A ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL COMO MEIO DE SOCIALIZAÇÃO



Arlindo Aparecido Madoenho




Resumo: Este artigo propõe uma discussão em torno da Escola de Educação Infantil como meio de socialização, descrevendo o período histórico da Revolução Industrial e o surgimento dos orfanatos e Centros Infantis. Ainda propõe uma discussão em torno dos fatores que influenciaram este surgimento dos centros, bem como a visão de infância que se tinha naquela época. Em seguida, descreve o processo de socialização, seus atores e sua importância para o desenvolvimento da criança.

Palavras-chave: Socialização. Educação Infantil. Conhecimento.

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho visa discutir as relações estabelecidas dentro dos centros de Educação Infantil, entre os vários atores envolvidos no processo, bem como discutir como ocorre às relações sociais dentro do centro, estas relações são denominadas socializações.
Dentro desta perspectiva educacional socializadora, enfatiza qual é a função da educação infantil, tendo como princípio o desenvolvimento integral da criança de 00 a 06 anos.
Para se chegar a importância da socialização é necessário se fazer um pequeno resgate histórico, para que se possa observar a evolução do pensamento em relação a Educação Infantil.

2. A EDUCAÇÃO INFANTIL NO PASSADO

A escola de educação infantil muitas vezes foi desvalorizada e não havia tanta procura por vagas, isso talvez seja resultado da falta de conhecimento de como a educação infantil é benéfica para as crianças.
Porém, na história da Educação Infantil percebemos momentos de grandes abandonos, haja visto que, os ambientes nem sempre foram agradável e que estimulassem o desenvolvimento infantil, como afirma Linhares (2009, p. 55):

Com a Revolução Industrial e a conseqüente desestruturação econômica, surgiram albergues onde os adultos pobres ficavam internado, à mercê da caridade da igreja ou de pessoas com posses. Para as crianças pobres, foram instituídos orfanatos, nos quais ficavam entregues a própria sorte, embora houvesse uma preocupação com o desperdício da força de trabalho infantil .

Sabe-se que com a Revolução Industrial as mulheres eram mão-de-obra barata, e esta necessitava trabalhar para garantir a renda na família. As famílias eram constituídas de muitos filhos e não se sabia o que fazer com os filhos, muitos passaram a freqüentar as fábricas e eram submetidos a trabalhos massacrantes.
Portanto, a sociedade está vivendo uma nova fase, ou seja, ela passou por transformações que marcaram a vida das famílias, das crianças e da educação como afirma Bouvier (2005, p. 391):

Em nossa sociedade, os modos de vida das crianças pequenas são marcados pela transformação dos modos de vida de seus pais, dos quais lembrarei apenas os traços mais importantes: generalização do trabalho das mulheres, urbanização e afastamento do domicílio em relação ao local de trabalho, aumento da precariedade econômica com o crescimento do desemprego, transformações na família.

Estas transformações trouxeram conseqüências uma delas foi a necessidade de um lugar para deixar os filhos. Então, surgem os orfanatos, que eram vistos como um local onde as crianças ficavam para que as mães pudessem trabalhar. As condições a que estas crianças eram submetidas eram precárias, com pouca alimentação, muitas doenças, porém as mães não tinham muitas opções, ou levavam seus filhos para as fábricas ou deixavam nestes orfanatos, nestes dois lugares as crianças não estavam seguras, mas a necessidade de geração de renda para sustentar a família obrigava as mães a tomarem uma decisão.
Nestes orfanatos ou centros infantis eram dedicados apenas os cuidados básicos para as crianças, e esta visão permaneceu por longos anos até que surgem muitos estudos em torno do desenvolvimento da criança de 0 a 6 anos, com isso a escola de educação infantil passa a ser vista de outra maneira.
Assim como os orfanatos com as transformações passaram a ser escolas a sociedade se transformou e passou a ter outra visão em relação à educação, a visão de infância e a vida das crianças passou por grandes transformações.


3. O SIGNIFICADO DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Dentro do contexto educacional nos perguntamos qual é o objetivo da educação infantil?
Segundo o Art. 29 da Lei 9.394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN), a "Educação Infantil é a primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade."
Com este embasamento legal, a educação infantil passa a ser vista de uma maneira diferente, sendo mais valorizada e tendo maior procura por parte dos pais, já que esta promove o desenvolvimento integral da criança.
Neste sentido, passa-se a compreender que a criança se desenvolve e também aprende a partir das relações estabelecidas com outras crianças e com os professores como afirma Silva e Lucas (2003, p. 133):

Neste espaço as interações traduzem-se por atividades diárias que as crianças realizam com a companhia de outras crianças sob a orientação de um professor. A partir da compreensão de que estas situações contribuem para o processo de aprendizagem e desenvolvimento infantil, é possível o professor e demais profissionais da Educação Infantil redimensionar a sua prática pedagógica e re-significar o papel da interação na educação infantil

Desta maneira, inicia-se uma forma de trabalho, onde se implanta as rotinas dentro da educação infantil ciente de que estas situações também contribuem para o processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças, podendo assim direcionar sua prática para a exploração destes momentos dentro da sala de aula, deixando, portanto, a visão de que a criança é um adulto em miniatura ou aquele ser que não necessita de estímulos e atenção.
Como afirma Oliveira (2002, p 126):

O desenvolvimento humano não decorre da ação isolada de fatores genéticos que buscam condições para o seu amadurecimento nem de fatores ambientais que agem sobre o organismo, controlando seu comportamento. Decorre antes, das trocas recíprocas que se estabelecem durante toda a vida entre organismos vivos, o humano inscreve-se em uma linha de desenvolvimento condicionada tanto pelo equipamento biocomportamental da espécie quanto pela operação de mecanismos gerais de interação com o meio.

Dentro deste processo de interação com o meio e com outros seres sociais a criança começa assimilar regras e normas sociais que são estipuladas pela própria sociedade no decorrer de sua história, e que naturalmente devem ser transmitidas àqueles que estão se inserindo nela. Conforme Silva e Lucas (2003, p.132):

Desde o nascimento da criança ocorre um processo de interação com os adultos que compartilham com ela o seu modo de viver. Existe, portanto, uma contínua interação entre as condições sócio-culturais e a base biológica do comportamento humano.

Desta forma podemos observar que a escola tem um papel importante neste processo, pois é nas atividades rotineiras de cada dia que esta deve repassar estas regras para que a criança assimile e se adapte como afirma Borsa (2007, p. 2-3)

Um dos objetivos mais importantes do processo de socialização consiste em que as crianças aprendam o que é considerado correto em seu meio e o que se julga incorreto; ou seja, que possam conseguir um nível elevado de conhecimento dos valores morais que regem sua sociedade e se comportem de acordo com eles. Isto é conseguido através de um processo de construção e interiorização destes valores, processo que tende a demais a favorecer o desenvolvimento dos mecanismos de controle reguladores de conduta da criança.

É no âmbito da relação com o outro que a criança vai assimilando as regras, pois a convivência diária entre os sujeitos exige que se pratiquem estas regras, muitas vezes elas serão quebradas ou não assimiladas, porém com o passar do tempo serão assimiladas e respeitadas.
Outro fator importante que escola traz para a criança é o fato de se relacionar com várias pessoas com diferentes níveis de conhecimento, isso faz com que estas relações se tornem fatores de aprendizagem e desenvolvimento, pois se a criança estivesse somente em contato com pessoas de sua família não receberia a mesma quantidade de informações que recebem dentro da escola. Borsa (2007, p.4) afirma que este processo é importante, pois " a entrada e o percurso pelo âmbito escolar vão construir para a criança um acúmulo de experiências ricas e interessantes, pois a escola é um microcosmo da sociedade".
Neste sentido percebemos que a escola é um grande meio de socialização, pois se caracteriza como uma das primeiras experiências sociais a que as crianças são submetidas e esta em consonância com a família deve proporcionar os fundamentos educacionais necessários para a vida em sociedade.
Borsa (2007, p.4) descreve o papel da escola como meio de transmissão de conteúdos científicos e formulação social do sujeito:

A escola não só intervém na transmissão do saber científico organizado culturalmente como influi em todos os aspectos relativos aos processos de socialização e individuação da criança, como são o desenvolvimento das relações afetivas, a habilidade de participar das situações sociais, a aquisição de destrezas relacionadas com a competência comunicativa, o desenvolvimento da identidade sexual, das condutas pró-sociais e da própria identidade pessoal.

Deste modo a escola não é meramente responsável pelo repasse de conteúdos, mas também é responsável pela formação social do sujeito, haja visto que é nas relações sociais que a criança estabelece dentro da escola que ela vai formulando seus conceitos, que devem ser orientados pela escola.
O Referencial Curricular para a Educação Infantil , MEC (1998, p. 33), afirma que :

O estabelecimento de condições adequadas para as interações está pautado tanto nas questões emocionais e afetivas quanto nas cognitivas. As interações de diferentes crianças, incluindo aquelas com necessidades especiais, assim como um conhecimento específicos diferenciados, são fatores de desenvolvimento e aprendizagens quando se criam situações de ajuda mútua e cooperação. As características de cada criança, seja no âmbito afetivo, seja no emocional, social ou cognitivo, devem ser levadas em conta quando se organizam situações de trabalho ou jogo em grupo ou em momentos de brincadeiras que ocorrem livremente.


No que se refere a socialização entre as crianças é possível perceber que há uma relação de troca de experiências e que a maturação biológica não é uma regra imposta e sim as vivências da criança que vão determinando o processo de desenvolvimento intelectual.
Neste processo de troca de experiência, e dentro das brincadeiras, as crianças vivenciam experiência que proporcionam "o desenvolvimento social da criança que é uma evolução da qual ela é agente ativo. Vale lembrar que a criança já foi vista como um ser incapaz de realizações, sendo subordinada a realizar tarefas pré-determinadas como um animal a ser treinado. (Almeida, p.2)
A educação infantil não pode impor tarefas e rotinas sem flexibilidade, beneficiando e facilitando somente o trabalho dos profissionais que nela trabalham e sim fazer uma análise do que pode ser feito visando o desenvolvimento das crianças tendo em vista a organização do trabalho educativo do professor, como afirma Filho (2007, p. 259 - 260):

(...) busco pontuar que as relações sociais na creche precisam contemplar os diferentes pontos de vista, sejam da criança, dos profissionais ou ainda das famílias que estão inseridas no entorno da creche. Assim, construir mecanismos que respeitem os diversos interesses numa estratégia de confronto (por meio do dialogo e da negociação) entre os diferentes atores, parece o grande desafio posto ao tratar dos processos de socialização e da produção das culturas infantis.


Desta forma se estará beneficiando o desenvolvimento integral da criança, bem como se cumprindo o papel educacional e proporcionando um bem estar às crianças e as famílias que são atendidas pela instituição, fazendo se cumprir a efetiva socialização com cunho educacional.
Na relação professor aluno o professor deve ser democrático como afirma Phelan e Schonour (2010, p.30) (...) Esse professor tem uma relação positiva, amável e favorável com seus alunos, mas eles sabem quando ele " está falando sério ". Como tem um plano disciplinar efetivo e sua sala de aula é organizada, os alunos confiam nele e o respeitam. Aqui percebe-se que a socialização entre professor e aluno tende a ser mais aberta, pois há regras de convivência que o professor estabeleceu, pois ele exerce o papel de educador dentro da sala, isso não significa que o professor seja autoritário e sim que ele conhece e sabe estabelecer as normas vigentes.

4. CONCLUSÃO
Ao concluir este artigo, observa-se que a educação infantil passou por vários períodos, onde não teve muito reconhecimento enquanto fase benéfica da educação.
Com o passar do tempo foi se observando o quanto a Educação Infantil, contribui para o desenvolvimento das crianças e o fator mais importante deste desenvolvimento é a socialização. Pois através da socialização as crianças fazem trocas de experiências e vivências que são muito importantes na construção do conhecimento.
Dentro deste processo de socialização estão envolvidos vários atores sociais, que contribuem no processo formativo da criança, estes atores são os professores, funcionários e colegas da mesma idade e de idades diferentes. Este atores contribuem tanto com conhecimento quanto com a simples relação humana, haja visto que se a criança permanecesse em casa não teria seu círculo social ampliado, e conseqüentemente suas relações seriam mais estreitas.
Portanto, a escola de Educação Infantil é um grande meio de acesso a socialização e esta traz muitos benefícios para o desenvolvimento da crianças.

REFERENCIAS

ALMEIDA, Gizela Bastos da Mota. A infância:a socialização e o brincar da criança. Disponível em:<http://www.fmb.edu.br/revista/edicoes/vol_3_num_1/A_INFANCIA_A_SOCIALIZACAO_%20E_O_BRINCAR_DA_CRIANCA.pdf> acesso em 06 de set. 2010.

BORSA, Juliane Callegaro. O papel da escola no processo de socialização infantil. 2007, Portal dos Psicólogos. disponível em: www.psicologia.com.pt.

BOUVIER, Suzanne Mollo. Transformação dos modos de Socialização das crianças: uma abordagem sociológica. Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 391-403, Maio/Ago. 2005 Disponível em: http://www.cedes.unicamp.br.

BRASIL. Lei n. 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, seção 1, 1996.

FILHO, Altino José Martins. Processos de socialização entre adultos e crianças e entre as próprias crianças no interior da creche. Currículo sem Fronteiras, v.7, n.1, pp.253-262, Jan/Jun 2007. disponível em: www.curriculosemfronteiras.org acesso em 08/09/20010.
LINHARES, Clarice S. Educação e Contemporaneidade. Guarapuava: Editora Unicentro,2009.
MEC, Secretaria da Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para educação Infantil: Formação Pessoal e Social. Vol. 2. Brasília: Editora Parma LTDA, 1998.

OLIVEIRA, Zilma Ramos de. Educação infantil; Fundamentos e Métodos. São Paulo: Cortez, 2002.
PHELAN, Thomas W.; SCHONOUR, Sarah Jane. As diversas maneiras de gerenciar comportamentos. Revista Pátio educação Infantil. Porto Alegre, Ano VIII, n. 23, p. 28-31 abr./jul. 2010.

SILVA, Sílvia Mara da . LUCAS, Maria Angélica Olivo Francisco. A importância das interações sociais na Educação infantil: um caminho para Compreender o processo de aprendizagem. I Encontro Paranaense de Psicopedagogia ? ABPppr ? nov./2003.