1. Introdução

A globalização, os avanços tecnológicos, o crescimento econômico e as exigências de redução no prazo de entrega de bens obrigaram o modal de carga aérea a se modernizar e ampliar sua capacidade de atendimento, o que estimulou a fabricação de aeronaves voltadas ao transporte de carga. O segmento de carga aérea constitui em importante atividade econômica das empresas aéreas. Ao longo da última década, o setor assistiu a um forte processo de crescimento, apesar das oscilações do ambiente econômico (variações cambiais, queda da atividade econômica, aspectos regulatórios e tributários). Este modal é estratégico para a economia nacional para impulsionar a cadeia produtiva de diversos setores. Este trabalho analisa o cenário do transporte aéreo de carga aérea no Brasil durante o período 2003-2012, seu grau de interdependência com a atividade econômica e procura apresentar uma projeção de crescimento para 2020, ressaltando o seu potencial de crescimento e as oportunidades dele decorrentes.

2. Objetivos

Este artigo procura analisar a dinâmica do transporte de carga aérea no Brasil no período 2003-2012, ressaltando suas características, além de refletir sobre as variáveis econômicas que influenciam sua dinâmica. Posteriormente, será realizada uma projeção da demanda de carga aérea para o ano de 2020, levando em conta três cenários de crescimento do PIB e elasticidade-renda da demanda por carga aérea.

3. Material e Métodos

A metodologia utilizada foi a de revisão bibliográfica especializada e análise de publicações de periódicos e dados em formato eletrônico da INFRAERO (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Utilizou-se também da literatura especializada, publicada por Oliveira (2009) e Keedi (2008), para explorar os aspectos conceituais. As projeções foram realizadas com base em método de estimação estatística, utilizando-se de série histórica de PIB e demanda medida em RTK (Receita Tonelada Kilometro).

4. O Transporte de Carga no Brasil

A matriz de carga aérea no Brasil representa 20,7% de tudo que é transportado e ocupa o segundo lugar de modal mais importante no transporte de mercadorias. A figura 1 mostra a distribuição dos modais de carga no Brasil, com predomínio do  rodoviário (61%), aéreo (20,7%) e aquaviário (13%).

 
   

Fig.1. Matriz de Transporte de Carga no Brasil. Fonte: CNT, 2013.

No período 2003-2012, o mercado doméstico e internacional de carga aérea cresceu sustentadamente até 2007, sofrendo um recuo em 2008 em razão da crise financeira internacional, mas retomando seu ritmo de expansão em 2010. (figura 2). No período 2003-2012, o mercado se expandiu 65%, representando uma taxa média anual de 5,8% de crescimento ao ano. Esse desempenho guarda relação direta com o desempenho da economia. Quanto maior o ritmo de atividade econômica, maior é a demanda por transporte de carga. Considerando seu grau de importância como segundo principal modal, sua contribuição é essencial para viabilizar o fluxo de comércio entre países com os quais o Brasil mantém relação comercial e para com o próprio mercado doméstico.

Fig.2. Transporte Aéreo de Carga Transportada DOM+INTL Toneladas no período 2003-2012. Fonte: ANAC, 2013.

A demanda por carga aérea transportada nos mercados doméstico e internacional tem acompanhado a evolução do PIB (Produto Interno Bruno) (figura 3). Trata-se do conceito de Elasticidade-Renda da Demanda. Ou seja, indica a variação da quantidade demandada quando ocorre variação da renda (PIB). De 2003 a 2012, o mercado cresceu consistemente com o desempenho da atividade econômica. Percebe-se que a partir de 2010, a forte recuperação econômica deste ano promoveu um deslocamento da curva de demanda por carga aérea para cima.

Fig.3. Evolução da Carga Transportada em toneladas (DOM+INT) e do PIB (base 100=2003). Fonte: ANAC, 2013 e IBGE, 2013.

A taxa de crescimento acumulada do PIB no período foi de 40,7%, ao passo que o crescimento do mercado de carga foi de 65,9%. Isso quer dizer que para cada ponto percentual de crescimento da economia, o mercado expandiu-se 1,18%, mostrando-se sensível às flutuações econômicas. Essa correlação direta nos permite, dentro de algumas previsões de expansão da atividade econômica, estimar o tamanho do mercado de carga aérea em 2020. Considerando um crescimento econômico médio anual de 3,6%, pode-se estimar um crescimento médio do mercado de carga de 4,2% ao ano.

4. Resultados

A figura 4 mostra a evolução do mercado de Carga Aérea e da Atividade Econômica a partir de 2013.

 

Fig.4. Projeção para o Mercado de Carga Aérea e PIB com base em Série Histórica de PIB (3,6% a.a.) e Carga Aérea (4,25% a.a.). Elaboração Própria

 

Para projetar a demanda futura, utilizou-se da elasticidade-renda do mercado de carga (1,18) em relação ao PIB. Sendo a relação diretamente proporcional, elevação do PIB ampliará o fluxo de cargas. Em 2020, estima-se que o mercado alcance o volume de 1.527,8 toneladas, contra os 1.095,4 toneladas de 2012. No período, o aumento previsto é de 432 toneladas. No mesmo período, a taxa de expansão da economia é prevista em 32,7% e a do mercado de carga em 39,5%.

5. Conclusões

O segmento de carga aérea é importante fonte de negócio na economia. Há uma relação direta entre atividade econômica e mercado de carga aérea. Assim, no cenário de expansão da atividade, o mercado se expandirá e imporá desafios de novos investimentos aos agentes público e privado.

6. Referências

ANAC. Relatórios Anuais. Ano 2003 a 2012. Disponível em: <http://www2.anac.gov.br/estatistica/anuarios.asp>.

INFRAERO. Terminais de Logística de Carga. Disponível em: http://tecanet.infraero.gov.br/infraerocargo/.

OLIVEIRA, Alessandro. Transporte aéreo: economia e políticas públicas, 1ª ed. São Paulo: Pezco Editora, 2009.

KEEDI, Samir. Transportes, Unitização e Seguros Internacionais de Carga: prática e exercícios. 4ª ed. São Paulo: Aduaneiras, 2008.