A Educação Centrada no Aluno como uma Proposta Preventiva aos problemas de Aprendizagem na Escola

Taciana Josefa de Melo
Tarciana Elias Cavalcante
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Resumo
A escola é um ambiente de formação que tem o papel de promover o conhecimento sistemático do sujeito em desenvolvimento e a construção de sua cidadania. Assim, as demandas da sociedade atual trazem a necessidade de uma escola contemporânea que possa ampliar sua função social a partir de um olhar e de uma escuta voltada para o educando como ser biopsicossocial de modo a proporcionar uma relação de confiança e autonomia na interação professor aluno. Um lugar em que a aprendizagem se dá nas dimensões cognitiva, emocional e social, acontecendo de forma singular para cada sujeito em seu contexto sócio-histórico-cultural. No ambiente escolar pode aparecer alguns problemas, os quais poderão surgir como fatores que dificultam o processo de aprendizagem. Neste sentido, este artigo apresenta uma reflexão sobre a necessidade de se estabelecer uma relação pautada na consideração das peculiaridades de cada pessoa, facilitada a partir das relações estabelecidas e atitudes exercidas pelo professor para com seu aluno. Este cenário também deveria destacar o lugar da Psicologia Escolar no sentido de fomentar as relações estabelecidas e necessárias ao processo de ensino-aprendizagem. Para tal, evidenciou-se neste artigo que se deve abandonar a idéia do professor como apenas o transmissor de saberes curriculares e tê-lo como um facilitador, que impulsiona outros seres a desenvolver sua própria aprendizagem, e um articulador das redes sociais que visa promover uma aprendizagem eficaz. Sendo assim, a escola não deve caminhar isoladamente e sim numa condição de paridade e sintonia com a família e com a comunidade. Portanto, o presente artigo tem como objetivo refletir sobre a influência da relação professor aluno como aspecto preventivo aos problemas de aprendizagem, tendo como referencial teórico as condições facilitadoras da concepção humanista de Carl Rogers discutido a partir de levantamento bibliográfico.

Palavras-chave: Relação professor-aluno, facilitador, problema de aprendizagem.

Introdução
Partindo da premissa de que a aprendizagem é um processo contínuo e gradativo, que permeia todas as etapas do desenvolvimento do ser humano e integra seus aspectos físico, intelectual, emocional e social, é que se pode compreender a aprendizagem como um processo não transferível. Para Rogers, "aquilo que pode se ensinar a outra pessoa não tem influência significativa sobre o comportamento, uma vez que o único aprendizado que influencia significativamente o comportamento é o aprendizado auto descoberto, auto apropriado" (2009, p. 318). Assim, o conhecimento auto descoberto irá atribuir maior valor à vida do sujeito e possivelmente às suas atitudes, comportamentos e personalidade. Tal concepção difere de outras em que o professor apenas apresenta conteúdos a serem aprendidos, fazendo suas exposições e explicações, impondo seus pontos de vista e o aluno sendo um agente passivo neste processo, absorvendo as informações que lhes são transmitidas.
A educação centrada no aluno se preocupa primeiramente com a realização do ser do estudante, auxiliando o indivíduo a se tornar pessoa psicologicamente saudável, a se tornar eminentemente humano ao atualizar suas possibilidades. Essa concepção de educação escolar é mais abrangente, pois contempla no outro suas formas humanas de conhecer, como por exemplo, a cognitiva, a sensorial, a emotiva e a social, vendo no ser que aprende uma pessoa que responde de modo integrado, que está inserido num tempo (período escolar) e num espaço (sala de aula) específicos e que não põe em primeiro plano os conteúdos programáticos. Desta forma, pode-se pensar numa postura focada no ato de conhecer, criar e recriar que vai além do conhecimento científico.
A proposta é inspirada nas reflexões de Carl Rogers sobre a educação centrada no aluno, desenvolvida a partir da idéia de uma educação "libertadora" e não diretiva, na qual a aprendizagem não acontece pelo fator cognitivo apenas e sim expressa-se como um modo de olhar para o aluno, como um interesse que se revela na ação do educador. São comuns a essa atitude a apreciação, a responsabilidade e o diálogo. Além destas, há outras três condições facilitadoras e importantes que devem permear as relações: a consideração positiva incondicional, o relacionamento empático e a congruência. Quanto à primeira condição, entende-se a capacidade de respeito ao outro de modo a transmitir uma aceitação sem condições ou julgamento prévio; a segunda refere-se à escuta capaz de compreender o sentimento do outro, o seu modo de ser e sentir, o que o outro esta sentido enquanto ser humano; e a terceira condição diz respeito à autenticidade, de ser quem realmente se é na relação, sem máscaras ou fachadas, demonstrando coerência entre o sentimento e a experiência. Assim, Rogers também apresenta o conceito de tendência auto atualizante, que denomina como sendo o elemento motivador, a força que impulsiona o sujeito a desenvolver suas potencialidades.
Tais condições, quando vivenciadas no contexto educacional, mais especificamente na relação professor-aluno facilitarão o processo de ensino-aprendizagem, pois, quanto mais a pessoa é aceita e compreendida, maior será a tendência de tornar-se mais realista, autoconfiante e realizadora, uma vez que tais condições deveriam estar presentes em todas as relações e contextos, como os da sala de aula, da comunidade, do ambiente familiar, nos casais, entre pais e filhos, entre outras.
Neste sentido, é de fundamental importância que o professor esteja preparado e convicto de que seu papel vai além de apenas um transmissor de conhecimento, de "detentor da verdade", e que estas condições facilitadoras, favorecem as relações, as quais, segundo Rogers, podem ser um veículo importante e necessário para que a aprendizagem aconteça de forma mais eficaz e mais humana, pois, quanto mais o professor demonstrar atitudes que envolvam tais condições, maior será o grau de autenticidade e potencial criativo dos alunos.
Portanto, sugere-se que o professor seja uma pessoa real, um facilitador da aprendizagem e, quando em contato com seus alunos, apresente atitudes congruentes na relação com os mesmos, não impondo barreiras externas que os afastem. Será entusiasta ou entediado, interessado ou irritado, será receptivo e simpático. Se aceita tais sentimentos como seus, não precisa impô-los aos alunos.
Tal concepção também corrobora com o pensamento de Vygotsky (1999, p.110) quando fala que "toda aprendizagem envolve ensino, uma vez que inclui aquele que aprende e aquele que ensina", numa relação dialética de afetação. Ou seja, é na interação entre os sujeitos e ambiente sócio-cultural que ocorre a aprendizagem. Ele explica que esta relação entre desenvolvimento e aprendizagem é mediada através e, necessariamente, a partir da presença de um outro significativo, seja este representado pela escola, família ou cultura.
Ainda para Vygotsky (1999, p.104), "a aprendizagem acontece ao longo do desenvolvimento da criança" e, portanto, esta será um pré-requisito para o desenvolvimento. Sabendo-se que o processo de desenvolvimento acontece de forma peculiar a cada ser e que um conjunto de fatores poderá surgir durante este percurso, é de fundamental importância que o professor esteja preparado e atento a tais fatores e as suas peculiaridades. Devendo-se estabelecer uma relação de afetividade, cuidado e respeito ao tempo e ritmo de cada um, ajudando em seu desenvolvimento psicossocial. Assim, Vygotsky focaliza como fundamental para o processo de ensino e aprendizagem a figura do professor como essencial no processo, não no sentido de um detentor do saber e sim de um facilitador ou mediador da aprendizagem e dos problemas que dela decorrem, proposta que vai ao encontro dos ensinamentos de Rogers.
Logo, para Santos (1998, p.26 citado por CORREIA 2004, p.137):

A tarefa das escolas não se limita ao mero desenvolvimento da área cognitiva, ou da transmissão de conhecimentos. A dimensão educativa deve incluir os aspectos afetivos e sociais que integram a personalidade do indivíduo. Faz-se mister que a escola responda às necessidades do mundo moderno e encontre um espaço para lidar com os sentimentos dos alunos, para que estes se desenvolvam em níveis emocional e acadêmico e assumam uma atitude crítica e objetiva perante a vida.

Portanto, o presente artigo tem como objetivo refletir sobre a influência da relação professor aluno como aspecto preventivo aos problemas de aprendizagem.


Fatores que podem interferir no processo de ensino e aprendizagem

São vários os fatores que contribuem para o desenvolvimento cognitivo do sujeito, os quais podem envolver questões de ordem neurológica, social, emocional e psicológica. Caso haja algum déficit em uma destas áreas, o processo de aprendizagem poderá ser comprometido. Assim, os fatores de ordem neurológica, por exemplo, como o retardamento mental, disfunção cerebral mínima ou outras lesões podem dificultar a aprendizagem na aquisição da linguagem, na coordenação motora ou gerar outros distúrbios de aprendizagem.
Como a escola também contempla, ou deveria contemplar os fatores sociais e culturais, deve também estar atenta aos possíveis problemas provenientes desta natureza, uma vez que o homem é um ser biopsicossocial e que se constitui através das suas relações. Desde seu nascimento, passa a pertencer a uma determinada cultura e durante seu desenvolvimento precisa se relacionar e participar de diversos grupos sociais.
Segundo Drouet (2006, p. 163), o indivíduo ao nascer já encontra uma sociedade estabelecida, com padrões de comportamento social definido e nos quais deve se enquadrar. Quando não consegue se integrar a esses padrões, comumente é considerado fora da norma e é marginalizado pela sociedade. Assim, os indivíduos, ao ingressarem na escola, também enfrentam algumas expectativas, quer seja por parte dos professores, dos pais ou dos colegas. Quando estas não são alcançadas, passam a receber rótulos que, de acordo com a intensidade de repetição, poderão levar o aluno a internalizá-lo e desenvolver uma dificuldade de aprendizagem.
Neste sentido, Piletti (2006, p. 24), menciona que um dos fatores que prejudica a aprendizagem também pode ser a escola, a qual, na maioria das vezes, segue um sistema inadequado ao desenvolvimento da criança quando anula a existência desta em detrimento de uma adaptação à sociedade e à própria escola. Tal fato deveria ocorrer de modo inverso, ou seja, a escola se adaptar às necessidades do aluno, considerando a criança em sua totalidade e peculiaridades, como um ser pertencente a determinado grupo familiar, social e cultural. Assim, faz-se importante avaliar a origem dos fatores, os quais poderão variar desde a atuação do professor, de sua metodologia, de sua relação com o aluno e do ambiente escolar como um todo.
Diante da proposta das condições facilitadoras de Rogers e do socioconstrutivismo de Vygotsky, apresentadas anteriormente, acredita-se que esta situação pode ser modificada, levando-se em consideração as particularidades de cada indivíduo no ato de ensinar e aprender. Esta postura poderia funcionar como uma atitude preventiva aos problemas relacionados à aprendizagem.
Como afirma Bucher (1996, p.32 citado por CORREIA 2004, p.139):

A educação preventiva ao pautar com o objetivo global "ensinar a viver" (e viver bem) terá de manter uma interface constante com os setores social, cultural e econômico, para que possa servir como vetor de um progresso humano integrador; nesse sentido, ela é interminável, acompanhando o homem ao longo do seu percurso, indicando-lhe balizas para prosseguir melhor com as metas e os desafios da sua existência, colocando a sua disposição instrumentos técnicos, culturais e artísticos para que se possa capacitar e reciclar.

Agindo assim, possivelmente será desenvolvida autonomia e auto- reflexão para uma melhor adaptação nas relações intra e interpessoal, tornando cada vez mais a escola um lugar de referência no processo de formação e de constituição do sujeito e da sua subjetividade.
Logo, a proposta de uma educação que promove direito e cidadania estão centradas no estímulo a autonomia e ao livre arbítrio com responsabilidade, chamando atenção à necessidade de uma educação significativa, que possa contextualizar os conteúdos da grade curricular a fatos da realidade e do cotidiano do educando, o que implicaria uma possível mudança de atitude, inclusive na qualidade de vida dos mesmos.


A escola da contemporaneidade

Diante das mudanças sofridas ao longo da evolução da espécie humana, percebe-se que a sociedade se depara também com os avanços tecnológicos, modificando e influenciando cada vez mais a qualidade de vida das pessoas.
Logo, como cita (SANTOS; ROGERS; BOWEN, 2004, p.65):

As instituições têm abandonado o fruto de sua existência, que é o ser humano, para focalizar o desenvolvimento de tecnologias fantásticas capazes de resolver "todos" os nossos problemas. Isso tem levado o ser humano a uma busca externa constante para vencer os seus problemas, o que o tem afastado da solução verdadeira que está dentro de si mesmo.

Neste sentido, surgem os vários modelos de famílias, quebrando a idéia tradicional do modelo pai, mãe e filhos. Consequentemente estes novos paradigmas irão influenciar no comportamento da criança, bem como no seu processo de aprendizagem, e interferir nas suas relações intra e interpessoal. A escola contemporânea irá se deparar com toda esta demanda, que poderá interferir no processo de ensino aprendizagem, devendo esta se preparar para trabalhar esta nova realidade.
Assim como distinguir um distúrbio de aprendizagem de uma dificuldade de aprendizagem, uma vez que a primeira está ligada a fatores de ordem orgânica e, a segunda está mais fundamentada aos problemas sócios- culturais e emocionais. Sejam de que ordem forem os problemas originados desta área, a criança ao ingressar na escola trará toda sua história, a qual influenciará positivamente ou negativamente no seu processo de aprendizagem, dependendo de como será conduzido o processo. Como por exemplo, a falta de limite, a extroversão ou a introversão, dificuldades de relacionamento social.
Segundo Drouet (2006, p. 207), a primeira infância e a adolescência são fases críticas do desenvolvimento humano, que exigem maior cuidado e atenção. Neste sentido, uma educação familiar mal orientada poderá também influenciar na aprendizagem do sujeito; sabendo-se que há uma grande ligação entre a educação escolar e a familiar, uma vez que são elementos fundamentais para a formação do sujeito, reforçando a importância da harmonia entre família e escola.
Atualmente percebe-se que as escolas estão mais preocupadas em dar conta do conteúdo da grade curricular, não abrindo espaço para observar as possíveis causas pelas quais os alunos não estão aprendendo, seu desinteresse diante da aprendizagem acadêmica e até mesmo o que leva à evasão escolar. Tal tarefa diverge do que disse Freire (1996, p. 47), que "saber ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.


A importância de uma aprendizagem significativa

De acordo com Rogers (1971, p.103) existe uma diferença significativa entre o ensinar e o educar. Sabendo-se que estas duas vertentes fazem parte do processo de aprendizagem do indivíduo, uma vez que o ensinar limita-se a uma linguagem técnica de instruir, reproduzir o conhecimento, enquanto que o educar vai além desta idéia, possibilitando ao sujeito liberdade de criar e recriar, de pensar e produzir insights que impulsionam seu potencial cognitivo, proporcionando mais satisfação em aprender, numa perspectiva de um ensino não diretivo.
Diante desta concepção, a escola deve desenvolver o papel de fortalecer a rede de interação entre a comunidade e a família, para juntas realizarem um processo preventivo diante de ações que possam vir a favorecer a aprendizagem e o desenvolvimento da personalidade do sujeito.
Ainda para Rogers (2006, p. 322), a aprendizagem significativa favorece uma possível mudança de comportamento, ou seja, objetiva trabalhar o sujeito considerando o contexto em que se encontra inserido, tornando a aprendizagem escolar um momento prazeroso e significativo para sua vida. Neste sentido, se faz necessário refletir o pensamento de Freire (1996, p. 39), quando afirma que "pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem é que se pode melhorar a próxima prática". Ou seja, o professor deve estar em constante atualização, sempre inovando e auto- avaliando a sua prática, para poder acompanhar e se integrar às demandas da sociedade, tomando consciência de que como seres humanos nunca nos basta aprender.


A atuação do psicólogo no ambiente escolar como facilitador da relação professor-aluno

Para Piletti (2006, p. 20), a Psicologia da Educação é um campo da psicologia que se preocupa em compreender como se dá o processo de ensino e aprendizagem, e o ser humano em sua totalidade, como um ser biopsicossocial. Bem como, acompanhar seu processo de aprendizagem escolar visando compreender o aluno (aquele que aprende), o processo de ensino e aprendizagem, o ambiente físico e o social (escola, família e comunidade) e o papel do professor (postura e metodologia).
Assim, é importante que o professor, juntamente com a escola, esteja atento aos fatores sociais, culturais e emocionais que possam estar interferindo na aprendizagem do aluno. O que reforça cada vez mais a importância de um psicólogo atuando dentro do ambiente escolar, para orientar e auxiliar todos os envolvidos neste processo, desenvolvendo pesquisas no âmbito da educação e fazendo intervenções psicopedagógicas grupais ou individuais.
Observando os possíveis fatores que podem estar prejudicando a aprendizagem do aluno, considerando a família, o próprio aluno, a escola e todos os personagens inseridos no contexto, orientando-os quanto à melhor maneira de lidar com os problemas e, quando necessário, realizar encaminhamentos a outros profissionais.
Desta forma, o lugar da Psicologia Escolar irá ser o de transitar no processo de transformação e formação pessoal, social e educacional do sujeito, possibilitando assim o contato com seu self real, sua conscientização e responsabilidade diante de suas possibilidades e realizações. Esta tomada de consciência poderá favorecer o equilíbrio e a congruência deste, que por sua vez irá influenciar nas diversas áreas de sua vida, principalmente na sua vida escolar, tornando-se um ser mais autêntico, responsável e criativo. Assim, o psicólogo também será um mediador desta relação facilitadora junto ao professor, auxiliando o mesmo e todos os envolvidos.


Considerações finais

A educação centrada no aluno compreende a pessoa como um ser que está no-mundo-com-os-outros, de maneira histórica e culturalmente situada. É uma forma revolucionária de ver a Educação que entra em conflito com a maneira comum de proceder das escolas atuais, as quais dirigem seus esforços no sentido de munir o aluno com conhecimentos e habilidades necessários ao desempenho de uma determinada profissão.
Considerando o contexto atual de um mundo globalizado e tecnológico, faz-se necessário refletir sobre uma escola que possa atender aos anseios e necessidades de seus educandos, os quais solicitam do ambiente escolar muito mais que um espaço de transmissão dos saberes curriculares e sim de um espaço formador da cidadania, uma vez que o período de escolarização também é um momento de formação do sujeito, sendo o professor um exemplo que sempre influenciará o comportamento dos alunos ao se relacionar com os mesmos.
Como podem ser observadas ao longo da história da humanidade, muitas foram às conquistas, construções, desconstruções e reconstruções frente às mudanças e necessidades de se quebrar paradigmas como, por exemplo, o modelo de família, a forma de pensar e agir das pessoas e hoje o modelo de escola e de educação também clama por tal transformação, não devendo permanecer o mesmo de séculos anteriores, visto que já não mais abarca as demandas atuais.
Rogers (1971, p. 104), diz que enfrentamos situações novas a cada dia e que, em se tratando de educação, se quisermos sobreviver, precisamos facilitar a aprendizagem e a adaptabilidade a essas mudanças.
Tal postura é enfatizada por Piletti (2006, p.79) quando diz:

Esta relação professor-aluno deve ser uma relação dinâmica, assim como deve ser em todas as relações. Levando em consideração que os alunos não são objetos que podem ser manipulados pelos professores, mas que estes podem pensar criar e refletir, ou seja, é um ser humano e como tal deve ser considerado. Uma vez estabelecida esta relação dinâmica de afetação, todos podem crescer, ou seja, professor e aluno aprendem numa troca de experiências e de saberes. Logo, este processo de interação pode ser um agente facilitador da aprendizagem.

Diante do exposto, observa-se que não só Rogers, como outros autores, compartilham da idéia de que esta relação é um dos pressupostos fundamentais para que a aprendizagem significativa aconteça. Ela se faz presente na figura do professor e da equipe educadora ao estar com o aluno e deve contemplar o contexto econômico, social e cultural em que a instituição escola se encontra.
Por isso, a escola atual não deve ser apenas uma escola tecnológica, focada apenas em atender as habilidades a serem desenvolvidas para o desempenho de uma profissão, mas um ambiente em que professor e aluno possam compartilhar suas experiências, aprender uns com os outros, desenvolverem sua cidadania em função de um crescimento saudável, perceber e aceitar o igual e o diferente em suas relações com outras pessoas, culturas. Já que, para Rogers, ensinar é despertar a curiosidade, é instigar o desejo de ir além do conhecido, desafiar a pessoa a confiar em si mesmo e dar um novo passo em busca de outro, educando para a vida e para novos relacionamentos.
Se o professor assume tal postura como filosofia de vida, e é ele quem vai estimular o aluno a pensar por si só, confiando no seu potencial, na sua tendência auto-realizadora ao interagir com autenticidade, certamente favorecerá uma maior independência e autonomia do educando. E ainda possibilitará oportunidades de viver experiências significativas que envolvem aceitação, respeito e liberdade, fatores fundamentais a uma educação de qualidade e cruciais na minimização dos problemas relativos à aprendizagem.
Porém, faz-se necessário pensar que as condições propostas por Rogers por si só podem não garantir uma aprendizagem satisfatória quando experienciadas superficialmente ou vivenciadas sem verdade e sem coerência. E quando vivida de forma plena e como filosofia de vida, aceitando o aluno como pessoa em sua totalidade, como um ser que está acontecendo, realizando e atualizando possibilidade convocará uma outra proposta de educação diferente da atual.





















Referências

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DROUET, R. C. R. Distúrbios da Aprendizagem. São Paulo: Ática, 2006.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
GOBBI, S. L; MISSEL, S. T. (Orgs). Abordagem centrada na pessoa: vocabulário e noções básicas. Tubarão, SC: Unissul, 1998.
PILETTI, N. Psicologia educacional. São Paulo: Ática, 2006.
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SANTOS, A. M.; ROGERS, C. R.; BOWEN, M. C. V. B. Quando fala o coração: a essência da psicoterapia centrada na pessoa. São Paulo: Vetor, 2004.
SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. Teorias da personalidade. São Paulo: Cengage Learning, 2008.
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