Ulisses Macêdo Júnior

Educandário Divino Mestre

Conceição do Coité-BA

Resumo:

O presente artigo tem como objetivo maior a análise de algumas questões concernentesàs dinâmicas mudanças ocorridas em sociedade e a lentidão com que a instituição escola tem percebido os seus sistemas de ensino e de aprendizagem. Sob a luz dos teóricos Philippe Perrenoud, Bernard Chalot, observaremos os processos tradicionais, obsoletos, de edificação de conhecimento, e, sobretudo, a distância e os vazios deixados entre o saber sistemático escolar e a realidade concreta do dia-a-dia dos educandos.

Palavra - chave: Construção, conhecimento, aprendizagem, mudanças, relações humanas.

Na atual conjuntura de mundo, com a intensificação do processo de globalização, os contatos estabelecidos, entre os seres humanos e o meio que os rodeiam, apresentam e direcionam para uma nova visão de sociedade, calcada numa construção e (re)construção incessante de pensamentos, de compreensão dos saberes, das relações humanas e de todo ambiente influenciado diretamente ou indiretamente por essas transformações.

O mundo apresenta e aponta para um paradigma de conexões, comportamentos e vieses que exigem, cada vez mais, pessoas capazes de atuar, de construir, e, principalmente, de repensar as suas estruturas dominantes, de poder e de diretivas por onde trilhará a humanidade. Logicamente que pensando nisso por meio de uma matriz generalizante, pois o fosso gerado através das desigualdades sociais não deixará tais diretrizes atingirem a sua plenitude, ou melhor dizendo, com igual intensidade a todos em todos os lugares.

No entanto, relevante se faz, mesmo que este não seja o objetivo primordial, perceber e refletir sobre o atual quadro de mudanças constantes com o dinamismo do processo de globalização.

A educação, acredito ser, um dos fundamentais mecanismos, se não o principal, para vislumbrar um modelo de sociedade que seja voltada aos interesses de uma maioria, com respeito às diferenças de culturas, etnias ou costumes.

Nessa perspectiva, cabe-nos seguir para o motivo maior do nosso artigo, que será perceber como a instituição Escola tem atuado e agido em meio a esse contexto dotado de intensa dinamicidade e relações conflitantes.

Sob esse prisma, torna-se claramente perceptível que a Escola não se mantêm intimamente ligada as atuais conjunturas e vertentes. Mesmo com todos os avanços da Pedagogia em si, a instituição, na sua prática cotidiana, ainda não é capaz de tornar o conhecimento e o saber, em uma análise literal, elementos significativos e de importância maior para os alunos de um modo geral. Pelo contrário, a cada dia, ainda de forma generalizante, a escola apresenta uma série de conteúdos descontextualizados e desconexos com o dia-a-dia e interesse dos educandos. E o fato torna-se ainda mais agravante quando percebemos que somente uma pequena quantidade de alunos estão "aptos" a assimilar tais conhecimentos, pois uma parcela ainda maior não dispõe dos mecanismos de adequação, necessários a esses tipos de aprendizagem. "Aprendemos" sob essa diretriz, repleta de convenções arbitrárias, imutáveis, em que àqueles que não se adequam a tais moldes ficam à margem do sistema.

Aspectos gravíssimos são gerados a partir desses "nortes basilares": a não inserção, de fato, no mundo do saber com todos os seus sabores, fascínio e dissabores, consequentemente, uma não atuação diferenciada com as outras pessoas e com o mundo, e, talvez, o mais grave, a não autonomia através da liberdade de pensar e agir como um ser autônomo, pois nesse contexto, somente o professor tem o domínio da "verdade". Logicamente que norteados por um sistema, seja de ensino como individual de ação.

Philippe Perrenoud, em seu livro, Pedagogia Diferenciada, afirma:

Para uma parcela de alunos, a falta de sentido e de adesão aos saberes escolares não se deve à sua própria substância, mas antes à maneira de apresentá-la e de tratá-la sobre o conjunto das pequenas manias e convenções que parecem capitais ao professor e inúteis ou ridículas aos alunos. O aluno não rejeita o saber, mas o modo de normatizá-lo em sua expressão discursiva e gráfica, pelo menos quando este não lhe convém ou ele não o compreende.

(PERRENNOUD, 1996 p. 5)

Não dá para estabelecer uma plena e eficaz relação com aquilo que não julgamos importantes, ou até julgamos, mas não estabelecemos nenhum vínculo de significância com o "mundo real", logo não lhe damos a real importância.

A forma de tratar esse processo de aprendizagem traz consigo uma série de implicações às quais estão intimamente ligadas ao modelo geral de ensino vigente e ao modo como o professor compreende as relações com o saber e com o conhecimento.Nessa perspectiva, Bernard Charlot, em seu livro: Relação com o saber, Formação dos Professores e Globalização, afirma:

(...)Descobrimos que na mente do aluno é o professor quem é ativo no processo de ensino-aprendizagem; a atividade é do professor, e não do aluno. E, além do mais, em francês, apprendre significa ao mesmo tempo o que se diz em português "ensinar" e "aprender". Aqui no Brasil, o professor ensina para o aluno que aprende. Pode-se dizer que o professor enseigne ( ensina), mas pode também dizer que o professor apprend para que o aluno apprend. Principalmente para os alunos de bairros populares, é o professor que cria o saber na cabeça do aluno, é o professor que tem a atividade no processo de ensino-aprendizagem, não o aluno(...)

(CHARLOT, 2005 p. 10)

A imposição das normas e convenções atrelada ao modus operantis do professor modulam a forma na fôrma com que o conteúdo, descontextualizado e sem relação concreta com o dia-a-dia do aluno, irá ser "ensinado".

Tornar o aluno um ser ativo do processo de construção do conhecimento, capaz de aceitar, relacionar e contestar o conteúdo ensinado é um dos caminhos a ser trilhado para uma diferente relação, mais dialética, com o saber. Através de um olhar mais sério com as "relações didáticas" como forma pensada de edificação do ensino. Levando em conta o universo exterior, e consequentemente, interior desse educando, além de promover uma ampla integração entre Escola, especialistas em educação, professor, aluno e sociedade para uma educação mais plena e significativa.

Eis o grande desafio: todos os envolvidos no processo, deverão contribuir e rever os mecanismos que interferem, efetivam e tornam ou não, significativos os conhecimentos e o saber, para que, quem sabe assim, possamos construir, mesmo em meio as modificações das relações humanas, globalizantes, rechedas de tendências voltadas mais as questões econômicas, uma diferente relação, pautada no dialogismo da construção eficaz do conhecimento e a sua utilidade prática e, em uma nova perspectiva de sociedade.

Concretamente o trabalho será árduo e depende de diversos fatores inerentes a questão, no entanto, a sorte não, mas, as diretrizes estão lançadas.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

ALMEIDA,Geraldo, Peçanha "TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA: por onde começar?. Editora Cortez – São Paulo, 2007.

CHARLOT, Bernard, "Relação com o Saber,Formação dos Professores e Globalização: questões para a educação hoje." Editora Artmed – Porto Alegre, 2005.

JONNAERT, Philippe e BORGHT, Cécile Vander "Criar Condições para Aprender" editora Artmed – Porto Alegre, 2005.

PERRENOUD, Philippe,"Pedagogia Diferenciada: das intenções à ação". Editora Artmed- Porto Alegre, 2000.