A EDUCAÇÃO E A CULTURA


A moça acordou mais feliz do que o habitual: era segunda-feira e, após um longo período de desemprego, ela trabalharia no Censo do País. Recebeu um mapa de zoneamento que informava o bairro onde ela deveria fazer as visitas e saiu contente trajando o uniforme e levando o material necessário.
Parou em frente a uma linda casa no momento em que o portão eletrônico estava abrindo; esperou que o carro chegasse à calçada, deu Bom dia e começou a explicar o motivo daquela visita. Entretanto, a pessoa que estava ao volante (um senhor bem apresentado, trajando um terno de uma famosa grife) informou que tinha compromisso marcado em sua empresa e que não tinha tempo para aquilo; informou também que ninguém na casa estaria disponível naquele momento, alegando que o Censo, por ser realizado de maneira incoerente, era desnecessário. A mesma pessoa esperou o portão fechar, deu marcha à ré e deixou a moça falando sozinha.
Horas depois, já de volta a sua casa, a moça lembrava de cada entrevista realizada e, por motivos óbvios, lembrava da infeliz experiência que tinha passado na primeira residência. Pensava consigo: Gente sem educação!
Na segunda manhã de trabalho a moça foi enviada a outro bairro, desta vez na periferia da cidade. Chegou então no portão de uma humilde moradia, feita com restos de madeira (algumas já podres), bateu palmas, explicando logo o motivo daquele visita. Após ser recebida por um senhor idoso, a moça notou que a casa não tinha forro, nem energia elétrica; notou também que o piso era de terra batida. O idoso improvisou um banco com um tijolo e um pedaço de tábua para ela sentar - já que não existiam quase móveis na residência - e ofereceu um pouco de água. Respondeu com boa vontade a todas as perguntas, desculpando-se pela desorganização da casa.
Naquele dia a moça descobriu que havia uma imensa distância entre a educação e a cultura, pois foi inevitável comparar os dois homens que a receberam em ocasiões diferentes: o primeiro parecia ser muito culto, bem sucedido na vida, vocabulário rebuscado e bem argumentado, mas não tinha educação para lidar com as pessoas. O segundo não era culto, falava muitas palavras de maneira errada, mas a recebeu com um sorriso no rosto, tentou oferecer o mínimo conforto que possuía e respondeu a tudo com mansidão.
A cultura habita as páginas dos livros, encena em algumas produções cinematográficas, freqüenta as salas de aula e está ao alcance da maioria das pessoas. A educação é ensinada no dia a dia, nas ações que observamos nos outros e nas escolhas comportamentais que escolhemos; alguns dizem que, de certa maneira, ela é inata; outros, dizem que é fruto do ambiente em que se vive. O fato é que educação e cultura são coisas distintas ? ao menos aos meus olhos - mas é ótima a possibilidade de serem encontradas sempre juntas.