A ERA DAS IGREJAS ESTARIA CHEDADO AO FIM?

            As organizações eclesiásticas, por fugirem da concepção exata do termo, adotando parâmetros estranhos à finalidade da “assembléia dos santos”, provavelmente estejam com os dias contados. Com milhares de grupos cada qual defendendo seu quinhão, seus pontos de vista e suas doutrinas particulares, o tempo de vida dessas organizações não poderia esperar pela volta do Senhor da Igreja. Além do que, os tipos de evangelhos que anunciam são moldados às conveniências de cada corpo de liderança. Até Cristo tem sido moldado, perdendo seu principal teor. Nunca esse personagem se prestou tanto às organizações como tem sido vivenciado nos átrios das ”igrejas”. Dadas a essas circunstâncias, jamais na história dos povos houve tanta confusão como na atual conjuntura. Antes de continuarmos, uma breve explanação sobre o que vem a ser igreja a esta altura seria de relevante importância.

De acordo com os escritos sacros, a Igreja está vinculada ao papel desempenhado pelo Noivo da Igreja, que é a sua cabeça – Cristo - abrangendo um todo pessoal e humano-espiritual. Dessa forma, seria de vital importância restringi-la apenas a esse grupo, ou seja, aquele que realmente representa a igreja. Assim mesmo, somente aos que nasceram de novo, que passaram pela remissão, justificação e santificação através do sangue de Cristo. Tudo que exceder a este caráter constitui-se em conceitos e doutrinas humanos, mal elaborados por quem se primou em desvirtuar o sentido exato do termo – Igreja. Consta nos ensinos bíblicos que Cristo pagou um alto preço pela igreja, tendo-a resgatado com seu precioso sangue. Diz ainda: por ser um organismo vivo, espiritual, a razão das portas do inferno não prevalecerem contra ela, é de consistência divina, não obstante ser formada por elementos humanos, como ficou exposto acima. Essa igreja, que não contém nada, absolutamente nada do que concerne ao plano material, bem como de conceitos e mandamentos humanos, possui uma restrição absoluta no que tange a ser um corpo hermético aos primores divinos.

            O que estaria fora do contexto de igreja nas organizações que se colocaram no lugar da verdadeira Igreja? Muito, se considerarmos a composição dos elementos contidos nessas assembléias corporativas.  Primeiramente, o conjunto de seres humanos com caráter heterogênico. Nas organizações eclesiásticas há conversos e inconversos. Somente este fator seria o suficiente para descartar as organizações como sendo igreja. Se considerarmos que a verdadeira igreja é composta somente dos que já passaram pelo novo nascimento; que Cristo não derramou seu sangue por quem nunca irá se salvar, fica claro que não há coerência em denominar esses milhares de comunidades mistas como Igreja de Cristo. Outro fato é que na igreja de Cristo, por ser espiritual e composta por quem já faz parte deste aspecto, não há lugar para conceitos humanos, doutrinas de homens, figuras tomando o lugar de Cristo, muito menos elementos de cunho material tais como bens, caracteres políticos, financeiros e outras formas adicionadas às organizações. Diríamos: Cristo teria que construir um gigantesco armazém no céu para abrigar tudo que se colocaram nas organizações corporativas, como fazendo parte delas.

            Outro aspecto presente nas “igrejas”,é terem elas um fim em si próprias. Tudo gira em torno de si mesmas. Chega-se ao cúmulo de colocar uma organização como detentora do poder salvífico. Fora dela não há salvação, ainda que os escritos neotestamentário provem que houve salvação a quem nunca pertenceu a uma organização corporativa. O corpo docente, na figura de seus líderes, abarca um conjunto de indivíduos que determinam o modus vivendi/operandi da organização. Com isto elaboram encontros pastorais, conclaves, reuniões a peso de ouro em ambientes sofisticados, sem falar nos gastos excessivos com a manutenção de uma organização eclesiástica.

 Mas... que há de relevante em restringir a igreja apenas às pessoas salvas e ao seu trabalho? Muito, se considerarmos que as organizações eclesiásticas podaram ou desvirtuaram a razão de ser de uma assembléia. Como dissemos, os grupos formados na esteira do termo “ekklesia” instituíram o hermetismo eclesial, abarcando, cada um para si, a posse da “verdade”.  Em cima dessa exclusividade elaboraram condutas fechadas, sem que o papel da verdadeira igreja fosse desempenhado. Em outras palavras, fecharam-se em seus domínios, transmudando as finalidades da santa assembléia. Assim, o que se denomina de igreja hoje não passa de sociedades bem ou mal  organizadas, cujas finalidades é perpetuar o sectarismo e o poder dominante.

   Para que não pairem dúvidas, é mister restringir a igreja no seu conceito exato somente aos que herdarão a salvação. Se atentarmos para o fato inegável que Cristo virá buscar sua igreja e, que nesta ocasião somente subirão com Ele aqueles que passaram pelo novo nascimento; foram lavados, perdoados, justificados e santificados pelo sangue do Cordeiro, fica fácil limitar o termo IGREJA somente a este aspecto. Tendo Cristo comprado sua igreja com Seu sangue; e que a composição destes remidos fazem o corpo de Cristo, e somente estes, mui claro está que IGREJA está relacionada somente aos que fazem a assembléia de Cristo no seu sentido correto. Como os não remidos ou inconversos – o maior número de componentes de todas as organizações eclesiásticas – não subirão com Cristo, evidente está, por descarte, que essas organizações nunca podem e jamais poderão ser a igreja referida no contexto bíblico. Apesar de que, podem existir elementos da verdadeira igreja de Cristo entre os grupos que se reúnem em torno de uma liderança eclesial. Estas, contudo, não sintetizam a totalidade dos que se enquadram no conceito de igreja. Tanto que, ninguém se atreveria a dizer que, todos que fazem parte dessas organizações, irão em massa para as moradas celestiais.  Se elas (as organizações) fossem compostas somente dos que estarão no solar divino, então não haveria como negar suas condições de Igreja, o que não acontece.

   Ante essa perspectiva restritiva, fica extremamente difícil, e até impossível, afirmar que as organizações eclesiásticas nos moldes de hoje sejam a totalidade da igreja de Cristo. Só pelo fato das organizações corporativas não passarem de caricaturas das primeiras assembléias, esse fato também seria o suficiente para descartar o conceito de igreja atribuído a elas.  Sendo a igreja de Cristo um organismo vivo, espiritual, ela subsiste somente na figura dos remidos, eleitos por Deus antes da fundação do mundo.  As afirmações: “Vós sois igreja de Deus” e, “a qual ele comprou com seu sangue”, restringe a igreja àqueles pertencentes a esta qualificação. Os teores alheios a esta restrição pertencem às organizações na forma como as conhecemos na atualidade. O enorme arsenal de práticas, conceitos materiais e políticos, bem como o conteúdo de elementos destoantes das primeiras igrejas apostólicas, não condizem com a realidade da Igreja que estará com o Senhor. A bem daverdade, este arsenal ficará para receber o anátema divino. Inclusive todos os que não se enquadram no designativo “IGREJA”, no seu sentido real. Em suma, as organizações eclesiásticas na figura de seus líderes, os quais debandaram da essência cristã, inapelavelmente serão o destinatário do “Apartai-vos de mim” e, “Não vos conheço”.

   Ao longo da história eclesial um binômio extremamente danoso tomou conta dos átrios das organizações que assumiram o lugar das primeiras assembléias. Trata-se dos fatores políticos e religiosos. Obedecendo às normas da antiguidade, quando estado e religião eram tidos como um todo; o poder sócio-econômico, bem como o político-religioso, sempre ditaram normas de conivência. Como o interesse sempre foi manter-se no poder, quiseram as organizações dar às suas lides o mesmo teor de outrora. Assim essas forças, apesar de antagônicas para o reino de Deus, nunca deixaram de exercer sua pressão a quem se opunha a seus domínios. O fator essencial, pouco ou quase nada era levado em conta, visto que o interesse pelo poder suplantava a mensagem do evangelho, ainda que estas boas novas fossem exigência do Senhor da Igreja. Dessa forma, a casta político-religiosa servindo-se do cristianismo, a esta altura extremamente adulterado, adaptou-o às suas formas, as quais foram copiadas de civilizações antigas.

    Uma busca, ainda que superficial nos alfarrábios da igreja neo-testamentária, nos dá conta da restrição dos elementos evangélicos na vida dessas comunidades. Longe os teores mistos que marcaram – e marcam ainda – os aglomerados denominados igrejas. Isto se verificou após o término da ação do colégio bíblico-apostólico, ocasião esta em que a mensagem possuía afinidade apenas com o reino de Deus. Ainda hoje esse poder nos moldes da antiga civilização romana e, na forma de um estado, persigna em dar continuidade aos anseios de domínio. Com efeito, a aspecto político na pessoa de um mandatário, procura estender seus laços a povos que não se coadunam com o tipo de liderança estabelecida pelo clero. Se entrarmos em uma análise sobre o estado romano moderno, com todo o seu conteúdo de valor material – político e religioso – veremos que uma casta de líderes, jamais se identifica com os abnegados apóstolos de Cristo da era primária do cristianismo. A bem da verdade, o papel desempenhado por uma grande parte desse coeso grupo de políticos religiosos, traz no seu seio interesses altamente materiais e políticos. Até as funções que designam as ações desses expoentes do poder divergem das atividades dos primeiros líderes cristãos. Isso sem mencionar o caráter miliciano que responde por uma guarda palaciana. A figura do mandatário-mor estabelece um paradoxo entre ele e o humilde pescador da Galiléia. Enquanto este persignou apenas em cumprir determinações emanada de seu Senhor - agindo exclusivamente para o reino de Deus – o soberano estadista milita numa aspirar multicor, impregnada do poder terreno. Em suma, rotular esse estado misto de “igreja de Cristo”, nada mais é que um insulto ao Senhor da IGREJA.

   No que tange às organizações eclesiásticas, como ficaram delineadas nos parágrafos supra, estas, como dissemos, podem estar com os dias contados. Apesar de que ainda farão grandes “estragos” para o reino. Seu caráter misto-religioso, bem como seu envolvimento com o reino material, atesta o quanto seu fim está próximo. Não mais, o poder político será defendido. Os arroubos da generalização relativa a conquistas de bens materiais, assim como os apelos de curas que utilizam, tendo o Senhor como doador de benesses – sem atentarem para a mensagem de desprendimento e de renúncia requerido por Quem disse que “meu reino não é deste mundo”; suplantado pelo negar a si mesmo – terão seu fim inapelavelmente. Na esteira desses dotes extremamente físico-humano-materiais, também chegará ao fim o hermetismo eclesial, responsável pela postura das “quatro paredes”. Não mais se fará ouvir o “vinde” que substituiu o ide. Estes caracteres ao lado de centenas de outros que fazem o “metier” das organizações, com o advento da segunda vinda de Cristo estarão reservados para o anátema.

   Certo é aludir ao sentido correto da “Assembléia dos santos” mais uma vez, visto que ela terá sua perpetuidade no reino de Cristo. Nesse particular convém salientar que os dizeres, “e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”, dizem respeito apenas a esta assembléia. Evidente que a alusão do Mestre só poderia recair sobre ela somente, pois é a única que o diabo não tem meios para lançar seus tentáculos, como faz em muitas organizações de cunho misto. Se bem lembramos, o passado atesta com detalhes o quanto o inimigo fincou bandeiras em certa organização de cunho relígio-temporal. Cremos de bom alvitre que Jesus jamais se referia a uma organização nos moldes que conhecemos, visto que nem uma delas estivera ou está imune da ação do príncipe deste mundo. Evidente que Sua referência recaiu somente sobre a Igreja de cunho espiritual. Nada que identifique esta com as organizações do reino deste mundo. Contra a Noiva do Cordeiro – composta somente dos remidos pelo carmesim salvador – não pode haver ação demoníaca..