Conheci um homem que se importava com os outros. Tamanha nobreza de alma que o convencia que o mundo poderia ser mudado através da política.Desproposcionalidade infinita de caráter, o que imbuia de inocência idealista seus sonhos de igualdade.

Homem corajoso, eu diria. Acampava na porta das prefeituras, fazia greve de fome com seus companheiros. Morreria para que suas convicções vivessem, preciso fosse.

E foi convivendo no meio de outros considerados iguais que um dia se percebeu só.

Os dias ensolarados de fé nas convicções políticas e na credibilidade humana foram, pouco a pouco, encobertos pela penumbra de uma avassaladora sombra. Percebeu-se, só, em meio a uma multidão de estrangeiros...

 Aqueles que um dia julgou serem como ele foram, pouco a pouco, se rendendo às seduções do mundo capitalista, comungando com as adaptações necessárias à sobrevivência no mundo da Política. 

Hoje este homem está morto. Viveu como um peregrino - não havia lugar, coração ou ideologia que o coubesse ou pudesse detê-lo. Sobreviveu a subornos, acordos ou pequenos ajustes que pudessem adequá-lo à perversidade dos interesses partidários.

E traído pela própria alma, embora resistisse bravamente às seduções  politiqueiras, foi embargado por profunda depressão, lugar longínquo onde nem mesmo o amor mais ouro dos genuínos amores que o cercavam conseguiu alcançá-lo.

E como um pardal que nasceu para ser livre, definhou, pouco a pouco, engaiolado no emaranhado da vida. Uma vida a princípio doada, e depois tragada brutalmente pelas inconsistências da existência humana.

 

In memoriam de Ricardo Barreto,amor eterno.