A EDUCAÇÃO ESPECIAL: O CASO DA ESCOLA DE APLICAÇÃO MARIA DO CARMO V. MELO EM VITÓRIA DA CONQUISTA – BAHIA

Por: José Carlos de oliveira Ribeiro, 2008.

Lucinéia Soares Freire,2008[i] 

Discente (UESB), professor de geografia na rede pública municipal de Poções - Bahia; Pós-graduando em Gestão da Inovação no Setor Público

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Resumo: Este trabalho de pesquisa foi realizado para que o aluno do curso de licenciatura pudesse através deste, ter o contato e vivência com alunos com necessidades especiais, bem como, preparar para deparar com tais situações em sala de aula. O trabalho em si traz uma discussão do contexto da educação brasileira e os resultados da pesquisa de campo realizada na instituição escolar.

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa teve como objetivo primordial de compreender como a educação especial está sendo implementada em Vitória da Conquista e as dificuldades enfrentadas pelos profissionais que deparam com os estudantes especiais. 

A escolha do tema se deu em função do nosso interesse pela educação especial e, também devido à necessidade do curso de Geografia, para um trabalho de pesquisa, como avaliação do IV Semestre para a conclusão da disciplina política Educacional.

O estudo ocorreu numa escola de educação do ensino fundamental, da rede estadual de educação, a Escola de Aplicação. A pesquisa exploratória ocorreu no período de maio a agosto de 2007. Considerou-se no desenvolvimento deste estudo que o surdo cego é antes de tudo uma pessoa, singular, única e dinâmica, consequentemente, a intervenção precisa ser específica e dinâmica e, que seu desenvolvimento  dependerá  essencialmente  das  modalidades de atividades propostas e do como são propostas no meio escolar e familiar.

Num primeiro momento desse trabalho fazemos uma revisão teórica da Educação brasileira e, por conseguinte um histórico da educação especial. Mas adiante foi possível de maneira prática perceber todas as deficiências a qual se encontra a educação especial na escola pesquisada bem como poder com autonomia tirar as conclusões cabíveis.

REVISÃO TEÓRICA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Não há surpresa ao afirmarmos que, nos tempos hodiernos, vivemos uma "crise do sistema educacional brasileiro". Essa situação na qual se encontra a educação traz resquícios do passado. 

A educação brasileira configurou-se institucionalmente o novo país, criada com a instalação da Assembleia Constituinte de 1823 é abortada pelo golpe de estado de 12 de novembro do  mesmo ano, do qual  D.Pedro l fechou  a Constituinte outorgando, em 1824, a Constituição do Império, além disso, ainda em 1823, a lei de 20 de outubro declarava livre a instituição popular, "eliminando o privilégio do Estado, estabelecido desde pombal, e abrindo assim caminho para iniciativa privada" ( PAIVA, 1973, p.61).

Em 1927 foi aprovada uma lei que estabelecia: "em todas as cidades, vilas e lugares populosos haverá escolas de primeiras letras que forem necessárias" (CF. XAVIER, 1980, p.41-54 ).  O ato adicional à Constituição de 1834, colocou o ensino primário sob a jurisdição das Províncias, desobrigando o Estado nacional de cuidar desse nível de ensino.

Segundo a mesma autora com a programação da República em 1889 teve uma grande vitória no plano institucional das ideias laicas. Foi decretado a separação entre igreja e estado e a abolição do ensino religioso nas escolas. Dessa forma, como o estado ficou descentralizado a educação também seguiu os mesmos moldes.

Com o desenvolvimento da sociedade brasileira, que acelera o processo de industrialização e urbanização, as pressões sociais começavam a reivindicar o ensino público, no sentido de diminuir o analfabetismo. Porém o poder nacional permanece ainda a margem dessas discussões.

A partir de 1930 temos a criação do Estado Nacional no governo de Getulio Vargas e no mesmo ano é criado o ministério de Educação e Saúde Pública, que não satisfaz os anseios da igreja criando assim uma insatisfação com o estado.

Contudo a escola pública não é de imediato acesso a grande parte da população, privilegia assim a alta sociedade. ( Saviane, 1997, p.6 ) Nessa mesma década surgi as discussões do Plano Nacional de Educação (PNE), devido a necessidade de reconstruir a educação, o que começava a se impor como condição fundamental para o desenvolvimento do País. Foi feito um manifesto em 1932 o qual propunha um plano com sentido unitário e de bases científicas. Sendo assim, foi incluído um artigo específico na constituição Brasileira de 1934 e em todas as posteriores, exceto a de 1937 (Saviane, 1997, p.6). O mesmo refere, ainda, que a partir de 1946 a educação passou a ser um direito de  todos com obrigatoriedade o ensino primário, gratuito em todas escolas públicas.

A partir da,í inicia a democratização da Educação pública. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação iniciada em 1947 era o caminho para realizar a possibilidade aberta pela Constituição de 1946.

Apesar de ser pensada no ano de 1946 a LDB volta a discussão no congresso em 1961 com Jânio Quadros na presidência. Em 1962 é travada uma discussão entre privatistas do ensino e os educadores que defende a escola pública gratuita e laica.

Cunha, (1996) retrata de maneira bastante clara todos os fatos que ocorreram no Brasil a partir de 1964 quando começou o período da ditadura militar e, sobretudo o golpe na educação brasileira que de certa forma já era muito precária. Nesse período ainda mais, devido à repressão imposta pelo sistema de governo militar e autoritário, que não permitia nem mesmo o pensamento e expressão por parte dos brasileiros no sentido de reivindicar qualquer coisa com o objetivo de garantir a dignidade do povo naquela época. Para Cunha: 

  A repressão foi a primeira medida tomada pelo governo     imposto pelo golpe de 1964. Repressão a tudo e a todos considerados suspeitos de prática ou mesmo ideias subversivas. A mera acusação de que uma pessoa,  um programa educativo ou livro tivesse inspiração "comunista" era suficiente para demissão, suspensão ou apreensão.(CUNHA, 1995, p.36).

Porém essa situação de caráter repressivo, atualmente não existe, mas todo esse tempo foi sem dúvida um passado de muitas lutas populares, pois o povo não parava de lutar pela liberdade de expressão e por um país que fosse democrático.

 Hoje é evidente, que grande parte dessa liberdade foi conquistada; o direito de expressão dos pensamentos e ideologias políticas; de educação sem expressão, mas ainda pode se perceber alguns resquícios do período da repressão, contudo o que plantado sempre deixa algumas "raizinhas encravadas".

 Nesse mesmo contexto, 1962 inicia o primeiro Plano Nacional de Educação, elaborado já na vigência da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n° 4.024, de 1961, no qual não foi proposto na forma de um projeto de lei, mas era um conjunto de metas quantitativas e qualitativas que deveriam ser alcançadas num prazo de oito anos (Saviane,1997, p.).

 Na década de 80 as demandas democratizadoras no campo educacional começaram a expandir-se. E, na verdade, elas tiveram vida curta, foi como se, ao dissipar-se a euforia democratizadoras do período pós-ditatorial, houvessem sido anuladas todas aquelas referências a necessária democratização de nosso sistema de ensino. Em questão há uma década, "democratizar a educação" deixou de ser o eixo que deveria nortear as políticas públicas do setor para constituir um tema ausente, esquecido ou se pretendemos ser mais precisos silenciado, no cenário político americano.

 Foi nesse período que começaram as mobilizações populares acerca de uma educação pública e de qualidade tanto que a noção predominante na legislação atual foi imputada devido a pressão dessas classes que defenderam a escola pública.

 Devido a emergência do novo padrão da modernização capitalista, na década de 90 houve intensos debates sobre reforma educacional no Brasil, onde a educação se tornou um grande negócio, exemplo: A privatização da educação infantil, as verbas públicas destinadas às instituições privadas por meio das bolsas de estudos.

 Por outro lado, em alguns países houve uma iniciativa mais radical, onde as escolas passam a ser autogeridas pelos professores que vendiam seus serviços. Não houve muitas mudanças da década de 90, comparando com a década de 80, pois as escolas e as universidades sofrem a pressão para que se voltem para as políticas neoliberal.

 

O neoliberalismo na educação teve papel de preparação para o trabalho. Tendendo acentuar as divisões que serão mais aplicadas as escolas subalternas. As classes com poder continuarão lutando por currículos para garantir seus investimentos e sua posição na estrutura econômica e social.

 A lei 9394 de 20 de dezembro de 1996, produto de discussão, estabelece as leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Esta lei foi criada para corrigir as distorções no ensino e, sobretudo para fazer o ensino mais democrático em todo o país, pois a muito tempo a educação era elitizada, dessa forma, era oferecida a classe mais rica da população.

necessidades da indústria e do comércio Com a reformulação da lei 9394/96 alguns artigos foram substituídos ou criados, como por exemplo, o artigo 32 que trata da duração do curso fundamental que passa de oito anos para nove anos.

O artigo do capítulo V da LDB 9394/96 trata da educação especial, uma modalidade de ensino especial para todos aqueles que se considerarem como especial. Porém o objetivo da lei não é de formar classe nas escolas apenas para alunos especiais, mas sim, habilitá-los a frequentar as escolas regulares e para isso é preciso de profissionais preparados.

Professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns (LDB, artigo 59, III, 1996).

A partir daí, garantir aos educando a sua entrada no mercado de trabalho com prioridade em concursos públicos e no preenchimento das vagas em empresas privadas. Essas empresas são obrigadas a destinar um percentual de vagas a serem ocupadas por pessoas consideradas deficientes, este percentual é de 20% para empresas públicas federais este percentual é menor para as empresas públicas municipais e estaduais, as empresas privadas vão depender do número de funcionários que elas comportarem, conforme a Lei 8112/90.

A LDB 9.394/96 determina nos artigos 9° e 87, respectivamente, que cabe à União, a elaboração do Plano, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e institui a Década da Educação. Estabelece ainda, que a União encaminhe o Plano ao Congresso Nacional, um ano após a publicação da citada lei, com diretrizes e metas para os dez anos posteriores, em sintonia com a Declaração Mundial sobre Educação para Todos.

Com A Constituição Federal de 1988 prevê o PNE referendando a LDB ressurgiu a ideia de um plano nacional de longo prazo, com força de lei. Em 1998 é apresentado o projeto da lei n° 4.155, aprovando, assim o Plano Nacional de Educação. Foi destacados pelo Ministério da Educação os motivos que nortearam o Plano: a constituição Federal de 1988, a lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Plano Decenal de Educação para todos e a emenda Constitucional n° 14, de 1995.

O PNE (Plano Nacional de Educação) tem como objetivos principais: Reduzir as desigualdades sociais e regionais, garantir o ensino fundamental obrigatório de oito anos a todas as crianças de 7-14 anos e aos que não tiveram acesso na idade própria, valorizar os profissionais de educação dando-as condições adequadas de trabalho. O PNE, referendando a LDB, tem como níveis de ensino: educação básica - educação infantil, ensino fundamental e ensino médio e educação superior. Suas modalidades de ensino: educação de jovens e adultos, educação a distância e tecnologias educacionais, educação tecnológica e formação profissional, educação especial e educação indígena.

As tendências recentes dos sistemas de ensino são as seguintes: integração/inclusão do aluno com necessidades especiais no sistema regular de ensino; ampliação do regulamento das escolas especiais para prestarem apoio e orientação aos programas de integração, além de atendimento específico; melhoria da qualificação dos professores do ensino fundamental para essa clientela; expansão da oferta dos cursos de formação/especialização pelas universidades e escolas normais.

No plano Nacional de Educação, no que se refere a educação especial, referendando a LDB, apresenta objetivos e metas, na qual a título de informação é possível destacar: a sensibilização dos demais alunos e da comunidade em geral para a integração; as adaptações curriculares, a qualificação dos professores para o atendimento aos alunos especiais; a disponibilidade, dentro de cinco anos, de livros didáticos e materiais pedagógicos adequados para as diferentes necessidades; implantação em cinco anos, o ensino da língua Brasileira de Sinais para os alunos surdos e, sempre que possível, para seus familiares e para o pessoal da unidade escolar; estabelecer os padrões mínimos de infraestrutura das escolas para receberem os alunos especiais para que eles possam nelas transitar etc.

REVISÃO PRELIMINAR

Desde a Idade Primitiva, a existência do homem está relacionada ao trabalho. Neste momento, a fim de manter a sua sobrevivência, logo aquele que fosse "portador de qualquer deficiência" estaria condenado à própria sorte, praticamente sem chances de vida, isto é, estaria excluída do seu meio. Quando os homens deixaram de ser nômades e se estabeleceram em um determinado local, então passaram a ter disposição e força para retirar da terra seu sustento e aqueles que eram deficientes improdutivos não tinham seu lugar social.

Na Idade Média, os portadores de necessidades especiais, em particular os deficientes visuais, eram vistos como seres demoníacos.   Não havia um reconhecimento destes sujeitos que eram rejeitados por "Deus" e pelos homens "normais", retirados do contexto público para ser esquecida sua “deficiência” (Bianchetti & Freire Apud ROSS, 1998).

Nesse período, a cegueira foi utilizada como castigo ou como ato de vingança. No século XI, Basílio II, Imperador de Constantinopla, depois de ter vencido os búlgaros em Belasitza, ordenou que fossem retirados os olhos de seus quinze prisioneiros e colocando-os para regressar a sua pátria. Porém um, em cada cem homens, teve um olho conservado para que pudesse servir de guia aos outros noventa e nove (MECLOY, 1974).

Ainda   nessa  época,   a  cegueira  apresentava-se também  como  pena judicial, regulada pela lei ou pelos costumes e era aplicada como castigo para crimes nos quais havia participação dos olhos, tais como crimes contra a divindade e faltas graves às leis de matrimônio. A deficiência visual passa por diversas formas e denominações sendo a nomenclatura utilizada de acordo estudos de diversos teóricos.

A partir da década de 1970, altera-se o termo de "portador de necessidade especial" para "portador de necessidade educacional especial", portanto, as terminologias vão se modificando de acordo a evolução e as leis, mas, o que realmente precisa é a mudança de mentalidade de toda a sociedade.

Na década de 1990, com a realização da Conferência de Educação para Todos (1990) realizada em Jomtien, na Tailândia e com a Declaração de Salamanca de Princípios, Política e Prática para as Necessidades Educativas Especiais (1994), passou a vigorar a era da inclusão - "o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e,  simultaneamente,  estas se preparam  para assumir seu  lugar na sociedade" (CONSTANT, 2005, p. 7).

Na legislação educacional brasileira, de acordo a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/1996) - Capítulo V- Da educação Especial:

Artigo 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais.

Parágrafo 1°. Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial (SILVA, 2004, p. 58).

Referindo ao Deficiente Visual é destacado em todo esse período, o trabalho conjunto da Fundação Dorina Nowill para Cegos e do Instituto Benjamin Constant, por intermédio de seus especialistas, aos quais se reuniram, muitas vezes, competentes profissionais de outras importantes entidades brasileiras. 

CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA DE APLICAÇÃO MARIA DO CARMO V. MELO EM VITÓRIA DA CONQUISTA - BAHIA

O estudo ocorreu numa escola de educação do ensino fundamental, da rede estadual de educação a Escola de Aplicação Maria do Carmo V. Melo, Situada na praça Guadalarrara S/N Recreio, Vitória da Conquista-Ba, no período de maio a agosto de 2007. Segundo a vice diretora Regina Maria, a obra iniciada na gestão do Dr. Eraldo Tinoco Melo é concluída na do Dr.Kleber Pacheco. Coordenador Regional Dr. Manuel A. Sales Figueira, órgão executor: SCERPE, Governo de Antônio Carlos Magalhães em 14 de abril de 1982.

Atualmente a diretora é Lúcia Soraia e Vice Regina Maria, atende ao ensino fundamental tendo 850 alunos, 25 professores e 12 funcionários. A parte física da escola é composta por 10 salas, 4 banheiros., não possui biblioteca e nem sala de vídeo.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa tratou sobre o funcionamento do ensino especial, bem como saber das dificuldades dos profissionais e se a instituição está de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e o Plano Nacional de Educação. Envolveu uma abordagem qualitativa, pois aconteceu no ambiente natural, havendo um contato direto entre pesquisador e pesquisados - uma interação social (GIL, 1999, p. 11), com a descrição e análise de todas as observações, conversas, entrevistas etc. 

Para abranger o aprofundamento sobre o tema foi realizada uma pesquisa que contou com estudos bibliográficos, de diversos autores: ÁLVAREZ, (2004); AMARAL (1994); BRASIL (1994, 1995, 2001, 2003); BRZEZINSKI (2003); CARVALHO (2000); CONSTANT (2005), (GIL) 1999; GIL (2001), MECLOY (1974), PARDO (2002); ROCHA (1987); (ROCHA (1999); ROSS (1998); SASSAKI (1998) e SILVA (2004) e outros; visitas a DIREC e na Escola de Aplicação que possue alunos portadores de necessidades especiais: os visuais, num total de 05 (cinco), os auditivos (13 treze), e mentais, 02 (dois) alunos.

A princípio houve as primeiras visitas a escola, iniciando com conversa informal, portanto, havendo a necessidade de prosseguir para a realização de entrevistas e gravações de depoimentos e, depois de feitas essas entrevistas, que ocorreram com Professores, Diretora, aluna da Escola de Aplicação e com a Coordenadora de Educação Especial da DIREC 20 Vera Sampaio, foram feitas análises dessas entrevistas e, posteriormente a construção deste trabalho.

RELATO DE EXPERIÊNCIA

Foram realizada entrevistas e observações em sala de aula, com a professora Andrade M.M formada em Magistério, com curso de capacitação em deficiência visual, o Soroban e o Braille, com carga horária de 400 horas, ministrado em Salvador, oferecido através da DIREC 20 e atualmente a professora faz um curso de biologia na UESB.

No dia dez de maio de 2007, foi feita a primeira entrevista com a professora Andrade M.M, onde ela nos informa das dificuldades enfrentadas com os alunos especiais e como as aulas são ministradas, ela relata que a Escola faz parte das escolas que trabalham com a inclusão dos alunos especiais, dentre elas o Colégio Estadual Abdias Menezes, Instituto de Educação Euclides Dantas, Fernando Espínola. Sendo que o Abdias Menezes é pólo da Educação Especial. A professora atende os alunos deficientes visuais numa sala de apoio na escola de Aplicação.

No momento existem cinco alunos. Esses alunos estudam em outros colégios e frequentam em um turno oposto a sala de apoio onde aprendem a lidar com a deficiência. Ela explica que todos os professores que lidam com alunos especiais, na sala de apoio da escola, foram devidamente capacitados com cursos oferecidos através da DIREC 20 e ministrados em Salvador. Nessa escola existe sala de apoio para deficientes auditivos, deficientes visuais e deficientes mentais.

A professora enfatiza que as maiores dificuldades enfrentadas são as indiferenças da sociedade que tratam os deficientes com preconceitos, a resistência dos próprios deficientes em assumirem a sua deficiência, a carga horária, extensa, a falta de profissionais para acompanhar esses alunos na escola de ensino regular e a falta de adaptação da estrutura física às necessidades dos deficientes físicos.

Ainda existe o preconceito por parte dos alunos da escola, mas tem diminuído devido a implementação de um trabalho educativo e de conscientização dos alunos na comunidade escolar. Segundo a professora todos os alunos especiais são bem recebidos na escola e que a sua adaptação depende mais da vontade própria, pois a escola procura atender a todos e os alunos que aceitam a sua deficiência são adaptados e dão continuidade aos estudos.

Todos os curso oferecidos pela DIREC são custeados pelo governo do Estado, sobretudo para atender os alunos considerados especiais. Ela não deu nenhum exemplo de aluno que acompanhou e tenha conseguido uma oportunidade no mercado de trabalho. 

Acompanhamos, no dia 17 de agosto uma aula da professora com uma aluna com

deficiência visual. Joice, 16 anos, cursa o 2° ano do ensino médio. Estuda à tarde no Instituto de Educação Euclides Dantas e recebe aula de reforço na Escola de Aplicação de manhã. Nasceu sem a visão direita e em novembro de 2006 foi diagnosticado no olho esquerdo cistoplasmose congênita ocular, sendo assim ela está praticamente cega. Foi muito difícil aceitar essa situação, mas a família lhe deu muita força. Está a apenas a 20 dias estudando com a professora de deficientes visuais, porque não conseguia aceitar a sua deficiência.

Nesse dia a professora ditou algumas palavras e depois algumas frases e ela foi escrevendo em braile. Segundo a aluna ela tem o material didático apropriado e suas provas são feitas em braile e depois são levadas para a sala de apoio, onde a professora traduz o que ela escreveu para a outra professora do ensino médio. Na sala tem alguns aparelhos usados para facilitar o trabalho, CTV( Circuito Fechado de Televisão), e outros.

Ela diz que é algo muito novo para ela, mas ela já está aceitando o problema e não permitirá que isso a impossibilite de conseguir ser uma pessoa de sucesso. No dia 22 de agosto, observamos na escola a aluna J. fazendo uma prova de português. Ela passava a câmera na apostila que estava a prova, lia na CTV, e escrevia na prova colocando a câmera e lendo. Isso devido à aluna ser apenas de baixa visão. 

Embora exista um trabalho para os deficientes especiais ainda não existe um projeto para implementação desse tipo de educação, conforme as informações da DIREC 20 e da escola pesquisada.

No dia 29 de agosto entrevistamos a professora Belanísia, que trabalha com a 2a séria do Ensino Fundamental.   Formada em Pedagogia na UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia), Foi capacitada para trabalhar com deficientes auditivos através do curso de Libras com uma carga de 400 horas, ministrado em Salvador. Trabalha há vinte e cinco anos na educação, sendo que desenvolve um trabalho a três anos com deficientes auditivos. Trabalha na escola de Aplicação no turno vespertino com a 2a série do ensino fundamental, tem 9 (nove) alunos ouvintes, 8 (oito) alunos surdos e 2 (dois) alunos deficientes mentais em sala de aula regular e atende vinte e dois alunos numa sala de apoio na escola Lions Clube, na qual realiza um curso para a família, professores e interessados em aprender Libras.

Segundo a professora a aprendizagem para os alunos deficientes auditivos se torna difícil, pois a escola não disponibiliza de recursos e os que existem não funcionam, o que facilitaria o seu trabalho e o desempenho dos alunos. No entanto ela nos relata que essas barreiras apesar de dificultar o seu trabalho não a impossibilita de obter sucesso, pois se dedica muito ao que faz e trabalha com amor.

Sendo assim ela deixa clara a sua insatisfação no que diz respeito ao descaso do governo com essa modalidade de ensino, pois a maioria dos professores que tem esses alunos em sala não dispõem de nenhum curso de capacitação para atendê-los, o que os fazem desistir de estudar. Citou vários exemplos de alunos, seus, que ao passarem para outras séries abandonaram a escola, por se sentirem excluídos dentro da sala de aula.

Ela cita alguns alunos que conseguiram ingressar no mercado de trabalho, como na Ramos, FTC e Hiper Bom Preço, no entanto eles preferem estudar, pois sempre há uma procura das empresas por esses alunos. Acompanhamos no mesmo dia uma aula da professora e realmente foi constatado o carinho com que ela ministra suas aulas e a sua capacidade enquanto profissional. Ela passa uma atividade no livro de ciências onde os alunos devem a partir de várias letras formarem nomes de animais. Os alunos conseguem dizer os nomes dos animais através dos sinais e de desenhos. Ela coloca os nomes no quadro e chama alguns alunos para ler. Os alunos surdos participaram com muito entusiasmo da aula e conseguiram formar muitas palavras.

Segundo a professora o preconceito por parte dos colegas não existe, pois mantêm amizades de igual modo para com os deficientes, eles até se comunicam através de sinais e brincavam juntos com os seus colegas.

ANALISE DOS DADOS

A partir dos dados coletados durante as entrevistas com professoras, aluna e Coordenadora de Educação Especial da DIREC 20, foi perceptível que apesar de haver na Escola de Aplicação um serviço de atendimento aos alunos especiais, ainda existem muitas deficiências para adequar-se ao PNE e a LDB, pois quando se refere ao atendimento dos alunos especiais de deficiência física, fica difícil o acesso dos mesmos devido a falta de rampas e banheiros onde foi registrado que na escola visitada não há tais condições de adaptação para aqueles que utilizam a cadeira de roda para se locomoverem.

Outro problema abordado na pesquisa pelos professores, foi a falta de recursos pedagógicos que deveriam ser utilizados na realização do trabalho e isso ficou bastante claro durante as visitas, pois as salas não tem nenhum recurso para facilitar o trabalho da professora que tem em sua classe alunos com deficiência auditiva.

 A pesar da professora que trabalha na sala de apoio com deficientes visuais ter alguns aparelhos, a escola, no geral, ainda deixa muito a desejar. Vale ressaltar, também, a falta de profissionais capacitados para lidarem com os deficientes, o que muitas vezes sobrecarrega aqueles que trabalham com esses alunos ou desfaz o trabalho daquele profissional, quando o aluno é passado para séries seguintes devida a ineficiência de outros professores na continuidade do processo educativo.

 Realmente, ficou bastante claro na pesquisa, de acordo ao que a professora nos relatou e ao que observamos na sala de aula, a relação de amizade e companheirismo dos alunos "normais" para com os alunos deficientes e vice versa. Durante a pesquisa foi possível constatar que os alunos demonstravam motivação e desempenho nas aulas.

 Sendo assim é perceptível que os professores, principalmente as entrevistadas, realizam um trabalho com dedicação e tem competência para tal, faltando, assim, uma assistência maior por parte do ESTADO.

 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em vista do que foi pesquisado a educação especial ainda está distante do que refere a lei 9394/96 e do PNE. Visto que existe algumas deficiências na escola que visitamos, no que se refere, principalmente a estrutura física, matérias pedagógicose o número de profissionais habilitados para lidar com os deficientes.

 A partir deste trabalho de pesquisa foi possível constatarmos os problemas enfrentados pelos professores que atendem os alunos deficientes físicos ou mentais, detectamos as dificuldades que os alunos enfrentam para lidar com a sua deficiência e, sobretudo o preconceito por parte da sociedade.

 Diante dessa problemática iniciamos a nossa pesquisa e acreditamos que a nossa proposta possa de certa forma contribuir para a melhoria desses educandos, pois as condições de vida de um deficiente pode mudar quando a sociedade em geral conscientizar-se de que todos precisam ter as mesmas oportunidades para obter sucesso e realizar os seus sonhos.

 Portanto os governos devem de certa forma investir mais recursos para implantação de fato da Educação Especial e, sobretudo para a capacitação dos profissionais, pois somente assim, será possível atender a essa e a qualquer outra modalidade de ensino, desde que se tenha mais compromisso e principalmente honestidade.

 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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BrasUMEC. LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 9394/1996 BrasilMEC. PNE: Plano Nacional de Educação, 2000.

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CUNHA, Luiz Antônio, GÓES Moacyr: A Exclusão pela Base. In: O Golpe na Educação, editora Jorge Zahar Editor, Rio de janeiro, 1995.

GENTILI, Pablo A. A., SILVA, Tomaz. Neoliberalismo, Qualidade total e Educação. Editora Vozes LTDA. Rio de janeiro, 1994.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas da Pesquisa Social. São Paulo: Atlas,

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MECLOY, E. P. Psicologia de Ia Ceguera. Madrid: Editorial Fragua, 19/4.

ROSS, Paulo Roberto. Educação e trabalho: a conquista da diversidade ante as políticas neoliberais. In: BIANCHETTI, Lucédio; FREIRE, Ida Mara (orgs.). Um olhar sobre a diferença: interação, trabalho e cidadania. 3a. edição. São Paulo: Papirus, 1998. p. 53-110).

SAVIANI, Dermeval. A nova Lei da Educação: LDB Trajetória, Limites e Perspectivas. 5a ed. Autores Associados, São Paulo, 1995.

SILVA, Pedro Jorge de Melo e (org.). O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular/Ministério Público Federal. 2a. Ed.

Brasília: Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, 2004.

 

 

 

 

 



[i]José Carlos de Oliveira Ribeiro, graduado em geografia e Pós-graduando em Gestão Pública pela UESB e Ensino da Geografia pelo Instituto Pró Saber. 

Lucinéia Sores Freire, graduada em geografia pela UESB.