Cilésia de Carvalho[1]

RESUMO

Este trabalho apresenta um pequeno Município do interior de Minas Gerais e sua necessidade de oferecer uma educação significativa que reconheça seus sujeitos e afirme sua identidade campesina, sem deixar de lado o conforto e o acesso à tecnologia.

Estamos vivendo uma era de crescente transformação, de mudança e perdas de valores, num espaço disputado com a tecnologia, com a urbanização de mentes, onde a aparência esquelética ganha cada dia mais adeptos e a vida verdadeira tem cada dia menos sentido. Neste 'cenário' real a educação do Campo surge para reconhecer os sujeitos e ampara-los em defesa de sua própria vida numa proposta de parceria entre a vida, o conhecimento (Senso Comum, Científico e Técnico) e o desenvolvimento sustentável. O município de Acaiaca, uma importante célula, nesse imenso estado apresenta características camponesas desde sua origem até hoje, porém estas características se misturaram com uma diversidade através de imigrantes e passageiros que a Cidade acolheu e ainda acolhe desde os primórdios tempos.

O texto apresenta uma discussão acerca do Município de Acaiaca e de sua relação com a Educação e como que esta interage com a vida e vivência dos educandos e educadores chegando aos dias atuais com uma necessidade de apresentar uma proposta de reconhecimento de identidade oferecido pela Educação do Campo.

Apresenta ainda, ações realizadas pelo Município para a consolidação de uma educação que garanta a afirmação da identidade do ser humano e a construção da história pelo próprio sujeito, ou seja, que cada um seja sujeito de sua própria história. Também traz uma discussão acerca da Educação Rural e Educação do Campo e suas tendências.

PALAVRAS CHAVES: Educação, Educação do Campo, Formação de sujeitos.

UM POUCO SOBRE ACAIACA

Acaiaca é um município do interior de Minas Gerais, localizado na Zona da Mata. Teve sua emancipação política em 1963, quando foi desmembrado de Mariana.

Seu relevo é em grande parte montanhoso e possui temperatura amena com média anual de 18,5ºC[2].

A hidrografia conta com ribeirões em todas as comunidades rurais e com o Rio Carmo que atravessa a Sede do município.

O total de habitantes é de 4 056 habitantes, conforme dados IBGE 2007, 2 508 habitantes residem na cidade-sede e 1 548 habitantes, têm residência no meio rural.

A base da economia, apesar da maioria da população residir no meio urbano, é baseada em atividades agropecuárias, sobressaindo o plantio de feijão e milho.

Acaiaca teve grande parte do seu desenvolvimento na época da implantação e valorização da linha férrea chamada "desenvolvimento através dos trilhos" [3] lembrada nos dias atuais pela linda construção da antiga estação – o mais conhecido cartão postal da cidade. Mas a característica que sempre acompanha o Município é o de ser agrário. Antes de se emancipar era considerado o Distrito agrícola de Mariana. Também considerado como "Cinturão Verde", ainda hoje é visível a predominância da agropecuária até mesmo na sede do Município onde é comum nos encontrar com pessoas andando a cavalo ou transportando diferentes produtos em charretes, carroças ou carros de bois e de manhã, o despertador de muitas pessoas ainda continua sendo o conhecido Co co ri co do velho galo. Ainda na sede, bem ao lado da Praça Tancredo Neves podemos nos deparar com uma enorme horta agroecológica. Na área rural, o transporte moderno também é conhecido e muitas vezes o trabalhador segue para a roça com sua enxada, embornal[4] garrafa com água numa moto ou na garupa de uma.

O município de Acaiaca possui sua economia baseada em atividades agropecuárias, sobressaindo o plantio de feijão e milho, conforme o Diagnostico Municipal[5]. Porém, a cana de açúcar é muito cultivada, como hortaliças e outros plantios. Mesmo sendo muito montanhosa o solo de Acaiaca é fértil e como seu clima é agradável vários produtos adaptam ao tipo de solo.

Sua população tem sua origem rural visto que desde o início do povoamento com uma fazenda que pertencia ao Padre Miguel Rabelo Alvim, se dedica ao convívio com a terra. Mas, as habilidades dos acaiaquenses aparecem em todas os campos e por todo o município encontramos atletas, artistas nas diferentes áreas, poetas, professores, administradores, religiosos, líderes comunitários...

Porém, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) [6], a urbanização cresceu muito em nível de população, mas a economia continua com base agrária.

A EDUCAÇÃO

"Tudo o que a gente puder fazer no sentido de convocar os que vivem em torno da escola, e dentro da escola, no sentido de participarem, de tomarem um pouco o destino da escola na mão, também. Tudo o que a gente puder fazer nesse sentido é pouco ainda, considerando o trabalho imenso que se põe diante de nós, que é o de assumir esse país democraticamente." Paulo Freire.

De acordo com o Diagnóstico municipal da Amadeus Consultoria realizado em 2008, o analfabetismo demonstra queda significativa nos últimos anos, seguindo a tendência nacional.

O setor educacional compõe-se de escolas de educação Infantil, Fundamental e Médio.

Na Sede: Escola Estadual Padre Simim (Ensino Fundamental – Anos Finais e Ensino Médio), Escola Estadual Professor Martins (Ensino Fundamental – Anos Finais), Escola Municipal Christodato Martins de Souza (Ensino Fundamental – Anos Iniciais), Centro Municipal de Educação Infantil Nair Machado de Carvalho (Creche e Pré Escola), Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE (apoio aos portadores de Necessidades Especiais com atendimento de Psicólogo, Fonoaudiólogo, Fisioterapeuta e professores). Conta também com um convênio com a Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP, com o curso de Pedagogia da Educação Infantil, através do Centro de Educação Aberta e à Distancia – CEAD.

No meio Rural: Na Comunidade de Boa Cama está a Escola Família Agrícola Paulo Freire que oferece o Curso Técnico em Agropecuária integrado ao Ensino Médio, com base na Pedagogia da Alternância. [7] Também a Escola Municipal Carmelita Martins Elias que atende estudantes da Educação Infantil e Ensino Fundamental – Anos Iniciais.

A EDUCAÇÃO E O MEIO RURAL

Com uma população jovem crescente e uma educação seguidora de um modelo nacional que incentiva o crescimento urbano e omite a cultura campesina, vislumbramos um cenário educativo específico, com uma demanda positiva às iniciativas voltadas para a valorização rural. Sob este enfoque, a temática campesina emerge com o objetivo de resgatar a cultura dos povos campesinos, estimulando a valorização e a relação sustentável do entorno para a melhoria da qualidade de vida.

A formação de sujeitos, por meio da educação do campo, abrange ações integradas entre diversos setores, garantindo a articulação entre aspectos social, econômico, cultural e ambiental. A escola, como promotora de uma educação nos seus diferentes conhecimentos, busca articular ações coordenadas que incrementem iniciativas de valorização do povo do campo existentes no município e proporcionar ações que favoreçam o resgate da identidade e valor da história deste povo.

As atividades a serem desenvolvidas pela escola visam resgatar seu próprio papel social, o seu papel de integração da comunidade, além de auxiliar e fomentar a produção de melhoria do ensino fundamental com início na educação infantil, sobretudo no que diz respeito à promoção da Educação do Campo de maneira consciente.

Até a década de 1990, Acaiaca contava com várias escolas no meio Rural que atendia de primeira à quarta série e algumas atendiam também alunos da pré-escola. Contava também com a Escola Estadual Licínio Pastor Alves.

Porém, o incentivo à urbanização do Município e o crescente êxodo rural foram esvaziando cada vez mais as escolas rurais que, em sua maioria, já atendia em classes multisseriadas[8].

Surgiu a nucleação e os alunos Rurais foram levados para as Escolas da Sede, surgiu também o transporte escolar para os alunos do Ensino Fundamental-Anos Iniciais. (Os alunos que queriam continuar os estudos já iam para a Sede).

Muitos alunos evadiam antes do final do ano letivo. Isso foi causando indagações tanto nos educadores que atuavam na área rural, quanto em algumas famílias. E como quem pergunta quer saber...

Então se descobriu em conversas que grande parte dos alunos se sentia incomodados não só pela distância do caminho que tinham que percorrer, mas também pela diferença da realidade que aprendiam da que viviam (a falta do contexto).

Foi aí que as discussões para uma escola que atendesse os alunos rurais mais próximos de sua realidade começaram a ter força e em 2002 criou-se uma Escola Núcleo Rural que atenderia todos os alunos que residiam no meio Rural e também aos que residiam na Cidade e que quisessem nela estudar.

A Escola Municipal Carmelita Martins foi a escolhida por estar localizada na região mais central (Palmeira de Fora) e também, por possuir o maior número de alunos na época.

A Escola ganhou Direção, Regimento e Proposta Pedagógica com características próprias, atendendo alunos da Educação Infantil, Ensino Fundamental – Anos Iniciais, eliminando as classes multisseriadas.

Também o Município ganhou a Escola Família Agrícola Paulo Freire, na comunidade de Boa Cama, com uma pedagogia totalmente voltada para a valorização do Campo, Pedagogia da Alternância.

A alternância pode ser considerada como uma modalidade de educação e de formação, uma pedagogia para a adolescência, porque responde às necessidades essenciais dessa idade, porque favorece condições de passagem. A saber: ter um lugar e conquistar um estatuto, agir, ser bem sucedido, ser reconhecido e amado, crescer. (...) A alternância pode agir nesse sentido porque oferece e diversifica os lugares e os espaços para se testar, empreender, experimentar, manifestar-se, realizar-se, dar-se bem em alguma coisa. Ela torna experiências possíveis tanto no plano familiar quanto profissional ou social. (Gimonet, 2005. p.p.8,10. IN.: Revista da Formação por Alternância nº1)

EDUCAÇÃO RURAL & EDUCAÇÃO DO CAMPO

Há uma concepção diferenciada entre Educação do Campo e Educação Rural; a primeira se organiza a partir das necessidades dos povos do campo que lutam por uma nação emancipada, a segunda vem com uma proposta urbana que visa suprir as necessidades dos moradores da roça que nada sabem e tem que aprender par conviver com o desenvolvimento que somente acontece com a tecnologia oferecida nas cidades.

Melhor falando, a Educação do Campo não cria uma dicotomia mas, valoriza os saberes, não despreza a base comum porque senão se torna excludente. Desta forma acredita que para efetivar o real desenvolvimento precisa considerar a vida do povo que ali vive e sua forma de sobrevivência, sua história, sua cultura, suas tradições. A Educação do Campo se efetiva com o povo do Campo atuando na Escola.

A educação do Campo ganha espaço e nessas discussões percebemos que:

Quando se coloca o problema da Educação do Campo, grande parte de nossos governantes, secretarias de educação e intelectuais que se dizem pensantes da educação, partem do princípio que os grandes desafios estão na falta de estrutura, de professores preparados, de transporte escolar adequado, de material didático-pedagógico. O grande desafio, na verdade, é a mudança do modelo de educação presente no campo. A escola que temos no campo não prepara as crianças nem para o mundo urbano e nem para o mundo do campo (com suas diferentes expressões culturais, de organizar a vida, de convivência). Mas sim para serem subserventes à lógica do capitalismo. Ou para serem explorados, espoliados e nada mais.[9]

Já a Educação Rural vem como uma forma dos próprios sistemas se apropriarem da identidade do povo do campo sob a desculpa de desenvolvimento, oferece uma educação desvinculada da realidade onde a escola se encontra inserida. É o modelo "convencional" que trabalha as diretrizes comum para todo o estado ou mesmo todo o país, não vê a necessidade de envolvimento da escola com a vida da Comunidade onde se encontra. Ou seja de Rural só apresenta a localidade onde o prédio se encontra e os conteúdos apresentados nos livros didáticos que muitas vezes nos apresentam o rural de uma forma meio utópica ou poética.

Para Hage[10], a Educação do Campo é

Uma educação entendida não como um fim em si mesma, mas como um instrumento de construção da hegemonia de um projeto de sociedade: Includente, Democrática e Plural. A educação parte do reconhecimento de que no campo existe uma pluralidade de sujeitos que podem conviver numa relação dialógica e fraterna.Uma educação que contribui para a construção de uma outra relação entre o campo e a cidade, enfrentando a hierarquia e a desigualdade atualmente existentes.A Educação do Campo se realiza no conjunto dos Movimentos sociais, das lutas e organizações do povo do campo!Na luta pela terra e por condições dignas de vida e de afirmação de sua identidade.É um projeto da Classe trabalhadora do campo para todas as pessoas que estão no campo e não somente para aqueles que se encontram engajados nos movimentos sociais do campo[11].

O mesmo autor entende a Educação Rural assim:

Uma educação que não leva em consideração os conhecimentos que os alunos trazem de suas experiências e de suas famílias. Uma educação que desvaloriza a vida do campo, diminuindo a auto-estima dos alunos e descaracterizando suas identidades; Uma educação que fortalece o ciclo vicioso que os sujeitos do campo realizam: "de estudar para sair do campo" ou "de sair do campo para estudar", fortalecendo o processo de migração campo-cidade; Uma educação que se constitui enquanto um instrumento de reprodução e expansão da estrutura agrária e de uma sociedade excludentes. (Hage, 2005)

A EDUCAÇÃO DO CAMPO EM ACAIACA

Apesar de o Município ter uma Escola com atendimento à Educação Infantil e ao Ensino Fundamental – Anos Iniciais e uma com atendimento ao Ensino Médio (EFA), não houve a elaboração de políticas específicas para esse modelo específico de educação. As Leis de ensino que se antecederam à LDB 9394/96 sequer mencionaram a educação do campo, mas a citada Lei já prevê em seus artigos 26 e 28 uma adaptação às necessidades regionais. E mesmo porque as discussões em nível de MEC eram muito recentes ganharam força em 2001 aprovação do Parecer 36/2001 sobre as Diretrizes. Que só foram homologadas em 2002 com a RESOLUÇÃO CNE/CEB 001, DE 03 DE ABRIL DE 2002 (D.O.U. de 09/04/2002) que Institui Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo.

A proposta diferenciada da Escola se fundamentou na LDB 9394/96 mas somente uma proposta no papel não garante a prática, todos da escola têm que estar envolvidos e buscar o envolvimento de outros.

Nossa formação como professores é toda efetivada dentro de paradigmas globais, como já mencionado, isso dificulta a introdução de uma nova prática mesmo porque as próprias famílias não estão acostumadas a se envolverem e menos ainda de serem parceiras de um processo educacional ativo e atuante.

Nessa perspectiva, o município de Acaiaca retoma uma discussão que iniciara de maneira muito "leve" no ano de 2002. Porém agora, com mais clareza, mais apoio e fundamentação.

A Educação do Campo como uma proposta de desenvolvimento já é vista hoje com maior simpatia por alguns, como necessidade por outros e com o envolvimento de mais pessoas.

No âmbito Nacional, a Ministério de Educação abriu discussões específicas e em 2001, a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, através do Parecer Nº: 36/2001 explica melhor a necessidade de Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo, quando diz:

[...] a partir de uma visão idealizada das condições materiais de existência na cidade e de uma visão particular do processo de urbanização, alguns estudiosos consideram que a especificidade do campo constitui uma realidade provisória que tende a desaparecer, em tempos próximos, face ao inexorável processo de urbanização que deverá homogeneizar o espaço nacional. Também as políticas educacionais, ao tratarem o urbano como parâmetro e o rural como adaptação reforçam essa concepção. (PARECER Nº:36/2001 pp.1,2)

Isso reforça a preocupação com a Educação do Campo nesse Município onde os jovens e as crianças já se encontram em maior contato com a cultura urbana devido ao êxodo rural e a própria educação com modelo urbano. E contribui para que o jovem se distancie cada vez mais de sua identidade.

Assim sendo, entende a Câmara de Educação Básica que o presente Parecer, além de efetivar o que foi prescrito no texto da Lei, atende demandas da sociedade, oferecendo subsídios para o desenvolvimento de propostas pedagógicas que contemplem a mencionada diversidade, em todas as suas dimensões. Ressalte-se nesse contexto, a importância dos Movimentos Sociais, dos Conselhos Estaduais e Municipais de Educação, da SEF/MEC, do Conselho Nacional dos Secretários Estaduais e Municipais de Educação – CONSED, da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação – UNDIME, das Universidades e instituições de pesquisa, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável, das ONGs e dos demais setores que, engajados em projetos direcionados para o desenvolvimento socialmente justo no espaço diverso e multicultural do campo, confirmam a pertinência e apresentam contribuição destas diretrizes. (PARECER Nº:36/2001 p.2)

Em conversas com jovens e várias pessoas residentes no campo deste município podemos perceber que grande parte abandonam a escola porque ela não oferece um ensino coerente com sua necessidade ou devido à grande distancia a se deslocar para ir ao centro depois de um exaustivo dia de trabalho.

Outra questão crucial a ser considerada é o fraco desempenho escolar na educação básica contribuindo para o aumento do abandono e da evasão.

Alguns especialistas defendem o argumento que o desempenho escolar é o resultado de dois fatores: o capital sociocultural e a qualidade da oferta. Diante da precariedade do capital sociocultural, decorrente do desamparo histórico a que a população do campo vem sendo submetido, e que se reflete nos altos índices de analfabetismo, a oferta de um ensino de qualidade se transforma numa das ações prioritárias para o resgate social dessa população.

Com base também nas Referências para uma política nacional de educação do campo que afirma:

Como parte da política de revalorização do campo, a educação também é entendida no âmbito governamental como uma ação estratégica para a emancipação e cidadania de todos os sujeitos que vivem no campo, e pode por meio dela, colaborar com a formação das crianças, jovens e adultos para o desenvolvimento sustentável regional e nacional. O trabalho desenvolvido em muitos municípios e pelos movimentos sociais, são iniciativas que demonstram a existência de um acúmulo de experiências que não podem ser desconsideradas no momento de definição de políticas de educação do campo. É desse conjunto que temos recriado o sentido do campo, Educação do Campo e dos seus sujeitos. Uma Política Pública de Educação do Campo deve respeitar todas as formas e modalidades de educação que se orientem pela existência do campo como um espaço de vida e de relações vividas, porque considera o campo como um espaço que é ao mesmo tempo produto e produtor de cultura. É essa capacidade produtora de cultura que o constitui como um espaço de criação do novo e do criativo e não, quando reduzido meramente ao espaço da produção econômica, como o lugar do atraso, da não-cultura. O campo é acima de tudo o espaço da cultura.(Caderno de Subsídios Brasília, Outubro, 2003)

Torna-se cada vez mais viável a criação de políticas que realmente valorizem a cultura e os saberes do povo do campo. A Educação do Campo em nosso município se justifica pela realidade apresentada em documentos, em gráficos e na realidade que pode ser comprovada a qualquer momento na ação dos que ainda residem na zona rural e lutam para sobreviverem numa cultura consumista, preconceituosa e excludente que vem se fortalecendo a cada dia.

Esta realidade mostra crianças que demonstram vergonha em residir no campo; jovens que iniciam o final do Ensino Fundamental nas escolas da sede e desistem antes do final do primeiro ano; jovens que vão trabalhar em serviços agrícolas em outros municípios, espaços vazios onde antes eram grandes lavouras de milho, feijão, arroz e outras culturas agrícolas, uma escola núcleo que anseia por trabalhar com diretrizes voltadas para o meio em que se encontra.

Sabemos que a vida que a gente quer depende do que a gente faz, por isso queremos uma educação voltada para o reconhecimento do povo do campo.

Neste ano de 2009, as discussões tomam novos rumos e começam a indicar outros caminhos para a educação neste Município. Com o crescimento da discussão sobre o assunto mais pessoas se identificam com a proposta e daí começa a despontar uma nova perspectiva - que a população rural acaiaquense tenha conhecimento de seu potencial, de sua história, de sua cultura e que através deste auto reconhecimento o direito à Educação Significativa seja alvo das reivindicações.

A educação do Campo em Acaiaca se torna uma necessidade a partir do momento que o Currículo Oculto nos estudantes apresenta duas características que podem ser percebidas cada vez com maior freqüência.

A Secretaria Municipal de Educação já reconhece a necessidade de uma política própria que valorize o Campo e seus habitantes através da educação. O que favorece e fortalece o trabalho neste sentido.

AÇÕES PARA EFETIVAR A EDUCAÇÃO DO CAMPO NO MUNICÍPIO

Em Acaiaca está se trabalhando arduamente para que a identidade dos povos do campo não se esmaeça e para que a Educação se torne prioridade não só para o governo mas, principalmente para os que dela fazem parte (escola- família- comunidade) delineou-se metas para a efetivação dessa educação tão sonhada por alguns e tão esperada por muitos:

·Curso de Formação em Educação do Campo.

·Projeto Pedagógico Interdisciplinar com eixo temático.

·Formação de parceria.

·Adesão ao Plano de Ações Articuladas (PAR).

·Diagnóstico sobre o analfabetismo municipal.

·Proposta Pedagógica especifica para Educação de Jovens e Adultos – EJA e Educação do Campo.

·Criação de Conselhos Escolares.

·Criação de Programas de Incentivo à Leitura.

·Criação do Contra turno.

·Outras Ações dentro do PAR já se encontram em desenvolvimento.

Para que isso aconteça desde janeiro do corrente ano se iniciou na Escola Municipal Carmelita Martins Elias o Curso sobre o tema de Educação do Campo onde já existe um grupo de estudos que uma vez por mês se encontra para discutir o assunto num Curso de Aperfeiçoamento em Educação do Campo: A Educação do Campo, a Pedagogia de Paulo Freire e os Movimentos Sociais: A formação de Sujeitos.Sob a orientação de Cilésia de Carvalho. Nestes encontros além dos estudos sobre a Educação do Campo, estão sendo discutidas a nova Proposta Política Pedagógica da Escola e as Diretrizes da Educação do Campo para o Município.

A Escola Carmelita está trabalhando com um Projeto Interdisciplinar de Investigação visando a interação Família-Comunidade-Escola com o Eixo Gerador: Infância, Agricultura e Sustentabilidadeonde cada turma desenvolve um sub tema próprio e interligado ao 'eixo'. Com este trabalho, a escola espera conhecer a infância das famílias envolvidas, saber qual era a relação das mesmas com a agricultura e como se dava a sustentabilidade e ainda relacionar o resultado das investigações com a atualidade.Dentro do Projeto está previsto para o final do ano, a realização de um Seminário Intermunicipal da Educação do Campo.

Várias parcerias estão sendo firmadas primeiramente com as FAMÍLIAS e também com as Secretarias Municipais: Ação Social, Saúde, Agricultura; EMATER; CTA-ZM (Centro de Tecnologias Alternativas da zona da Mata); EFAP (Escola Família Agrícola Paulo Freire); AMEFA (Associação Mineira das Escolas Famílias agrícolas); para que aconteça a Educação Integral de forma Integrada e em Alternância. (reutilizando prédios escolares inativos com a nucleação).

A proposta para o horário integral ou Contra turno é que se desenvolvam atividades de arte, artesanato com matéria prima da região, dever de casa orientado, programas de incentivo a leitura, produção de textos, resolução de desafios matemáticos, práticas agrícolas, noções de etiquetas sociais e várias atividades que propiciem a formação integral dos estudantes, a valorização do meio rural e a integração com o meio, sempre promovendo a sustentabilidade.

Com a elaboração do PAR (Plano de Ações Articuladas) garantiu para o município várias ações e subações referentes a Educação do Campo facilitando discussão com maior apoio.

Uma pesquisa diagnóstica foi realizada no município pela secretaria Municipal de educação em Parceria com a Escola Família Agrícola Paulo Freire onde foi possível detectar a realidade sobre o analfabetismo no município e a necessidade de reativar a Escola de Jovens e Adultos – EJA. Já que a mesma se encontra inativa.

Em Acaiaca a educação significativa, a educação popular é prioridade daqueles que realmente acreditam no potencial do povo e na verdadeira função da educação que de desenvolvimento através da consciência do conhecimento.

Sabemos que somente através da educação e de cada ser humano em poder de seus próprios deveres e direitos é que poderemos acreditar numa sociedade humanizada e cidadã.

Mas o maior desafio ainda é o envolvimento das pessoas que estão diretamente ligadas à educação, é demonstrar que a educação do Campo ou da Cidade é resultado da história de um povo. Um povo sem história é povo sem identidade. Precisamos buscar o envolvimento, o compromisso de cada um para que a o sucesso seja: nosso futuro sustentável por uma geração que exerce seus deveres de maneira consciente de seus direitos.

Estamos caminhando e sabemos que a cada passo nos aproximamos mais do objetivo. Pelo caminho, mesmo que longo e íngreme, encontramos pessoas dispostas a se envolverem e se comprometerem no mesmo ideal. Sabemos que a caminhada é árdua mas o oásis existe e existem muitos construindo a estrada. Então o segredo é não desistir e ter a certeza que, em Acaiaca, a Educação do Campo é o Oásis que tanto procuramos.

As populações do campo têm o direito de definir seus próprios caminhos, suas intencionalidades, seus horizontes. (Hage, 2005)

RESULTADOS ESPERADOS

Esperamos com a efetivação de uma Educação Significativa que haja o comprometimento dos envolvidos com a Educação, que os estudantes e suas famílias se tornem sujeitos de suas histórias, que os parceiros exerçam a parceria para a humanização das pessoas e valorização do Campo e que Acaiaca se torne uma cidade mais feliz e mais cidadã.

Também esperamos que a Educação do Campo cumpra seu papel de transformadora para a busca da consciência tornando-se conhecida e respeitada dentro e fora do município.

Objetivamos com este trabalho de investimento em educação que o nosso município seja referência Nacional em qualidade em Educação.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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[1] Cilésia Maria de Oliveira Carvalho – Professora Municipal de Acaiaca desde 1986, Licenciada em Educação Básica pela UFOP, Pós-graduada em Supervisão Escolar pela FIJI, Doutoranda em Ciências da Educação pela UNCUYO/ Argentina. É responsável pela Implantação e implementação da Educação do Campo no Município de Acaiaca desde janeiro de 2009.

[2] AMADEUS Consultoria Ltda.: Diagnóstico municipal, 2008. p.2.

[3]Com a chegadada linha férrea no município, em 1926, houve o crescimento populacional e também no movimento de pessoas. O que colaborou para todo o desenvolvimento do Município.

[4]Embornal: espécie de bolsa usada para carregar alimentos e outros produtos. Muito comum no meio rural para carregar as marmitas e outros utensílios para a lavoura.

[5]Diagnóstico Municipal realizado em 2008 pela Amadeus Consultoria LTDA.

[6] IBGE – Censo 2000 e estimativa para 2007.Aput: AMADEUS Consultoria LTDA. 2008.

[7] Pedagogia da Alternância: regime adotado pelos Centros Familiares de Formação por Alternância, onde os estudantes ficam duas semanas internos na escola e duas semanas em casa/comunidade.

[8] Multisseriadas: classes que atendem ao mesmo tempo, na mesma sala de aula e uma só professora, alunos de diferentes níveis/séries de escolaridade. Ex: alunos de 2ª e 3ª terceira série.

[9] Casali, IN.: Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares- Conselho Escolar e a Educação do Campo,Brasília,2007.

[10] Professor do Centro de Educação da UFPA, Doutor em Educação: Currículo pela PUC de São Paulo. Coordenador do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Rural na Amazônia – GEPERUAZ.

[11]Salomão Hage. A importância da articulação na construção da identidade e pela luta da educação do campo, 2005. Artigo