O modo de se pensar a educação no cenário brasileiro, ao longo dos anos, tem sofrido com o caráter tecnicista e positivista. Também é perceptível revezes no que diz respeito aos fatores públicos e operantes, acarretando na inferiorização dos procedimentos padrões dos chamados países desenvolvidos (se é que podemos realmente sonhar com processos miraculosos e muitas vezes de fachada).

Com o objetivo de aprimorar  e tornar eficaz o ensino no país existem diversos instrumentos que vai desde o famoso Enem ou as Prova Brasil até as avaliações em nível estadual e municipal. São muitas avaliações para tentar enxergar onde se deve melhorar. Tal fato chega até a surpreender porque em muitos lugares a tendência é somente avaliar os alunos em Português e Matemática, quando na verdade todo ser racional e pensante é conhecedor de que ninguém consegue dominar todos os componentes curriculares e, por sinal, todas as áreas. Sendo assim, um ser que não é “bom” em Português ou Matemática pode ser “excelente” em outras áreas como História, Geografia, Filosofia, Educação Física, Artes etc.

Caberia a escola, ao “brincar” de avaliar e ao se preocupar em cumprir metas que mascarem a realidade, identificar quais são as potencialidades verdadeiras dos seus alunos. Para tantos poderiam ser realizados diversos projetos, sempre de acordo com a realidade da comunidade. Por mais que esse discurso seja proferido nas licenciaturas e capacitações ou treinamentos ele ainda não é vivenciado na realidade.

Projetos como grupos teatrais, gincanas, aulas-passeios, festivais musicais e culturais, mostras gastronômicas e regionais, cafés filosóficos e poéticos, formação e efetivação dos grêmios estudantis, torneios interclasse e interescolares de futsal, futebol, vôlei etc. são alguns dos meios que ensinam muito mais que em uma mera avaliação sofrível e enquadradora. Cabe a cada docente ou a um grupo de docentes elaborarem bons projetos. No entanto, cada projeto deve ser simples, sem muito rebuscamento, mas que de simples se torne aos poucos complexo, porque aprendendo as coisas simples é que se chegam as mais difíceis.

Partindo nesses horizontes pode-se chegar a mudança tão esperada. É dando valor as qualidades de cada pessoa, enxergando cada ser como realmente é, ou seja, um ser-único e ao mesmo tempo detentor por excelência de habilidades e competências peculiares que tendem, desde que utilizadas e bem conduzidas, a aumentarem gradativamente, não fazendo o aluno um sujeito autossuficiente e arrogante de saber, mas um sujeito-aprendente e carecedor de conhecimento, pois esse não é algo que se esgota em um campo ou dois de saberes, mas é muito mais complexo e significativo.

Sendo assim, é fundamental perceber que alguém que gosta de música pode muito bem desenvolver, em conjunto com as Artes, conhecimentos matemáticos, quanto o trato de ritmos, de sua língua nativa ou estrangeira, no caso de compor, traduzir, fazer versão ou paródias, Educação Física, na parte de dança e movimentos, etc. Cada assunto, cada área é um convite a se aventurar por outras áreas, onde como na canção “Argonautas” de Caetano Veloso: “Navegar é preciso”.

Tendo essa iniciativa, pode-se muito bem avaliar tanto os alunos como os mestres, equipes pedagógica e gestora. Basta perceber o envolvimento nas atividades, nos projetos, a disponibilização e captação de recursos para o desenvolvimento dos mesmos, sempre priorizando a reciclagem e o que possa ser reaproveitado.

Com base nisso, muito se tem falado e discutido em congressos e seminários, muitos são os sonhos de professores de universidades e licenciandos. No entanto, o próprio sistema impõe a educação pautada em avaliações de múltipla escolha, com as devidas pegadinhas, onde transformam o ato de avaliar em uma mera loteria-avaliativa, bastando o aluno ter apenas sorte de escolher a alternativa correta. Claro que muitos estudam pra fazer as provas, mas outros apenas usam a sorte e quando não atingem a meta mínima, o estado, na maioria das vezes, oferece meios pra que ele não se sinta no “fracasso” e recupere aquela nota, pois afinal, deixará de ser um problema para os governantes e estes ganharão prêmios por terem conseguido erradicar a reprovação ou a desistência de alunos em seus sistemas.

Tal fato é comprovado pela facilidade em se terminar o ensino médio por exemplo. Há algumas situações que basta a pessoa ter um mínimo de idade e realizar uma prova ou até mesmo o famoso Enem e atingir uma média que tem direito ao certificado de conclusão de ensino médio. Isso é um retrocesso no campo educacional e uma falta de vergonha por parte dos governantes, com o nome de inclusão social.  Mas essa é uma discussão longa e na qual desembocará outras tantas.

Se quisermos mesmo avaliar da melhor forma, teremos que utilizar dos diversos meios, também, como que em absoluto do de múltipla escolha, por mais que esse seja criticado acima e entre tantos mestres. O motivo é simples: este é o meio que se usa no cotidiano pra tudo! Desde vestibular, concursos, provas de admissão ao emprego, etc. Tudo é feito desta forma. Privar os alunos desses meios, é privá-los do amanhã-presente. No entanto, cabe a nós, educadores, avaliar nesses métodos questões que façam o aluno pensar e não apenas decorar, que sejam questões feitas para alunos críticos e investigativos, curiosos e espantados com as coisas do mundo, apesar de o espanto, há muito tempo não se fazer presente na vida das pessoas.

Por fim, ao complementar a avaliação de múltipla escolha, fujamos de outras do passado e voltemo-nos pra questões do amanhã-futuro, ou seja, trabalhemos com bons projetos que despertem em todos os participantes a busca e o gosto pelo conhecimento e por um aprendizado coerente com o que se sonha nas belas leis nacionais, nos grandes congressos, seminários, simpósios e tantos outros com temas educacionais, mas que em grande parte não estão presentes no cotidiano da sala de aula de minha escola ou bairro, é preciso perceber a teoria como uma relação de aliança perfeita com a prática, onde uma não se separa da outra, mas se encontram, se amam e se complementam, formando uma só coisa. Quando conseguirmos isso, conseguiremos avaliar e sermos avaliados da melhor forma possível.