QUEIRÓS, POLLYANNA DE SIQUEIRA (1)


Resumo: Trata-se de um relato de experiência de acadêmicas de enfermagem do sétimo período do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Objetivou-se relatar a experiência das atividades desenvolvidas em um colégio estadual da Região Leste de Goiânia, durante o estágio de Licenciatura I. Na primeira etapa do estágio, ocorreu a observação de várias aulas de diferentes professores e entrevistas com os alunos e professores. A segunda etapa contou com aulas planejadas e ministradas pelos acadêmicos aos alunos adolescentes. A partir dos resultados obtidos pelas estagiárias, podemos concluir que foi utilizada a Pedagogia Problematizadora de Paulo Freire, pois esta parte da idéia de que uma pessoa só conhece algo bem, quando o transforma, transformando-se ela também no processo.
Palavras-chave: Educação; alunos de enfermagem, Ensino fundamental e médio; escolas.


Introdução

Educar consiste na passagem de uma pessoa, desde uma situação atual insatisfatória para outra desejada; situação essa que é definida em termos do repertório de conhecimentos, valores, atitudes e comportamentos que a pessoa possui (BORDENAVE; PEREIRA, 2002).

Uma situação insatisfatória é aquela em que uma pessoa sente que suas necessidades importantes não estão satisfeitas e para satisfazê-las essas pessoas carecem de conhecimentos, valores e atitudes e comportamentos que seriam apropriados. Esta carência leva a pessoa a buscar a educação e entrar num processo educativo (BORDENAVE; PEREIRA, 2002).

Dessa forma, o desafio da educação é passar da situação atual para a desejada e a solução/meio para que isso aconteça é que o aprendiz viva experiências apropriadas (BORDENAVE; PEREIRA, 2002).

Assim, segundo Bordenave e Pereira (2002), para que o educando viva as experiências apropriadas, o educador terá que utilizar uma metodologia de ensino-aprendizagem ideal. Utilizando-se das seguintes ferramentas: a) Promover e/ou fortalecer a motivação do aprendiz; b) Aproveitar ou criar situações de aprendizagem; c) Apresentar conteúdos relevantes e d) Informar o aprendiz que está progredindo ou se desviando.

A metodologia de ensino-aprendizagem escolhida pelo educador terá uma grande influência sobre o educando gerando conseqüências individuais e socioculturais importantes. Existem diversas opções pedagógicas, isto é, diferentes tipos de educação. Pode-se citar por exemplo: Pedagogia da Transmissão e a Pedagogia Problematizadora.

A Pedagogia da Transmissão valoriza particularmente os conteúdos bem como sua entrega para os alunos pelo professor ou pelos livros ou até outros veículos, ou seja, simplismente transmite os conteúdos. As conseqüências individuais dessa metodologia de ensino é que o aluno é um receptor passivo e memorizador dos conteúdos, possui atitude acrítica, falta de originalidade e criatividade, pouco interesse pela própria realidade, preferência pela especulação teórica e excessivo respeito às autoridades.(BORDENAVE, 2002). Segundo o mesmo autor as conseqüências socioculturais da metodologia da transmissão é a imitação dos países mais desenvolvidos, o individualismo e falta de cooperação, soluções pouco realistas, cidadãos inertes, sem participação, falta de opinião pública, necessidade de um líder forte e manutenção da estrutura social.

A pedagogia problematizadora, por outro lado, tem sua base no reconhecimento de que a educação acontece no seio da realidade, de uma determinada realidade física, psicológica ou social. Essa realidade é vista como "problema", isto é, com algo que pode ser resolvido ou melhorado. Dessa forma a educação é conceituada como a transformação das pessoas enquanto ela, junto com seu grupo, tenta transformar a realidade. O protagonista da aprendizagem é o próprio aluno, o qual junto com seus companheiros deve conhecer a realidade para transformá-la. O professor passa a ser um apenas um facilitador da aprendizagem do aluno (BORDENAVE; PEREIRA, 2002). Problematizar é a habilidade de relacionar de forma coerente e seqüencial três momentos: identificação de um problema, busca de explicação e proposição de soluções (ZANOTTO; ROSE, 2003). Dessa forma segundo a autora, o aluno deverá percorrer essas fases relacionando os três momentos citados anteriormente, pois problematizar significa ser capaz de responder ao conflito que o problema traz de forma intrínseca e que o sustenta. Essas fases vêem em seqüência na forma de um arco: Observação da realidade, Pontos chaves, Teorização, Hipóteses de Solução e Aplicação à Realidade (ZANOTTO; ROSE, 2003).

Existem quatro linhas que representam a ação de problematizar, dentre elas se destaca a ação de problematizar em Paulo Freire. Esta linha enfatiza o sujeito práxico, ou seja, a ação de problematizar acontece a partir da realidade que cerca o sujeito; a busca de explicação e solução visa a transformar aquela realidade, pela ação do próprio sujeito (sua práxis). O sujeito por sua vez, também se transforma na ação de problematizar e passa a detectar novos problemas na sua realidade e assim sucessivamente (ZANOTTO; ROSE, 2003).

Nas conseqüências individuais da Pedagogia Problematizadora, pode-se destacar que o aluno aprende a "ver" sua realidade e se motiva para transformá-la, tem uma nova visão integradora e dialética, um alto grau de motivação endógena, busca a informação de forma autônoma, sabe trabalhar em grupo, tem capacidade de crítica e autocrítica, teoriza com base em sua própria observação e seu próprio raciocínio e tem criatividade, originalidade e consciência crítica desenvolvida (BORDENAVE; PEREIRA, 2002).

As conseqüências socioculturais dessa pegadagogia, reflete uma sociedade com identidade própria, instituições originais e adequadas à própria realidade, rechaço do autoritarismo, o paternalismo e a demagogia, estrutura social igualitária, democracia participativa e ecologia conservada (BORDENAVE; PEREIRA, 2002).

Objetivo Geral

Relatar a experiência das atividades desenvolvidas por acadêmicos de enfermagem em um colégio estadual da Região Leste de Goiânia.

Objetivos Específicos

Relatar o tipo de metodologia de ensino adotada pelos professores;

Descrever a experiência das aulas ministradas pelos acadêmicos aos alunos adolescentes.

Metodologia

Trata-se de um relato de experiência de acadêmicas de enfermagem do sétimo período do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Goiás (UFG). Foram realizadas inúmeras atividades durante o estágio de Licenciatura I em um colégio estadual da Região Leste de Goiânia-Goiás. Na primeira etapa do estágio, ocorreu a observação de várias aulas de diferentes professores e entrevistas com os alunos e professores.

Para melhor compreensão, as aulas assistidas ministradas por vários professores em diferentes turmas serão representados por letras e números. Ou seja, os professores serão representados pela letra p seguida de número 1 à 7. As turmas dos 1º anos do ensino serão representados pela letra n seguida dos números de 1 à 4. A turma do 2º ano será representado pela letra e número m1.O 3º ano do ensino médio será representado pela letra e número K1.

A segunda etapa contou com aulas ministradas pelos acadêmicos aos alunos adolescentes. A realização desse estágio Licenciatura I faz parte da grade curricular do curso de graduação de Enfermagem (Bacharelado e Licenciatura) UFG ocorreu no ano de 2008.

Contexto da Experiência

Na 1ª etapa de desenvolvimento desse estágio foram assistidas várias aulas com professores de diferentes disciplinas em turmas do 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio, objetivando-se conhecer a realidade educacional, identificar a metodologia de ensino e as ferramentas utilizadas pelo professor.

Com a observação das aulas ministradas pelos vários professores, notou-se que os professores utilizam diferentes opções pedagógicas, ou seja, alguns utilizaram a pedagogia da transmissão, enquanto outros a pedagogia problematizadora.

Uma das aulas assistidas na turma do 1º ano n1, do ensino médio, o professor p1 demonstrou total domínio do conteúdo, interesse em inovar com aulas e avaliações diferenciadas, como aulas e relatórios de laboratório, mas ao mesmo tempo apresentou grande desmotivação pela indisciplina e desinteresse da turma. Esse professor reclamou da falta de maturidade e compromisso dos alunos do 1º ano do colégio, segundo ele sentimento comum entre os outros educadores do colégio. Ao questionar os professores eles justificaram esse fato, alegando que o ensino médio tem sido pouco exigente, já que é organizado em ciclos, não havendo reprovações e exigências aos alunos.

Em duas outras aulas no 1º ano n2, os professores p2 e p3 utilizam a metodologia problematizadora e tiveram grande domínio do conteúdo, realizam avaliações diferenciadas: objetivas, subjetivas, relatórios referentes a aulas de laboratório e seminários e trabalhos em grupo. O educador relatou descontentamento com o grande número de faltas e notas abaixo da média pelos alunos.

Percebemos semelhanças e uma diferença marcante em outras duas aulas assistidas em duas turmas do 1º ano n3 e n4. A semelhança se pautava no domínio do conteúdo pelos professores p4 e p5, e no interesse em responder aos questionamentos dos alunos. Outra diferença se deu na forma de tratamento dos alunos indisciplinados. Na turma n3, o professor p4 tentava o tempo todo instigar a participação de todos, enquanto na outra (n4) o professor p5 não demonstrava interesse aos alunos que não participavam da aula e/ou que conversam sobre assuntos não relacionados ao conteúdo.

Uma das aulas assistidas no 2º ano m1 do Ensino Médio, houve a apresentação de seminários por pequenos grupos de alunos, a professora p6 havia dividido e direcionado os temas, e cada grupo ficou responsável por pesquisar em literatura, estudar e compartilhar os conhecimentos adquiridos para os colegas. Foi observado um grande interesse e participação dos alunos que assistiam a apresentação do grupo, que levou exemplos com a aplicação da teoria e no final foi aplicada uma atividade para fixar o conteúdo.

Nesta metodologia, foi observado um grande interesse e participação dos alunos que trabalhavam motivados para o vestibular, para um bom aprendizado e boas notas e aprovação na disciplina. A professora p6 relatou que está sendo trabalhado com os alunos, desde o 1º ano do ensino médio, o interesse voltado para o vestibular, e também as matérias estão sendo direcionadas de acordo com o interesse e realidade desses jovens.

Em uma aula no 3º ano k1 do Ensino Médio, o educador p7 utilizou a pedagogia da transmissão, o professor ao entrar em sala de aula, passou atividades no quadro negro e esperou que os alunos resolvessem, sem instigar motivação e interesse dos alunos. Ao final da aula os alunos relatam dificuldades em entender o conteúdo e que gostariam que o professor trouxesse alguma inovação que os ajudasse a assimilar o conteúdo.

Posteriormente aplicamos questionários estruturados aos alunos (80 alunos) para conhecer o perfil e a realidade de educação segundo a visão dos alunos. 50,6% dos alunos possuem de 16 a 18 anos de idade; 74,7% não trabalham; 89,9% moram com os pais; 74,7% relatam ser participativos nas atividades propostas pelos professores e pela escola e 93,7% alunos acham que a escola juntamente com os professores contribui para o seu futuro.

Na 2ª etapa, após as análises dessa realidade embasados em uma revisão bibliográfica, foi planejado as algumas aulas com a temática "perspectivas para o futuro".

Essas aulas foram planejadas com os seguintes objetivos: identificar a relação entre as necessidades básicas do homem e o seu papel na sociedade; desenvolver o interesse por um aprendizado contínuo; conscientizar sobre a importância da formação profissional; registrar informações sobre as diferentes profissões.

Foram ministradas quatro aulas a quatro turmas 1º ano n2; 2º ano m1; 3º ano k1e k2. Em todas as aulas utilizou-se a pedagogia problematizadora de Paulo Freire. Ao discutir com os alunos a experiência das aulas trabalhadas, relataram sentir-se motivados para aprender e buscar novos conhecimentos, planejando um melhor futuro profissional.

As aulas se iniciaram com apresentação das estagiárias, a razão da enfermagem em sala de aula, seguido da apresentação do nome e profissão desejada para o futuro pelos alunos.

As estagiárias ministraram as aulas em duplas, dupla E e dupla F, sendo quecada dupla ministrou duas aulas. A dupla E, realizou uma exposição oral, com o auxílio de figuras das seguintes profissões: coveiro, lixeiro, técnico em laboratório, técnico em enfermagem, policial militar, bombeiro, segurança, pedagogos, enfermeiros, médicos, engenheiros e agrônomos.

As aulas ministradas pela dupla F, também teve a exposição de imagens representativas, com auxílio de Data Show, das seguintes profissões: lixeiro, coveiro, segurança, técnico de enfermagem, técnico administrativo, técnico em informática, bombeiro, policial militar, professor (Biologia e Matemática), enfermeiro, médico, engenheiros, odontólogo, fisioterapeuta e direito, e áreas relacionadas à publicidade e propaganda, Moda e Música. Ao mesmo tempo em que se mostrava uma imagem, instigava-se o aluno a dialogar sobre as aptidões necessárias para tal profissão.

Em todas as aulas foram abordados tópicos como nível de escolaridade necessária, forma de ingresso, salário mensal médio, conteúdo estudado (em caso de nível técnico e superior) e habilidades necessárias. Os alunos mostraram-se bastante interessados e participativos, questionando e trazendo informações sobre outras profissões. Outro ponto explanado foi as divisões do ensino superior: tecnológico e graduação e pós-graduação: Lacto sensu (especializações) e Strictu sensu (mestrado, doutorado e pós doutorado).

A segunda parte da aula planejada por ambas as duplas, teveram o objetivo de fixar o conhecimento trabalhado com a confecção de cartazes em grupo.

Nas aulas ministradas pela dupla E, os alunos escolheram uma profissão abordada durante a aula, elaboraram um cartaz e o apresentou à turma. Uma das turmas demonstrou maior interesse nessa atividade. Acredita-se que essa seja uma característica particular dessa turma que poderá ser trabalhada pelos professores futuramente, ou seja, os professores devem estimular e auxiliar a turma com mais dificuldade a trabalhar em grupo.

Nas aulas ministradas pela dupla F, os alunos selecionaram três profissões, elaboraram um cartaz com figuras, desenhos e textos, e apresentaram à turma. Ambas as turmas demonstraram interesse e, alguns grupos, abordaram e discorreram sobre as profissões de cada integrante do grupo. As turmas também tiveram diferenças, ou seja, uma demonstrou mais curiosidade quanto ao tema do que a outra, o que pode ser atribuído à presença de alunos dedicados. No entanto, o interesse demonstrado pela turma do 3º ano k1 reflete a preocupação dos alunos em garantir um espaço no mercado de trabalho.

Para finalizar, solicitou-se aos alunos que apontassem pontos positivos e negativos da aula, assim como sua contribuição para o seu futuro profissional. Nas quatro turmas os alunos relataram que a aula foi interessante, estimuladora e construtiva. Como ponto negativo os alunos destacaram tempo insuficiente para discutir outras profissões. Relataram também se sentirem mais estimulados a construir uma carreira profissional e que a escola poderia abordar esse tema, entre outros, de maneira mais freqüente.

A partir dos resultados obtidos pelas estagiárias, podemos concluir que foi utilizada a Pedagogia Problematizadora de Paulo Freire, pois esta parte da idéia de que uma pessoa só conhece algo bem, quando o transforma, transformando-se ela também no processo (FREIRE, 2003).

A partir do diálogo entre estagiárias e alunos estabeleceu-se uma construção coletiva sobre o que cada um tem como perspectiva para o futuro, ou pelo menos se instigou à reflexão individual, o que concorda com Paulo Freire (2003) quando descreve que, na Concepção Problematizadora, a ação do educador identifica-se desde logo, com a ação dos educandos, orientado no sentido da humanização de ambos e não no sentido de doação do saber.

Frente ao exposto, as estagiárias avaliaram positivamente as aulas, pelo interesse e participação dos alunos, pela contribuição em seu próprio crescimento pessoal e profissional e pelo estímulo em acreditar ter contribuído um pouco para o futuro dos adolescentes e jovens das turmas trabalhadas.

Considerações Finais

O papel do professor tem sido estudado como fator de motivação para os alunos. Aspectos como crenças, expectativas, sentimentos e habilidades de professores, assim como sua pedagogia podem afetar as características das relações professor-aluno e o desempenho e o rendimento dos alunos (MARTINI; PRETTE, 2002).

A metodologia de ensino-aprendizagem escolhida pelo educador tem uma grande influência sobre o educando gerando conseqüências individuais e socioculturais importantes que refletirá em toda a sua vida.

Dessa forma, Acredita-se que os professores que tem interesse em integrar todos os alunos no contexto escolar têm mais chance de sucesso na educação de seus alunos (MARTINI; PRETTE, 2002).

Referências Bibliográficas

BORDENAVE, J. D.; PEREIRA, A. M. Estratégias de ensino-apredizagem. 24. ed. Petrópolis: Vozes, 2002.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 36. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003.

MARTINI, M. L.; PRETTE, Z. A. P. D. Atribuições de causalidade para o sucesso e o fracasso escolar dos seus alunos por professoras do ensino fundamental. Interação em Psicologia. jul./dez. 2002, (6)2, p. 149-156. Disponível em: <http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/psicologia/article/viewFile/3302/2646>. Acesso em: 03 jun 2008.

ZANOTTO, M. A. C.; ROSE, T. M. S. Problematizar a própria realidade: análise de uma perspectiva de formação contínua. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.29, n.1, 45-54, jan./jun. 2003.

(1) Acadêmica de Enfermagem do décimo período do curso de graduação de Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás, e Bolsista do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde), Goiânia-Goiás, Brasil. E-mail: [email protected].