Cultura é entendida de muitas maneiras, desde a mais tradicional e elitista ? o conjunto das disposições e das qualidades características do espírito cultivado (erudito, com muitos conhecimentos) ? até a proveniente das ciências sociais contemporâneas, que a considera como um conjunto de traços característicos do modo de vida de uma sociedade, de uma comunidade ou de um grupo, aí compreendidos os aspectos que se podem considerar como os mais cotidianos, os mais triviais ou os mais inconfessáveis(...) que não são objeto de uma transmissão deliberada, institucionalizada, mas objeto apenas de aprendizagens informais (FORQUIN, 1993, p.11).
Mais próximos dessa última definição, trabalharemos então, com a idéia de que cultura diz respeito a todo o modo de vida de uma sociedade, referindo-se à forma como as pessoas e os grupos sociais produzem sua própria existência a partir das influências que recebem.
Sendo assim, o mundo onde as crianças vivem se constitui em um conjunto de fenômenos naturais e sociais indissociáveis diante do qual elas se mostram curiosas e investigativas. Desde muito pequenas, pela interação com o meio natural e social no qual vivem, as crianças aprendem sobre o mundo, fazendo perguntas e procurando respostas às suas indagações e questões.
Como integrantes de grupos socioculturais singulares, vivenciam experiências e interagem num contexto de conceitos, valores, idéias, objetos e representações sobre os mais diversos temas a que têm acesso na vida cotidiana, construindo um conjunto de conhecimentos sobre o mundo que as cerca.
A criança produz conhecimento e cultura, influencia e é influenciada e constrói significados.
Segundo VYGOTSKY (1988) a cultura fornece ao indivíduo os sistemas simbólicos de representação da realidade, ou seja, o universo de significações que permite construir a interpretação do mundo real. Ela dá o local de negociações no qual seus membros estão em constante processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significações.
"A ação exercida pelas gerações adultas, sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política e no seu conjunto, e pelo meio especial a que a criança particularmente se destine." (DURKHEIM, 1978).
Já disse Amaral Cavalcante: "A memória de um povo é fundamental para a construção de sua identidade cultural. Os hábitos e costumes das pessoas que nos antecederam, a maneira como o indivíduo e a sociedade interagiram com o espaço geográfico para a nossa sociedade vir a ser o que é hoje, são todas essas informações importantes. Elas nos ajudam a construir um caminho de volta ao passado, tanto para entendermos melhor o presente, quanto para termos exemplo de alteridade, maneira diferentes de enfrentar os desafios colocados pela realidade".
A missão mais fascinante da cultura é acrescentar humanidade a vida das pessoas. No inicio da história da humanidade, sempre esteve presente em praticamente todas as formações culturais. O homem que desenhou um bisão numa caverna pré-histórica teve que aprender, de algum modo, seu ofício e, da mesma maneira, ensinou para alguém o que aprendeu. Este mesmo homem observou sistematicamente o ambiente, desenvolvendo os primórdios da ciência e, através de suas habilidades artísticas, deixou registros que até hoje são importantes fontes para o conhecimento do nosso passado.
A inserção da criança num mundo organizado pela cultura é realizada por intermédio dos adultos próximos, que definem regras de convivência, o que é denominado de processo de socialização e implica necessariamente na regulação das condições coletivas de existência. A ruptura com a concepção tradicional de socialização, na qual prevalecia uma concepção de criança passiva, incompleta em relação ao adulto, fez emergir a concepção de infância como categoria construída historicamente, fruto da dinâmica das relações sociais, nas quais a criança exerce um papel ativo, de ator social, com características próprias do contexto onde se insere. A infância deixou, então, de ser percebida como realidade conhecida por todos para ser compreendida como grupo específico que produz e reproduz a vida social (PINTO, 1999).
Reconhece-se, portanto, a criança como pessoa em desenvolvimento, protagonista de sua própria vida, agente e produto da vida social. Esse reconhecimento está presente na Constituição de 1988; na Convenção dos Direitos da Criança, do final de 1989 (Decreto 99.710, nov./1990); no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, jul./1990); na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9394/96; nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Parecer CEB n° 022/98); no Plano Nacional de Educação (PNE, Lei 10.172, jan./2001).
De acordo com essa interpretação, as crianças participam da (re) produção cultural não como indivíduos isolados, mas na interação com os outros, como afirma Corsaro (1997). Segundo ele, os mundos culturais dos adultos e das crianças influenciam-se de muitas maneiras: se, por um lado, as crianças reagem à cultura do adulto, tentando dar-lhe sentido e freqüentemente resistindo a ela, por outro, retiram de sua experiência familiar o modo como tratar os pares. Afirma ainda que alguns aspectos da cultura entre parceiros vão afetar a forma pela qual as crianças interagem com os pais e com outros adultos.
A partir dessa perspectiva, o processo de socialização deixa de ser uma questão de adaptação e internalização de valores, crenças e normas, para tornar-se apropriação, reinvenção e reprodução da cultura, realizada por meio da atividade em comum ? na qual as crianças negociam, partilham e criam culturas com adultos e com outras crianças.
Globalização, multiculturalismo, pós-modernidade, questões de gênero e de raça, novas formas de comunicação, informatização, expressões de diferentes classes sociais, movimentos culturais e religiosos, diversas formas de violência e exclusão social configuram novos e diferenciados cenários sociais, políticos e culturais. Estes fenômenos se interpenetram em processos contínuos de hibridização. A escola não pode ignorar esta realidade. O impacto destes processos no cotidiano escolar é cada vez maior.
As diferentes culturas e pessoas devem ser compreendidas e respeitadas como elas são. Não há cultura menos importantes do que outras, nem pessoas. Somos apenas diferentes uns dos outros.
A função social da escola é algo que se mistura com o próprio acontecer da história, em suas diferentes manifestações.
Neste novo cenário, novos pilares para a educação se firmam para um mundo sob o signo da mudança: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.
".... Ninguém é igual a ninguém. Todo ser humano é um estranho ímpar." já dizia Carlos Drummond de Andrade.
"Inclusão" significa uma emancipação social, cultural e política e visa à integração na sociedade.
É importante lembrar que a cultura brasileira não é uma coisa singular. Existe uma grande diversidade de culturas.
Cultura e inclusão social têm haver com a união da diversidade.
Devemos reforçar a pluralidade da nossa cultura e a necessidade da união na diversidade. E então, estabeleceremos que inclusão significa: participar.