A Educação Filosófica

 

Nivie Batista Mendes de Souza¹

 

 1) Introdução:

A Filosofia tem como essência uma busca de melhor lidarmos com os desafios da vida de forma reflexiva, e para tal, faz questionamentos, investigações e reflexões. Bem como a Filosofia, a educação filosófica tem como propósito formar o ser humano, com pensamentos autônomos e auto corretivos da reflexão, buscando nunca perder o compromisso com a ética, a cidadania e a democracia. O objetivo deste estudo é refletir sobre o papel da Filosofia da Educação e suas particularidades, buscando responder a três indagações pertinentes ao tema como: Vale a pena fazer uso da Filosofia da Educação? Para que serve a Filosofia da Educação? Filosofia da Educação merece um lugar relevante entre as várias áreas?

 2) Métodos:

Buscar resposta de forma reflexiva é o primeiro passo para um fazer da educação filosófica, neste sentido, foram utilizados como fonte de bibliografias especializadas no assunto como Moacir Gadotti, Neidson Rodrigues.

 3) Resultados:

Diante de vários debates a cerca da Filosofia da Educação e a busca por uma resposta da verdadeira função de uma Educação Filosófica chegou ao resultado de que Educação e Filosofia caminham juntas. A prática do filosofar por sua vez, torna possível uma educação filosófica, utilizando aspectos para que se efetive essa educação. De acordo com Gadotti:

Para que a educação tire um real proveito do seu comércio              com a   filosofia é necessário que esta última se coloque, antes de mais nada, à escuta da educação. A filosofia da educação, por isso, implica uma educação filosófica. (GADOTTI, 2004, p.53)

 Neste sentido, a educação deve representar para filosofia um desafio autêntico, onde a pergunta, os conceitos e os problemas, o pensamento, o diálogo, os filósofos, o filosofar, a cidadania, a ética, a educação e a interdisciplinaridade se façam como ferramentas na tentativa de realizar e efetivar uma educação realmente filosófica, numa práxis diária, nunca fugindo da responsabilidade e compromisso com a sociedade, sem se deixar esconder atrás dos “muros” do mundo das idéias perde a luta de não iludir e trair o pensamento e ao próprio homem.

 4)Discussão:

A pergunta é o primeiro aspecto, já que a força do pensamento é a base do filosofar. A pergunta é o ponto chave da experiência. A pergunta tem a investigação como principio num processo contínuo de perguntar – responder – perguntar.

Além da pergunta os conceitos e problemas a Filosofia da Educação se faz valer em sua prática. Não há investigação sem objeto, logo, conceitos e problemas alimentam a investigação dando significado â experiência. O pensamento é estruturado pelo conceito, ocorre o pensamento quando questionamos determinado conceito quando a investigação, dando aos conceitos status de entidades históricas.

O pensamento seguindo também como aspecto da Filosofia da Educação vem para trazer a reflexão, sendo esta a responsável pela (des) construção dos conhecimentos idéias ou conceitos. A cultura é o objeto dos diversos objetos da Filosofia, já que promove a crítica do pensar, procedimentos, inferências, métodos e resultados descobrindo erros e corrigindo-os. A Filosofia por sua vez contribui para potencializar o pensamento. Contribuindo Rodrigues diz:

 O pensamento reflexivo estabelece um vínculo entre o mundo visível e esse mundo invisível. O “exterior das coisas não passa, assim, de uma roupagem que reveste e cobre o verdadeiro ser. Por isso, a verdade é des-cobrimento, des-velamento. (RODRIGUES, 1999, p. 44).

 

Neste sentido, o aprender a pensar, faz com que ocorra a articulação dos conhecimentos vindos de outras áreas, levando o que foi aprendido bases para explorar o que ainda é desconhecido.

Além do pensamento, da pergunta e dos conceitos e problemas, o diálogo é mais um aspecto presente na Filosofia da Educação, já que o filosofar como prática faz com que o diálogo aconteça. O diálogo é gerado e se movimenta no conflito de pontos de vista, no entanto, ponto de vista diferente não significa que os dialogantes são desiguais, muito pelo contrário, não há partes privilegiadas. Para que o dialogo aconteça é necessário que ocorram procedimentos recíprocos, potencializando as diferenças, sem que ocorra a desigualdade.

Em Paulo Freireo diálogo não é só um encontro de doi sujeitos que buscam o significado das coisas – o saber – mas um encontro que se realiza na práxis – ação + reflexão - , no engajamento, no compromisso com a transformação social. (GADOTTI, 2004, p.14)

O filosofar também pode ser visto e dialogar exercitando a racionalidade sempre guiadas por considerações lógicas e metacognitivas, além de valores que proporcionam a interação social como cooperação, respeito, empatia, humildade, autocorreção, aspectos importantes para o crescimento de autonomia de pensar.

A Filosofia da Educação conta ainda com a prática do filosofar, que só é possível no exercício das liberdades humanas, a liberdade de pensar, expressar, escolher e agir. Existem restrições ás liberdades, recorrente em situações de equívocos onde não ocorre o aprendizado e sim a memorização de determinado conteúdo, ou ainda na disseminação de ideologias de um pensamento hegemônico ou ainda no caso especifico do neoliberalismo. Gadotti faz o seguinte juízo de valor sobre o assunto:

 Se é verdade que o filosofar significa, sobretudo certa presença no mundo, na história, junto ao outro e perante si mesmo, uma maneira de ser, de existir, o que importa, antes de mais nada, é que os obreiros de uma Filosofia da Educação dêem verdadeiramente o exemplo de lucidez, de atenção paciente e vigilante, de engajamento, de responsabilidade, de companheirismo. (GADOTTI, 2004, p. 57)

 O filosofar se dá a partir de uma experiência ou contexto histórico, social e cultural. Desta forma, a liberdade de pensar implica em compreender e transformar o conhecimento gerando a possibilidade de ser diferente, por sua vez, o filosofar como prática da liberdade pode ser entendida como o compromisso, o destino da realidade pensada e assumida. Rodrigues sobre esse assunto ressalta:

Quão difícil é desvencilhar-se dos laços limitadores e ensinar aos seres humanos a se libertar das cadeias que lhes são interpostas. Lembramos com Rousseau que “os homens nascem livres, mas se encontram acorrentados por todas as partes”.  (RODRIGUES, 1999, p. 66)

Neste caso, a liberdade requer uma filosofia comprometida com a verdade, no entanto, aqueles que assumem a tarefa de libertar sentem o peso desse compromisso. Não é fácil ensinar e libertar, ambas deve estar interligadas, uma não existe sem a outra.

Concomitante à liberdade está à cidadania. Para a Filosofia da Educação ela (a cidadania) representa o exercício do direito de terem direitos. Ser cidadão no mundo atual exige a capacidade de pensar e agir de forma crítica, criteriosa, criativa e responsável. “[...] Uma educação cidadã é aquela que forma o cidadão para governante e não o cidadão para ser governado [...]” (GADOTTI, 2004, p. 291) Ou seja, onde à cidadania, não pode haver alienação, a justiça do bem comum e dos direitos e deveres devem ser pensadas, neste caso, a cidadania exercer seu papel juntamente com a democracia, o senso comum não prevalece em uma situação onde a cidadania prevalece. Logo, cidadania e democracia são conceitos que a filosofia trata como objetos de suas reflexões.

Outra prática pertencente ao filosofar é a educação do pensamento. A educação que gera a possibilidade do pensamento ser modificado, onde o filosofar cultiva a excelência do pensar. “[...] Educação é esse contínuo despertar para si mesmo e para os outros. Vem como necessidade da existência humana [...]” (JOSGRILBERG, 2000, p.80). Não ocorre educação sem o pensar. Para que ocorra uma educação emancipadora, a filosofia vem como uma ferramenta, pois questiona e cria novas realidades.

Dentre os diversos aspectos da Filosofia da Educação, a interdisciplinaridade faz a ponte entre as diversas áreas de conhecimento, debatendo, questionando e realizando experiências valendo-se de diversos conceitos como a ética, a estética, a política, a antropologia, entre outras. O filosofar permite ainda que ocorra uma articulação curricular e cultural, gerando diálogos entre intra e interdisciplinar permitindo uma melhor compreensão do debate.

 

5)Conclusões:

Por fim, todos os aspectos até aqui apresentados representam possibilidades de uma debate mais aprofundado sobre qual é realmente o papel do filosofar, e sua relação com o homem, consequentemente da educação, em busca da democratização da filosofia e de uma educação mais responsável no compromisso de formar cidadãos conscientes e preparados para as mazelas da vida. No entanto, deve-se evitar o equívoco de que a educação filosófica ficaria a cargo somente aos filósofos. É de suma importância que a educação filosófica seja também um compromisso e missão dos representantes dos meios educacionais, tais como professores, pedagogos, profissionais da educação de diversas especializações das diferentes disciplinas, onde estes para realizarem tal tarefa deverão busca informa-se e interar-se sobre a filosofia a fim de cumprirem seu papel de educadores.

 

  1. Licenciaturaem História. Pós-Graduaçãoem História do Brasil e Gestão Educacional. Graduanda em Pedagogia e mestranda em Educação.