FATEFFIR – Faculdade de Teologia Fides Reformata 

Pólo de Jataí – Curso de Mestrado em Educação Holística




Laércio Silva dos Santos

 

 

 

 

 

 

A  EDUCAÇÃO RURAL NO MUNICÍPIO  DE  BALIZA-GO

Artigo apresentado à FATEFFIR – Faculdade de Teologia Fides Reformata – Pólo de Jataí – Curso de Mestrado em Educação Holística sob a orientação do professor Dr. Maurício Guedes.

Jataí – GO

Julho /2012

A  EDUCAÇÃO RURAL NO MUNICÍPIO  DE  BALIZA-GO

[*]Laércio Silva dos Santos

RESUMO

 

Este trabalho tem como objetivo buscar um melhor conhecimento da educação rural do município de Baliza-GO, fazendo uma breve retrospectiva buscando referências históricas para compreender o processo de formação das escolas do município, dentro do contexto histórico de formação da cidade, as mudanças da educação ao longo do tempo e a constituição das estruturas das escolas rurais do município de Baliza atualmente.

Palavras-chave: Educação, história, educação rural, precariedade.

ABSTRACT

 

The objective of this work is search a better knowledge of the rural education in Baliza-GO city, making a brief retrospective searching for historical references to understand the city's schools  formation process, within historical context of the city formation, the education changings along the time and the rural schools' structure constitution of the Baliza city currently.

Keywords: education, history, rural education, precarious.

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

O objetivo deste estudo é fazer uma análise da educação rural do município de Baliza, estado de Goiás, compreender a sua atual situação compreendendo as dificuldades e as precariedades enfrentadas ao longo do tempo, bem como analisar as carências atuais para o desenvolvimento de um trabalho de excelência nas escolas rurais.

Para a compreensão dessa situação traçamos um pequeno histórico da educação no município, desde a criação das primeiras escolas particulares até a criação das escolas rurais multisseriadas e as escolas municipais com o transporte escolar de hoje.

Finalmente traçamos considerações acerca do que poderia ser referendado como ações para o desenvolvimento de uma educação rural mais efetiva, eficiente e eficaz para os alunos da zona rural do município, que clama a muito tempo por ações positivas, para a melhoria da qualidade de ensino nas escolas do campo.

A  EDUCAÇÃO RURAL NO MUNICÍPIO  DE  BALIZA-GO

A maior marca da educação rural no município de Baliza ao longo do tempo foi a precariedade. O atraso, o descompromisso dos órgãos gestores, a carência de materiais e de profissionais, também sempre fizeram parte do cotidiano das escolas e dos alunos da zona rural.

A educação, oferecida aos alunos da zona rural do município de Baliza, não foi diferente da que foi oferecida aos alunos de outros estados e municípios pelo Brasil afora. Encaixa-se no sistema como um resíduo do sistema educacional brasileiro. A educação rural se limitava a transmitir os conhecimentos sem uma metodologia específica para esta clientela. Os conhecimentos aplicados nas aulas sempre foram elaborados sem a participação dos sujeitos do ambiente campesino. Segundo (COSTA, 2002; AMORIM, 2009) utilizava-se para os alunos da zona rural a mesma metodologia usada nas escolas urbanas. Isso não atendia as demandas dos alunos do campo, que necessitavam conhecer primeiramente o seu ambiente onde viviam, para, a partir disso, passar para a construção de um aprendizado acadêmico efetivo.

O desinteresse do Poder Público em realizar uma Política que atendesse as reais necessidades do homem do campo, fez com que, ao longo do tempo, houvesse uma descaracterização das comunidades rurais. Em Baliza, muitas escolas foram construídas em diversas regiões do município, o que proporcionava comodidade aos alunos, pois eles estudavam no lugar, perto de casa, contudo, esses mesmos alunos estudavam em turmas multisseriadas e quase sempre com professores despreparados, muitos não tinham nem completado o Ensino Médio, Técnico em Magistério.

Para entender melhor essa temática recorremos a arquivos da história do município de Baliza, que nos aponta para a compreensão do que temos hoje como educação rural. Entretanto, para ter este entendimento é preciso compreender como se desenvolveu a educação no município, a partir do desenvolvimento da cidade, zona urbana.

O município de Baliza, que teve sua origem nos manchas de diamantes próximas ao rio Araguaia, teve uma história educacional comum às diversas regiões do Brasil durante a Primeira República. Neste período, nos grandes centros urbanos já fervilhava a luta pelo ensino público gratuito, obrigatório, bem como a luta pela melhoria na qualidade do ensino. Enquanto isso aqui, nos rincões balizenses, as famílias se uniam pra montar uma estrutura que atendesse as necessidades educacionais de seus filhos. Segundo Oliveira (1997), “desde o principio, quando a cidade estava em construção nos anos vinte, o ensino foi ministrado em salas multisseriadas, com um único professor que recebia o pagamento diretamente dos pais dos alunos.”

Na maior parte do Brasil, nessa época, nem havia o ensino formal estruturado. Baliza não fugia à regra neste período. Era mais uma cidade que carecia de um ensino formal estruturado. A realidade daquele momento histórico do município de Baliza era aquela dos professores contratados pelas famílias para dar aulas particulares a seus filhos.

Na sequencia, nos anos trinta, foram construídas escolas e como no resto do Brasil as escolas eram chamadas de “Grupos”, onde “era ministrado apenas o ensino primário, em classes multisseriadas, com professores que não possuíam formação pedagógica.” (OLIVEIRA, 1997, p. 166).

Segundo relatos de professoras da época (Oliveira, 1997, p.166), o estado não tinha um programa definido para as escolas do interior, então elas resolveram seguir o programa da escola de freiras onde se formaram, no município mato-grossense de Araguaiana, onde tinha um Colégio Salesiano. Houve uma grande luta pela construção do ensino em Baliza. Posteriormente, essas professoras passaram a trabalhar para o estado e foram muitos os problemas enfrentados, principalmente no que refere o recebimento dos proventos, que atrasava até 03 anos para serem pagos. Nessa época um grupo de professoras decidiu abandonar o estado e montaram uma escola particular, que tinha o apoio das famílias, e principalmente dos comerciantes e dos capangueiros (compradores de diamantes). O paradigma da escola que funcionava em Baliza era o Colégio de Araguaiana. Segundos relatos dos professores e garimpeiros da época a clientela da escola era formada pelos filhos dos garimpeiros, comerciantes, capangueiros, e de outros profissionais que existiam na cidade. E apesar do empenho das professoras muitos alunos pobres não tiveram acesso à escola porque tiveram que trabalhar muito cedo pra ajudar a família, como confirma o depoimento de garimpeiros (OLIVEIRA (997, p. 168).

Muitos filhos de garimpeiros foram excluídos da escola pela própria mentalidade dos garimpeiros. Segundo depoimentos Oliveira (1997, p. 170) o garimpeiro não percebia a necessidade de escolarização para os filhos porque não precisavam ler ou escrever para desenvolver o trabalho deles. Já os filhos dos comerciantes, capangueiros e outros profissionais seguiam na escola e tiveram que mudar depois que concluíam o primário, para seguir com os estudos em outros lugares. Como só havia curso primário em Baliza os filhos dos capangueiros, comerciantes e outros profissionais completavam os seus estudos geralmente em Uberlândia, Rio de Janeiro e São Paulo, muitos se tornaram o orgulho do município, pois conseguiram lugar de destaque no cenário municipal, como foi o Caso de professoras que conseguiram se formar no curso normal em Uberlândia e trouxeram pra Baliza um novo paradigma em educação.

Na sequencia, a partir da década de 60, com as novas exigências legais, foi criada a escola estadual e ampliado o atendimento até a 8ª série popularmente conhecido como o “Ginásio”. A escola municipal ficava na sede do município e atendia somente os alunos da zona urbana.

Com o passar dos anos, para garantir o atendimento aos alunos da zona rural foram criadas as escolas municipais rurais. Em cada região do município foi construída uma escola para garantir os estudos dos alunos que ali residiam. Contudo, esse atendimento era muito precário. Precário no sentido da construção do conhecimento, porque se pautava somente na transmissão daquilo que fazia na escola urbana, ou seja, tratava-se de um arremedo daquilo que se ensinava na escola da cidade. Além disso, a ausência de formação pedagógica dos profissionais que trabalhavam, as condições para o desenvolvimento das atividades pedagógicas, como sala de aulas inadequadas, rancho de palha, configuravam altos sinais de precariedade.  Era basicamente um professor para todas as disciplinas e todas as séries do Primário, a conhecida sala multisseriada. Considera-se a partir dessa análise que a execução das atividades das escolas rurais no seu princípio, era uma forma de violência, pois servia apenas ao capital, pois supervalorizavam os significados urbanos em detrimento das convivências sociais do campo.

A LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei nº 4.024/61 se omitiu em relação à educação campesina e escola do campo. Já a LDB nº 5.692/71 faz referência a essa temática tratando como peculiaridades regionais no texto legal, fazendo um enfoque particular, localizado, para priorizar as regiões de microeconomias.  Entretanto, este enfoque ainda deixa à margem a educação rural. Não há ainda neste momento histórico a uma concentração de intenções e propostas para atender as demandas rurais de forma adequada.

Logo em seguida, na década de 80 foi criado Colégio Estadual na sede do município para atender aos alunos que concluíam o ginásio. Era uma escola de 2º grau para garantir aos alunos a formação acadêmica intermediária. E foi justamente criado neste Colégio o Curso Técnico em Magistério, para suprir uma carência que existia no município. Escolas rurais e urbanas com professores sem formação pedagógica. Esse curso funcionou durante muito tempo e garantiu a formação de quase todos os profissionais da educação do município de Baliza. Todavia, havia ainda uma grande mudança a ser realizada. As escolas rurais existentes em várias regiões do município foram desativadas. Foi construída uma escola municipal com maior estrutura na sede e outra no maior assentamento do município. Tudo isso já motivado pela nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

Na LDB, Lei 9.394/96, mais precisamente no artigo 28, já há uma preocupação acerca da oferta da educação nas escolas rurais, prevendo a adaptação dos conteúdos sociais trabalhados e metodologia às reais necessidades e interesses dos alunos das escolas rurais.

Art. 28. Na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente:

I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural;

II - organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas;

III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. (CARNEIRO, 1998, p. 93).

 

Neste artigo da Lei o principio de universalização do atendimento escolar é priorizado. O principio de universalização pressupõe uma escola de organização plurimodal capaz de atender diversos tipos de clientela. Além disso, a LDB 9.394/96 fala em diversos pontos do texto legal do atendimento às diferenças individuais. Isso tudo junto nos remete a formação de um conceito de educação básica voltado para a população rural, um dos maiores desafios da Escola Brasileira.

Essa grande dificuldade o município de Baliza estava tendo desde a formação da primeira escola no município. Com todas as mudanças já tinha um atendimento básico para a comunidade, já tinha escola urbana de melhor qualidade e passou a atender os alunos da zona rural com transporte escolar, levando estes alunos ou para a cidade ou para a escola pólo no assentamento.  No entanto o desafio ainda é grande, pois os investimentos públicos ainda são mínimos para garantir de verdade todos os direitos do cidadão. A educação dever ser acessível universalmente, deve ser organizada, atendendo o critério da satisfação da necessidade básica da aprendizagem, e é justamente neste ponto que  a escola rural, a educação do campo ainda peca muito.  Não tem uma ação focada em indivíduos contextualizados. Isso faz com que permaneçam ainda resquícios daquilo que foi dito inicialmente, a marca da precariedade, mesmo hoje com melhor aparelhamento e com professores com formação superior.  A escola rural carece ainda de um trabalho específico, ou seja, necessita de uma ação programática que atenda as demandas dos indivíduos que vivem no campo, sem deixar de aplicar os conteúdos sociais da Escola Básica brasileira.

 

 

 

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

     Este pequeno ensaio nos possibilitou dentre muitas coisas analisar, mesmo que de uma forma simples, a situação da escola rural no município de Baliza. Possibilitou-nos fazer uma retrospectiva histórica, de forma rápida, para entender que os problemas de hoje vem se arrastando ao longo do tempo e que se não houver uma busca mais audaciosa da gestão educacional e da gestão política, não adianta construir belos prédios com aparelhamento tecnológico, se não cuidar do aparelhamento daquilo que é mais importante, que é a formação do profissional da educação. Formação para atender os aspectos legais de universalização, que significa entender e construir uma conceituação de educação básica voltada para a educação rural. Entender a educação compreendendo as diferenças individuais, e que o educador seja capaz de trabalhar dentro do universo do aluno do campo, considerando-o como sujeito ativo dentro do processo ensino-aprendizagem.

Como observamos várias conquistas ao longo do tempo, acreditamos que neste pequeno ensaio a reflexão nos possibilita também construir pontos de avanço para o entendimento de que a educação rural faz parte do contexto atual e precisa ser revista com a superação de todos os entraves que impedem o sucesso do trabalho pedagógico no contexto rural.  Estas reflexões serviram pra fortalecer a luta, mostrar que a inquietação é positiva e precisa ser motivada para que, a partir dela, possamos dar novos passos rumo à modernidade e podermos produzir com dignidade o trabalho pedagógico dentro das escolas que se encontram na zona rural.

A educação rural deve ser focada na formação do sujeito para que ele possa interferir no seu ambiente, na sua realidade, em busca de uma vida mais humana e mais plena. A educação rural, além de ser diferenciada, deve ser mais do que uma extensão do que se trabalha na zona urbana e também da família. A educação rural tem que extrapolar os limites da educação básica tradicional. O desafio é grande, mas a educação do campo, aquela que é dada nas escolas da zona rural, deve fomentar e despertar no indivíduo a formação do cidadão crítico, filosófico, que o sujeito dessa aprendizagem possa entender os aspectos culturais que perpassam a sua vida campesina. Entender os movimentos sociais e culturais que possam influenciar a sua vida e a sua formação enquanto pessoa humana.

 

 

REFERÊNCIAS

 

AMORIM, Anajara Gomes.  Desafios da Educação no/do Campo: Um Estudo no município de Barra do Choça - Sudoeste da Bahia.

ARROYO, Miguel Gonzalez. Prefácio. In. KOLLING, Edgar Jorge. (Orgs). Por uma educação básica do campo. Fundação Universidade  de  Brasília,1999.

COSTA, Sidiney Alves. Os Sem Terra e a Educação: um estudo da tentativa de implantação da Proposta Pedagógica do MST em escolas de assentamentos no Estado de São Paulo. Dissertação (Mestrado). São Carlos: UFSCAr, 2002.

CARNEIRO, Moaci Alves. LDB Fácil: Leitura crítico-compreensiva : artigo a artigo – Petrópolis, RJ : Vozes, 1998.

MANACORDA, Mário Alighiero. História da Educação : da antiguidade aos nossos dias. 13ª Ed. São Paulo : Cortez, 2010.

MONTEIRO, A. Reis. História da Educação : do antigo “direito de educação” ao novo “ direito à educação”. São Paulo : Cortez, 2006.

OLIVEIRA. Maurides Batista de Macedo F. Mito e sobrevivência no garimpo: a cidade de Baliza – Goiás 1922-1960. 241p. Tese (Doutorado em História) – Pontifica Universidade Católica de São Paulo, SP. 1997.



[*] Mestrando em Educação Holística pela FATEFFIR.  Especialista em Língua Portuguesa pela UNIVERSO (Universidade Salgado de Oliveira - Goiânia), Especialista em Literatura Brasileira pela UNIVERSO (Universidade Salgado de Oliveira - Goiânia),  Licenciado em Letras pela UFMT – Universidade Federal de Mato Grosso.