A ESCOLA NA CONCEPÇÃO DAS CRIANÇAS
Autora: Silvana dos Santos Dias
Co-autora: Lizandra Moreira da Silva


Resumo: Este texto trás reflexões a cerca da concepção que as crianças possuem sobre o ambiente escolar, bem como vêem as relações que estabelecem juntamente com os professores e colegas.
Palavras chaves: criança, professor, infância e escola.

Introdução

O respectivo texto abordará a concepção das crianças acerca da escola, mostrando a visão das mesmas sobre a instituição de ensino na qual estão inseridas. Constarão dados coletados através de uma pesquisa realizada em uma escola municipal pertencente a um bairro de classe baixa no município de Santo Antônio da Patrulha, onde foi desenvolvida uma conversa com crianças com faixa etária de 10 a 12 anos, estudantes da 4ª série do Ensino Fundamental.
As concepções das crianças mostradas neste texto serão analisadas e fundamentadas segundo as reflexões de autores desta área, estabelecendo assim, relações entre os conceitos pesquisados e ampliados com as leituras realizadas na Disciplina de Tópicos Específicos dos Anos iniciais do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Rio Grande.

A ESCOLA NA CONCEPÇÃO DAS CRIANÇAS

Proporcionar momentos em que o aluno possa falar sobre suas concepções referentes à escola, este que é entendido como sujeito da aprendizagem, foi o objetivo do estudo que realizamos, o qual nos apresentou como um desafio. Um desafio, pois para nós foi uma pesquisa inédita, nos causando certos receios, os quais nos acompanhou nos momentos das entrevistas com as crianças e as conversas sobre o seu olhar da escola. Pensamos que o aluno, enquanto sujeito, deve ser um participante ativo das situações que vivencia na escola. Assim, nessa pesquisa propusemo-nos a ouvir o relato da própria criança e as suas percepções sobre a escola.
A referida pesquisa foi desenvolvida numa escola municipal de Ensino Fundamental, a qual está localizada num dos bairros de classe baixa da cidade de Santo Antônio da Patrulha, sendo os dados coletados das crianças da 4ª série dessa escola do turno da tarde.
Os dados coletados partiram de uma conversa com as crianças, a qual foi realizada após o término da aula, enquanto os funcionários faziam a limpeza da mesma. Tivemos o espaço externo da escola livre para que as crianças nos mostrassem seus lugares preferidos do pátio da escola. Enquanto olhávamos o pátio da escola fomos conversando com as crianças sobre o que achavam sobre a escola, onde uma delas nos disse "O que tu que sabe da nossa escola?", com jeito de desconfiada sobre os motivos que nos levaram a ouvir sua opinião a respeito da "sua" escola.
Percebemos a necessidade de relatar sobre o que nos trás as autoras Gonçalves, Leite, Bastos, Silva, Trindade, Pereira e Silveira (2009), as quais se referenciam nos autores Delgado (2005), Faria (2005), Müller (2005) e Sarmento (2007) estes

"defendem a importância de ouvir as crianças, a necessidade de perceber quais são seus anseios, suas necessidade, suas dúvidas. Porém, este trabalho só pode ser efetuado no momento em que nós adultos oportunizarmos a abertura para a escuta das crianças. Assim, para Geertz (2001, p. 91) "é necessário que deixemos de lado nossa concepção e busquemos ver as experiÊncias de outros com relação à sua própria concepção do eu". Ao possibilitarmos a exposição das suas vozes, percebemos que elas incorporam, interpretam e (re)constroem continuadamente, informações culturais." (p. 3)

Com a fala da criança mostra a sua surpresa e desconfiança sobre a nossa pergunta, pois muitas vezes a criança não está acostumada a ser ouvida como um sujeito cultural. Como nos trás as autoras podemos confirmar sobre a importância de dar voz as concepções das crianças não apenas pelos seus relatos, mas pensamos também que desta forma a criança terá mais abertura na sociedade e na instituição de ensino em que está inserida.
Quando a criança nos pergunta sobre o que queremos saber da sua escola, percebemos que tem um estranhamento sobre nós, por talvez não pertencermos a sua instituição de ensino, mas por outro lado também com certa curiosidade em saber o porquê de nós querermos conversar com ela sobre a escola.
Seguimos nossa conversa explicando os motivos de estarmos realizando aquelas perguntas. Após a explicação percebemos que as crianças nós proporcionaram maior abertura no diálogo que estávamos realizando. Aproveitamos e continuamos com nossas indagações perguntando: Como vocês vêem a escola? Surgi um momento de silêncio, onde as crianças trocam olhares, até que a primeira diz: "É um lugar para aprende, estudar." O menino interfere dizendo: "Fazer prova, jogar bola."
No decorrer dessa conversa com as crianças e após suas colocações vimos necessidade de interferir e questionarmos sobre suas visões sobre a escola, perguntando, se sua visão sobre a escola, a qual disse que é um lugar de aprender, seria realmente o que pensa ou está repetindo o que escuta de seus pais. Logo vem a resposta do menino: "Eu acredito que é sim um lugar para aprender, pois não quero ser como meus pais que não terminaram seus estudos." Uma das meninas complementa dizendo: "Eu quero ser alguém na vida".
Nesse momento nos possibilitou refletir sobre o que nos trás as autoras acima citadas, quando dizem

"Escutar as crianças de forma sensível e acurada fez-nos perceber o quão ricas são suas expressões e manifestações culturais.
Ao centrarmos nossa atenção ao que "elas têm a dizer", estamos valorizando seus modos de ser e estar no mundo, bem como suas formas de produzir culturas, entendendo-as como atores sociais, crianças protagonistas de sua própria história." (p. 10)

Prosseguimos com as perguntas para as crianças indagando sobre o que gostam e do que não gostam na escola. Obtemos as respostas citadas abaixo:

"Eu gosto de estudar", "Jogar bola", "Gosto das atividades da professora, quando essas têm música", "Há sei lá, de ler, escrever, gosto de tudo", "Eu também gosto de estudar e também conversar com as gurias", "Não gosto de fazer prova" o menino afirma novamente "Eu gosto de prova", "não gosta de alguns colegas" outra menina complementa "eu também, eles fazem brincadeiras chatas". (relato das crianças durante a conversa, 04/12/2009)

Podemos perceber em uma das falas das crianças que à chamou a atenção as atividades da professora, trazemos a fala de Andrade (2008, p. 4)

"Nossa hipótese profere que, provavelmente, possamos praticar uma forma diferente de possibilitar as interações professor aluno conhecimento aluno professor conhecimento se nos dispusermos, como professores, a tentar ouvir o eco discente. "(...) Interessante pensar no eco! O eco, resultado da voz humana, da nossa ação política, exige espaços específicos para ecoar. Ecoar não como mera repetição, mas como espaço de propagação e recriação (FASANO e GARCIA)."

A partir dessa colocação entendemos sobre a importância de ouvir as crianças em sala de aula, onde o docente abre espaço para que os alunos possam dizer se estão ou não gostando de sua prática docente. Pois as atividades propostas estão voltadas aos alunos, então porque não ouvi-los?
Outro fator marcante que nos trás as falas das crianças é sobre as contribuições do lúdico nas aprendizagens e desenvolvimento dos alunos, isso nos relata Gonçalves a qual baseada por Vygostsky apud Oliveira (1993, p. 114):

"[...] o atributo essencial do brinquedo é que uma regra torna-se um desejo. [...] O brinquedo cria na criança uma nova forma de desejos. Ensina-se a desejar, relacionando seus desejos a um "eu" fictício ao seu papel no jogo e suas regras. Dessa maneira, as maiores aquisições de uma criança estão conseguidas num brinquedo, aquisições que no futuro torna-se-ão seu nível básico de ação e moralidade."(P. 15)


Durante a conversa perguntamos sobre os espaços dentro da escola que eles preferem, obtemos as repostas de uma das meninas dizendo que: "A quadra de vôlei", nesse momento com euforia o menino exclama: "Quadra de Futebol". Outra menina nos diz que: "Eu gosto da sala, é um pouco pequena, mas tem os nossos desenhos nas paredes".
Prosseguimos perguntando sobre do que eles sentem saudade na escola, causando novamente silêncio e troca de olhares, sem respostas, então voltamos a perguntar se eles tinham ou não saudade de algo na escola, logo a menina diz que "agora não tenho saudade, mas ano que vem vou ter da professora, pois nem na escola ela vai trabalhar mais." Os outros todos concordam com sua colocação, surgindo um motivo para a pergunta que fizemos logo a seguir.
Perguntamos para eles então, sobre a professora, se eles gostavam da professora, tendo unanimidade nas respostas onde todos disseram que gostavam dela. Perguntamos o porquê de eles gostarem dela, o que ela fazia para que eles tivessem esse sentimento, então nos veio a resposta: "Ela sabe explicar os conteúdos, não grita na sala,..." a outra interrompe "só grita quando a gente faz bagunça" "Ta mais assim tem motivo", o menino diz que: "Ela cria atividades diferentes, gosto muito quando ela trás música" a outra menina também fala: "eu também gosto das aulas com música".
Nossa última pergunta foi saber se elas teriam uma escola dos sonhos, sendo que as meninas disseram a mesma coisa: "o Colégio Santa Teresinha, pois a minha mãe diz que lá o ensino é mais forte, pena que é caro", "lá eles ensinam inglês, espanhol, teatro, dança, tem quadra coberta, eu sei por que a menina que a minha mãe cuida estuda lá, ela já me contou". O menino nos disse que: "Queria que fosse a escola Padre Rois, pois lá tem meus primos e meus amigos que estudam lá."

Considerações Finais

Apesar dos medos e desafios enfrentados para a realização deste trabalho, percebemos sobre a importância de dar voz as concepções das crianças, pois elas tem muito a dizer sobre o ensino e a instituição, de um ponto de vista crítico, com suas próprias opiniões.
Tomamos as palavras de Gonçalves, Leite, Bastos, Silva, Trindade, Pereira e Silveira (2009), as quais falam exatamente o que queremos expressar:

"[...] permitimo-nos transitar pelo desconhecido, explorar outros territórios e outras perspectivas teóricas. Nossa pesquisa não encerra a discussão, mas sim serve como mola propulsora para novas investigações e interlocuções no campo das infâncias e das culturas infantis, ensejando com isso que as crianças possam exercer seus direitos de voz, podendo participar mais ativamente nos espaços onde circula." (P. 17)


Compreendemos com esta pesquisa que as crianças são sujeitos que compreendem da sua maneira o meio no qual estão inseridos, com visão crítica e criativa, sendo conscientes de suas situações e condições. Escutando como as crianças sentem e pensam sobre a escola e sobre a metodologia, percebemos que, quando são atendidas, podem sentir-se capazes, aptas, para aprender e participar como sujeitos transformadores da realidade.

REFERENCIAS

ANDRADE, Elenise Cristina Pires de. MOREIRA, Valeria Cristina da Silva Sousa. Texto: Professor, aluno, conhecimento, currículo a partir da pedra no pântano. Disponível em http://www.uab.furg.br//file.php/189/Elenise_Cristina_Pires_de_Andrade_e_Valeria_Cristina_da_Silva_Sousa_Moreira.pdf Acesso em 04 de dezembro de 2009.

GONÇALVES, Ana do Carmo Goulart, LEITE, Eliane da Silveira Meirelles, BASTOS, Lilian Francieli Morais, SILVA, Marcia Alonso Piva. PEREIRA, Rachel Freitas, TRINDADE, Patricia Freitas, SILVEIRA, Vanessa da Silva. Texto: Manifestações e expressões culturais das crianças na escola contemporânea: uma escuta sensível. Disponível em http://www.uab.furg.br//mod/resource/view.php?id=8608. Acesso em 04 de dezembro de 2009.

GONÇALVES, Ana do Carmo Goularte. Texto: Saberes e fazeres docentes no cotidiano dos anos iniciais: narrativas de uma professora. Disponível em http://www.uab.furg.br//mod/resource/view.php?inpopup=true&id=8595 Acesso em 04 de dezembro de 2009.