Idanir Ecco[1]

Você deve ser a mudança que você deseja ver no mundo.

(Mahatma Gandhi)

RESUMO: O texto constitui-se num chamamento para que se reflita a necessidade de articular processos de transformação, de renovação da escola. Defende a tese de que a possibilidade de reinventar a escola está na própria instituição, mais precisamente nos sujeitos que a constitui.

A escola é uma das instituições não somente presente, mas saliente em todas as comunidades, sejam elas do campo ou da cidade, do centro ou da periferia. E quando se identifica o risco eminente de ser suprimida de um determinado local, não faltam calorosas verbalizações defendendo-a como um ponto de referência para a sociedade e destacando-a, entre outras instituições, como a responsável por manter viva uma comunidade qualquer.

Ah, escola! Todos te defendem... mas, todos te querem diferente.

Renovar, transformar ou reinventar a escola, tem sido e é preocupação de todos os que, diretamente ou não trabalham na ou com a referida instituição, pois parece não mais responder aos novos tempos, ou melhor, aos tempos novos. Denuncia-se limitações na formação e na ação docente, limitações dos currículos. Clama-se por competências à formação profissional. Advoga-se a contextualização do ensino e a interligação dos saberes/conhecimentos, bem como a construção de significados. Anseia-se pela formação de sujeitos críticos, participativos, cidadãos... O que "salta aos olhos"? Ranços e avanços. Condição real, imperceptível ao olhar que não quer ver.

O desafio de como reinventar a escola apresenta-se como um desafio em busca de soluções. Neste sentido, há um sentimento de unanimidade de que a mudança, a transformação deva ocorrer de dentro para fora, isto é, não como imposição externa. Isso denota que a "mola propulsora", a "força motriz", a "energia dinamizadora" está com os professores, que, mesmo podendo ser o problema, constituem-se na auspiciosa e promissora solução.

No discurso em defesa da renovação, do rejuvenescimento ou da transformação da escola, estão incluídas duas elaborações intelectuais distintas, isto é, a idéia de uma severa denúncia de que a escola não somente envelheceu, mas perdeu seu vigor e a idéia da premente necessidade em adquirir uma nova vida. Isso significa afirmar, em outros termos, que a escola morra para que, das suas próprias cinzas, renasça revigorada, rejuvenescida, respondendo às demandas que sobressaem no diurnal contemporâneo.

Escola... Cinzas... Renascimento. Eis a "trilogia" que atualiza o mito da Ave de Fênix, no contexto escolar. Mera coincidência ou "sinais dos tempos"? Pois então reflitamos, mesmo que sucintamente, o referido mito, identificado desde os primórdios das civilizações humanas, adaptando-se e perpassando religiões, ocorrendo na literatura moderna e sendo retratado, inclusive, em desenhos animados (entenda-se inanimados, sem alma) presentes na mídia atual.

Ovídio (poeta romano, 43 a. C. - 18 d. C.) em Metamorfoses, XV, relata que a Fênix, uma ave mítica, era rara na face da terra por ser a única da sua espécie, teria nascido nas terras do Oriente e se alimentava com incenso, raízes cheirosas e óleos de bálsamo. Era de uma beleza inigualável. Sua plumagem ostentava as mais belas cores: vermelho fogo, azul claro, púrpura e ouro, que emitia raios de luz através de seu corpo. Era de porte imponente como uma águia. Registra-se ainda, que possuía uma longevidade (séculos), jamais identificada noutras aves ou animais, bem como que era mais formosa que o mais belo de todos os pavões reais.

Segundo o mito, quando, a espetacular ave mitológica, sentia que a sua existência secular tornava-se eminente, que morreria, recolhia plantas aromáticas, incenso, cardamomo e resinas e construía um grande ninho exposto aos raios solares. Com o calor do Sol, incidindo sobre as plantas secas, o ninho entrava em combustão. Em ato contínuo, o vertebrado ovíparo, atirava-se em meio às chamas para ser consumida até quase não deixar vestígios. Ao reduzir-se a cinzas, ressurgia a mesma ave, revigorada, sempre única e eterna. De suas cinzas, portanto, nascia uma nova ave.

A Fênix é uma ave lendária, lindíssima e fabulosa que simboliza a expectativa otimista e a continuidade da vida após o derradeiro suspiro... a perpetuação, a ressurreição, a esperança que nunca finda.

Escola!... Quiçá, em tuas próprias cinzas esteja a alternativa para não sucumbir ao desencanto que te serpenteia.

[1] Mestre em Educação UPF/RS, Professor da URI Campus de Erechim ? RS. E-mail: [email protected]