdo, aprender a escrever, é também aprender, uma segunda língua. Assim sendo, a língua de sinais pode interferir na escrita do sujeito surdo, quanto ao uso de conectivos, preposições, tempos verbais, concordância nominal e verbal, etc, mas não na sua estrutura textual, pois como observa Koch (1997:20), "na atividade de produção textual, social/individual, alteridade/subjetividade, cognitivo/ discursivo coexistem e condicionam-se mutuamente, sendo responsáveis, em seu conjunto, pela ação dos sujeitos empenhados nos jogos de atuação comunicativa ou sócio-interativa". Desse modo percebemos que o desenvolvimento do sujeito surdo é amparado pela sua característica lingüística.
Então em uma pesquisa para analise do texto de um surdo, pedimos para dissertar sobre "o que você entende sobre futebol". O rapaz Erikson disse: "nós importante e jogo surdos e gosta muito e especial esporte pernambucano união igual mesmo ouve também surdos gosta muito. Comunicado surdos". O moço Felipe disse: "você já apreendido marido? Foi muito difícil, mas enganar você. Motivo dinheiro ou bêbado? Eu já sei claro que sim, eu também graças a Deus, eu fiquei a vontade de ajudar você, eu não brincar nada, falou serio, você é linda sim". Com esta escrita percebemos justamente que não se tem os elementos coesivos que são necessários no português.
A linguagem sem escrita própria é passageira, menos precisa, depende do momento, do lugar, de quem comunica e da memória. A escrita é a representação de um sistema primário que é, em geral, a fala. As pessoas ouvintes têm facilidade de aprender porque copiam os fonemas. As pessoas surdas que se comunicam por sinais também precisam representar pela escrita a fala própria delas que é viso-espacial. Quando as pessoas conseguem aprender uma escrita que é representação de sua língua natural amadurecem e melhoram todo o seu desenvolvimento cognitivo.
O sentido da escrita é posto "no prazer de compreender" e de "poder falar sobre" acontecimentos singulares que afetam direta ou indiretamente a vida da pessoa, levando a um movimento constante de articulação entre passagens do texto escrito e de outros discursos (orais ou sinalizados). A escrita precisa ser uma atividade significativa para a criança isso acontece quando as pessoas podem escrever baseadas em sua compreensão da língua de sinais, não necessitando da intermediação da língua oral. O que ocorre também, no ambiente de uma classe de surdos, onde o professor e os colegas se comunicam em língua de sinais, elas efetivamente tentam escrever os sinais quando estimuladas a isso. Então considero que a surdez seja uma diferença, mas que não posa ser excludente do individuo. Assim corrobora "Aquele que aprende a enunciação de outrem não é um ser mudo, privado da palavra, mas ao contrário, um ser cheio de palavras interiores. Toda a sua atividade mental [...] é mediatizada para ele pelo discurso interior e é por aí que se opera a junção com o discurso aprendido do exterior. A palavra vai à palavra." Mikhail Bakhtin 1992
Quando se pensa em escrita, duas perspectivas, dentre várias, interessamnos mais particularmente: aquela que se preocupa com a escrita dentro de um processo sociológico mais amplo e aquela que se preocupa com a escrita sob o ponto de vista do ensino. Em nossa perspectiva, separar esses dois aspectos é encarar a escritura. É nesses dois aspectos que se pode diferenciar, segundo proposta de Kleiman (1995: 16 21), letramento e alfabetização. Esta seria uma das práticas de letramento, de maneira geral de responsabilidade da escola. Aquele tem um sentido mais amplo e se presentifica em diferentes ambientes ? a família, o clube, a igreja e, inclusive, a escola. Quando falamos da união desses dois aspectos, queremos dizer que já não se pode mais "introduzir formalmente sujeitos no mundo da escrita" sem que esse processo esteja mergulhado em uma reflexão sobre o seu impacto social. Assim é que em nosso trabalho queremos assumir tal união.

Referencia

BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da Linguagem. 6. ed. São Paulo: Hucitec 1992. Brasil, Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Lei 9394 de 20 de dezembro de 1996, cap. V.

KOCH, I. G. V. Argumentação e Linguagem. São Paulo: Cortez, 1984. A coesão Textual. São Paulo: Contexto, 1989.