1.     INTRODUÇÃO

A escola prazerosa define horizontes enquanto norteia ideologias. Existem inúmeras escolas distribuídas pelo país, porém, pouquíssimas unidades escolares estão dispostas a cumprir rigorosamente o papel de mediadoras de uma educação voltada ao "fazer". Ensinar é uma arte, onde aquele que se propõe a exercitá-la, deve, acima de tudo, destinar seus propósitos ao comprometimento com seu ponto de ação.

É necessário entender que a escola é da responsabilidade de todos, partindo do setor interno, desde o funcionário que garante a limpeza do espaço escolar, até a direção que se responsabiliza pela ordem geral e no setor externo, a comunidade, o país. Todos estamos interligados de certa forma ao setor educacional. Somos parceiros na construção da cidadania.

Podemos perceber, a partir de fatos concretos, que diariamente acontece na sociedade, em vários aspectos, onde indivíduos de classes sociais diversificadas têm acesso à tecnologia moderna. Há que se observar que as escolas públicas, obviamente, oferecem ensino gratuito e estão, em sua grande maioria, equipadas com material eletrônico disponível ao aluno de classe média baixa, portanto, podemos crer que existe uma certa coerência em todo o conteúdo assimilado pelo educando, em detrimento de sua condição limitada ou ilimitada de conhecimento. A informação repassada virtualmente chama a atenção também do educador que compara o seu nível de atuação perante o educando, que por vezes o coloca em segundo plano.

Nossa argumentação parte de princípios lógicos, onde analisamos que o mundo digital ocupa um espaço considerável, porém, é imprescindível analisar a importância do educador neste momento, para que toda essa tecnologia não construa efeitos negativos ao desenvolvimento  das habilidades do aluno, gerando, infelizmente um nível considerado de dificuldades lingüísticas, uma série de professores com ausência de discernimento, perante tal evolução, constantemente envolvidos na tarefa de ensinar sem uma metodologia convincente, que busque no aluno o prazer de aprender. Novos métodos são utilizados para que a perda de sua identidade não seja total e o empreendimento à luta seja compensador. É importante que o educando mantenha intacto o seu comprometimento com a escola e que esta, por sua vez, assegure também um ensino promissor.

A criança deve aprender a dominar seus instintos, é impossível lhe dar liberdade para seguir sem restrições seus impulsos. Seria uma experiência muito instrutiva para os psicólogos de crianças, mas os pais não poderiam viver, e as crianças mesmas teriam grande prejuízo, de imediato e com o passar do tempo. logo, a educação tem que inibir, proibir, reprimir e assim fez em todos os tempos. (Afirmações de Freud, extraídas das Conferências Introdutórias à Psicanálise)

Tais afirmações revelam a complexidade da "missão" do educador. A responsabilidade de conduzir o educando, sem, contudo, encobrir o que de nato existe em sua conduta pessoal, entusiasmar-se diante de seu aprendizado de forma tal, que este sinta-se inserido no contexto, como o principal referencial para uma educação voltada a um "saber" revolucionário, porém, apropriado ao seu tempo lúdico com o devido equilíbrio pedagógico. Segundo Kupfer, (1995), a ausência de restrições e de orientação pode produzir delinqüentes, em vez de crianças saudáveis. As angústias são inevitáveis; mesmo a infância mais feliz tem seu grão de angústia.

Parte do seio familiar a devida correção de hábitos negativos e o encaminhamento adequado. A família pode ser considerada como a moldura, enquanto que a escola é complemento mediador para o alcance satisfatório das necessidades individuais do cidadão como integrante de uma sociedade repleta de imposições. A escola é a máxima que irá coordenar ações transformadoras.

2.      A EDUCAÇÃO COMO REFLEXO ORDENADOR DA SOCIEDADE

Freud, que considerava a educação como ferramenta fundamental e em sua concepção era de suma importância contribuir para o saber humano. É necessário que o educador traga como bagagem ao seio da escola, o desejo de saber, pois que antes de ensinar, é preciso aprender, tornar nossa existência um eterno paraíso de conhecimentos inesgotáveis. Convencidos desta condição, cria-se a vontade de conhecer o educando como aquele que anseia por informações, mas também como um ser que pode nos ensinar e muito sobre as fases de sua história de vida, sua condição social que abrange aspectos extremamente sedutores a quem ensina.

Inconscientemente, o aluno possui uma gama de conhecimento nato que ele mesmo desconhece ao iniciar a vida escolar. Em detrimento deste conceito, podemos determinar, após o conhecimento prévio de suas habilidades, de seus anseios, seus dons, aparentemente resguardados do mundo exterior, todo o conteúdo que deve ser aplicado àquele aluno, periodicamente.

A educação tem, além de outras funções, ordenar princípios norteadores na condução do educando perante a sociedade que irá apresentar diversos meios de sobrevivência que nem sempre são satisfatórios.  O educador, conhecedor destes aspectos, irá direcionar o caminho de seus educandos de forma a priorizar um ensino de qualidade, desenvolvendo neles o prazer de freqüentar a escola, que por sua vez, garantirá os meios suficientes para a perfeita integração aluno-espaço escolar.

A escola deve ser um ambiente prazeroso, repleto de atividades enriquecedoras, que permitam a exploração das salas de leitura, onde revivam as bibliotecas atuantes, repletas de livros que trazem de volta memoráveis nomes de escritores de nossa literatura que serão vida ativa nas mãos de alunos interessados em conhecer e de professores ávidos em ensinar, e não poderíamos deixar de abrir um precedente à biblioteca, por se tratar do espaço mais enriquecedor da escola, simbolizando a importância da leitura como símbolo do conhecimento. É necessário valorizar a poesia como forma de despertar a sensibilidade, movimentar as salas de palestra com a exploração de temas atuais diversificados que coloquem o aluno ligado diretamente aos acontecimentos mundiais, investir no teatro,  música, dança, a contação de histórias, de onde revivam as fantasias e os sonhos que permitem recriar a alegria e muitas outras atividades que são a base sólida a propiciar o desenvolvimento positivo no espaço escolar. A escola não sobrevive sem o aluno e o professor não existe sem que este esteja presente. Portanto, ambos são necessários ao contexto. A esta educação, importa a ciência de determinar com seriedade os novos rumos a que se destina o saber. É indefinível a sensação de presenciar no aluno a vontade de seguir em frente, acreditar na escola que o molda e o conduz. A partir do momento em que a escola define metas prioritárias e que estas metas são, efetivamente, direcionadas à sua forma de ensinar e, em contrapartida um meio eficaz para a perfeita harmonia entre aquele que recebe a informação com um desejo imenso de realmente "aprender", podemos definir esta escola como a verdadeira escola.

Para Piaget, a educação é como uma relação de duas mãos: "de um lado o indivíduo em crescimento e de outro os valores sociais, intelectuais e morais que o educador está incumbido de incutir nesse indivíduo"[1] e recomendava que os professores fossem investigativos em seu trabalho.

E ainda, na concepção de Piaget, a educação é uma relação normativa entre um indivíduo e valores. Nessa acepção, educação cobre todos os tipos de valores e por conseguinte a definição de Piaget não atribui um status privilegiado de um tipo sobre o outro. Mais que isso, essa decisão é deixada para educadores que enfrentam um problema comum. Significa que valores intelectuais durante a escolaridade estão no mesmo barco que os valores morais durante a vida. Professores de uma geração usam seus valores (intelectuais, morais) na educação dos alunos da geração seguinte. Portanto, enfrentam um problema fundamental. Ensinar e aprender são ações que embutem propriedades normativas – não meramente causais. Isso significa que a educação é uma troca carregada de valores, e seu sucesso depende tanto da transmissão quanto da transformação.[2]

Educação, para a maioria das pessoas, significa tentar guiar a criança para parecer com o adulto típico de sua sociedade, enquanto, para mim, educação significa produzir criadores, mesmo que não haja muitos deles, mesmo que a criação de uma pessoa esteja limitada pela comparação com a de outros. (PIAGET, "Twelfth Conversation", pp. 128-32).

2.1. A escola prazerosa e geradora de um espaço enriquecedor

O educador ao adentrar em seu local de atuação, deve se permitir a uma preparação interior constante, no sentido de conduzir suas atividades amorosamente, de forma a trazer o aluno para si, as idas constantes à direção, à supervisão e as reclamações quanto ao comportamento do aluno, são pontos a serem analisados criteriosamente, pois se transformam em uma forma desgastante e cansativa tanto para o aluno quanto para o professor, porque denota claramente a ineficiência de ambas as partes; ao aluno, por manter-se desinteressado em atividades desprovidas de uma certa dose de criatividade, à escola, pela ausência de profissionais capacitados que o traga à realidade, sem macular seus princípios. Existe uma carência, algo que deve ser levado em consideração, o que se espera da escola, não se encontra, então, por motivos óbvios, iniciam as cobranças absurdas de pais, escola, sociedade. Há que se analisar a escola, no cumprimento de seu papel, no sentido de propiciar ao aluno mudanças necessárias, enquanto promove condições adequadas para a constância do aluno no espaço escolar.

É necessário acima de tudo, questionar não somente os motivos que levam o aluno a ter um comportamento negativo, mas analisar também, as condições que a escola oferece para desenvolver nesse aluno a vontade de participar, ou seja, a criatividade nas pesquisas de campo para redimensionar atitudes, valorização de projetos que são simplesmente citados em Projetos Político Pedagógicos, mas que estão longe de serem executados, promover a diversidade de atividades, dentro e fora da sala de aula, palestras, teatro, música, onde alunos e professores possam diminuir os passeios constantes à direção da escola, que tornando-a geradora de situações desconexas.

Um estímulo pode ser provisoriamente definido como uma parte, ou a modificação em uma parte do meio, e a resposta pode ser definida como uma parte, ou a modificação de uma parte do comportamento. Devemos reconhecer entretanto, que um estímulo não pode ser definido independentemente da resposta. Um evento qualquer do meio torna-se um estímulo em virtude do fato de ser seguido por uma resposta. (SCHOENFELD, 1974).

Há que se ter o cuidado na formação de hábitos no aluno, para fortalecimento de sua conduta diante de uma modernidade que renasce a cada dia, uma vez que as mudanças na sociedade são constantes e imprevisíveis e tanto o aluno quanto o professor são objetos dessas mudanças, um, porque aprende e é introduzido vertiginosamente no contexto, o outro, porque ensina e se torna o direcionador daquilo que podemos chamar de evolução.

Rousseau pronuncia-se sobre vários assuntos, inclusive pedagogia e educação, nos quais, em seus pressupostos básicos investia na crença da bondade natural do homem e a atribuição à civilização da responsabilidade pela origem do mal, a influência corruptora da sociedade transforma o homem. Os objetivos da educação para Rousseau comportam dois aspectos: o desenvolvimento das potencialidades naturais da criança, bem como seu afastamento dos males sociais. O mestre deve educar o aluno baseado nas suas motivações naturais. Para Rousseau, "logo nos tornamos conscientes de nossas sensações, estamos inclinados a procurar ou evitar os objetos que as produzem".

"Nascemos fracos, precisamos de forças, nascemos desprovidos de tudo, temos necessidade de assistência; nascemos estúpidos, precisamos de juízo. Tudo o que não temos ao nascer, e de que precisamos adultos, é  nos dado pela educação. Essa educação nos vem da natureza ou dos homens ou das coisas- (ROUSSEAU, 1995, P.10)

 

Para Chauí (1987), o processo educativo preconizado por Rousseau é negativo, limitando-se àquilo que não deve ser feito. A educação positiva deve iniciar-se quando a criança adquire consciência de suas relações com os semelhantes. Passa-se, assim, do terreno da pedagogia, propriamente dito, aos domínios da teoria da sociedade e da organização política.  

"Se Locke trabalha com o objetivo de estabelecer as condições de liberdade dos homens, Montagne, antes dele, quer que os adultos façam da criança um homem – o que já significa considerar que ela não é um 'adulto em miniatura'- e Rousseau, depois dele, quer que os adultos deixem a criança ser criança, de modo que a infância aconteça, pois ela é o que há de melhor nos homens". ( GHIRALDELLI, JR, 2000, p. 15).

Analisando a possibilidade de que vários estudiosos dedicaram sua existência em função de estudos relacionados à Pedagogia, entendemos que a preocupação é constante e estende-se aos diversos setores da educação criados para fortalecer a relação existente entre escola/cidadão. Ao que bem se posiciona Cedran (2002), quando diz que não podemos esquecer que o maior mérito de Rousseau reside no fato de fazer da educação, como diz Salinas Fortes, uma possibilidade pedagógica de livrar o indivíduo da corrupção circundante, possibilidade esta, tão necessária em tempos de educação neoliberal, onde o amor à pátria se dilui numa pseudo-globalidade dos povos e a educação pública, tão defendida por Rousseau, torna-se sinônimo de ineficiência diante dos pressupostos economistas que passarem a predominar na área educacional.  Se acreditamos ser possível se formar o homem e o cidadão nos termos propostos por Rousseau, refletir nosso momento educacional à luz de sua obra, nos intriga incessantemente a pensar.[3]

Ao adentrar a escola, o professor compromissado realmente com a função de educar, deixa atrás de si, todas as problemáticas e distúrbios pessoais, para se materializar no mundo do aluno, onde tudo é fascinante porque são descobertas novas e a cada dia são diferentes. O professor atuante planeja ações inovadoras e abre um leque de opções ao aluno para que este se sinta fortalecido a vivenciar a realidade social. O professor é o reflexo, a base, a estrutura capaz de transformar, de redimensionar. O educador consciente de seu papel, não se permite a acreditar que seja realmente o mestre, aquele que traz em si o dom de ensinar, mas sim, aquele que se abre a um aprendizado constante na distribuição e recepção de conhecimentos inesgotáveis, este sim é o verdadeiro mestre.

3.      O PAPEL DA EDUCAÇÃO FRENTE AS COBRANÇAS DA SOCIEDADE

Paulo Freire eleva o ensino ao ápice, porque traduz com louvor a sua essência de seguir muito além de uma profissão, projetando-se assim, em uma missão de comprovados saberes num processo dinâmico de promoção da autonomia do ser de todos os educandos. Paulo Freire definiu os princípios da educação por excelência, promovendo uma educação respeitável, porque valoriza o educando e sua visão de mundo e o torna ligação principal para a libertação e autonomia deste, como ser influente e capacitado em sua própria evolução.

"Não há docência sem discência. A prática de velejar coloca as necessidades de saberes fundantes como o do domínio do barco, das partes que o compõem e da função de cada uma delas, como o conhecimento dos ventos, de sua força, de sua direção, os ventos e as velas, a posição das velas, o papel do motor e da combinação entre motor e velas. Na prática de velejar se confirmam, se modificam ou se ampliam. Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção." (PAULO FREIRE,  Pedagogia da Autonomia, 4a. Edição, Rio de Janeiro: Paz e Terra, página 24 e 25).

            As cobranças da sociedade são inúmeras e a educação produz efeitos extremos na condução de obrigações sociais. Estamos todos inseridos em um contexto onde a necessidade de sobrevivência corresponde única e exclusivamente aos direitos comuns de cada um, o que define a existência de cada ser, tão logo adquira "personalidade". Não é possível dissociar fatores que automaticamente são projetados aos cidadãos que passam a fazer parte de uma mesma sociedade. É necessário produzir conhecimento, ao que Paulo Freire conduz tão bem sua fala quando diz sobre a criação de possibilidades para a produção ou a construção de conhecimento.

            Vários fatores sociais emergem, para sobrepor aos obstáculos de se fazer cumprir as exigências que garantem os ajustes positivos da educação dentro da sociedade, um deles, podemos classificar como exclusão social, onde nenhum indivíduo nasce e cresce em situação de carência por opção, somos todos iguais perante a lei, até mesmo porquê, constituímos fruto de um mesmo universo. Os direitos são os mesmos e as concepções de cidadania são idealizações comuns de todos os indivíduos que sobrevivem em função da paz mundial e do reconhecimento mútuo de nossa condição de cidadãos de personalidade irrefutável no que se refere ao cumprimento da lei e suas determinações. As diferenças sociais não suportadas, bem como, situações inconstitucionais que, infiltradas no meio social, contradizem com o direito individual de cada um, enquanto impedem e inibem o crescimento educacional por razões óbvias. A escola passa a ser a última das opções.

A geração de conhecimento deve ser constante, a capacitação de educadores realmente voltados a educar com responsabilidade, a preocupação e manifestação constante dos órgãos competentes para fortalecer o ingresso de alunos na escola e oferecer meios para a subsistência de uma educação construtiva e repleta de inovações, material didático adequado e renovado, a valorização governamental ao trabalho do professor, dando-lhe condições financeiras para desenvolver um trabalho digno e garantindo-lhe possibilidade de capacitar-se gradualmente, para que sua produção seja positiva e desprovida de desânimo.

Para Heidegger, era crucial que os alunos se submetessem às exigências e ao rigor de pensar – prestar atenção ao que convoca ser pensado e partir de uma situação de aprendizagem única em que eles estão envolvidos. Ele se mostrava contrário à mecanização do pensamento que tenta enquadrá-lo em estruturas pré especificadas e geralmente altamente instrumentais. Fechando assim suas possibilidades. O pensamento genuíno não é uma assimilação de uma série de fragmentos de informação pré especificada e idéias, mas uma viagem excitante e exigente em direção ao desconhecido. Ele avança a partir do que é de certa forma incipiente em nossa percepção, e tem ainda de se revelar.

            O Ensino Fundamental e sua importância na solidificação de conhecimentos

Na idéias de Luckesi (1985), sobre conhecimento como forma de libertação e de opressão, o conhecimento liberta o sujeito porque lhe dá independência e autonomia. Desde que saiba que se conheça, pode-se agir sem estar dependendo da alienação de nossas necessidades a outros. (...) desconhecer nossos direitos torna-nos seres dependentes. Ignorar nossas capacidades e nossos poderes de luta e transformação conduz-nos ao entreguismo e ao comodismo social e histórico.

O conhecimento pode se traduzir como fonte inesgotável de informações, porém, sendo trabalhadas gradativamente. O conhecimento sem a vontade de explorar ações, torna-se enfadonho e sem objetividade. Claramente podemos verificar que o educando depende desse aprendizado como continuidade de sua personalidade como cidadão, ou seja, o Ensino Fundamental traz essa responsabilidade, porque é considerado a base, o início da vida escolar, onde o aluno vai despertar para a concretização de seus ideais. È exatamente neste ponto que podemos avaliar a ação do educador enquanto condutor principal na produção e transmissão de conhecimentos ao aluno, providenciar para que sua vida no ambiente escolar seja prazerosa e gratificante.

Escolher a profissão de "Educador", exige esforços, pois não se vive apenas para si, mas para um número significativo de crianças que dependem de seus ensinamentos. Socialmente falando, há que se observar que tal preocupação fundamenta-se na quantidade de profissionais que definem sua profissão de supostos transmissores de conhecimentos, mas que não se envolvem diretamente ao que se propuseram. A nobre escolha de ensinar é uma arte, um desafio, é compromisso que exige entrega, sendo que, as profissões de futuros educandos são o reflexo do conhecimento adquirido pelo educador de outrora.

3.2.      A impotência do educador diante de reações negativas do aluno e a inércia do professor no repasse de suas experiências

O que dizer do desinteresse que gera insatisfação por parte do aluno. Aqueles que não conseguem encaixar-se perfeitamente ao contexto, à metodologia da escola ou à forma particular de cada professor ao expressar suas idéias, ao repassar seus conhecimentos. O que dizer também da inércia do educador e da inexistência de uma ação produtiva. Há que se avaliar também a participação da comunidade escolar, o interesse de órgãos que trabalham diretamente com a Educação, a fiscalização de verbas governamentais destinadas à educação e que devem ser utilizadas corretamente, há bem de garantir um ensino adequado em uma escola fortalecida de material didático que suporte a demanda de alunos, em se tratando de escolas públicas, bem como a avaliação constante da metodologia aplicada.

As ações proibitivas na educação são necessárias, a limitação à criança e ao adolescente são de responsabilidade da família, bem como da escola, no cumprimento das exigências e regras impostas pela sociedade no que concerne ao cidadão, porém é necessário que tais proibições sejam substituídas pelas atividades lúdicas produzidas pela equipe escolar e que venham de encontro ao que servirá de ampla aceitação do aluno, em detrimento de suas necessidades interiores.

Em seu Projeto Político Pedagógico, a escola demonstra suas idealizações e os objetivos  alcançados com inúmeros projetos concluídos ou em andamento. Infelizmente não podemos crer que todas as unidades escolares cumprem rigorosamente na prática, a aplicação de todos esses projetos. Faz-se necessária uma fiscalização por um órgão competente que garanta a sua plena realização, ou até mesmo, o que seria mais provável, que fossem em um número menor, mas que estejam ativos e a disposição de alunos que necessitam de sua aplicação construtiva. Algumas escolas por vezes se preocupam em idealizar projetos que apareçam no Projeto Político Pedagógico, mas que na realidade jamais foram executados, por vários motivos: falta de verbas, material insuficiente, recursos humanos, ausência de criatividade da equipe de professores, especialistas e até mesmo a equipe dirigente que não abre espaço para que o mesmo aconteça, enfim, são vários motivos que contribuem para que um projeto não seja devidamente explorado.

A função da escola é promover um espaço saudável, garantir a permanência do aluno em suas dependências, por opção e não por imposição. Ao educador, cabe estabelecer regras de comportamento mantendo ativa sua criatividade, alegria, ânimo e postura idônea. Considerar o aluno como um projeto, um empreendimento que requer atenção, para que ao final os resultados sejam satisfatórios.

O desinteresse do aluno, o desrespeito e a indisciplina, são pontos negativos que demonstram a ausência de autonomia do professor enquanto autoridade em sala de aula. O aluno que constantemente é conduzido à diretoria ou supervisão adquire uma certa vantagem sobre o professor, porque costuma colocar-se na posição de comando enquanto se considera o centro das atenções. O professor jamais deve permitir-se a transferir suas responsabilidades e demonstrar tão claramente sua condição negativa diante da incoerência a que este aluno se coloca. Geralmente o aluno nestas condições, está tentando chamar a atenção e talvez, nem ele mesmo perceba, mas está trazendo para o seio da escola seus medos, suas angústias, as insatisfações do meio externo. Sendo assim, a família deve ser avaliada constantemente, por ser o principal vínculo da criança no ambiente fora da escola.

O professor, deve, acima de tudo ser também um investigador, psicólogo, apesar de que, dentro da escola deve haver um profissional capacitado que atenda as diversidades de problemas apresentados por determinados alunos. Não podemos nos esquecer neste ponto, de que, infelizmente algumas unidades escolares transferem responsabilidades a funcionários inadequados que passam a exercer determinadas atividades que não são próprias dos cargos a que foram destinados e que são devidamente credenciados. O que temos, portanto, são servidores que cuidam da merenda escolar, exercendo inadequadamente a função de regentes de turma, inspetores de alunos, auxiliares de secretaria destinados a cumprir atividades na biblioteca e assim, sucessivamente. Todos esses desvios inconseqüentes de função são negativos à produção do aluno e ao desempenho anual satisfatório, o que ocasiona a evasão escolar, um grande índice de reprovação e a insatisfação de pais que são chamados constantemente na escola por motivo de problemas de comportamento dos filhos.

A educação libertadora vê o educando como sujeito da história. Vê na comunicação "educador-educando" uma relação horizontal. O diálogo é um traço essencial da educação libertadora. Todo esforço de conscientização baseia-se no diálogo, na troca, nas discussões. A humildade é um pré-requisito ético do educador que se propõe a ajudar no processo de libertação pela educação. A educação libertadora busca desenvolver a consciência crítica de que já são portadores os educandos. Parte da convicção de que há uma riqueza de idéias, de dons e de carismas na alma e no cotidiano dos interlocutores.[4]

            Se há uma prática exemplar como negação da experiência formadora é a que dificulta ou inibe a curiosidade do educando e, em conseqüência, a do educador. É que o educador que, entregue a procedimentos autoritários ou paternalistas que impedem ou dificultam o exercício da curiosidade do educando, termina por igualmente tolher sua própria curiosidade. Nenhuma curiosidade se sustenta eticamente no exercício da negação de outra curiosidade. A curiosidade dos pais que só se experimenta no sentido de saber como e onde anda a curiosidade dos filhos se burocratiza e fenece. A curiosidade que silencia a outra se nega a si mesma também. O bom clima pedagógico-democrático é o em que o educando vai aprendendo à custa de sua prática mesma que sua curiosidade como sua liberdade deve estar sujeita a limites, mas em permanente exercício. Limites eticamente assumidos por ele. Minha curiosidade não tem o direito de invadir a privacidade do outro e expô-la aos demais.[5]

            Paulo Freire também reforça a questão de que os educandos brasileiros precisam saber, desde a mais tenra idade, é que a luta em favor do respeito aos educadores e à educação inclui que a briga por salários menos imorais é um dever irrecusável e não só um direito deles e ainda diz que a luta dos professores em defesa de seus direitos e de sua dignidade deve ser entendida como um momento importante de sua prática docente, enquanto prática ética. Não é algo que vem de fora da atividade docente, mas algo que dela faz parte. Ao que entendemos, na concepção de Paulo Freire a importância do professor para conduzir a educação e, portanto, a necessidade de sua valorização profissional visto que, o crescimento de uma nação depende da escolha de ser professor, mercê de qualidades singulares. Não é uma escolha fácil, porém, se torna a mais louvável das profissões, visto que dela se ramificam todas as outras, porque dependem da educação.

             

4. EDUCAÇÃO E CIDADANIA: a escola real como garantidora de um espaço enriquecedor e prazeroso, alicerçada em uma notável fonte de conhecimentos

A educação é tratada dentro de parâmetros amplos. Nesta linha, abandona-se a idéia de educação como tarefa a ser executada apenas pela escola ou por instituições sociais designadas para esse papel. Vê-se a educação como soma de esforços sociais para transmitir experiências, história, valores etc., na linha de perspectivas universalizantes e totalizadoras como as de Aristóteles, Platão, Sócrates, Montaigne, Spencer, Nérici, Luzuriaga, Pestalozzi. Esses pensadores têm posições muitas vezes bastante divergentes, mas são concordes na visão larga, e não restrita, que têm disso que podemos chamar de processo educacional. (HERKENHOFF, 1996)

Em sua concepção, Herkenhoff diz que a Cidadania também transpõe o conceito restrito com que se costuma entendê-la. Não é apenas o estado daquele que tem o gozo dos direitos civis e políticos. É a Cidadania vista como um acréscimo à dimensão do "ser pessoa". Ninguém pode ser cidadão se não é pessoa, se não se lhe reconhecem os atributos próprios de dignidade humana. A missão ética da Educação, de um lado e, de outro, a concepção do educador como formador da Cidadania, são dois outros traços que definem os rumos desta pequena obra.

A partir do momento em que houver a conscientização política, no sentido de garantir a plena realização do cidadão, a torná-lo também responsável pela progressão social e garantindo-lhe direitos acordados pela Constituição no que se refere à Educação, respeitando seus princípios éticos que estejam fundamentados no desenvolvimento de suas habilidades como membro atuante, construtor de um país que valoriza o "saber" e redefine condições para que o "fazer" seja constante, estaremos verdadeiramente aptos a avaliar, redimensionar, planejar ações e enfim, dentro de um espaço público, estabelecer metas que sejam comuns e direcionadas ao bem de todos.

Hannah Arendt, na valorização do espaço público, utilizado com sabedoria, nos dá uma noção da forma de promoção do indivíduo na essência de suas potencialidades, porque a partir do momento em que o cidadão está inserido neste espaço participativo, pode-se dizer que esteja preparado a garantir sua plena realização. A Educação, neste sentido é sobremaneira essencial, porque reveste-se de uma característica sem precedentes, "educar e agir", a partir do momento em que o educador inicia seu trabalho de "ensinar", o termo Educação, se manifesta nas ações das equipes que trabalham para uma escola prazerosa, que tem o papel também de investigadora das ações do aluno e sua concepção de mundo, moldando-o, através de sua forma original de conhecimento, de sua realidade além das portas da escola, propiciando-lhe momentos de criatividade inovadora, que sejam eficazes e que produzam efeitos positivos na seqüência de sua vida social futura, garantindo-lhe a liberdade de escolha e esta liberdade somente será considerada de fato, quando o cidadão usufruir de um espaço público, onde possa emitir sua opinião, suas críticas. Sendo assim, não somente será considerado livre, como, efetivamente poderá exercer plenos direitos de Cidadania.

Para Hannah (1979), os homens são livres – diferentemente de possuírem o dom da liberdade – enquanto agem, nem antes, nem depois; pois ser livre e agir são uma mesma coisa e a educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele", a educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos.

A educação tradicional e a nova têm em comum a concepção da educação como processo de desenvolvimento individual. Todavia, o traço mais original da educação desse século é o deslocamento de enfoque do individual para o social, para o político e para o ideológico. A pedagogia institucional é um exemplo disso. A experiência de mais de meio século de educação nos países socialistas também o testemunha. A educação, no século XX, tornou-se permanente e social. É verdade, existem ainda muitos desníveis entre regiões e países, entre o Norte e o Sul, entre países periféricos e hegemônicos, entre países globalizadores e globalizados. Entretanto, há idéias universalmente difundidas, entre elas a de que não há idade para se educar, de que a educação se estende pela vida e que ela não é neutra. [6]

Para Gadotti, a escola precisa ter projeto, precisa de dados, precisa fazer sua própria inovação, planejar-se a médio e a longo prazo, fazer sua própria reestruturação curricular, elaborar seus parâmetros curriculares, enfim, ser cidadã. As mudanças que vêm de dentro das escolas são mais duradouras. Da sua capacidade de inovar, registrar, sistematizar a sua prática/experiência, dependerá o seu futuro. Nesse contexto, o educador é um mediador do conhecimento, diante do aluno que é o sujeito da sua própria formação. Ele precisa construir conhecimento a partir do que faz e, para isso, também precisa ser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos sentidos para o que fazer dos seus alunos.

5.      CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação será cada vez mais complexa, porque a sociedade vai tornando todos os campos mais complexa, exigente e necessitada de aprendizagem contínua. A educação acontecerá cada vez mais ao longo da vida, de forma seguida, mais inclusiva, em todos os níveis e modalidades e em todas as atividades profissionais e sociais. A educação será mais complexa porque vai incorporando dimensões antes menos integradas ou visíveis como as competências intelectuais, afetivas e éticas. A educação será mais complexa porque cada vez sai mais do espaço físico da sala de aula para ocupar muitos espaços presenciais, virtuais e profissionais; porque sai da figura do professor como centro da informação para incorporar novos papéis como os de mediador, de facilitador, de gestor, de mobilizador. Sai do aluno individual para incorporar o conceito de aprendizagem colaborativa, de que aprendemos também juntos, de que participamos e contribuímos para uma inteligência cada vez mais coletiva.[7]

A construção da cidadania, está pautada na seqüência das ações que norteiam, dialeticamente, os mecanismos sociológicos encarregados de demarcar os campos inovadores de nossas atitudes, ao longo do tempo, ou seja, tanto o educador quanto o educando se perpetuam historicamente na busca de seus ideais, cada qual se satisfazendo conforme suas necessidades. Não temos como ensinar se não possuímos e cultivamos a virtude do "aprender", sendo assim, a humildade no plano do conhecimento é fator relevante, tendo em vista que, quando aceitamos o fato de que somos os únicos responsáveis pelas nossas idealizações, nos tornamos conscientes dessa capacidade indiscutível de ensinar, aprendendo e vice-versa.

O fazer somente se concretiza, quando conseguimos alcançar um nível de entendimento específico, onde o educando, ao captar a mensagem, inicia um processo de produção gradativa e a somatória de conhecimentos que serão alicerce sólido na edificação de seus ideais e na licitude de sua conduta perante a sociedade. A partir do momento em que escola-aluno-comunidade reconhecem, cada qual, a importância de seus papéis, com certeza o ensinar, bem como o aprender, tornar-se-ão mais prazerosos.

"O conhecimento não pode advir de um ato de "doação" que o educador faz ao educando, mas sim, um processo que se realiza no contato do homem com o mundo vivenciado, o qual não é estático, mas dinâmico e em transformação contínua". (Paulo Freire).

   

REFERÊNCIAS

BITTAR, Eduardo C. B., Doutrinas e Filosofias Políticas: Contribuições para a História da Ciência Política. Ed. Atlas. São Paulo, 2002.

ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. 2. ed. Tradução de Mauro W. Barbosa de Almeida. São Paulo: Perspectiva, 1979. p. 199

CHAUÍ, Marilena. Vida e obra in Coleção Os Pensadores – Rousseau, Vol. I, Nova 
Cultural, S.P., 1987.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia - Saberes necessários `a prática educativa. São Paulo, Brasil: Paz e Terra (Colecção Leitura), 1997. Edição de bolso, 13,5x10 cm., 165 páginas.

GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre, Ed. Artes Médicas, 2000.    

GHIRALDELLI JR, Paulo. Pedagogia e Infância em tempos neoliberais in SILVA, Jr, 

HERKENHOFF, João Baptista. Ética, Educação e Cidadania. Livraria do Advogado Editora. Porto Alegre, 1996.

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 www.unicamp.br/~jmarques/cursos/rousseau2001/PauloCedran.htm




[1] Piaget, Science of Education and the Psychology of the Child, p. 137.

[2] PALMER, Joy A. 50 Grandes Educadores Modernos, de Piaget a Paulo Freire. Ed. Contexto. São Paulo, 2007.

[3] Paulo Cesar Cedran mestre em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista – CL. doutorando em Educação Escolar pela FCL Secretário de Educação e Cultura do Município de Matão – 2002 .    www.unicamp.br/~jmarques/cursos/rousseau2001/PauloCedran.htm

[4] HERKENHOFF, João Baptista. Ética, Educação e Cidadania. Livraria do Advogado Editora. Porto Alegre, 1996. p. 55.

[5] A curiosidade a que tão bem define Paulo Freire, em Pedagogia da Autonomia – saberes necessários à prática educativa, p. 84 e 85, leva educadores a repensar as inúmeras maneiras de conduzir positivamente o pensar em relação ao educando, em detrimento de seus conceitos e sua curiosidade de mundo, respeitando aquilo que pode ser considerado como autonomia de pensamento. O educador que se preocupa realmente com as características que definem a sede de saber daquele a quem conduz, se eleva também na condição de doador de esperança, e renova a cada dia suas ações porque entende que para transformar é necessário alinhar suas ações ao que realmente se pretende alcançar no momento em que repassa conhecimentos.

[6] MOACIR GADOTTI , Professor da Universidade de São Paulo e Diretor do Instituto Paulo Freire.
Autor, dentre outras obras, de
Perspectivas atuais da educação.

[7] MORAN, José Manoel, Ensino e aprendizagem inovadores com tecnologias audiovisuais e telemáticas. In: MASETTO, Marcos; MORAN. José Manoel; BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas: Papirus, 2000. cap. 1. p 11-66.