UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ-UVA
CURSO: FILOSOFIA – LICENCIATURA
DISCIPLINA: TOP. ESP. EM TEORIA DO CONHECIMENTO
PROFESSOR: MARCOS FÁBIO

A DÚVIDA METÓDICA E A CONSTITUIÇÃO DA PRIMEIRA VERDADE NO DUALISMO CARTESIANO

Cristóvão de Sousa Gomes Júnior

APRESENTAÇÃO

O seguinte trabalho é uma avaliação acerca do Dualismo Cartesiano, o qual René Descartes sistematiza a dúvida metódica e a constituição da primeira verdade. Este conceito que Descartes utiliza é construído a partir de suas análises acerca da dicotomia representada no formato corpo/alma. Apresentar qual era sua dúvida e como ele estabeleceu sua primeira verdade, são os pontos principais deste artigo.

PALAVRAS-CHAVE: Descartes, dualismo, dúvida, verdade.

1. INTRODUÇÃO

O conceito de Dualismo em Descartes é construído a partir de suas análises acerca da dicotomia representada no formato corpo/alma. O pensador justifica suas postulações dividindo em dois tipos fundamentais de substância: a matéria e a razão consciente. Ambas, consistem respectivamente, em algo que se distingue das outras substâncias pela propriedade de ocupar espaço e a razão consciente é a responsável pela a atividade do pensar, já que ao contrário da matéria não ocupa espaço, sendo, portanto, subjetiva.
Segundo as postulações cartesianas, apenas a mente é capaz de nos dizer algo sobre a realidade do ser pensante, uma vez que, é na mente onde acontecem todos os desencadeamentos dos processos mentais. Destarte, ela não é algo totalmente independente do corpo, visto que ela faz parte do cérebro, que por sua vez faz parte do corpo, sendo ele um conjunto de atividades do mesmo.
Descartes acreditava que só existe uma verdade acerca das coisas e que só se faz possível chegar a essa verdade a partir de um critério, esse critério consiste na dúvida. Expliquemo-nos: ora, para chegar-se a verdade faz-se necessário duvidar de tudo, até que algo se apresente no formato indubitável. Esse procedimento é consentido como a dúvida metódica. Pois aqui, a dúvida não é dada a partir de prismas céticos que nada constroem, mas sim na perspectiva de se descobrir a verdade das coisas. Por isso, metódica (dúvida: método, possibilitador do conhecimento da verdade). Assim sendo, as postulações cartesianas apontam o cogito como a primeira verdade indubitável. Pois se o homem é marcado pelo dualismo corpo/alma e na alma encontra-se a dimensão responsável pelo pensamento, conclui-se que o homem pensa, e se pensar é propriedade do ser, então ele é. O que levou René Descartes a formular a famosa máxima: “Penso, logo existo”. Sendo essa a verdade pela qual o homem não deve duvidar, pois apenas pelo fato de duvidar de algo, ele já está a pensar de modo que se ele duvida de algo, ele é ser, porque é ser que pensa.

2. INVESTIGAÇÕES DE DESCARTES

Descartes, filósofo francês, é considerado um dos maiores expoentes da Modernidade, tendo como característica principal o seu estilo metódico-sistematizador, que serve de sustentáculo nevrálgico para o que vem a ser denominado Dualismo Cartesiano. A teoria do dualismo faz uma distinção entre corpo e mente. Identificar o sujeito a que os predicados mentalistas se referem, é a principal questão do problema mente/corpo. Ela separa a mente como algo não-físico e o corpo como algo físico, e mesmo estando conectado um ao outro temporalmente, a mente não necessita do corpo.
O pensamento cartesiano diz que todo ser humano é corpo e espírito simultaneamente. O corpo é a matéria que ocupa espaço e seus estados podem ser notados por observadores externos. Em oposição, o espírito não existe no espaço e não tem observadores externos, somente o indivíduo pode ter conhecimento direto dos estados de seu próprio espírito. Este conceito de dualismo é constituído por Descartes a partir de suas análises acerca da dicotomia representada no formato corpo/alma. Ele diz:

Cada substância tem uma propriedade principal que constitui sua natureza e essência, e à qual todas as suas outras propriedades se referem. Assim, a extensão em cumprimento, largura e profundidade constitui a natureza corpórea, e pensamento constitui a natureza da substância pensante. (AT VIIIA 25; CSM I 210).
Desta maneira, o pensador justifica suas postulações dividindo em dois tipos fundamentais de substância: a matéria e a razão consciente. Ambas, consistem respectivamente, em algo que se distingue das outras substâncias pela propriedade de ocupar espaço e a razão consciente é a responsável pela a atividade do pensar, já que ao contrário da matéria não ocupa espaço, sendo portanto, subjetiva. Ele acreditava que a mente e o corpo eram claramente diferentes, os quais formavam dois mundos inflexíveis, sendo sempre duas substâncias distintas e nunca uma só. A mente consistiria no mundo do pensamento e da atividade. Enquanto que a matéria seria o mundo da extensão e do determinismo.
Descartes admitia que os corpos não se dividem. Apenas ocorrem mudanças da extensão, formando diferentes objetos. O espírito ou a mente é algo que cada pessoa tem em particular, mas ocorre uma pluralidade dela. Pois cada indivíduo tem uma, mas cada mente é diferente uma da outra.
Segundo as postulações cartesianas, apenas a mente é capaz de nos dizer algo sobre a realidade do ser pensante, uma vez que, é na mente onde acontecem todos os desencadeamentos dos processos mentais. Ele acreditava que existia uma dualidade entre corpo e mente, assim, o que garantia a existência do eu era o pensamento. Descartes só aceitava algo como verdadeiro quando esse algo se apresentasse ou seu espírito de forma clara e distinta e que só se faz possível chegar a essa verdade a partir de um critério, esse critério consiste na dúvida metódica.
Ele começa rejeitando as informações que lhe são dadas pelos sentidos, afirmando: “Assim, em virtude de algumas vezes os sentidos nos enganarem, quis supor que nada havia que fosse tal como ele nos leva a imaginar.”
Depois rejeita as representações oriundas da razão, principalmente da matemática:
E porque há homens que se enganam quando raciocinam, até quando diz respeito aos mais simples assuntos de geometria e ai contém paralogismos, julgando que eram tão sujeitos a erros como qualquer outro, rejeiterei como falsas todas as razões que anteriormente tomara como demonstrações.
Chegando a duvidar até das representações obtidas quando estava acordado ou dormindo:
Finalmente, considerando que os mesmos pensamentos que temos quando acordados também nos podem acudir quando dormimos, sem que nenhum seja verdadeiro, resolvi considerar, fingir, que todas as coisas que haviam penetrado no meu espírito não eram mais verdadeiras que as ilusões dos meus sonhos.
Expliquemo-nos: ora, para chegar-se a verdade faz-se necessário duvidar de tudo, até que algo se apresente no formato indubitável. Esse procedimento é consentido como a dúvida metódica. Pois aqui, a dúvida não é dada a partir de prismas céticos que nada constroem, mas sim na perspectiva de se descobrir a verdade das coisas. Por isso, dúvida metódica (dúvida: método, possibilitador do conhecimento da verdade).

3. COCLUSÃO

Assim sendo, finalmente, as postulações cartesianas apontam o cogito como a primeira verdade indubitável. Descartes afirma:

[…] mas logo percebi que, quando pensava que tudo era falso, necessário se tornava que eu - eu que pensava – era alguma coisa. E notando que esta verdade – penso, logo existo – era tão firme e tão certa que todas as extravagantes suposições dos céticos não eram capazes de abalar-la, julguei que podia aceitá-la, sem escrúpulo como princípio da filosofia que procurava.
Então encontrou algo que não é possível duvidar, o pensamento. Pois o que podemos intuir distintamente, para ele, é a verdade. Ora, se o homem é marcado pelo dualismo corpo/alma e na alma encontra-se a dimensão responsável pelo pensamento, conclui-se que o homem pensa, e se pensar é propriedade do ser, então ele é. O que levou René Descartes a formular a famosa máxima: “Penso, logo existo”. Sendo essa a verdade pela qual o homem não deve duvidar, pois apenas pelo fato de duvidar de algo, ele já está a pensar de modo que se ele duvida de algo, ele é ser, porque é ser que pensa.
Depois ele busca desvendar a natureza do eu que pensa. Para ele, há uma grande diferença entre a existência do corpo e da mente; a diferença da coisa pensante (res cogitans) e da coisa extensa (res extensa). Sobre isso ele diz:

A seguir, examinando com atenção que coisa eu era, e vendo que podia supor que não tinha corpo algum e que não havia qualquer mundo ou lugar onde eu existesse, mas que não podia, no entanto admitir que não existia, e que antes, ao contrário, pelo fato mesmo de por em dúvida a verdade das outras coisas, daí decorria muito evidente e certamente que eu existia… por isso reconheci que eu era uma substância cuja essência ou natureza não é outra coisa senão pensamento que, para existir, não tem necessidade de nenhum lugar nem depende de coisa alguma material. De sorte que este eu, isto é, a alma pela qual sou o que sou, é inteiramente distinto do corpo e até mais fácil de conhecer que este; embora não existisse corpo, ela não deixaria de ser o que é.
No decorrer de suas análises, Descartes percebe que suas argumentações que o pensamento independe do corpo para existir, não é boa o suficiente para assegurar que mesmo sem o corpo, a substância pensante não deixaria de ser o que é. Ele nos diz:
Uma vez que a capacidade que tenho de imaginar-me sem um corpo pode dever-se unicamente à ignorância de minha verdadeira natureza; se eu sobesse mais, poderia, com base na argumentação, entender que a suposição da comunidade da existência sem o corpo seria incoerente. O projeto cartesiano da dúvida sistemática, que leva à proposição COGITA ERGO SUM, parece de fato mostrar que o pensamento não pode estar “separado” de mim, até mesmo na realização mais extremada desse projeto; isso não mostra, entretanto, que minha essência consista somente em pensar, onde a palavra somente exclui tudo o mais que se poderia afirmar como pertencente à minha natureza.
Na tentativa de superar as falhas de suas argumentações, ele invoca a existência de Deus como sendo o motivo de pensarmos independente do corpo. Ele insiste em declarar que corpo e mente são distintos e se excluem reciprocamente e que independente do corpo a mente existe. Ao aceitarmos essa dualidade cartesiana estamos consentindo também duas maneiras de conhecer: um externo e público, que depende da experiência, e outro interno e privado que independe da experiência. Deste modo, cada indivíduo conhece seu próprio estado mental, criando assim, um grande problema para se chegar ao que é verdadeiro e ao que é falso. Visto que é sujeito que pensa a realidade não pode especificar se o seu pensamento é verdadeiro ou falso. A não ser se o pensamento for discutido e avaliado por outros seres pensantes que consigam perceber essa mesma realidade. No entanto, a mente é privada e cada indivíduo tem experiência apenas da sua própria mente.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHURLAND, Paul M., 1942- . Matéria e Consciência: uma introdução contemporânea à filosofia da mente / Paul M. Churland; tradução Maria Clara Cescato. – São Paulo: Editora UNESP, 2004.
DESCARTES, René. Discurso do Método. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
COTTINGHAM, Jonh. Dicionário de Descartes. Rio de Janeiro: Zahar, 1995.
COSTA, Claudio, 1962- . Filosofia da mente / Claudio Costa. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.
Princípio: discussões filosóficas II / Organizado por Francisco Rômulo Alves Diniz, Jefferson Alves Aquino e Luís Alexandre Dias do Carmo- 2. Ed. – Sobral: Edições UVA, 2008.