A escola tem sido um dos objetos de estudo da Sociologia da Educação desde a institucionalização dessa ciência. Por seu papel como agente de socialização, que disputa com a família a transmissão de cultura do grupo às novas gerações, a escola adquiriu grande importância particularmente, a partir do século XVII. Constitui-se a espinha dorsal da chamada educação formal, que se diferencia da informal exatamente pelo seu caráter de intencionalidade, isto é, pelo fato de organizar a partir de certas diretrizes (periodicidade, método, currículo e regulamento). A Escola é o espaço próprio para a educação formal, apesar de todas as outras maneiras que se tem atualmente para se concretizar o processo educativo.

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O crescente processo de individualismo é gestado num contexto de formação da formação da cultura urbana, em curso desde o século XVIII, assumindo a questão do público e do privado em um papel central, na medida em que aí se diagnosticava o centro do problema – a experiência pública foi deixada de lado em favor da formação da personalidade individual. As chamadas “políticas da indiferença” e a “estética da aparência” na verdade são elementos que compõe a cultura urbana e que colocam muitos desafios, especialmente ciosos de sua função de formar cidadãos conscientes de seu papel na sociedade.

Essas transformações que ocorrem trouxeram consigo inovações tecnológicas e uma nova configuração das áreas urbanas, não podendo deixar de refletir-se no âmbito das estruturas sociais. Novos desafios e impasses foram sentidos na forma como essa sociedade vivenciava o espaço público e o espaço privado, bem como as representações sociais destes espaços. Sendo uma das instituições mais importantes, a escola também sentiu o impacto de tudo isso. Um dos aspectos mais importantes do processo de modernização é o que Rago chama processo de racionalização da sociedade, com a “quebra de antigos padrões de referência e a construção da identidade e constituição de uma sensibilidade urbana” (1993, p.15) e a reafirmação das identidades surge como forma de distinção social e de retraimento para a vida privada. Isso diz respeito às novas formas de sociabilidade que surgem a partir da valorização do individuo e da retração do espaço privado em detrimento dos valores e do espaço público. Como vimos, cresce a importância da família como refúgio do indivíduo, onde encontrará segurança e a possibilidade de ser, de expressar o seu eu sem as máscaras necessárias no espaço público.

A questão que normalmente é apresentada relaciona-se com a falta de valores éticos e morais que acompanha esse processo. Mas será que na verdade o que ocorreu não foi uma inversão de valores? Até porque a sociedade não se sustenta numa base moral e ética. Prova disso são as diferentes redes de solidariedade que aparecem acompanhando as novas formas de sociabilidade. São diferentes, mas existem sempre. O valor que aparece com grande impacto é a solidariedade, que conceitualmente se contrapõe ao individualismo. Então, o que se pode deduzir é que efetivamente novos valores aparecem como reação a esse mundo massificado e muitas vezes até desumano, prova da capacidade do homem de ajustar-se a mudanças, sejam elas benéficas ou não num primeiro momento. Parece importante tentar evidenciar os aspectos positivos desse processo de individualização crescente e do retraimento para a vida familiar/privada, alguns decorrentes do surgimento de vários setores sociais contemporâneos mobilizados em busca de novas formas de sociabilidade e de organizar espaços públicos.A juventude aparece nesse contexto de maneira mais significativa, adquirindo uma visibilidade que tem sua origem recente e cresce à medida que os jovens buscam uma definição de novos referenciais de comportamento e de identidade na sociedade. Mesmo não parecendo decididos a transformar a sociedade, mas apenas em construir e manifestar uma identidade distinta, os jovens acabam por marcar sua posição no mundo, até mesmo como uma forma de suportar o aumento da competitividade atual e entre os próprios jovens, que não parecem identificar-se com aquela velha ideia de ser “o futuro do país”. Querem ser aceitos pela sociedade, querem poder investir em si mesmos como forma de suportar o peso do mundo centrado no indivíduo.

As questões da indiferença política e o individualismo podem ser rebatidos com o resgate de valores como dignidade, respeito ao próximo, ao espaço público e a si mesmo, contra o consumismo, a apatia diante das injustiças. Nesse microcosmo que reflete a sociedade como um todo pode haver um movimento de revalorização da escola e o professor torna-se novamente um importante agente da socialização, buscando incentivar i trabalho em equipe e mostrando o quanto pode ser bom que algumas regras (claras e coerentes, obviamente) sejam seguidas, valorizando as relações interpessoais em contrapartida ao aumento do individualismo.

A Escola como organização

A análise das organizações a partir de metáforas é bastante criativa e eficaz no sentido de mostrar o quanto estas podem ser complexas e passíveis de análises, as mais diversas, em termos de referencial teórico, podem ser investigadas numa perspectiva multidisciplinar. Aliando a sociologia da educação com as teorias da administração, percebe-se que, tal como outras organizações, o estabelecimento de ensino é uma organização complexa, que congrega atores diversos, exercendo várias funções, mas com objetivos comuns.

Sendo seu objetivo maior a formação do homem consciente, por meio de uma Educação voltada para o desenvolvimento da autonomia intelectual, ao fortalecimento do pensamento crítico e ao comportamento ético, entende-se que o aluno precisa de liberdade para aprender. O respeito à individualidade é visto como fundamental para o bom andamento do processo de aprendizagem do aluno. Assim, a vida organizacional da escola não deve ser vista de forma mecânica: todos devem ser convidados e incentivados a participar do processo educativo. Recorrendo a obra de Gareth Morgan, intitulada Imagens da organização, podemos pensar a escola sob uma nova ótica. O autor faz uso de metáforas para explicar como se pode entender as organizações. São elas: organização vista como máquina, cérebro, organismo, cultura, sistemas de governo, prisão psíquica, fluxo e transformação, e instrumento de dominação.

Segundo o autor, pode-se observar que as máquinas “não são planejadas para a inovação”, (MORGAN, 1996, p. 38) enquanto que as organizações, vistas como cultura, têm mais instrumentos para lidar com a mudança, uma vez que são construídas e reconstruídas socialmente. Retomando a ideia do item anterior, a metáfora mais próxima da imagem da escola que poderíamos considerar como sendo a metáfora ideal é a metáfora da organização vista como cultura; a cooperação, interdependência, os interesses e objetivos compartilhados e a ajuda mútua entre os valores que nela atuam são pontos a serem salientados e que confirmam essa ideia. Os significados orientam a vida organizacional. Na verdade, o aluno aprende a se conhecer e a se avaliar. Na medida em que se dá a troca com o professor, visto como um facilitador da aprendizagem, o aluno analisa seu desempenho, faz as correções necessárias em termos de conteúdo, mas, sobretudo, nota-se que cresce o grau de consciência sobre si mesmo.


Essas são características de organizações vistas como organizações de cultura, já que um conjunto de objetivos comuns e valores estão compartilhados na sua base. Mesmo quando o conflito surge, ele é administrado no sentido de acolher as possíveis diferenças com o objetivo de acrescentar, de somar, e nunca de segregar e/ou excluir.

Não se deve esquecer que sempre há necessidade de conjugar metáforas para melhor analisar a organização escolar, uma vez que ela pode simultaneamente incorporar elementos de mais uma metáfora. Porém, uma organização complexa como a escola pode (e de...) ser vista como cultura, isto é, um conjunto de sistemas de significado comum (MORGAN, 1196, p.138), lembrando sempre que quando a realidade é construída socialmente e, sendo assim, em permanente (re) construção. Pensar sociologicamente a escola pode ser um caminho para perdemos essa perspectiva.

Algumas Possibilidades

Partindo da premissa de que a cultura delineia o caráter da organização e entendendo cultura como o significado de compreensão e sentidos compartilhados. Na verdade está sendo feito uma referência ao processo de construção da realidade, que permite às pessoas ver e compreender os eventos, ações, objetos, expressões e situações que particulares de maneiras distintas.

No novo papel do professor na atualidade, especialmente no que se refere a tentar passar aos alunos determinados valores que, aos olhos de alguns deles, parecem totalmente fora do contexto, como o respeito ao outro, ao diferente e o combate à violência, a escola precisa ser questionada sempre. Outro papel da escola é ser uma instituição na qual o professor possa ser um formador e mediador do conhecimento; não se pode esquecer-se da necessidade de motivar e potencializar os alunos em suas competências. Para tanto, é fundamental a constante reciclagem do professor, um forte investimento em sua atualização e aperfeiçoamento, bem como de todo o sistema educativo.

Referências

MORGAN, G. Imagens da Organização. São Paulo: Atlas, 1996.

RAGO, M. Políticas da (in)diferença: individualismo e esfera pública na sociedade Contemporânea . Anuário do Laboratório de Subjetividade e Política. Departamento de Psicologia, Universidade Federal Fluminense, ano 2, 1993.